À Procura de Adeline Legrand escrita por Biax


Capítulo 80
Relíquias de Família


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas!

Agora sim, Lolo seguindo a vida. Acho que vocês ficarão surpresos com o que ela vai achar.

Boa leitura!



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Eu não conseguia tirar a expressão que Castiel fez o dia todo naquele sábado. Íris deu a notícia logo de manhã e, segundo ela, ele ficou alguns minutos sentado na cama, completamente paralisado. O cérebro dele tinha dado um belo de um bug.

Depois que o choque passou, Castiel puxou sua namorada pela cintura e a abraçou. Para os dois, aquilo era o suficiente. Eles não precisam de palavras ou juras de amor. Eles tinham um ao outro e aquilo era o mais importante. Íris até chegou a ficar com o olhar brilhoso enquanto contava, sem o outro ouvir, claro. Mas no fim, Castiel veio todo sorridente contando os planos que já fizera.

Foi bem bonitinho.

Passei o domingo irritada comigo mesma. Íris não sangrou naquele mês, mas eu comecei a sangrar logo cedo. Coloquei meu coletor menstrual e passei o dia deitada, sem vontade de fazer absolutamente nada. Até Tom e Jerry pareciam querer me evitar, já que preferiram deitar no corredor do que comigo.

Acordei na segunda-feira com vontade de brigar até com a torradeira que estava demorando para esquentar. E claro que, no fim, acabei me atrasando, pelo menos não tanto quando o primeiro dia. Fui avisada que teriam alunos novos no quinto ano da primeira aula. Assim que entrei na sala, dei uma olhada nas crianças, procurando alguma que eu não reconheceria.

— Bom dia, gente. Vi aqui que temos alunos novos... — Deixei minhas coisas na mesa, pegando a pasta com a chamada. Olhei a nova lista. — Quem são... Damien, Leon, Maria e Yvette? — Quatro bracinhos se ergueram timidamente. Dois meninos e duas meninas. — Eu sou a professora Heloise. Dou aula de inglês. Welcome. — Eles sorriram, acenando em agradecimento.

Comecei a aula, passando os textos na lousa. Pedi uma atividade fácil para entregar, pois não estava muito afim de ter que ficar explicando matéria e deixei os alunos fazerem. Me sentei na cadeira e esperei. Aos poucos, as crianças traziam seus cadernos para eu dar seus pontinhos, porém, notei que os alunos novos não trouxeram.

Algum tempo antes da aula acabar, fui até onde eles estavam, em mesas próximas e perguntei se estavam com dificuldade com a atividade. Os meninos tinham terminado, mas pelo jeito estavam com vergonha de levantar e ir até a minha mesa. Vistei seus cadernos e parei próximo das meninas, que aparentavam estar um pouco perdidas. Tentei explicar novamente, de um jeito mais lento. A menina chamada Yvette entendeu, mas Maria me olhava com uma expressão perdida.

— O que você não está entendendo, Maria?

Ela abriu a boca levemente e olhava para vários cantos, procurando as palavras. — Ah... Professora... a senhora fala... italiano...? — perguntou, com certa dificuldade.

— Italiano? Não, não falo. Por quê?

Seus ombrinhos murcharam e suas bochechas coraram, envergonhada por algum motivo que eu não consegui entender.

— Você entende o que eu estou dizendo? — Tentei continuar a falar devagar. Ela afirmou timidamente. — Mas não consegue entender tudo, é isso? — Afirmou novamente. — Tudo bem... Você conseguiu entender alguma parte da atividade?

— Sim... algumas, sim.

— Então faz o que você conseguir, tudo bem? Não precisa se preocupar.

Maria deu um sorrisinho mais animado e começou a escrever em seu caderno. Voltei para a minha mesa e o sinal tocou, indicando a troca de aula. Recolhi minhas coisas, me despedindo dos alunos e saí, pensando se teria que saber mais sobre o caso da garotinha. Pelo jeito, ela era italiana e não entendia muito de francês. Talvez ela só precisasse de convivência, crianças aprendiam muito rápido.

O dia passou rapidamente. Assim que peguei minhas coisas para ir embora, recebi uma mensagem de Íris, pedindo ajuda para ir buscar algumas coisas na casa de sua mãe. Respondi que iria direto para lá encontrá-la.

Quando cheguei, toquei a campainha e Isabelle me recebeu com o maior sorriso do mundo, já começando a falar em como estava feliz em ser avó. Pouco depois, Íris chegou e começamos a caça as coisas que ela queria pegar. O antigo quarto dela praticamente virou um depósito de caixas, móveis e mais caixas dentro deles.

Fomos separando todas as coisas de Íris quando era bebê. Isabelle guardara muita coisa, como roupinhas, fraldas de pano, cobertas, cadeirinhas, brinquedos e outras coisas, só tínhamos que procurar tudo aquilo de caixa em caixa. No meio tempo, Isabelle nos trouxe um lanche reforçado. A noite foi caindo de uma forma que não notamos, já que estávamos entretidas com álbuns de fotos de família.

— Olha, aqui a Íris tinha seis meses... — contava Isabelle, mostrando uma foto que devia ter cinco por cinco centímetros, que mostrava uma jovem senhora segurando um bebê ruivo. — Minha mãe ficou tão feliz quando a viu... Deve ser a mesma sensação que eu estou sentindo agora.

— Ah, mãe. — Íris riu, tirando mais álbuns de uma caixa grande. — Vai ter que aguentar a ansiedade.

— Mas é claro! Eu aguento, afinal, não tem outro jeito.

— O que vocês estão aprontando aí? — Olhamos as três para a porta, vendo Thomas encostado no batente. — Oi, Heloise.

— Oi, Thomas, quanto tempo não te vejo.

— Realmente. Me esperem aí, quero ver o que tem nessas caixas idosas. — Ele voltou o corredor, provavelmente indo para seu quarto.

Um tempo depois ele voltou, se sentando ao meu lado, abrindo mais uma caixa cheia de cadernos e outras caixinhas menores enquanto conversávamos. Folheei um caderno antigo de receitas enquanto Thomas abria uma caixa de madeira média e escura.

— É o que eu digo, todos deveriam se aprofundar em um estudo como esse... — Ele dizia, vendo papel por papel, até que parou em um específico, até o aproximando do rosto para enxergar melhor. — Que estranho... Por que eu acho que essa mulher parece você?

— Como é? — Puxei a foto de sua mão, tocando o papel antigo, amarelado pelo tempo, com imagem em preto e branco. Eram diversas pessoas, em sua maioria, mulheres, sentadas em cadeiras enfileiradas, e outras de pé. No canto esquerdo da foto, duas garotas chamaram minha atenção e eu acabei sorrindo sem perceber.

Era Adeline e eu, de mãos dadas, sorrindo para a foto. Mesmo que o papel estivesse desgastado, era possível distinguir nossos rostos, inclusive, Viviane e algumas outras funcionárias que trabalhavam conosco.

Nunca pensei que essa foto sobreviveria ao tempo...

Virei a foto, achando uma escrita em tinta preta desgastada. “Loja Legrand, 1912, Paris - França.”

— Por que você está sorrindo como se conhecesse essas pessoas? — Thomas indagou, curioso.

Pigarreei. — Quê? Não, não. É só que... é uma imagem muito bonita.

— Você não acha que essa moça parece com você? — Apontou para eu mesma, na imagem.

— Você acha?

— Vocês não acham que essa moça aqui do canto parece a Heloise? — Thomas entregou a foto para sua mãe e irmã. Íris olhou a imagem, surpresa e me encarou, deixando um sorriso escapar.

— Realmente, parece... — Isabelle comentou, deixando a imagem na frente do rosto, comparando comigo. — Que curioso.

— Vai saber se era uma parente — disse Íris, de bom humor, pegando a imagem para olhar também.

— Tem fotos aqui de uma loja... — Thomas foi pegando as outras fotos e me passando conforme via. — É a loja que nossa família teve, mãe?

— É bem provável que sim.

Era exatamente do jeito que eu me lembrava, sem cores, obviamente. Era estranho pensar que eu estive lá, todos os dias, por quase um mês.

— E isso...? De quem era? — Thomas retirou a última peça da caixinha. Um colar de pérolas que me fez ficar de boca aberta.

— Esse colar era da minha mãe, que era da mãe dela, e da mãe dela e assim por diante — explicou Isabelle. — Eu nem me lembrava dele... — Pegou o colar nas mãos, o observando. — Lembro de ver minha mãe usando. Ela me deu para usar no dia do casamento...

Pedi para pegar o objeto e ela me passou. Estava quase do mesmo jeito, claro que com alguns sinais de envelhecimento, nada que um polimento não resolvesse.

— Acho que vou preparar o jantar. — Isabelle se levantou, limpando a poeira das calças. — Pode me ajudar, Thomas?

— Claro, mãe. — Ele também se ergueu, seguindo a mãe para fora do quarto.

— Por que você fez aquela cara? — Íris perguntou baixinho, se arrastando para perto.

— Esse colar foi feito para Adeline, por Jean. Quer dizer, foi o irmão dele que fez, mas foi Jean que pediu para fazê-lo, para dar a Adeline e... Eu também ganhei um desse.

— Mentira! Como assim? — Ela arregalou os olhos.

— É uma longa história, mas ele quis me presentear também por tudo o que eu fiz para ajudá-lo, para conquistar Adeline, sabe? Eu ainda não olhei as coisas desde que cheguei. Acho que guardei a caixinha no guarda-roupas... É legal saber que esse colar realmente passou de geração em geração. Faça sua mãe usar, ou então você usa, viu?

Ela riu. — Claro, tudo bem... Será que amanhã você pode ir comigo no supermercado? Acho que quero dar uma olhada nos preços das coisas do bebê.

— Sim, com prazer.

Meia hora depois, Isabelle nos chamou para jantar. Deixamos a bagunça lá e fomos comer. Como eles ainda ficariam procurando mais coisas nas caixas, desisti de tentar arrumar a bagunça e tive que ir para casa. No dia seguinte, lá estava eu indo para o supermercado com Íris, que tinha feito uma lista, com a ajuda de sua mãe, das principais coisas que deveria ver o preço. Entramos na seção infantil e ficamos entretidas com banheiras, cadeirinhas, balcões...

Olhamos as roupinhas, lenços, fraldas, mamadeiras, chupetas, tudo o que tinha de direito. Íris estava anotando os valores e marcas no bloco de notas do celular. Ela escrevia e eu lia e falava as informações em voz alta. Havia uma pessoa ou outra fazendo suas compras no corredor, conversando com seus parceiros ou apenas olhando os produtos. Alguém começou a falar preços e marcas em voz alta, me atrapalhando.

Virei o rosto, prestes a soltar um xingamento quando minha expressão, de raiva, foi para choque, surpresa, espanto, sobressalto...

— Eu não estou vendo essa... Qual é a cor mesmo? — Ele perguntava, falando no celular. — Verde...? Verde-água, ok, ok... Ainda assim não tem aqui.

— Helô? — Íris tocou meu braço. — Ouviu o que eu disse?

Eu não conseguia tirar os olhos daquele ser humano, muito diferente do que eu estava acostumada. Os cabelos não eram loiros e sim, pretos e curtos. Talvez fosse mais alto do que eu me lembrava.

— Você conhece esse cara? — Íris sussurrou e eu afirmei, sem deixar de olhá-lo.

E agora? O que eu faço? Me aproximo...? Mas o que eu falaria?

O rapaz, que parecia perdido com tantas opções de fraldas e agoniado por ter que depender da ligação, nos lançou um olhar, estranhando por estar sendo observado. Rapidamente voltou a prestar atenção nas prateleiras.

— Alô...? Alô? Mas que droga... — Ele encarou a tela do celular e o desligou. Deu mais uma olhada para as fraldas e nos observou. — Desculpe, mas vocês entendem de fraldas?

— Acho que não tanto quanto você — respondeu Íris, dando um risinho. — Mas podemos tentar ajudar, qual o problema?

— Minha cunhada precisa de fraldas, só que ela jogou fora a embalagem e não sabe qual é a marca que gosta de usar.

— Hm... Dizem que essa é a melhor marca. — Ela apontou para um pacote azul. — Se não for a mesma marca que ela usa, é bem capaz de gostar também.

Ele considerou. — Ok, então vou levar essa. — Pegou um pacote. — Obrigado.

— Por nada.

Fiquei com medo de falar alguma coisa e ele automaticamente me odiar.

— Por acaso... nos conhecemos? — Ele me perguntou, e eu notei que seus olhos não eram verdes, como antes e sim, castanho escuro. — Você está me olhando como se me conhecesse de algum lugar.

É... bom... — Eu... te achei parecido com um... conhecido...

— Ah...

— Eu me chamo Heloise e essa é a minha amiga Íris. — Íris me lançou um olhar do tipo “você endoidou de vez?”.

— Raphael, muito prazer. — Ele sorriu. — É melhor eu ir, antes que minha cunhada me ligue de novo.

— Claro. — Puxei a primeira mamadeira que vi da prateleira. — Também vamos.

Ignorei o olhar que ele e Íris trocaram e segui para o caixa, sendo seguida por ambos.


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Notas finais do capítulo

Saudades da Lolo perdida? xD

E olha só quem apareceu! Será que nossa protagonista conseguirá algumas informações?

Até mais o/



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