Ichigo esfregou o couro cabeludo com irritação. Houve um barulho alto no andar de baixo, e ele revirou os olhos quando chegaram aos seus ouvidos os sons de Isshin se queixando em resposta a algo que Karin provavelmente tenha dito.

De inicio, ele realmente não viu a graça de celebrar uma festa ocidental como o Dia das Bruxas. No entanto, sua família se divertia com a celebração e até Karin entrava no espírito da coisa aceitando se fantasiar.

Mas, naquele ano ele preferiu tratá-lo como qualquer outro dia, desejando esse tempo apenas para colocar sua pilha de dever de casa em dia. Considerando o pouco tempo que ele tinha para ele mesmo, depois de se tornar um Shinigami Substituto, ele precisava passar tanto tempo quanto possível fazendo o trabalho escolar.

Levantou os olhos de vez em quando para olhar o armário vazio, ele se perguntou por que Rukia ainda não havia retornado. Ela murmurou algo na parte da tarde sobre ter que ir a algum lugar, mas ele não tinha perguntado o que ela tinha que fazer ou para onde ela estava indo, e ela tinha ido embora desde então. Ele assumiu que ela tinha visitado aquele estranho Urahara novamente, mas certamente não poderia ter ido tão longe?

Ele dedicou-se a sua tarefa de casa por alguns minutos antes de finalmente assumir que ele estava preocupado com o paradeiro dela. Ela sempre voltou antes do pôr do sol, mas agora as estrelas estavam começando a surgir. Ele se recusou a admitir a si mesmo que ele estava preocupado com ela; zombando da própria ideia, ele não tinha motivos para se preocupar. Não era como se ela estivesse indefesa...

Num impulso ele se levantou da cadeira para pegar sua jaqueta e estava prestes a sair de seu quarto para encontrá-la quando ouviu um conhecido som na janela. Ele franziu a testa, lembrando que ele trancara a janela. Ele geralmente trancou a janela depois que ela entrou, mas hoje ele bloqueou isso antes porque não havia percebido que ela não tinha voltado para casa ainda.

Talvez fosse ela agora. Ele abriu a janela e espiou através da mesma, mas quando ele olhou por lá, não havia ninguém lá. Suas sobrancelhas franziram um pouco, perguntando-se se ele tinha imaginado o som, mesmo assim, ele destrancou a janela e a manteve entreaberta um pouco, para o caso de Rukia voltar. Ele voltou às costas para a janela novamente em direção à porta do quarto, quando ouvira novamente o mesmo ruído.

Desta vez, seus olhos se estreitaram, e se voltou mais uma vez para a janela, ali enfiou a cabeça para vislumbrar o outro lado. Tudo para que ficasse cara a cara com um par de olhos cor de violeta, pesadamente marcados por um delineador.

"Argh! O que isto?!" O choque súbito o fez gritar e afastar-se da janela apressadamente. Seguiu-se um instante de silêncio depois disto, para a figura recém-chegada enfim atravessar a janela e aterrissar com seus dois pés no chão, envolta em roupas pretas.

O choque de Ichigo se transformou em indignação pelo modo que seu visitante resolvera adentrar em seu quarto.

— O que diabos você acha que está fazendo, tentando entrar no meu quarto desse jeito? O Halloween não significa que você possa invadir a casa das pessoas...

Ichigo só parou de lamuriar quando recebera um potente cascudo no meio da testa.

— Não seja estúpido! E pare de gritar, ou sua família vai aparecer e eles me encontrarão aqui.

 A figura afastou as vestes escuras do rosto e o rosto de Rukia emergiu. Ela se levantou do chão e se afastou. O shinigami substituto ficou impressionado pelo modo que a pequena shinigami estava vestida. Ela revirou os olhos em seu rosto escancarado e respondeu.

— Essa não era minha intenção, quando entrei naquela loja em busca de roupas... – Rukia falou remexendo o pé dentro de uma bota preta, de salto alto e cano médio, uma saia de seda também preta soltinha, a pele alva de suas pernas faziam um contraste convidativo aos olhos.

Educadamente, tentou desviar os olhos para um outro ponto e acabou tendo a vista atraída para o pequeno top vermelho de cetim que contornava com perfeição o busto, que parecera ligeiramente maior graças ao arranjo do mesmo.

Ichigo tossiu nervoso, ao reparar nos dois botões entreabertos do mesmo. E acabou voltando-se para os lábios da garota, tingidos com um batom rosado, que desenhava com perfeição a curva de seus lábios.

Nem em sonho ele poderia ter vislumbrado uma versão tão sexy de Rukia.

— Onde diabos você achou essas roupas? Sério que você aceitou as sugestões do pervertido do Urahara?

Ele observou pacientemente enquanto ela recolocava o manto sobre os ombros. A julgar pela camada de pó que havia tornado sua pele ainda mais alva, ela deveria estar vestida como uma vampira.

Adoraria cair nas garras daquela vampirinha. Tratou logo de empurrar para longe esse pensamento sem sentido, ali a sua frente ainda era Rukia, sua amiga e ele não deveria pensar nela dessa maneira.

Depois de um demorado tempo “ajustando” os detalhes de sua fantasia, Rukia se dignou a responder:

— As meninas me convidaram para um passeio depois da aula, e parecia insultante não ir, então...

— E então?! – Ichigo encorajou divertindo-se internamente ao notar a vermelhidão colorindo suas bochechas.

—  Então eles me perguntaram se eu alguma vez vestia-me para este Halloween e eu disse que não, então isso é o resultado do empenho das meninas...

 Ela sorriu ironicamente.

— Elas pareciam divertir-se e foi... Interessante.

— Hmm.

Ele murmurou desconfortável. Ele não queria olhar para ela nos olhos porque seu estômago parecia estar fazendo coisas engraçadas desde que ela emergiu da janela vestida assim. Rukia pareceu notar porque ela o examinou de perto de onde ela estava parada.

— Ichigo.

Chamando o seu nome, ela o forçou a encará-la. Seu coração pulou uma batida. Quando seus olhos caíram em seu rosto.

— Pareço estranha? É um jeito engraçado de se vestir para uma festividade. Não há "Halloween” na Soul Society".

Ele nada disse apenas a encarava fixamente. Quando ele não respondeu, ela finalmente caminhou até ele e acenou sua mão na frente do seu rosto. Ele piscou uma vez e mexeu a cabeça sem tirar os olhos dela.

— Olá? Terra para Ichigo? Perguntei se eu pareço estranha.

Ele continuou em silêncio a encarando. Sua sobrancelha se contraiu.

— A julgar por essa resposta, considero que eu pareço realmente estranha.

Um sorriso irritante surgiu em seus lábios e ele finalmente quebrou o contato visual.

— Não, na verdade. É só... Diferente. Ele acrescentou cuidadosamente as palavras.

Rukia ergueu sua sobrancelha.

— E isso é ruim? – Rukia perguntou confusa com as atitudes de seu colega de quarto.

— Eu não quis dizer que isso é ruim... E sim que é novo... Diferente. – Novamente ele cuidara cada palavra para não revelar o que vinha a sua mente.

Então, ele sorriu de novo, em divertimento:

— Afinal de contas é o seu primeiro Dia das Bruxas.

— E o que vem agora? – Rukia perguntou deixando seus braços cair em torno de seu corpo quase como se tivesse batendo uma continência.

Ichigo a olhou nos olhos, desmanchando seu sorriso.

— Agora é só perguntar... Doce ou travessura...

Rukia juntou as sobrancelhas como ela sempre fazia quando ficava na dúvida.

— Se a pessoa disser “doce”?

— Você ganha um doce.

— E se a pessoa disser “travessura”?

E então, Ichigo aproximou seu rosto do dela, fazendo-a sentir um pouco do seu hálito quente.

Por um instante ela achou que ele iria capturar seus lábios, mas então... Ele aproximou-se de seu ouvido e sugeriu...

— Que tal descobrir?

Um arrepio subiu pela espinha de Rukia.

Que levara um demorado tempo antes de tornar a falar.

— E então, Ichigo... O que vai ser?

Ela falara pausadamente deliciando-se com a expectativa que surgia em seu rosto. Aquele era um raro caso que muito antes da pergunta, ela já sabia a resposta.

— Doce ou travessura?

E assim, ele quebrara a distância entre os dois ensinando-lhe que uma travessura pode ser mais doce que um pirulito.