Destiny escrita por oicarool


Capítulo 1
Capítulo 1




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O vento gelado bagunçava os cabelos castanhos de Elisabeta Benedito. Seu cavalo, Tornado, galopava pelos campos do Vale do Café, sem rumo, buscando apenas a liberdade que sua dona tanto ansiava. Prestes a completar 24 anos, Elisabeta não tinha desejos comuns. Queria encontrar o seu lugar no mundo, um lugar que ainda desconhecia.

Na tarde que caia, a mais velha de cinco irmãs encarava as paisagens que passavam como borrões, em parte pela velocidade de sua cavalgada, em parte pelas lágrimas que insistiam em nublar sua visão. Era mais um dia de conflitos com sua mãe, que insistia que estava na hora de Elisabeta casar-se.

Mas o casamento não era parte dos planos de Elisabeta. Não acreditava em uma união sem amor, e não acreditava ser possível buscar os seus sonhos atrelada a alguém. Muito menos se este alguém fosse um fazendeiro do Vale do Café, cujos sonhos se resumiam a pés e grãos.

Não seria feliz ao lado de Xavier. Não poderia negar que era um homem bonito, de posses, com uma reputação impecável. Porém, não havia amor ou cumplicidade. Nos constantes passeios em que faziam, Elisabeta buscava no fazendeiro as características que indicassem que Xavier poderia alimentar seus sonhos, mas elas não estavam lá.

Apesar de sua educação e generosidade, Xavier era um homem focado nos negócios. Seu mundo girava em torno do Vale do Café, e embora Elisa não soubesse qual era o seu lugar no mundo, sabia que não era o que já conhecia. Tinha certeza que reconheceria o que buscava no momento em que encontrasse.

Porém o tempo agora corria contra seus desejos. Faltava a Elisabeta a coragem necessária para sair de casa e procurar seu próprio destino. Pensava nas irmãs, a quem cuidara a vida inteira, e nos pais, que já começavam a apresentar os sinais da idade. Mas agora não havia mais escolha.

Nos últimos meses finalmente aceitara os cortejos de Xavier, e só agora percebia o erro cometido. Não esperava que o fazendeiro entendesse seus passeios, e até mesmo os beijos roubados, como uma relação séria. Por isso a surpresa quando, nesta manhã, Ofélia chegara à casa eufórica, após saber as fofocas da cidade. Xavier estava buscando anéis de noivado, e Elisabeta saberia que era uma questão de tempo até que o pedido fosse feito.

Tentou conversar com a mãe e expor seus desejos, sem sucesso. Ofélia Benedito acreditava na instituição matrimonial. Acreditava que o dever de uma mulher era casar-se, ter filhos e cuidar da casa. Mas para a primogênita esse destino era torturante. A ideia de nunca sair do Vale do Café a assombrava.

E não queria magoar Xavier. Não era de sua índole brincar com os sentimentos. Calculara errado os passos dados, e agora precisaria resolver a situação. Gostava de Xavier, era um homem correto e justo, um dos maiores produtores de café da região. Um homem que a respeitava e ouvia. Eram apenas muito diferentes, e Elisabeta sabia que alguns beijos não mudariam os planos opostos que ambos tinham.

Elisabeta balançou a cabeça, tentando afastar seus problemas sem solução. Sentiu Tornado aumentar sua velocidade ao chegar mais perto de casa, e embora não quisesse voltar, Elisabeta sabia que o animal já estava exausto por passar uma tarde correndo sem direção. Acariciou a crina do cavalo, grata ao companheiro.

Mas a distração impediu que Elisabeta ouvisse o som do carro que se aproximava, e sua mão frouxa na rédea não impediu que fosse arremessada ao chão quando Tornado assustou-se com o obstáculo que surgiu sem sua direção. Sentiu a cabeça bater forte no chão, a deixando atordoada.

— A senhorita está bem? – ouviu um homem perguntar.

Elisabeta tentou levantar-se, porém a tontura a atingiu novamente, fazendo com que deitasse novamente.

— Ei, calma. – ouviu a voz novamente, dessa vez sentindo que alguém tocava em seu rosto. – Abra os olhos.

Ela abriu os olhos com calma, tentando focar no ambiente à sua volta. Porém, foram olhos de um misto de azul e verde que a encararam de volta, fazendo-a sentir um atordoamento diferente. Ele a encarava com preocupação, uma mecha solta no cabelo impecavelmente arrumado. Nunca o vira no Vale do Café, pois tinha certeza que lembraria daqueles olhos se já os tivesse visto.

— A senhorita está bem? – ele repetiu, ajoelhado à seu lado.

— Sim, sim. – ela levou a mão a cabeça. – O que diabos o senhor estava fazendo por estas bandas?

— Me desculpe, eu acabo de chegar à região. Estou procurando a casa onde ficarei hospedado. – ele apressou-se a responder.

— Pois saiba que o senhor precisa tomar mais cuidado. – Elisabeta respondeu, recuperando-se totalmente e levantando-se abruptamente. – Poderia ter me matado.

— Ora, a senhorita é quem não deveria estar tão distraída. – o homem também levantou-se, sacudindo a poeira de seus joelhos.

— E quem disse que eu estava distraída? – ela cruzou os braços, observando-o.

Suas vestes eram de qualidade, e seu olhar arrogante deixava claro que era um homem rico. Mas nem seu dinheiro e nem seus olhos perturbadores a impediriam de falar umas verdades.

— É claro que estava. – ele bufou. – De que outra forma explicaria não ter ouvido o automóvel?

— O senhor é quem dirige esta, esta coisa, de forma imprudente, e eu quem deveria ouvi-lo? E se uma criança entrasse em sua frente?

— Uma criança seria menos tola. – respondeu arrogante, arrancando um olhar indignado de Elisabeta.

— O senhor é muito arrogante. – o olhar dela faiscou.

— E a senhorita é uma descontrolada. – o homem cruzou os braços.

Darcy mal podia acreditar que estava naquela situação. Acabara de chegar ao Vale do Café, procurando a casa dos Bittencourt para hospedar-se, e já estava envolvido em um mal entendido. Julieta prometera que o campo era o lugar perfeito para Darcy colocar seus pensamentos e negócios em ordem, mas sua impressão agora era o completo oposto.

— Mas é claro! – ouvi-a dizer em tom alto. – Por que me espantaria de um homem como o senhor sugerir que eu, uma mulher, seja histérica?

— Senhorita, me desculpe novamente pelo inconveniente. – disse, irritado e desconfortável.

— Pois não desculpo. – ela disse, cruzando os braços novamente.

Darcy suspirou pesadamente. Aquela moça cheirava a confusão, com sua postura desafiadora e os olhos claros faiscando a cada palavra. Mas Darcy era um homem observador, e sabia que o nariz e os olhos avermelhados significavam que estivera chorando. E ultimamente uma mulher chorando era o suficiente parar tirar sua paz.

— A senhorita precisa que eu a leve em casa? – perguntou, impaciente, querendo seguir seu caminho.

— É claro que não. Apesar de sua tentativa de matar o meu cavalo, ele pode muito bem me levar para casa. – respondeu ironicamente.

— Pois boa sorte em encontrar o seu cavalo. – Darcy respondeu, dando as costas para a moça e entrando novamente no carro.

Elisabeta encarou o ambiente à sua volta. Em algum momento em meio à sua discussão com o desconhecido, Tornado havia seguido seu caminho sem ela. Bufou, irritada. Nada poderia piorar naquele dia. Mas recusava-se a pedir ajuda à um homem tão insuportável.

— Tenho pernas, não se preocupe. – respondeu mais para si mesma do que para ele.

Elisabeta começou a caminhar em direção a sua casa. Era um caminho longo e sabia que só chegaria à residência quando o sol não mais brilhasse. Além disso a cada passo sua cabeça latejava, assim como suas costas. Não bastando o desconforto, o homem seguia lentamente em seu automóvel, atrás dela.

— Seria mais fácil se a senhorita aceitasse a minha oferta. – Darcy gritou por cima do barulho do motor.

— E por que eu deveria? – Elisabeta respondeu, sem encará-lo.

— A senhorita mal consegue dar dois passos sem gemer de dor. – respondeu, preocupado.

— E por que se importa? – ela parou abruptamente, fazendo-o frear de repente.

— A senhorita está louca? – Darcy gritou, assustado. – Eu quase passei por cima da senhorita!

— Não seria a primeira vez que o senhor tenta me matar hoje. Por acaso tem algum problema? – Elisa implicou.

— Senhorita, eu estou tentando ser cavalheiro. Como bem sabe, é minha culpa que seu cavalo tenha disparado. – Darcy bufou, saindo novamente do carro.

— Sua culpa? – um sorriso irônico apareceu nos lábios de Elisabeta. – Recordo-me do senhor dizendo que a culpada era eu, por estar distraída.

— A senhorita quer mesmo debater este assunto? – ele cruzou os braços, impaciente. – Eu estou faminto e acabo de dirigir pelo dia inteiro, gostaria de seguir o meu caminho.

— E o que está impedindo o senhor? – ela manteve seu olhar no dele.

— Eu não deixarei que caminhe até sua casa, está quase anoitecendo, pelo amor de Deus. Seja racional.

— Ai está novamente, o senhor me chamando de descontrolada. Pois prefiro ir com as minhas próprias pernas à dividir um carro com o senhor.

Darcy respirou fundo, sem tolerar mais um segundo daquela discussão. Não sairia dali enquanto aquela mulher não entrasse em seu carro e não a deixaria enquanto não a visse entrar em segurança em casa.

— Bom, a senhorita não me deixa outra escolha. – disse desgostoso.

Elisabeta viu o homem aproximar-se dela. Ele era alto, com ombros largos, e apesar do ar aristocrata, era um homem visivelmente forte. Evitou o impulso que teve de correr para longe quando ele parou em sua frente.

— É sua última chance de entrar neste carro por livre vontade. – ele avisou, e Elisabeta bufou.

Sem mover-se, não segurou um grito de susto quando o homem subitamente a levantou por cima de seus ombros, segurando suas pernas enquanto ela debatia-se e tentava socar suas costas.

— O que o senhor está fazendo? – Elisabeta gritou. – Me solte! Alguém me ajude, um maníaco está no Vale do Café.

— Acalme-se, mulher! – Darcy disse irritado, mantendo-a firme apesar das tentativas dela de se soltar.

Abriu a porta do carona do automóvel com uma das mãos, enquanto a segurava com a outra. Sem qualquer dificuldade, a sentou no banco, encarando os olhos atormentados dela.

— Como ousa? – ela gritou.

— Se a senhorita sair deste automóvel eu vou colocá-la de novo, mesmo que tenhamos que ficar aqui até amanhã. – Darcy avisou, acomodando as pernas dela e fechando a porta.

Elisabeta o encarou com irritação ao vê-lo passar em frente ao carro e então sentar-se ao seu lado. Como aquele homem insuportável ousava força-la à qualquer coisa? Não importava que sua cabeça latejava ou que parecia impossível chegar à sua casa em ajuda. Ele não tinha o direito de desrespeitá-la daquela forma.

— O senhor é um bruto! – bufou.

— A senhorita é uma cabeça dura e eu não estou reclamando. – ele respondeu, dando partida. – Agora, por favor, me diga como chegar à sua casa.

— O senhor não vai me deixar em casa. Um maníaco como o senhor não pode saber onde moro. – respondeu irritada.

— Pois posso deixa-la nas proximidades, é só indicar o caminho.

A contragosto, Elisabeta apontou a direção, percorrendo o caminho em silêncio. Os raios de sol se tornavam escassos, mas com certeza Elisabeta chegaria em casa muito mais rapidamente do que se dependesse de suas pernas.

Darcy permaneceu em silêncio, irritado e impaciente. Mal via a hora de chegar na casa da Julieta, tomar um banho e dormir. Perdera até a fome com a confusão causada. Manteve os olhos na estraga, sem querer encarar de novo a mulher insuportável à seu lado.

— Aqui está bom. – ela disse, abruptamente.

— Me desculpe novamente. – sua educação mandava desculpar-se. – Pelo acidente e pelos meus modos.

— Espero que siga seu caminho sem tentar passar por cima de outras pessoas. – ela respondeu com desdém, descendo do automóvel.

— E eu espero que a senhorita preste mais atenção à estrada. – respondeu irritado.

— O senhor é insuportável. – Elisabeta gritou, virando-se para ele.

— A senhorita é intolerável. – Darcy gritou de volta.

— Eu espero nunca mais ver esse seu rosto arrogante. – ela disse, dando as costas à ele.

— Pois nem eu quero ver o seu!

Darcy bufou ao vê-la desaparecer na escuridão. Sua estadia no Vale do Café não poderia ter começado pior. Sequer podia acreditar em seu destempero ao lidar com a moça que acabara de sair de seu carro. Orgulhava-se de sua educação, de ser um homem paciente e centrado. Por que diabos entrara em uma discussão sem fim com aquela mulher?

Elisabeta ouviu quando o motor do carro foi ligado novamente, pisando duro. Saíra de casa para distrair-se e pensar nos problemas, mas agora estava ainda mais atormentada. Como alguém com olhos tão impressionantes podia ser tão arrogante e grosseiro?

Foi muito tempo depois, quando a discussão voltava à cabeça dos dois impedindo-os de dormir que perceberam que sequer haviam se apresentado.


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