PARTE VI – As dúvidas da pequena flor

Residência dos Uchiha, 12:30

— Agora ele tem um dodói de verdade pra ficar no hospital.

Foram as exatas palavras que Mai soltou, parecendo muito prepotente ao assistir a briga que se desenrolava entre o pai e a mãe. Sakura pensava que toda aquela ideia insana tivesse sido obra do marido, mas agora ponderava se não fora aquela pequena menina diabólica.

— O quê? — a médica ninja perguntou indignada diante o posicionamento de sua própria filha. De alguma forma, sentia que era uma frase que poderia muito bem ter sido proferida pelo seu marido, banhada naquela arrogância que as vezes a tirava do sério. — Você está muito encrencada, mocinha!

Sakura já não sabia o que fazer para colocar juízo na menina.

— Não foi nada de mais, Sakura. — Sasuke teve a tola ousadia de falar, e imediatamente uma cabeça cheia de cabelos róseos virou-se para ele como um bicho selvagem, os lábios crispados quando ela soltou uma risada seca.

— Nada de mais? — ela repetiu baixo, e o Uchiha deu um passo para trás, sabendo que ela estava prestes a explodir, a julgar pela veia que latejava em sua testa. — Nada de mais, você diz? NADA DE MAIS? — ela finalmente berrou, apontando um dedo na cara do marido — Eu sou Uchiha Sakura, e aquele maldito hospital está em minhas mãos! Você tem a ousadia de entrar lá e mexer com um dos meus pacientes, o prendendo em um genjutsu e o deixando transtornado, mas isso não é nada de mais?

Ok, talvez fosse algo muitíssimo demais. Mas Sasuke não queria admitir que tinha passado dos limites. Ele suspirou, sem saber o que realmente dizer em sua defesa, pois sabia que, naquele ponto, estava totalmente errado. Mas bem, a satisfação de infligir tamanho terror ao Arataza fora impagável, e saber que ele definitivamente não cruzaria mais o caminho de sua esposa o enchia de satisfação.

— Mama! — Mai berrou chorosa, correndo para agarrar as pernas de sua matriarca tão fortemente que Sakura cambaleou. — Não brigue mais com o papa, por favor!

Após um momento de surpresa, a Uchiha mais velha ralhou:

— Não me venha com seus joguinhos sentimentais, mocinha.

— Por favor, mama! — a menina suplicou, e agarrou suas pernas com mais força, escondendo o rosto em suas calças. — Seu rei e sua princesa só queriam o seu bem. Nós te amamos demais para deixar que um cretino como o Arataza fique em cima de você. Acredite em mim, mama!

—  Cretino? — Sakura repetiu chocada. — Onde diabos aprendeu essa palavra?

Mas a menina não fez questão de responder sua indagação, apenas levantou o rosto choroso, e seus olhos verde escuros estavam inundados em lágrimas. Ela fungou, fitando Sakura com tamanha manha que a raiva da matriarca se dissipou um pouco.

— Não brigue mais com o papa, por favor.

Sasuke, que se manteve calado, aproximou-se manso e colocou a mão no ombro da esposa. Enquanto Mai agarrava a Uchiha pela frente, Sasuke a abraçou por trás, e logo toda a tensão do corpo dela se desfez, um golpe baixo e simples para controlar sua raiva.

— Desculpa. — o Uchiha murmurou ao pé de seu ouvido, passando os lábios pelo seu pescoço em uma carícia suave. Sakura corou dos pés à cabeça, e Mai soltou suas pernas, observando a interação dos dois fixamente com um sorrisinho maroto.

— Q-querido... — ela gaguejou, o rosto ainda em chamas quando Sasuke a puxou para mais perto. E enquanto o Uchiha depositava um beijo em seus lábios rosados, Mai levantou o dedão em aprovação às costas de sua mãe, e apenas Sasuke fora capaz de ver o seu gesto.

Ele sentiu vontade de rir.

Não existia ninguém no mundo tão cheia de artimanhas quanto Uchiha Mai.

Quando seus pais finalmente encerraram o momento meloso, e sua mãe parecia bem mais calma, a menina finalmente foi atingida pela curiosidade. Ela enrugou a testa e levou um dedo até o queixo, pensando e pensando na frase que o pai tinha dito ao maldito Arataza.

— Papa, — o chamou distraída, e quando Sasuke se deparou com aqueles infantis olhos cheios de curiosidade, soube que algo terrível estava prestes a ser dito. — Estava pensando no que disse ao Arataza, e não sei o que é...

Sasuke arregalou os olhos negros, e Sakura mantinha uma expressão curiosa. Ele até mesmo tentou correr até a menina a tempo de impedi-la. Sabia que Sakura derrubaria todas as estruturas da casa ou, no mínimo, teria um ataque, mas não foi rápido o bastante para impedir a catástrofe.

Oh, infelizmente não foi.

— O que é bater uma pensando na mama?