Égon: A Origem escrita por GJ Histórias


Capítulo 8
Capítulo 7- A Cabeça de Leão




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  Manaus é uma bela cidade brasileira. A capital do Estado do Amazonas dispõe de muitos pontos turísticos e, entre eles, localiza-se o majestoso Teatro Amazonas, construção a qual esbanja as fortunas obtidas pelo município durante o Ciclo da Borracha. Uma incrível vista desse prédio é obtida a partir das janelas de uma sala, localizada nos últimos andares de um edifício próximo ao teatro.

  Tal cômodo abriga inúmeras estatuetas de animais, como elefantes, zebras e girafas, dispostas no topo de estantes, armários e pequenos balcões. Perto da parede, paralela à porta da sala, há uma grande mesa de madeira seguida de uma bela poltrona de couro, a qual comporta um perigoso criminoso. Por detrás do homem, uma grande tábua, que está presa a uma cabeça de leão empalhada, encontra-se fixada na parede.

  O sujeito, conhecido como Oliver Lamartine, enrola os pelos, de seu bigode, ao longo do dedo indicador de sua mão direita, enquanto espera, impacientemente, a chegada de alguém. Após alguns segundos, batidas são produzidas através da porta.

— Pode entrar! – Gritou Oliver.

  Um homem, de terno e crachá, entra, acompanhado por dois seguranças de Lamartine.

— Espero que os meus homens tenham o transportado de maneira confortável, senhor delegado! – Disse o bandido.

— Achei um pouco hostil! – Falou o sujeito.

— Que grosseria! Perdoe-me, irei dar uma bronca neles.

— Dispense isso, apenas seja rápido. Não quero ter o meu tempo desperdiçado.

— Você é um homem direto, gostei! – Exclamou o francês, enquanto faz gestos, convidando o delegado a sentar.

— Eu venho suspeitando de suas atividades, Lamartine! É idolatrado por grandes corporações, especialmente a Neville, mas sei que suas ações e intenções são podres, principalmente aqui, na Amazônia. Quero bons motivos para eu não te prender agora.

— Calma, meu senhor! Este prédio é cercado pelos meus trabalhadores, estamos em superioridade numérica. Não ousaria apontar uma arma para mim, não aqui e nem agora. No entanto, preciso ser gentil, pois estou aqui para negociar.

— O que você quer? – Disse o delegado, assustado.

— Licença! Como sabe, eu atuo no ramo de mineração. Mas as máquinas que vocês apresentam aqui são obsoletas e interferem no meu serviço. Muitas das minhas encomendas têm um prazo, mas estou tendo dificuldades em cumpri-los, pois as extrações são lentas. Tentei trazer minhas incríveis escavadeiras, pesadas máquinas, moldadas a partir de Metrion, um resistente e poderoso metal sintético. Cortesia das Empresas Reed. Essas maravilhas fazem um estrago! O problema é que a Polícia Federal apreendeu meus equipamentos, trazidos da África do Sul, alegando que este material é proibido em quase todos os países. Eu preciso que vocês concedam uma permissão para o tráfego dos veículos.

— E como pretende fazer isso? Não há razões para eu conceder esse seu desejo. A não ser que me revele todas as suas instalações, para eu me certificar de que sua ficha está limpa.

— Veja bem, senhor delegado. Vou acordar com você da mesma maneira com que oculto minhas ações.

  Abrindo a gaveta, localizada no canto esquerdo de sua mesa, Lamartine retira um cheque e entrega-o ao delegado, dizendo:

— O que acha de receber dois bilhões de reais, hein? Direto para sua conta.

  Olhando, com desgosto, para Oliver, o delegado bate na mão do contrabandista, derrubando o papel e exclamando:

— Você é pior do que eu imaginei! Aposto que nem suas terras são legítimas. Quantas atrocidades você cometeu para obtê-las?

  Lamartine levanta de sua poltrona e aproxima-se do indivíduo, falando:

— Mais do que imagina.

— Seu monstro. Não serei comprado. Muito pelo contrário, agora eu consegui provas suficientes para te incriminar.

  O contrabandista dá as costas para o delegado e caminha rumo à Cabeça de Leão empalhada.

— Você é corajoso! – Exclamou Oliver.

  Acariciando o seu artigo de decoração, ele prossegue com o discurso:

— Ao redor do Mundo, várias pessoas me chamam de “Cabeça de Leão”. Sabe o porquê?

— Não, e nem quero!

  Voltando-se para o delegado, ele continua falando:

— Foi uma pergunta retórica! O leão é considerado o “Rei da Selva”, um feroz e poderoso animal, o qual serve como símbolo de superstição para muitas tribos africanas. Durante minhas primeiras missões, que consistiam no desmembramento de pequenos povoados, localizados na África Central, eu tinha o costume de abater leões e retirar suas cabeças. Elas serviam para intimidar e ameaçar os povos conquistados, mostrando-lhes que até o mais forte dos animais caiu ante a minha presença.

  Dando breves risadas, Oliver retoma a fala:

— Sei que parece um tanto quanto inocente, e também sei que essa técnica de intimidação não funcionará com homens do seu calibre. Portanto, permita-me apresentar uma ameaça digna de pessoas como você.

  Lamartine faz um gesto com as mãos, ordenando que um dos guardas entregue um tablet a ele. Pegando o aparelho, Oliver liga-o. Na tela, surge a imagem de uma casa, a qual apresenta uma mulher e uma garota, brincando com jogos de tabuleiro, e um encanador, trabalhando em uma pia.

— O que é isso? – Questionou o delegado.

— Uma imagem, em tempo real, da sua casa. Você tem uma família muito bonita! – Respondeu o Cabeça de Leão

— O que fez com ela? – Perguntou o oficial, desesperado.

— Nada, por enquanto. Está vendo o encanador? Espreguice para mim, Ronaldo!

  Nesse instante, o encanador alonga seus braços, revelando uma tatuagem de Leão no pulso. O delegado estremece. Angustiado, ele grita:

— Saiam daí!

— Relaxa, elas não te escutam, apenas o meu amigo Ronaldo! E ele é capaz de fazer de tudo com as suas garotas. Mas o que ele decidirá fazer, está em suas mãos.

  O rapaz começa a chorar desesperadamente. Vendo a situação, Lamartine, com um sorriso no rosto, exclama:

— “Em casa de ferreiro, espeto é de pau”! Vocês dizem muito essa frase, não é mesmo? Agora eu vi um dos contextos onde ela se encaixa. Um homem, que se dedica a cuidar da segurança de um país, não consegue cuidar da segurança da própria família. Eu recomendaria a você, ter mais controle das pessoas que contrata para executar serviços em sua casa.

— Droga, é licença que você quer? Tudo bem, vai ter! Mas deixe elas livres. Por favor!

— Agora está falando a minha língua, senhor delegado!

— Seu sádico.

— Ora ora, baixe essa bola quando estiver falando comigo. Quero que a papelada esteja assinada até o fim de semana, minhas máquinas devem ser liberadas o quanto antes. Faça isso e suas garotas serão poupadas, tem minha palavra!

— Feito! – Disse o homem, enquanto enxuga as lágrimas de seu rosto.

— Os seres humanos são extremamente inteligentes. – Falou Lamartine, enquanto segura os ombros do sujeito- O Mundo será moldado seguindo os nossos padrões, nós temos o poder para isso! O poder de criar e modificar. Os outros animais não dispõe dessa soberania, e nós estamos a perdendo. Leis, burocracias e ambientalismo exagerado nos tiram a coragem de adentrar a natureza, de explorá-la, a fim de retiramos materiais destinados a elaboração de novas tecnologias. Eu tenho a força para sujar minhas mãos com lama e contribuir com a evolução humana, com a manutenção da nossa supremacia. Fico feliz que tenha concordado em fazer parte disso tudo.

— Faço isso por pressão. Quando eu tiver a oportunidade, acabarei com você.

— É o suficiente, por hora.

  Acenando, Oliver ordena:

— Retirem esse homem daqui! E queimem esse gravador no bolso dele, antes que o mesmo envie essa conversa para as pessoas erradas.

  O delegado, observa, assustado, o Cabeça de Leão, surpreso com a percepção do contrabandista. Um dos guardas, com um rápido golpe, atordoa o oficial e arrasta-o para fora da sala. Segundos depois, um baixo homem, calvo e portando óculos com as lentes redondas, entra na sala. Oliver, alongando os braços, diz:

— Que belo show! O que achou de minha atuação, Roger?

— Esplêndida, senhor! – Exclamou o Homem.

— Bravo, Bravo! Mais um esquentadinho fora do meu caminho, sujeito difícil de negociar. Agora me diga, o que o traz aqui?

— Meu senhor, tenho uma péssima notícia.

  A felicidade escapa do semblante de Lamartine, o qual esboça, agora, uma rigorosa tensão.

— O que houve? – Perguntou o contrabandista.

— A instalação 8 foi atacada ontem!

  A fúria, rapidamente, tomou conta do bandido, o qual gritou intensamente:

— Quem ousa fazer isso comigo?

— Não sabemos ao certo. – Disse Roger, trêmulo- Seguindo as imagens de algumas câmeras e os relatos de nossos homens, parece que os autores da invasão são membros da própria tribo Jirati. Não os escravos, mas alguns nativos que fugiram na noite do ataque. Contudo, eles estavam acompanhados por um ser desconhecido. Uma criatura azul!

— Que história é essa? Existem monstros agora?

— Tudo indica que sim! Dê uma olhada em algumas imagens que recuperamos, antes das câmeras serem destruídas por flechas.

  Um aparelho é entregue ao contrabandista. Na tela, é exibido cenas de Antônio invadindo a instalação e atacando os homens de Lamartine, os quais usavam as vestimentas da tribo Jirati. As filmadoras gravaram apenas o início do ataque, momento no qual os criminosos sequer conseguiram sacar suas armas. Perplexo e furioso está Oliver, assistindo, repetidas vezes, a cena gravada.

— O que mais aconteceu? – Questionou o contrabandista.

— Eles derrotaram muitos dos nossos homens, alguns morreram. Foi uma missão de resgate, uma vez que eles apenas libertaram os reféns. Não roubaram pertence algum, apenas destruíram umas máquinas no processo.

  Oliver afasta-se de Roger e observa, amargamente, a cidade, a partir de uma das janelas de sua sala. Segurando as mãos, atrás das costas, ele diz com um tom de voz mais ameno:

— Aquele velho, Sutor, não brincou comigo. Parece que os mistérios que envolvem aquela tribo são maiores do que eu pensei, a ponto de disporem da ajuda de seres extraordinários. Eles não irão parar por aí, vão querer mais vingança. Nós temos alguma vantagem?

— Poucas, senhor. Eles capturaram o Wilson também!

— Então a resposta deveria ser “Quase nenhuma”- Disse Lamartine, ao passo que vira seu olhar na direção de Roger- Esse cara conhece todas minhas bases aqui no Brasil!

— E agora?

— Nós temos que agir, a situação não ficará assim! Aquele monstro será destruído, farei ele se ajoelhar e se humilhar. Ninguém me fere e sai ileso. Deixe-me ver, novamente, aquelas imagens.

  Oliver coleta o aparelho e observa, minuciosamente, cada cena. Durante esse tempo, Roger recebe uma ligação de um dos agentes do Cabeça de Leão e sai do cômodo, no intuito de não interromper seu chefe. Transcorridos alguns segundos, ele retorna e tenta conversar com o contrabandista, o qual interrompe sua fala, dizendo, enquanto aponta para a tela do dispositivo:

— Meus homens não sacaram as armas aqui!

— Não deu tempo, meu senhor, foi muito rápido!

— Não estou reclamando, isso é uma coisa boa! Retirem tudo daquela aldeia, barracas, veículos e os demais equipamentos.

— O que o senhor tem em mente?

  Oliver apenas sorri para Roger, o qual, após alguns segundos, percebe os planos de seu patrão, dizendo:

— Oh, entendi senhor! Pode funcionar.

— Agora prossiga, você queria me dizer algo quando entrou!

— Recebi uma ligação, disseram que Wilson ativou um rastreador. Temos a localização exata dele!

  Lamartine volta-se para janela. Observando o belíssimo pôr do sol, ele exclama:

— Esse é o meu garoto!


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Notas finais do capítulo

Olá possível leitor, tudo bem? Aqui quem fala é o G. Fico feliz que esteja acompanhando essa história, espero que esteja gostando. Caso sinta-se satisfeito, ou até mesmo chateado com certos assuntos, por favor, comente! Deixe sua opinião, mesmo que seja negativa, para me motivar a continuar liberando os capítulos e readequando a narrativa!



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