Égon: A Origem escrita por GJ Histórias


Capítulo 4
Capítulo 3 - A Troca




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  Confuso e desorientado se encontra o menino com quem Égon trocou o corpo, a alguns minutos atrás. Ele levanta-se e olha para suas próprias mãos, elas estavam azuis, seu corpo é maior e veste um traje diferente. Tais circunstâncias levam o garoto ao desespero, o medo torna-se o sentimento predominante. Ele observa os arredores na tentativa de encontrar o seu verdadeiro corpo, ou o ser que o roubara, no entanto, nada encontra. Égon já havia fugido e se escondido com o corpo do rapaz, a Vymena e o chip criado por Flass.

  Com as pernas bambas, o menino caminha em direção a estreita vila onde mora. Campo Celeste é um povoado escondido no meio de vegetações e localizado próximo à Caverna Refúgio do Maroaga, no Amazonas, as casas e estabelecimentos comerciais são adaptados aos inúmeros aclives e declives presentes no terreno da região. Seus habitantes sobrevivem-se, essencialmente, do turismo. No caminho, o rapaz apenas imagina como será sua recepção, ele não sabe se os habitantes lidarão bem com a presença de um ser aterrorizante.

  O garoto percorre todo o perímetro da vila, aproveitando-se das árvores e da escuridão da noite para se camuflar. Sorrateiramente, ele entra em uma contraída rua, que concede acesso à praça principal do povoado, e, logo no início da via, o rapaz encontra e pula o muro de sua casa. Surpreso pela facilidade com que executou a ação, ele abre a porta dos fundos e agacha-se, uma vez que sua altura não mais coincide com a do portal. Escutando o ruído provocado pela abertura da porta, Luíza Castro, a mãe do garoto, grita direto da cozinha:

— Antônio, é você meu filho? Está tudo bem?

  Notando que o silêncio impera, ela diz enquanto abandona o cômodo:

— Sei que está chateado pela briga que tivemos mais cedo, mas venha aqui! Vamos conversar e tentar resolver a situação com calma!

  Ao a Luíza acender a luz do corredor, ela depara-se com a presença de um gigante monstro de pele azul e olhos vermelhos. O pavor marca o rosto da mulher morena de cabelos castanhos, ela grita desesperadamente.

— Calma, sou eu mãe! – Exclamou Antônio com a pavorosa voz de Égon.

  João Castro, pai do menino, em resposta ao berro da esposa, corre rumo ao corredor portando uma espingarda. Ao esbarrar com a criatura, ele cai assustado e atira no rosto do próprio filho. O tiro não faz tanto estrago, a forte pele hoguniana consegue resistir ao projétil, mas provoca uma dor notável em Antônio, o qual urra de dor.

— Venha Luíza! – Gritou João enquanto agarra o braço de sua mulher- Vamos sair daqui!

  Ambos saem da casa e correm rumo a praça, na esperança de pedir ajuda.

— Esperem! Sou eu, Antônio! – Disse o menino.

  Percebendo que seus pais não iriam lhe dar ouvidos, Antônio persegue o casal, ignorando os obstáculos a sua frente. O rapaz estava tão triste e concentrado em não perder os pais, que não notou o fato de ter destruído todas as paredes e muros pelos quais passava.

  A Praça Principal de Campo Celeste é o cartão postal da vila, ela é preenchida por diversos restaurantes e barracas de artesanato. Nessa noite, como de costume, ela está movimentada, cheia de turistas e moradores. Contudo, a alegria e as festas das pessoas presentes no espaço público são interrompidas com a chegada da família Castro, seguida por um misterioso ser azul de quase 3 metros de altura. O pânico espalha-se por entre a população, que grita de medo e corre desesperadamente para todos lados possíveis.

  Antônio, atônito, observa o pavor das pessoas. Seus olhos começam a lacrimejar devido ao fato de que a vila que o criou, durante quatorze anos, agora se encontra assustada ante a sua presença.

— Pessoal, eu sou o Antônio! – Disse o menino- Estou diferente, não sei explicar o que houve com o meu corpo, mas sou eu!

— Saia daqui sua aberração! – Exclamaram os moradores.

  Pedras, vasos, entre outros objetos eram jogados no menino com o corpo de um hoguniano. Ele não sentia muita dor física, os impactos assemelhavam-se a cócegas, no entanto, a dor emocional, ao ver os próprios pais tomarem a mesma atitude que o resto dos indivíduos, é muito grande para suportar. Antônio, com o intuito de escapar dos insultos e da violência, foge rumo à floresta.

  Enquanto corre, ele percebe a aproximação de três caminhonetes, contendo homens fortemente armados em suas carrocerias.

— Acelere John! – Gritou, ao motorista, um indivíduo localizado em um dos veículos.

— Não consigo! – Respondeu John- A caminhonete está quase atingindo a velocidade máxima! A criatura está muito rápida!

— Não podemos deixar ela escapar! – Exclamou o sujeito- Atirem nela!

  Os homens lançaram uma série de projéteis na direção de Antônio, iluminando a floresta escura. O garoto é atingido pela maioria deles, mas consegue aturá-los.

— Me deixem em paz! – Gritou Antônio enquanto corre.

— Deixe nossa vila em paz, seu monstro! – Exclamou o homem na carroceria.

  Sem perceber uma árvore em sua frente, em função da escuridão, Antônio colide com ela, derrubando-a. A planta atinge um dos veículos e, acidentalmente, mata o motorista. O garoto fica arrasado, para de fugir e socorre o rapaz.

— Não, não, não! – Disse Antônio ao passo que tenta ajudar a vítima- Aguente firme!

  As outras duas caminhonetes estacionam ao redor do menino.

— Ele matou o Lucas! – Gritaram os homens- Acertem ele!

  Os rapazes cercam o garoto, atacando-o com tiros, murros e facadas.

— Saiam! – Exclamou Antônio.

  O garoto, na tentativa de livrar-se dos indivíduos, chuta-os e golpeia-os. Em rápido instante de fôlego, ele afasta-se dos homens e acelera seus passos. No tempo em que tenta, novamente, escapar, um dos indivíduos, estonteado, entra em um dos veículos a fim de perseguir o menino. Antônio corre e, ao se deparar com uma imensa pedra a sua frente, impulsiona suas pernas, saltando a uma incrível altura e desaparecendo da vista dos sujeitos.

  Impressionantes cinco quilômetros foram percorridos pelo garoto durante o salto, ele pousa violentamente em um solo próximo a uma cachoeira. Lentamente, Antônio anda na direção das águas, ao alcança-las, o menino ajoelha-se e observa, parcialmente, sua imagem refletida no fluido em movimento. Um grande ser azul de olhos vermelhos, não há pelos em seu rosto, mas várias cicatrizes e seis grossos traços, verticalmente posicionados, em seu queixo. Sua roupa, cheia de buracos provocados pelas balas, era composta por um sobretudo preto, com uma camiseta cinza no interior.

— Droga! – Exclamou Antônio- O que aconteceu comigo?

  Seus olhos lacrimejam, as lágrimas caídas misturam-se por entre as águas do riacho. O menino, cansado, deita na terra na esperança de que tudo não tenha passado de um terrível pesadelo.

  Transcorrido algumas horas, ele sente cócegas ao longo de seu corpo.

— Para mãe! – Disse o garoto, enquanto solta gargalhadas.

  Ao abrir os olhos, ele observa um conjunto de macaquinhos brincando em seu corpo. A alegria logo é removida de seu rosto, ele permanecia na mesma cachoeira e com o mesmo corpo. Antônio espanta os animais e caminha na direção de um quiosque. Muitos turistas e funcionários, ali presentes, espantam-se com a presença da estrutura física de um hoguniano e correm com medo. O menino já não se importa com isso, as pessoas que ele mais amava já haviam o rejeitado, ele coleta os pratos sobre as mesas e alimenta-se enquanto observa o horizonte.

  Dois guardas aparecem e atiram contra a criatura. Antônio ignora-os, anda rumo ao riacho e senta-se próximo à cachoeira. Os homens o seguem, sem pararem de disparar. Cansado dos constantes tiros, o garoto soca o chão, provocando uma intensa perturbação.

— Saiam daqui! – Gritou Antônio.

  Os guardas, assustados, levantam suas mãos para o alto, como se estivessem simbolizando uma rendição, e correm amedrontados.

  Ele volta seus olhos para a corrente aquática, imaginando como será sua vida daqui para frente. Algumas lembranças tomam conta da mente de Antônio, o menino lembra de tudo pelo que passou na noite anterior, desde o desespero de seu povo até as façanhas que ele realizou com o novo corpo. Nesse instante, rápidos pulsos de memória surgem, ele visualiza, vagamente, uma conversa entre seres semelhantes ao o que ele encontrou anteriormente, palavras como “Flass”, “Vymena”, “Invasão” e “Plasmodammus” marcam sua mente. Ao retornar à realidade, Antônio pensa:

— O que significam essas coisas?

  Enquanto isso, em Hógun....

  O palácio real encontra-se angustiado desde a invasão de Égon. Plasmodammus não pode ficar sem a Vymena, caso contrário, o planeta perderá o rei que o governou a mais de trezentos milênios. As repercussões que irão ocorrer após a sua morte são incalculáveis.

— Como pudemos permitir isso, Fray? – Perguntou Plasmodammus, direto de sua sala, ao conselheiro real.

— Égon emitiu um pulso eletromagnético que danificou a central de nossos computadores. Ele aproveitou-se da entrada dos veículos carregadores de Qyter para adentrar no nosso Palácio! – Respondeu Fray.

— Droga! Sabe o que isso representa?

— Não, meu senhor.

— Fraqueza! Todo o planeta sabe que fomos invadidos por um mísero bandido, seremos motivo de piadas! Muitos serão levados a pensar que não somos capazes de nos protegermos e irão elaborar novos ataques a essa construção.

— A Lythlen está quase se reestruturando meu senhor! Falta pouco para eles extraírem cristais o suficiente para alimentarem nossos distritos por um mês! Logo logo essa entrada e saída de empresas desconhecidas irá sumir, a Lythlen é de extrema confiança!

— Mas ela também foi atacada! Já percebemos que a Lythlen é tão fraca quanto as outras. Essa sua informação não será o bastante para me acalmar! Eu quero que vocês tripliquem a segurança na portaria, quero muito mais guardas vistoriando os caminhões que adentram esse prédio. Comecem a fiscalização logo na entrada do Palácio, até nós realocarmos a central!

— Sim senhor!

— Esse bandido imundo retirou boa parte do respeito que nós tínhamos! – Exclamou Plasmodammus enquanto bate, fortemente, na sua mesa- E quanto a Vymena? Tem alguma notícia? Você conhece a importância desse artefato, Fray! Hogún não é governado por um ser diferente há trezentos mil anos. Caso eu morra, as consequências podem ser imensas! Desordem e brigas por poder trarão o fim a tudo que construímos!

— Nossos técnicos tentaram rastrear a nave que Égon usou para escapar, contudo, não tiveram êxito!

— Maldição! – Gritou Plasmodammus.

  Fray estremece em função do susto. Trêmulo, ele continua a fala:

— Nós entramos em contato com especialistas espalhados pelo planeta. Um caçador de recompensas disse que Égon usou uma manobra perspicaz, saltando em vários astros distintos a fim de embaralhar nossos sensores. O mesmo sujeito garantiu ser capaz de encontrar o real paradeiro do bandido, mas através de um bom pagamento!

— E onde está esse aproveitador?

— Nós convidamos ele a comparecer no Palácio hoje, o indivíduo deve chegar em alguns minu...

  Fortes batidas na porta da sala de Plasmodammus interrompem o discurso de Fray. Dois sentinelas, localizados nas proximidades do portal, entram em modo de ataque.

— Guardas, abram a porta! – Disse Plasmodammus – No entanto, permaneçam em alerta!

  Os sentinelas abrem a porta, revelando um alto hoguniano trajando uma armadura cinza com detalhes pretos, dotada de pistolas na cintura e uma bela espada em suas costas. Seu rosto repassa uma rigorosa tensão.

— Oh! – Exclamou Fray- É ele, meu senhor! Ele é o caçador de quem eu falei!

  O caçador, ao se aproximar de Plasmodammus, ajoelha-se perante a figura do rei.

— Quem é você? – Perguntou o rei.

— Meu nome é Tarkkin, senhor! Fui convocado pelos agentes reais, tenho o necessário para encontrar a preciosa Vymena.

— E o que você tem, que nós não temos? – Perguntou Plasmodammus.

— Experiência! – Exclamou Tarkkin- Conheço a artimanha usada por Égon, já rastreei indivíduos que se aproveitaram desse mesmo artifício.

  Plasmodammus esboça nojo em seu semblante, simbolizando repúdio ao caçador de recompensas. Ele duvida das capacidades do sujeito.

— Como conseguiu entrar aqui com armas? – Questionou o rei- Até onde sei, isso não é permitido! Você não foi revistado?

  Tarkkin levanta-se e fica cara a cara com Plasmodammus, olhando fixamente nos olhos do monarca, ele diz:

— Com todo respeito, majestade, sua segurança é uma droga! Não usei a porta da frente para entrar aqui, invadi o Palácio e driblei todos os idiotas que você chama de guarda! Se continuarem nesse ritmo, Égon fará o que quiser com a pedra enquanto vocês sequer o localizam. O reino irá desabar, o senhor morrerá e Hogún entrará em colapso.

— Quanto você quer? – Perguntou o rei atordoado.

— Quatrocentos bilhões de Marcas Galácticas! – Disse o caçador.

— O quê!?- Exclamou o monarca – Isso é muito dinheiro!

— É isso, ou Hogún sucumbirá ao caos! – Falou Tarkkin.

  Plasmodammus, aturdido, senta-se em sua cadeira, eram muitos problemas para processar.

— Se eu te der essa quantia, cumprirá sua missão? – Perguntou o rei.

— Considere-se feito- Exclamou Tarkkin.


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