Destiny escrita por oicarool


Capítulo 14
Capítulo 14




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Os dias passavam devagar no Vale do Café, e Darcy e Elisabeta pareciam a cada dia mais certos da importância de sua relação. Ainda era uma prioridade para eles que Lizzie não soubesse de nada, mas ela e Ofélia eram as únicas pessoas entre seus conhecidos que ainda estavam alheias ao relacionamento.

E para a maioria das pessoas eles sequer precisaram contar. Era apenas óbvio na forma como se tratavam, nos toques discretos, na forma como se inclinavam um para o outro a todo momento. Já era parte de uma rotina que incluía passeios, jantares, e momentos roubados na casa da colina.

Seus amigos não poderiam estar mais felizes, mas se destacava a alegria de Charlotte. Não recordava-se de ver seu irmão tão feliz, com um sorriso tão fácil e um humor tão leve. Era visível a mudança de Darcy em seu trabalho e em suas relações, mesmo com Lizzie. Elisabeta despertava nele algo especial, que Charlotte não recordava-se de ver anteriormente.

O observava agora em um momento de paz com Lizzie e Elisa. Os três dividiam um sofá, e enquanto Lizzie estava adormecida com a cabeça no colo do pai, Elisabeta descansava no peito dele. Uma das mãos de Darcy acariciava os cabelos de Lizzie, e a outra brincava distraidamente com a mão da namorada.

— Vocês estão o retrato de uma família feliz. – ela comentou, arrancando um sorriso de Elisabeta.

— Somos uma família feliz. – Darcy disse simplesmente, beijando o topo da cabeça de Elisa.

— Deveriam contar a ela. – Charlotte apontou para Lizzie. – Ela pode não entender completamente, mas percebeu que as coisas mudaram.

— Elisa quer garantir que não tenha vontade de me deixar. – ele riu, arrancando um olhar sonolento dela.

— Não quero confundir Lizzie. – Elisabeta deu de ombros. – Ela já passou por muita coisa em pouco tempo.

Os Williamson perderam a fala ao ver o olhar amoroso que Elisa direcionou à Lizzie. Era ainda surpreendente pra eles que a pequena tivesse a sorte de ter alguém como a mais velha das Benedito em sua vida. Não pensaram que seria possível que ela pudesse tão rápido escolher outra figura materna.

— Lizzie ficará eufórica. – Charlotte assegurou. – Não há, com exceção de Darcy, outra pessoa que minha sobrinha goste tanto. E é bastante dolorido constatar este fato. – a mais jovem sorriu.

— Ela é uma criança muito especial. Não sei o que de tão certo na vida eu fiz para merecê-la.

Darcy acariciou os cabelos dela, beijando sua testa em seguida. Elisabeta fechou os olhos, voltando a aproveitar a paz do momento.

— Quero dizer que vocês devem aproveitar o máximo de tempo possível. Nunca haverá mais certeza do que agora, e já aprendemos que o tempo nem sempre está ao nosso favor.

Elisabeta sentiu um arrepio percorrer seu corpo com as palavras de Charlotte. Aninhou-se um pouco mais em Darcy, que apertou sua mão com força. Não tocaram mais no assunto, mas Elisa não pode evitar a sensação de apreensão que a acompanhou durante o restante do dia.

##

Mais tarde, Darcy a levou para casa em seu carro. Parou um pouco afastado da casa dos Benedito, puxando Elisabeta para um beijo demorado e apaixonado. Era cada vez mais difícil para eles que precisassem se separar ao final do dia, mas Elisabeta já fazia algum malabarismo para explicar para sua mãe as noites fora de casa.

Havia um máximo de desculpas que poderia dar para explicar a necessidade de permanecer na casa dos Bittencourt após os jantares, e Jane nem sempre podia ser sua cúmplice, principalmente agora que Julieta estava fora da cidade.

Mas sentia falta de dormir com o corpo de Darcy colado ao seu, acordar no meio da noite com beijos roubados e da liberdade de estar com ele. Seus dias longe dos Williamson pareciam vazios e tinham pouca graça, e suas noites longe de Darcy eram solitárias e frias.

— Eu queria ficar com você. – ela sussurrou entre o beijo, e Darcy a apertou contra seu corpo.

— Se você falar de novo, eu dou partida neste carro e vamos para casa.

— Você sabe que não podemos. – ela mordeu o lábio dele.

Ele a encarou por alguns segundos, sério, fazendo com que Elisabeta engolisse em seco. Sabia o que ele estava pensando, mas tinha medo de que não desse certo, de que não fosse o caminho correto. Tinha medo de entrar de vez na vida dele e Lizzie. Medo de uma felicidade que nunca pensou ser possível, e que temia não ser duradoura.

Darcy soltou o ar, desviando o olhar. Já conversara com Elisabeta a respeito em algumas oportunidades. Já fazia mais de um mês desde o pedido de namoro, e ele ainda via dúvidas no olhar dela. Toda vez em que o assunto casamento surgia, ou em que ele tentava convencê-la a contar à Lizzie, aquela sombra aparecia, e o magoava a cada dia.

Não tinha dúvidas a respeito de Elisabeta. Era o amor de sua vida, a mulher que ele precisava para ser feliz e se sentir completo. E sabia que ela o amava também, estava nos gestos dela, no olhar carinhoso, em cada beijo. Mas havia parte dela que não se entregava, que resistia, e era uma parte que machucava seus sentimentos.

— Darcy... – ela o chamou, e os olhos dele se viraram para ela novamente.

— Boa noite, Elisa. – Darcy se aproximou com calma, beijando a testa dela. – Durma bem.

Elisabeta pensou em dizer mais alguma coisa, em puxá-lo para um beijo que falasse mais do que suas palavras, mas não o fez. Acariciou o rosto dele e forçou um sorriso, mas saiu do automóvel com o coração pesado, com a sensação do não dito. E então a apreensão da tarde tomou conta de seu coração novamente.

Um vento gelado a atingiu, e o barulho do motor se fez distante. Entrou em casa em silêncio, fingiu um sorriso ao cumprimentar os pais, e entrou em seu quarto. Jane já estava adormecida, mas Elisabeta demorou muito tempo para encontrar o caminho de seus sonhos, que logo se transformaram em perturbadores pesadelos.

##

E sem saber como agir, Darcy optou por respeitar o espaço de Elisabeta. Nos dois dias que se seguiram, permaneceu a espera dela. Não queria pressioná-la, não queria insistir ainda mais para uma definição. Apenas queria estar com Elisabeta, planejar sua vida com ela, mesmo que isso exigisse tempo e paciência.

Mas Elisabeta não era o único assunto que o preocupava. Recebera uma carta de São Paulo naquela manhã, e o conteúdo o deixara perturbado. Há alguns anos não tinha notícias de sua tia Margareth, e agora ela não só reaparecera, como estava a caminho do Vale do Café.

E sua tia não poderia ter outro assunto para tratar além de Briana. Margareth nunca perdoara Darcy por não cumprir as promessas de casamento feitas por seus pais ainda na infância, e agora que ele era um viúvo e um tempo aceitável havia passado, tinha certeza que a cobrança retornaria.

Era evidente que não possuía qualquer interesse em uma relação com Briana. Não negava que na adolescência havia trocado alguns beijos com a prima, mas não a via há muitos anos, talvez desde o seu casamento com Mary. E é claro que não sabia como abordar Elisabeta em relação ao assunto.

Não havia como explicar para Elisabeta a obsessão de Margareth com a assunto. A tia chegara a romper relações com seus pais quando estes ignoraram o acordo de berço e optaram por unir forças com a família de Mary. E Darcy dera graças à Deus, uma vez que Mary era uma moça muito mais agradável e honesta do que sua prima.

Mas não poderia ignorar a presença da tia, e sua cordialidade impedia que se recusasse a hospedá-la na fazenda, ainda que Charlotte insistisse no contrário. Pretendia conversar com Elisabeta antes da chegada da tia, mas tudo aconteceu rápido demais. Em um momento estava prestes a sair de casa, e no momento seguinte Margareth e Briana entravam na casa de Julieta como se estivessem em sua própria casa.

— Darcy, meu querido. – a tia disse com falsidade. – Como vai? Sinto muito pela morte de sua esposa. Uma perda terrível, de fato.

Darcy foi pego de surpresa pela entrada das duas, e ficara óbvio para ele que a carta fora enviada minutos antes do início da viagem, e ainda mais provável era que não tivesse da bolsa da tia até aquela manhã.

— Tia Margareth. – tentou dizer calmamente. – Seja bem vinda. Briana. – ele cumprimentou as duas.

— Como vai, primo? – Briana abriu um sorriso felino. – Senti a sua falta.

Darcy nada respondeu, e foi salvo de maior constrangimento pela entrada de Charlotte no recinto. Sua irmã fez um trabalho melhor que o seu em disfarçar seus reais sentimentos, e logo Darcy foi arrastado para um chá da tarde com duas das mulheres que mais desprezava no planeta.

Lizzie juntou-se a eles minutos depois, e Darcy sentiu ânsia ao ver o tratamento que Briana e Margareth dedicaram à Lizzie. Nada o irritava mais do que ver sua filha tratada como alguém que não era bem vinda em uma situação, e era exatamente a forma como as duas agiam. Ouviu sua tia despejar comentários à respeito do absurdo de se ter uma criança à mesa, e comentar cada pequeno detalhe de Lizzie.

Elizabeth era uma criança que tendia a timidez em momentos assim, e não o surpreendeu que ela permanecesse calada e quase alheia aos comentários das duas desconhecidas. A todo momento Darcy tentava interromper as críticas, que eram direcionadas à casa, à Charlotte, à Lizzie e à ele, sem distinção.

Mas como nada era tão ruim que não pudesse piorar, tão logo a refeição terminou e os cinco migraram para a sala de estar, a batida da porta foi ouvida. E o sorriso aberto de Elisabeta apontou do outro lado, se transformando em um sorriso confuso ao ver que os Williamson recebiam visitas.

Lizzie a abraçou aliviada, sem dizer uma palavra, e Darcy caminhou até ela, sem saber o que dizer ou como antecipar a situação.

— Não vai apresentar sua visita, meu caro Darcy? – Margareth sibilou. – Você é funcionária de Darcy, minha querida?

Elisabeta encarou Darcy, confusa, e logo encontrou o olhar aflito de Charlotte. A senhora à sua frente observava cada detalhe de suas roupas, com um olhar de desdém, enquanto a jovem à seu lado mantinha um sorriso exagerado.

— Elisabeta, esta é Margareth, minha tia, e sua filha Briana. – Darcy apressou-se. – Esta é Elisabeta, ela é...

Ele paralisou por um segundo, imperceptível para qualquer pessoa além de Elisabeta.

— Uma amiga da família. – ele a apresentou, encarando Lizzie, e o coração de Elisa apertou-se.

— Um prazer conhece-la, minha querida. Chegou em boa hora. Estávamos prestes a começar a falar sobre os detalhes do casamento.

— Casamento? – Elisabeta surpreendeu-se, ainda confusa diante da situação à sua frente.

— É claro. – a mulher sorriu. – Meu caro Darcy não escapará uma segunda vez de cumprir sua promessa. E tenho certeza que está ansioso para casar-se com Briana, não é, querido?

Os olhos de Elisabeta buscaram os dele, mas Darcy desviou o seu olhar, constrangido. Não havia como explicar para Elisabeta o que estava acontecendo sem expor o relacionamento deles. E embora não se importasse que a prima ou a tia soubessem, Lizzie o encarava assustada.

Lágrimas queimaram nos olhos de Elisabeta, mas ao sentir Lizzie se aproximar dela, buscando proteção, segurou suas emoções. Briana tinha um sorriso triunfante no rosto, e Margareth observava suas reações como uma cobra. E foi o olhar da mais velha que fez com que Elisabeta respirasse fundo e buscasse seu melhor sorriso.

— Bom, eu não gostaria de atrapalhar a conversa. – manteve o sorriso. – Senhor Williamson, peço permissão para levar Lizzie para um passeio no jardim.

Darcy finalmente encarou seus olhos, envergonhado. O sorriso de Elisabeta não disfarçava sua mágoa e confusão, ao menos não para ele, que aprendera a ler tão bem todas as suas expressões. Não queria nada mais do que puxá-la para o escritório e explicar toda a história, mas os olhar observador da tia não parecia deixar escapar a interação dos dois, e Darcy foi tomado por um forte instinto de proteger Elisabeta e a relação dos dois.

Ele balançou a cabeça afirmativamente, e esperou que seu olhar fosse o suficiente para dizer que conversariam depois, que ele possuía uma explicação. Mas seu coração afundou em seu peito ao ver Elisabeta virar as costas e caminhar de mãos dadas com Lizzie, porque a última coisa que ele pôde ver no olhar dela foi uma barreira sendo erguida.


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