À Procura de Adeline Legrand escrita por Biax


Capítulo 74
Coragem


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoinhas!

Ansiosos para saber o que vai rolar?

Boa leitura!



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— Heloise, não! — Ouvi Denise berrando, já afastada.

Puxei a saia do vestido para conseguir me movimentar melhor. Armand continuou correndo em direção à casa dos Pierre, passando pelo corredor lateral. Meu coração estava tão acelerado que chegava a doer em conjunto com os pulmões. Eu estava totalmente despreparada para uma perseguição.

Eu não lembrava da casa ser tão longe assim!

Continuei tentando acelerar o passo. Infelizmente o portão estava aberto, e Armand não teve dificuldade em chegar à rua. Quando eu estava prestes a soltar um xingamento, vi uma carruagem passando com toda velocidade. Armand se chocou com a parte traseira que levava diversas caixas de madeira e foi empurrado para trás com o impacto.

Empaquei no lugar devido ao choque, mas logo voltei a correr até ele. Ofegante e morrendo de calor, parei ao seu lado. Ele estava desacordado, com uma mancha vermelha começando a aparecer em toda a lateral do rosto.

A carruagem nem sequer parou. Provavelmente o homem que guiava os cavalos não deve ter ouvido e nem sentido o impacto.

— Acabou, Armand — sussurrei, tentando controlar a respiração. — Espero que você esteja vivo para pagar por tudo o que fez.

Ouvi passos no gramado e olhei para o lado. O homem-armário estava caminhando em minha direção, com a senhora logo atrás. Oliver, Kentin e Denise também estavam vindo.

— A senhorita é corajosa — elogiou o homem, gentilmente, quando parou do outro lado do corpo de Armand.

Sorri, agradecendo. — Eu não poderia deixá-lo escapar.

— Está sabendo sobre o que ele fez?

— Depende. Estou sabendo de algumas coisas, mas pelo jeito ele fez mais do que eu estou sabendo.

— Esse... energúmeno... — falou a senhora, ofegante, quando chegou. — Está devendo no meu bar... Mais de... cinquenta francos... — E os três mais novos também se aproximaram.

— E ainda estava tentando se envolver com minhas primas, duas de uma vez — explicou o grandalhão, calmamente.

Ah, então são elas... Graças a Deus que esse homem descobriu.

— E elas não foram as únicas. Pelo jeito ele tenta conquistar moças ricas, se casa com elas e depois foge com o dinheiro que conseguir.

— Como você sabe disso? — Oliver perguntou.

— As cartas que eu larguei na recepção. Eram da mãe dele, e pelo jeito ela participava de todos os roubos, ajudando nos planos...

— Devemos chamar a polícia? — Kentin se pronunciou.

— Não. Eu vou levá-lo até a delegacia... ou ao cemitério — disse o homem, abaixando e colocando dois dedos na garganta de Armand, para verificar a pulsação. — Delegacia.

Quase sem esforço algum, o homem pegou o corpo de Armand, como se fosse um saco de batatas, e o colocou no ombro.

— É melhor vocês levarem as cartas também, servem de prova.

Caminhamos juntos de volta à pensão. Denise tinha pego as folhas e as deixado no balcão. Entreguei as cartas dobradas para a senhora.

— Eu sinto muito que ele não tenha pagado a senhora.

— Ele não é o primeiro que faz isso, mocinha — disse ela, sorrindo. — Não se preocupe.

— Obrigado por ter ajudado, senhorita. — O grandão também sorriu. Apesar de seu jeito de mau, era fofo. — Novamente, foi muito corajoso de sua parte.

— Por nada. Eu também agradeço por vir atrás dele.

— Vamos filho, antes que esse infeliz acorde. — A senhora deu um tapinha no braço do homem, que acenou para nós antes de saírem para a rua.

Ficamos alguns segundos em silêncio, tentando digerir a situação.

— Caramba... Que emoção — comentou Kentin, depois de um tempo.

— Bota emoção nisso... — disse Denise, pensativa.

— Heloise... — chamou Oliver, confuso. — Eu não entendi... como você conseguiu as cartas?

Denise e eu nos olhamos, e ele rapidamente fez uma cara de quem estava começando a entender que nós duas estávamos por trás daquilo.

— Tudo bem. Foi o seguinte. Denise estava limpando o quarto daquele homem e viu uma carta sobre a mesa, e como a caligrafia chamou sua atenção, ela deu uma olhadinha e viu que meu nome estava escrito no meio do texto. Ela estava na dúvida se contava ou não, por ser invasão de privacidade, mas eu a fiz contar. Não sabíamos quais eram as intenções dele. Depois eu fiz Denise pegar as chaves extras e eu fui procurar por essa carta no quarto dele. Achei as cartas, as li e vi que era tudo planejado com a mãe dele.

Oliver descansou as mãos na cintura, com uma cara de bravo, olhando ora para mim, ora para Denise. Então, ele suspirou e soltou os braços ao lado do corpo.

— Eu sei que foi errado, totalmente errado e isso poderia ter sido muito grave se ele fosse inocente. — Nós duas concordamos. — Mas já que era culpado, não tenho motivos para brigar com vocês. Eu realmente espero que, se isso acontecer novamente, vocês avisem alguém ou diretamente a polícia. Entenderam?

— Sim — respondemos em uníssono.

— Ótimo... Caramba, que dia louco... Ele estava usando um nome falso ainda por cima.

— Se é que Armand era o nome verdadeiro dele — comentei. — Provavelmente não. Mas acho que o sobrenome era verdadeiro. A mãe dele assinava como A. Burnier.

— Ele deve ter documentos falsos, não? — sugeriu Denise.

— Por falar nisso, não seria melhor se levássemos as coisas dele para a delegacia? — Kentin questionou. — Posso fazer isso.

— Sim. É melhor — concordou Oliver. — Antes que a polícia resolva vir buscar. A pensão poderia ficar mal falada por causa disso.

Kentin concordou e saiu da recepção.

Senti um peso no vestido ao me mover e me lembrei do que tinha guardado no bolso. Tirei a caixinha e Denise a olhou, curiosa.

— O que é isso?

— Um presente... — Abri a tampa, revelando os brincos de pedra. Tanto Denise quanto Oliver olharam, impressionados. — Armand tinha me dado esses brincos há algum tempo, mas eu os devolvi porque não poderia aceitar algo tão caro e muito menos aceitar sua intenção. Então... eu resolvi pegá-los para mim de novo. Armand não vai conseguir presentear mais ninguém depois de hoje.

— Eles combinam muito com você... — comentou Denise, pegando um dos pares e aproximando de minha orelha. — As cores da pedra e dos seus olhos são parecidas.

— É, eu reparei nisso. — Sorri, e Denise colocou o pequeno objeto de volta.

— Bom, não que eu ache isso totalmente certo, mas... Acho que é o mínimo que ele pode te dar, depois de tudo o que fez — disse Oliver, indo para trás do balcão.

— Eu também penso assim. Por isso peguei... — Me aproximei, apoiando os braços no tampo. — Oliver... Quanto tempo Armand ficou hospedado aqui?

Rapidamente, ele pegou o caderno onde anotava a chegada e saída de todos os hospedes. Folheou algumas páginas, procurou por cada linha, folheou novamente, e deslizou a ponta do dedo na folha, procurando cuidadosamente.

— Aqui... Ele chegou no mesmo dia em que você voltou da sua pequena viagem... Dia vinte e três, mas eu contei apenas no dia vinte e quatro. Foram... — Ele olhou o calendário, fazendo as contas. — Dezenove dias.

Armand estava em um quarto do primeiro andar. Dez francos diários.

— Certo. Obrigada. — Fiz menção de sair.

— Por que quis saber?

— Depois você vai saber.

Deixei os dois com caras confusas para trás e subi, indo para o quarto. Procurei minha bolsinha de dinheiro e peguei duzentos francos. Era a mais, mas não tinha problema. Guardei a caixinha de brincos na mochila e voltei à recepção. Coloquei as moedas no balcão e Oliver estranhou.

— Heloise... Você não precisa pagar pela estadia dele. — Oliver se levantou, me encarando.

— Não preciso, mas quero. Esse é um dinheiro que pode fazer falta para vocês... E sinceramente, não acho que ele iria pagar quando fosse embora.

Oliver baixou o olhar, pensativo, observando as moedas.

— Por favor, Oliver, aceite. Não vai me fazer falta. Eu quero pagar porque vocês merecem. Fazem de tudo pelo bem-estar dos seus hóspedes, tem ótimas instalações, uma comida bem-feita... Essa deve ser a melhor pensão do mundo.

Ele sorriu e me olhou. De repente, notei que seus olhos brilhavam.

— Você vai fazer muita falta aqui. Sabe disso, não sabe?

Apertei os lábios, começando a me emocionar com a emoção dele. — Não me fez chorar agora, menino! Aceita logo esse dinheiro antes que eu desabe.

— Tudo bem. — Soltou uma risada. — Mas só porque você elogiou a pensão. — Recolheu o dinheiro e o guardou em uma das gavetas da mesa. — Obrigado por isso.

— Por nada.

— Então... hoje é sua folga, não é?

— Sim.

— Não vai se encontrar com Nathaniel?

— Não sei... Nem sei se ele também está de folga hoje.

— Ele... já sabe que você vai embora no domingo?

— Não. Ele sabe que tenho que ir, mas ainda não o avisei sobre o dia. Confesso que estou com um pouco de receio de contar...

— Está com medo da reação dele?

— Não, nós dois sabíamos que isso aconteceria cedo ou tarde. É que... Contar para ele apenas vai concretizar isso em mim, sabe? Eu não quero pensar sobre, mas não tem como não pensar. Antes parecia que esse dia estava tão longe. E agora... Faltam alguns dias.

Oliver balançou a cabeça lentamente, como se entendesse o que eu estava sentindo. Então, ajeitou a postura no mesmo momento em que o sino da porta soou. Ele sorriu de uma forma diferente e eu olhei para trás, vendo Nathaniel entrando.

— Nath... — falei, surpresa.

— Boa tarde... — Ele sorriu para nós dois e me encarou. — Resolvi fazer uma surpresa. Está surpresa?

Acabei rindo. — Sim, muito. Estávamos falando de você, por acaso não ouviu nada?

— Não, não ouvi, mas bem que estava com uma sensação estranha — brincou e virou-se para Oliver. — Como vão as coisas por aqui? Está tudo bem?

— Sim, agora está tudo bem. Tivemos uma tarde agitada — comentou, me dando uma rápida olhada.

Nathaniel me encarou, com a curiosidade brilhando em seus olhos.

— Acho que tenho algumas novidades para te contar — falei, segurando seu braço. — Você... estava planejando fazer algo?

— Na verdade não, eu apenas quis te ver. Por quê?

Quase coloquei a mão acima do coração ao ouvir aquela frase espontânea.

— Por nada. Podemos ir para o meu quarto para conversarmos mais à vontade... Mas eu estou morrendo de fome.

— Posso pedir para Denise te levar algo para comer — disse Oliver, prestativo. — Acho que merece um banquete depois do que fez.

— Você está deixando o psicólogo aqui ainda mais curioso. — Dei risada. — Eu aceito, obrigada. Vem, vamos.

Segui para o corredor com Nathaniel logo atrás, em direção ao quarto, com uma sensação estranha no estômago, que não era apenas fome.


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Notas finais do capítulo

Ufa! Enfim, pegamos o não-mais-futuro-ex-marido ~alívio Agora ele vai pagar por tudo o que fez.

Acharam justo a Lolo pegar os brincos? sahusah

Olha que legal as moedas da época (fui pesquisar para imaginar a cena da Lolo dando o dinheiro para o Oliver). Elas são muito lindas.

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O que acharam desse capítulo? Espero que tenham gostado. Agora, dou um aviso. Preparem seus corações para quarta que vem. O capítulo estará bem... sentimental.

Até mais o/



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