WSU's Raiju escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 12
Tragédia




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Subestação de metrô de Primavera, terminal F

 

Com uma espingarda em mãos, Azar disparou contra a porta de um vagão de trem solto, um dos leves e modernos com estrutura prateada, porém pessimamente cuidado e sujo pelo desuso. Não cedendo, ela aplicou um chute frontal, que abriu a passagem para eles.

Aarseth foi o primeiro a entrar e olhou para a sua direita, onde se localizava o maquinário.

— Como os últimos dois prefeitos não terminaram a rota para o Rio, vamos ter que saltar desse VLT quando os trilhos acabarem — disse, observando suas companheiras de fuga entrarem veículo.

— Ninguém aqui tem medo de altura, gatinho — rebateu Catarina, rindo provocativa.

Azar observou a troca de olhares incomum entre os dois.

— Os pombinhos podem combinar a próxima foda depois do holocausto, por favor?! — perguntou irritada, mirando com a espingarda no hacker, que ergueu as mãos assustado. — Tira a gente daqui, babaca! — Apontou o cano para a sala de maquinário.

— Aí, Capitão Barba Loira! — gritou Aars, nervoso. — É melhor baixar essa bola e confiar em mim, eu sou a única chance de você sair viva daqui!

— Pessoal, calma! — gritou Catarina, aflita com a situação.

O jovem estendeu a mão à criminosa, como se pedisse a arma. Confrontada, a mulher franziu o cenho e mirou no garoto novamente.

— Se quiser pode atirar — provocou o garoto, arrumando seus óculos. — Esse VLT não move um metro.

— Não te mete, Catarina! — esbravejou a loira. — Não consigo ver se o Arthur sobreviveu à viagem, por isso não vou entregar essa merda. Não tenho como confiar a minha vida totalmente a um desconhecido que pode me trair e pôr uma bala na minha cabeça.

— Vai se foder! — bradou a ruiva, espantada ao lado de sua mãe. — Só pensa em você mesma?

A loura de tapa-olho deu dois passos para trás e apontou a espingarda para a filha.

— Se quer se juntar a ele — falou, arqueando ambas as sobrancelhas —, fique à vontade.

— Já falei que eu não movo um dedo daqui, sua maluca! — gritou Aars, apontando o indicador para baixo, quando um tiro seco ecoou.

Logo, uma mancha de sangue verde do hacker se espalhou em seu ombro esquerdo. Seu corpo tombou para trás e depois de dois passos retrógrados, cedeu caindo ao chão. Desesperada, Catarina correu e se ajoelhou chorando sobre o peito do rapaz atingido.

— Sua louca! — berrou a ruiva, com as veias saltando a garganta.

A explosão sentimental da garota parou quando o cano da espingarda estava sobre sua testa.

— Como vai ser, guri? — perguntou Azar, olhando para o garoto.

Baqueado, Aars olhou para sua amada e viu seus cachos ruivos a levitarem em direção à porta como se uma brisa forte soprasse. Ao olhar do lado de fora do veículo, viu o que não esperava.

O portal negro, como um furacão, sugava tudo do lado de fora. A estrutura do vagão começou a tremer, dando sinal de que iria junto com os ventos. Mais próxima da passagem aberta, Catarina foi a primeira a alçar voo para fora do veículo.

Num rápido movimento instintivo Aarseth se atirou, agarrando a ruiva com uma das mãos e com a outra, do ombro ferido, se segurou na estrutura da porta quebrada do VLT.

Berrou de dor com o sangue escorrendo da ferida aberta, enquanto olhava para o rosto sardento e assustado da garota prestes a ser sugada para dentro do buraco. As lágrimas no rosto dela iam como chuva em direção à singularidade.

Vendo o doloroso esforço e sofrimento do hacker, ela decidiu por si, quando soltou a pegada dele e foi puxada. Seu olhar triste e fixo no amado, enquanto se ia, dizia tudo para ele, que pôde apenas se desesperar aos prantos:

— Não!

Ficou a ver o corpo de Catarina se alongar infinitamente dentro da singularidade, que sumiu poucos instantes depois e certamente surgiu em outro lugar. Quando os revoltosos ventos cessaram, caiu bruscamente ao chão. Levantou-se arquejando, furioso.

— Sabe que eu não ia matá-la, não é, guri? — Ouviu a voz da loura a se expressar com dificuldade.

Fitou Azar com deitada de lado com uma fratura exposta, gemendo de dor e a espingarda pouco mais à sua frente, que o garoto tomou para si. A criminosa viu o cano da arma sendo apontado para seu rosto e sorriu.

— É, mas ela tá morta agora — afirmou, com a raiva explícita nos dentes trincados.

— Criou colhão agora? — provocou, irônica. — Vai em frente!

— Eu tenho nojo de você — disse, ao mudar repentinamente de direção e disparar na perna saudável da criminosa, a fazendo esguichar seu sangue verde e berrar a dor de mais uma ferida aberta. — Se o mundo não acabar, a prioridade é que a ANIC venha te encontrar... se rastejando como a cobra que é. Você merece.

 Saiu do VLT, que já não estava mais sobre os trilhos e ficou a admirar toda a destruição naquele terminal. Toda a plataforma de embarque estava comprometida.

 

 

 

Atemporal

 

Carregando seu capacete de gladiador, Arthur caminhava ao lado de seu pai, debatendo sobre o filme que assistiram.

— Mas que diabos é aquilo na boca do Superman? — indagou Osíris, aborrecido. — Ele parece ter câncer, não eu!

— Valeu a pena girar a bobina daquele gerador na velocidade da luz? — ironizou o garoto. — Pelo menos, vamos ter energia elétrica até morrermos... se é que vamos conseguir morrer aqui.

— Como eu nunca tive essa ideia antes? — se perguntou o careca, impressionado. — Salvaria mais vidas do que correr atrás de bandidos.

— Sei lá! — sorriu o rapaz, ao responder.

— Tomara que os outros tentem! — afirmou o mais senhor, rindo.

— Outros? — indagou Arthur, confuso e a resposta veio com um aceno de cabeça positivo de seu pai, acompanhado de um sorriso.

O gesto de seu pai o deixou impressionado, mas decidiu optar por mudar de assunto, ao saber que passaria a eternidade ali.

— É estranho...

— O que é estranho, meu filho?

— Tudo isso é incrível. — falou o rapaz, admirando os carros suspensos sozinhos em vertical, levitando no chão. — O tempo nunca passará para nós e temos uma diferença de vinte anos.

— É a vantagem de ser um velocista — respondeu o pai. — O tempo é relativo para nós.

— Não te incomoda estar aqui sabendo que eu, nas diversas fases da minha vida vou estar sofrendo na nossa Terra? — perguntou o garoto.

— Mas você está aqui comigo — insistiu Osíris —, não temo mais nada. — O senhor levou a mão ao peito do garoto. — Tudo o que eu amo está aqui.

Seu pai representava muito para si. Porém, naquele instante, o herói se deu conta nem tudo o que amava estava lá.

— É, pai — disse sorrindo, com os olhos marejados de amargura.

O rapaz parou de falar ao ver, no alto da cidade, algo peculiar. Vários corpos pairavam pelos céus escuros e, de tão impressionado, Arthur correu escalando um prédio próximo verticalmente, para ver melhor do que se tratava. Pela ponta do cadarço do coturno, puxou um dos flutuantes e pelo em emblema no peito, já sabia do que se tratava.

ANIC — falou, ao ler o distintivo.

Observou a boca aberta e olhos arregalados e fixos, sem vida. Podia imaginar o quão assustadora foi a morte dele e das outras dezenas de pessoas flutuando pelo Atemporal.

— Pode ser de qualquer realidade, ou linha temporal, filho — disse Osíris, ao se aproximar na sacada do prédio.

Eles observaram uma fenda negra se abrir no alto de suas cabeças e cuspir mais um cadáver, que flutuou, descendo continuamente. Pelos cachos ruivos e sardas no rosto, as palpitações de seu coração aumentaram.

Deixou o capacete ao chão, correu, tomou impulso e saltou agarrando a garota. Suas pernas não aguentaram com o peso do corpo e, de joelhos, ele admirou o fino rosto sardento de Cacá.

Seu pai veio logo em seguida e parou, observando com penúria. Ele fechou os olhos da garota falecida e curvou a cabeça. Arthur já estava convencido de que não era mais uma semelhança, tinha certeza de que aqueles corpos eram de sua realidade.

— É a minha irmã, pai. — disse, soltando um suspiro. — Está morta e eu nem tive chance de conhecê-la direito.

Osíris os observou, com pesar nos olhos.

— Eu não vou te convencer a ficar, não é? — perguntou o senhor, triste.

— Não — respondeu o garoto, convicto. — Podemos ficar a eternidade aqui, mas não vamos criar a cura pro câncer. A gente não é milagreiro. Nosso ciclo já se fechou.

Levantou-se com a garota em seus braços e Osíris beijou a sua testa.

— Eu tenho orgulho de você, meu filho.

Colocou o capacete de gladiador sobre a cabeça de Arthur e com um gesto afirmativo, deu permissão à sua cria. O jovem velocista correu com a garota em seus braços.

Sprint — sussurrou o pai, assistindo o raio de luz distanciar-se.

Quando as ondas gravitacionais reapareceram, Raiju agarrando a nuca de sua falecida irmã acelerava o quanto podia. Seu corpo iluminado foi perdendo velocidade, se deu conta que estava em uma parte conhecida espaço-tempo.

Era o galpão do Phoenix Labs novamente. Assistiu ao seu próprio golpe desferido no rosto de sua antiga namorada, que desabou. Tão intenso e doloroso novamente, que não pode conter as lágrimas. Assistiu a reprise de seu maior arrependimento sem querer.

Antes que o corpo de Serena chegasse ao piso, chegou ao seu ouvido e, mesmo sabendo que ela não o ouviria, sussurrou:

  — Derruba esse otário.

A ruiva abriu os olhos e viu o descontrolado Arthur partir para cima de Jacobo, quando o empresário provocou:

Você é um criminoso! — esbravejou, salivando. — Como todo o resto!

O punho do velocista parou rente a face do vilanesco homem de cabelos amarrados, mas não por vontade do jovem e sim por um construto mental criado por Serena.

Arthur ficou preso, tocando as paredes invisíveis rapidamente, como se fosse um mímico, queimando o pouco oxigênio do cubo transparente. Ao se esforçar para tentar fugir e quebrar a prisão, a fera adormeceu na jaula e foi impedida de cometer um ato inconsequente de ódio contra a vida daquele perverso homem.

De longe, o Raiju observou àquela cena e olhou para Catarina. Pensou que poderia mudar tudo com um simples ato no passado, mas qual seria o desequilíbrio causado? Como dissera Osíris, tudo poderia ser mudado.

Optou por seguir com sua fatídica batalha.

 

 

 

Avenida Presidente Vargas

 

Apoiada em seu guarda-chuva que fazia de bengala, carregando uma sacola de compras, Dona Armínia apertava o botão do semáforo de pedestres. Não havia sequer um carro na rua, a avenida já havia sido evacuada por completo.

— Porcaria de trânsito lotado! — aborreceu-se, arrumando seus óculos de graus altíssimos. — E esse sinal que não abre? Maldito seja ele e suas próximas oito gerações!

Mal sabia ela, que pouco mais à frente o portal negro, como um ralo, sugou o semáforo e seus cabelos brancos e quebradiços começavam a balançar, bem como sua longa saia.

— Menina, que vento! — espantou-se cerrando as pálpebras, quando foi levada pela ventania, soltando o berro de susto.

No abrir de seus olhos, apesar de não perceber, estava no calçadão de Ipanema. Enxergava pouco, mas pôde perceber uma silhueta provocada por uma sombra humana contrastando sobre si, devido ao dia de sol forte.

— Henrique? — perguntou ela, confusa.

— Sim, vovó — respondeu o homem. — Eu voltei, mas já vou.

Novamente uma intensa ventania voltou e assanhou os alvos cabelos da velhinha mais ainda.

— Tchau — disse a senhora, acenando —, não esquece a sombrinha. — No aviso, abriu o seu guarda-chuva e seguiu caminhando. — Deu no jornal que vai chover.


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