À Procura de Adeline Legrand escrita por Biax


Capítulo 69
Inveja


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas!

Ansiosos para mais do baile? Bora!

Boa leitura!



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Antes que eu conseguisse impedir, Adeline foi convidada para dançar por um rapaz, que aceitou no mesmo segundo. Fiquei junto das pessoas que estavam assistindo, encostada, de braços cruzados, em um dos pilares do salão, olhando fixamente para a garota animada. Pelo menos aparentemente ambos apenas queriam dançar, sem conversas paralelas.

Um garçom parou na minha frente, oferecendo alguma das taças com vinho. Peguei uma, para tentar não ficar tão entediada e beberiquei.

— Poderia saber o porquê de a senhorita estar aqui e não aproveitando o baile? — Alguém perguntou simpaticamente e eu olhei para o lado, encontrando um rapaz mais alto do que eu, de cabelos castanhos e encaracolados, com um sorriso gentil.

— Eu estou de olho em minha amiga. Ela tomou alguns goles a mais de vinho do que devia... E o senhor? Por que não está dançando? — questionei, um pouco desinteressada, mantendo a vigilância em Adeline.

— Não encontrei uma companheira que me prendesse na dança... — Ergueu sua mão com a palma para cima a minha frente.

Tentando não ser grosseira, apesar de não querer distrações, deixei minha mão na dele, e assim o homem depositou um beijo em meu dorso.

— Jules de Polignac, a seu dispor — apresentou-se, retornando a sua posição.

— Heloise Dumas... Seu nome é uma homenagem ao primeiro ministro da França?

— Sim, meu avô....

De repente, a orquestra parou juntamente com os sons de conversas do vasto ambiente. Alguns segundos depois, palmas começaram, e eu procurei o motivo delas, encontrando o mesmo casal da entrada e um outro rapaz, que devia ser o tal conde Pierre. O homem mais velho estava falando algo, que dali onde eu estava, não conseguia entender nada.

Os três familiares estavam à frente de uma porta dupla gigantesca, e graças ao chão que era de um nível acima, eles conseguiam olhar para todos os presentes no salão. Graças a isso, notei o olhar do conde se demorar em cada rosto, como se estivesse analisando suas opções. Depois de um tempo, seu olhar parou próximo de mim, talvez tivesse visto o tal Jules ao meu lado ou a mim, porém, pela distância, era difícil saber.

— O senhor tem parentesco com os anfitriões? — questionei, sussurrando para Jules.

— Sim. Meu pai é irmão do sr. Polignac. Sou primo do conde Pierre — respondeu, mantendo a cabeça erguida, como se quisesse prestar atenção nas palavras do tio, ou como se quisesse demonstrar que estava.

— Entendo... O que acha de tudo isso?

— O baile? — Suspirou. — Não sei, perda de tempo, talvez.

— Sobre seu primo estar procurando uma noiva também? — E naquele momento, o conde tomou a palavra que, novamente, não consegui entender dali.

— Também. Sabe, alguns membros desta família me chamam de invejoso. Acham que eu invejo a vida que Pierre tem com apenas dezessete anos. Eu só... acho bobeira. Essa família só tem o que tem hoje por pura sorte, não por trabalho.

— Diz isso porque a duquesa de Polignac era a preferida de Maria Antonieta?

Jules me olhou pela primeira vez em algum tempo, parecendo estar um pouco confuso se ouviu direito o que eu disse.

— A senhorita sabia sobre isso?

Ops... — Bom, é só o que dizem por aí. Não sei sobre o assunto.

— É, não é novidade ouvir isso. Não que eles se incomodem, afinal, é a verdade...

Ele parou de falar e eu percebi que alguém se aproximava. Logo, o conde Pierre parou em nossa frente e, olhando para mim, fez uma reverência exagerada. Assim que o conde se ergueu, pisquei algumas vezes para ter certeza de que meus olhos estavam enxergando a realidade.

— Senhorita.

Engoli seco, esperando que a história não se repetisse e fiz uma breve reverência segurando a barra do meu vestido. Não era possível que até ali aquele ser me perseguiria.

— Jules. — Pierre disse com um sorriso falso nos lábios. — Está aproveitando a noite?

Haviam semelhanças entre ele e Michel, mas pelo menos o conde aparentava ser mais educado e reservado, mesmo que parecesse muito artificial.

— Certamente, Pierre. E você? Já fez sua lista? — Jules também sorriu, apesar de no fundo, soar irônico.

— Ainda não. — O conde levou as mãos para trás, observando o salão brevemente. — Mas logo farei. Tenho certeza que serão mais de vinte nomes. — Voltou a encarar o primo e me olhou. — Com licença.

Acenei e ele se afastou. Jules soltou o ar pela boca, como se quisesse se livrar da frustração.

— Sinceramente... Acho que o invejoso aqui é ele — comentei, analisando o jeito do conde ao falar com outras pessoas.

— Nunca ousei dizer isso em voz alta, mas já que a senhorita o fez, posso concordar, mesmo que não entenda exatamente do que ele teria inveja.

— O senhor já se olhou no espelho, senhor Jules? — perguntei, o encarando com um sorriso óbvio e uma sobrancelha erguida.

Ele riu espontaneamente, enquanto as bochechas coravam. — Quanta ousadia, senhorita Dumas — comentou de bom-humor.

— Não, estou apenas dizendo que ele tem inveja da sua beleza. Provavelmente não só sobre isso, mas outras coisas também... — Me lembrei do porquê estava naquele lugar e olhei para onde todos voltaram a dançar, entrando em desespero ao notar que Adeline não estava mais ali. — Com licença, senhor, eu preciso procurar minha amiga.

Saí andando antes que Jules respondesse, à procura de Adeline. Caminhei apressadamente entre os convidados, tomando o cuidado para não esbarrar em ninguém, enquanto buscava reconhecer a garota dentre a multidão.

Felizmente a localizei no outro salão junto dos pais, conversando com o conde e seu pai. Fiquei na dúvida se me aproximava ou esperava os dois irem embora.

— A senhorita não veio com a sua família? — Jules parou ao meu lado novamente.

— Não, vim com a família da minha amiga.

— E quem são? Eu os conheço?

— Não sei. São os Legrand. Bem ali, conversando com os anfitriões. — Apontei.

— Ah, sim. Já ouvi falar da loja deles. Eles sim são pessoas que eu admiro, trabalharam duro e ainda trabalham.

— Isso posso afirmar que é verdade. Eu trabalho na loja junto de Adeline. Nós não paramos um minuto e eu nunca a ouvi reclamar....

De repente, foquei a visão e percebi que Adeline estava vindo em nossa direção.

— Heloise, vem! Você precisa conhecer o conde! — Ela me puxou pela mão, sem que eu conseguisse inventar uma desculpa.

— Senhores, esta é Heloise Dumas. Trabalha na loja conosco — apresentou Viviane com um sorriso grande, quase como se mostrasse um troféu.

— Senhorita. — O conde mais velho disse, me cumprimentando com um aceno lento de cabeça.

— Boa noite. — Imitei sua ação, sendo observada por todos ali.

— Espero que estejam aproveitando o evento. Com licença.

Ambos se afastaram e eu respirei mais aliviada. Viviane se virou para mim.

— Heloise, minha filha comentou que você terá que voltar para sua casa em breve.

— Sim. Eu preciso voltar para casa até dia vinte deste mês.

Ela concordou, comprimindo os lábios, parecendo chateada. — Entendo. Até quando irá trabalhar?

— Acho que até dia dezenove consigo trabalhar tranquilamente.

— Bom, bom. É uma pena, vou perder uma das minhas melhores vendedoras... Mas tudo bem.

Era a primeira vez que via Viviane realmente para baixo. Fiquei com um pouco de dó, e eu não soube o que dizer.

— Acho que podemos voltar a circular, não é, Heloise? — Adeline se segurou em meu braço.

— Claro, vamos.

Assim que nos afastamos o suficiente, Adeline tentou pegar a taça da minha mão, porém, eu reagi a tempo, afastando a bebida.

— Adeline!

— Só um golinho, por favor. — Fez cara de pidona, parando na minha frente.

— Você já ficou alegrinha demais com os seus golinhos.

— Eu não estou alegrinha por causa disso! Eu gosto de bailes e estava animada.

A olhei, desconfiada, e lhe dei a taça. Ela deu um gole razoável, observando tudo o que conseguia ao redor. Adeline deixou a taça na frente do rosto e deu uma risadinha.

— O que foi?

— Tem um rapaz te olhando... — Indicou levemente com o queixo.

Procurei pelo homem, apenas localizando Jules, que dava uma olhada ou outra em nossa direção.

Talvez ela tenha me achado... diferente. Não que isso seja bom.

— Será que não podemos ir embora? — Tomei a taça da garota, que protestou.

— Mas a noite mal começou! Já está cansada?

— Um pouco, sim.

— Isso é porque você está parada. Se estivesse dançando e se divertindo, não falaria algo assim. Por que você não... aceita?

— Aceitar o quê?

Quando percebi, Jules estava em nossa frente, estendendo a mão em minha direção. Adeline me deu uma leve cotovelada e pegou de vez a taça.

Tudo bem. Só dessa vez.

Aceitei a mão de Jules e ele nos conduziu ao outro salão. Caminhamos um pouco entre os dançarinos e nos posicionamos, começando a dançar. Jules parecia contente por finalmente estar ali comigo e seus olhos me deixavam apenas por poucos segundos para acenar para algum conhecido, vez ou outra.

Inesperadamente, não conversamos. Não que precisasse, até que tínhamos sintonia. Dançamos até a música acabar e a única coisa que saiu da boca do homem foi para saber se eu gostaria de continuar ali, e eu respondi que sim.

Enquanto esperávamos a breve pausa da orquestra, percebi como o ambiente estava agradável. As pessoas riam e conversavam alegremente, enérgicas. Naquele momento, percebi o porquê gostavam tanto de bailes. Era o momento deles de extravasar, de se livrar de seus problemas, mesmo que apenas por aquela noite.

Voltamos a dançar quando a música retornou a todo vapor. Enquanto sorríamos, distraídos, percebi Adeline também dançando e só demorei alguns segundos para ver quem era seu parceiro, com certa surpresa e frustração.

Tantos homens para tirar Adeline para dançar e justo o que eu não queria, o fez.

Conde Pierre sorriu para nós, mas ironicamente nem eu e nem Jules sorrimos de volta, como se ambos estivesse de saco cheio daquele homem.

Mesmo que eu quisesse ignorá-lo completamente, não podia. Precisava ficar de olho no casal, para caso precisasse intervir. Com certeza não era impressão minha, mas via nitidamente Pierre nos olhando dos pés à cabeça, quase como se quisesse mostrar que dançava melhor.

Assim que a orquestra parou novamente, todos os presentes começaram a bater palmas. Olhei para trás, tentando localizar Adeline e a vi, mais afastada. Tentei focar a visão melhor para algo atrás dela. Um homem de costas conversava com um casal e, no momento em que se virou, seu olhar veio diretamente a mim.

Sorri, sem nem perceber. Voltei para frente.

— Obrigada pelas danças, senhor. Preciso cumprimentar um amigo. Nos vemos depois.

— Eu que agradeço, senhorita Dumas — disse gentilmente, apesar de estranhar meu fora repentino.

Passei por trás de Aline e toquei seus ombros, apenas para mostrar que eu estava perto e segui para o homem que sorria para mim.


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Notas finais do capítulo

Com certeza vocês sabem quem é o homem que fez a dona Lolo sorrir assim xD

Ah, olha que legal que eu achei! Um vídeo de um baile de 1900, ajuda muito a vocês terem uma ideia do que aconteceu nesse capítulo.

https://www.youtube.com/watch?v=Lu5BUPO2kJ0

Espero que estejam gostando! Até mais o/



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