PARTE I – A ira de uma ninja médica

Residência dos Uchiha, 12:30

Após tantos anos longe de sua própria mulher e filha, Sasuke finalmente tinha cumprido com seus deveres. Quando voltou para a vila, se ressentia por não ter vivenciado valiosos anos da vida de sua menina, e sabia que não era capaz de recuperar o tempo perdido. Mas certamente tentou aproveitá-la ao máximo quando, por fim, estava ali ao seu lado, e era capaz de enxergar a satisfação genuína de Sarada por ele estar de volta ao lar.

Sakura também estava incondicionalmente feliz.

Não demorou muito para que, após seu retorno, o segundo filho chegasse. Qual foi sua surpresa quando uma menina veio ao mundo novamente; mas esta possuía um emaranhado de cabelos rosados, e por um tempo acreditou que ela não tivera herdado muita coisa sua. De olhinhos puxados e de um verde muito escuro, Mai poderia ser apontada como uma criança... complicada.

Em meio ao treinamento do filho do Hokage e ocasionais missões, Mai cresceu saudável e muito tagarela. E desta vez, ele fez questão de estar mais presente, para que não perdesse momentos únicos como, infortunadamente, ocorreu com sua amada Sarada. Mas veja bem, Uchiha Mai era terrivelmente diferente de Sarada.

Enquanto a primogênita do jovem casal Uchiha era relativamente calma, centrada e muito dedicada, a mais nova era debochada, indiscreta e vingativa, quase como se guardasse uma essência muito maligna. Poderia pontuá-la como um demônio de cabelos rosáceos dotada de uma habilidade persuasiva assustadora.

E isso o chocava, às vezes.

Por isso que, naquele momento, Sasuke definitivamente defendia que era tudo culpa dela. Se aquele pequeno ser malicioso não tivesse enchido sua cabeça de peripécias, talvez não tivesse agido daquela forma, mas bem, o patriarca ao menos sentia qualquer culpa por seus atos. Tinha se deliciado com o gostinho da vingança, e nossa, fora muito glorioso enquanto durou.

— Ele implorou para que trocassem o responsável pelo tratamento, Sasuke. Implorou! E tudo por quê? Porque meu marido estúpido teve uma crise de ciúmes sem qualquer sentido lógico!

Enquanto Sakura urrava à sua frente, insana de tão furiosa, o Uchiha só conseguia pensar que seu problema finalmente estava resolvido. Já que o maldito selo estampado nas costas dela não era o suficiente para informar que, sim, ela era casada, viu-se obrigado a usar outros meios. E isso envolvia a presença do marido em questão acompanhado de um pequeno ser Uchiha com um punhado de providências.

Será que tinha se deixado levar? Teria sido totalmente influenciado pelas artimanhas da travessa Mai? Era capaz de Sakura dar um murro em sua boca se ele ousasse culpar sua amada filha, ainda que ela tivesse ciência de todo o seu caráter duvidoso.

— Hm. — foi tudo o que saiu de seus lábios, uma carranca rabugenta estampada na face madura; e talvez aquele tenha sido seu maior erro, definitivamente.

Apenas pôde vislumbrar um brilho muito perigoso lampejar naqueles olhos verdes antes de desviar de um soco poderoso e potente que, obviamente, era marca da força ninja de sua esposa, e foi este mesmo punho que dilacerou o sofá onde antes estivera sentado, espuma e madeira voando para todo lado.

E ali, bom, ali ele realmente temeu por sua pele.

— Eu. Estou. Falando. Com. Você. Uchiha!

Pausadamente e com um timbre ameaçador, as palavras causaram um arrepio em sua espinha. Pois bem, o primeiro grande motivo deste temor era: Sakura quase nunca ficava realmente irritada com ele, foram mínimas as vezes em que se exaltou e, ainda assim, nunca parecia realmente sério. Por segundo, ela nunca tentou o ferir de fato, ainda que existisse uma época em que teve a tola intenção de matá-lo, e talvez aquele soco não fosse para efetivamente acertá-lo, ele ponderou.

Em terceiro, sua esposa jamais o chamou por Uchiha.

Diante o choque daquela ira sobre-humana, Sasuke só conseguia pensar que estava realmente encrencado daquela vez; tinha se metido em uma bela merda estilo vingador de ser, mas bem, ainda que sua amada Sakura o fuzilasse, ele certamente não guardava ressentimentos do que fizera.

Oh, não guardava mesmo.