À Procura de Adeline Legrand escrita por Biax


Capítulo 51
Ciclano de Bergec


Notas iniciais do capítulo

Olá, povo!

Esse capítulo está cheio de perseguição! E ainda mais cheio de referências ;D

Boa leitura!



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Meu coração estava acelerado por causa daquele beijo, e eu esqueci completamente o que estava fazendo ali. Queria muito repetir a experiência, mas precisava me conter. O filme era mudo, então com certeza as pessoas perceberiam o que estava acontecendo, e não seria nada bom para nossa reputação.

Pelo menos podíamos ficar de mãos dadas, como todo e qualquer casal.

Me lembrei de que há pouco, Nathaniel estava atrás de Adeline e o rapaz, e me perguntei se ele tinha ouvido algo interessante. Estava louca para saber, mas teria que esperar até o final da sessão.

Felizmente os filmes da época eram rápidos, e em vinte minutos, as luzes estavam acendendo e as pessoas levantando para sair.

— Ouviu alguma coisa interessante? — perguntei sem aguentar esperar mais.

— Consegui ouvir o rapaz falando um pouco sobre o trabalho dele. Estava contando como era fascinante trabalhar com o senhor Baekeland, que não sei quem é, mas que parece ser famoso pela forma que ele contou, e falou algo sobre seu próprio trabalho. Ele é inventor e químico, pelo jeito.

— Inventor... Inventores sempre precisam de dinheiro para manter suas maluquices... — pensei alto. — Isso seria um bom motivo para enganar uma moça rica para pegar seu dinheiro e continuar suas invenções...

Nathaniel concordou. — Bom, ele comentou algo sobre estar visitando a família, e disse que tem um irmão mais velho que mora aqui. Apenas ele se mudou para os Estados Unidos.

— Ele não falou o nome dele, falou?

— O irmão se chama Alexander, mas em nenhum momento ouvi o nome do admirador ou sobrenome deles.

— Alexander... Agora estou confusa... Será que poderia ser que o irmão dele tenha enviado as cartas? E ele está apenas fazendo um papel de cupido?

— Se essa for a ideia, tenho a impressão de que não está dando certo... — Deu um riso engraçado. — Adeline parece muito interessada nele.

Passei as mãos no rosto, perdida. Olhei para onde o casal ainda estava conversando, provavelmente esperando a maioria das pessoas saírem. Encarei o teto, tentando pensar no que fazer.

— Eles estão levantando... — alertou Nathaniel.

Olhei novamente para eles e entrei em desespero. Já não haviam pessoas nos lugares da frente para me cobrir, então pensei rápido e enfiei a cabeça entre o pescoço do psicólogo, afim de me esconder. Entendendo, Nathaniel passou o braço por meus ombros em um meio abraço, ajudando a me esconder ainda mais.

— Espera aí... Eu já vi esse homem — sussurrou.

— Onde?

— Sábado eu fui a um pub com Lysandre... Eu o vi lá. Estava jogando pôquer... e pelo jeito, ganhou muito dinheiro pelo barulho que ele e seus colegas faziam.

— Ah, pronto, só faltava essa. Além de inventor, é viciado em jogos.

— Eles já passaram.

Ergui o rosto, e aproveitando a aproximação, beijei seu maxilar rapidamente e levantei. — Agora precisamos saber onde aqueles dois vão.

Saímos da sala, já procurando por eles. Os vimos saindo para a rua e seguimos atrás, não muito perto. Alguns passos depois, entraram em um bistrô, e encostamos na fachada, tentando ver algo pelas vidraças. Eles se sentaram em uma mesa mais ou menos centralizada no restaurante

— E agora? — Nathaniel perguntou.

— Vamos esperar... — Me sentei na mesa mais próxima, de costas ao vidro.

— Se ficarmos sentados aqui, teremos que consumir algo. — Ele sentou na cadeira a minha frente.

— Acabou seu dinheiro? — indaguei, aflita.

— Não. Só estou comentando. — Ele riu da minha preocupação.

— Ah... Não me assuste assim. Eu te pago o que eu comer, depois.

Uma garçonete veio nos trazer o menu e dei uma olhada, escolhendo alguns folhados salgados e um chá. Nathaniel pediu o mesmo e devolvemos o papel, e ela entrou.

— Eles continuam no mesmo lugar?

Nathaniel deu uma olhada por cima de minha cabeça. — Sim... O que pretende fazer depois?

— Eu ainda não sei... Também não sei se eles farão mais alguma coisa depois de sair daqui. Pode ser que eles se separem. Se isso acontecer, vou seguir o viciado em jogos.

Ele riu. — Mas você não sabe se ele realmente é viciado em jogos...

— Não importa... — Dei uma espiada para trás, vendo os dois conversando. — Eles conversam de uma forma tão... animada. Parece que se conhecem há tempos... — Voltei à frente. — Só me faltava ele não ser o admirador. Ser um primo ou sei lá.

— Se for um parente, porque ela mentiria? Seria muito mais simples dizer à mãe que sairia com um primo.

Considerei. — Isso é... Isso está tão confuso...!

A mesma garçonete trouxe nossos comes e bebes e logo saiu. Começamos a comer.

— Espera... — falei de boca cheia, me lembrando de algo, e engoli o pedaço do pão. — Adeline me disse uma vez que não tinha parentes e nem conhecidos com nomes iniciados em “A”. Então, já que esse homem tem um irmão chamado Alexander, podemos desconsiderar de que ele seja parente.

— Bem lembrado... — ponderou. — Então é bem possível que ele seja o admirador.

— Sim.

Continuamos ali por um tempo. Terminei logo de comer, para ficar preparada para qualquer coisa. Poucos minutos depois, o casal se levantou e saiu do bistrô. Fiquei com o rosto virado para o outro lado, para que Adeline não me reconhecesse.

— Eles estão atravessando a rua... — narrou Nathaniel.

Virei a cara para vê-los. O casal parou assim que chegou do outro lado, frente a frente, ainda conversando. Então o admirador pegou a mão de Adeline e a beijou, em uma despedida. Depois, ambos seguiram trajetos opostos, e em uma reação automática, levantei.

— Eu vou segui-lo. Pague a conta e tente me encontrar — avisei, já começando a andar.

— Esp...

Atravessei a rua rapidamente, quase sendo atropelada por uma carroça.

— Desculpe, cavalinho! — berrei e andei rápido.

Meus olhos estavam focados na silhueta do homem, que logo virou a esquina para a esquerda. Continuei o seguindo por mais duas quadras, até que chegamos em um parque. Ele seguiu pela calçada externa, ao lado da rua, e eu segui atrás, mantendo certa distância. Ao virar novamente, temi que ele pudesse sumir, já que as árvores tamparam minha visão, então acelerei o passo e o vi mais à frente.

Alguns passos depois, o admirador parou próximo à um banco e disse algo a outro homem que estava sentado, concentrado em um livro, que o olhou e sorriu, aparentando conhecê-lo.

Como nenhum dos dois sabia quem eu era, continuei andando, e como o banco era grande, me sentei na ponta, não muito perto deles.

— Então, como foi?

— Foi ótimo. Para minha surpresa, ela era muito... faladora. Achava que era tremendamente tímida, pelo pouco que vi, mas me enganei. — Se sentou.

Realmente, ela engana e muito.

— Isso quer dizer que ela gostou de você, não?

Dei uma olhada discreta para eles, vendo apenas seus perfis, percebendo que eram parecidos. Seria aquele Alexander?

— Aparentemente, sim.

— Vão se encontrar novamente?

— Não tocamos nesse assunto. Mas, logo enviarei outra carta a ela... O que está fazendo?

Okay, ele é o admirador.

— Apenas lendo. Mamãe resolveu falar pelos cotovelos com Marie hoje e eu não conseguia me concentrar dentro de casa.

— Não que você costume ficar muito por lá, não é? — O admirador riu. — Não entendo como consegue ficar tanto tempo aqui fora.

— Já falei que a natureza me inspira. Prefiro mil vezes o som dos pássaros do que ouvir fofocas.

— Por que não foi à casa do senhor Rostand hoje?

Rostand? Espera... Edmund Rostand? Não é possível...

— Ele não estava se sentindo muito bem esses dias. Achei melhor deixá-lo descansar de minhas incessantes perguntas sobre meus textos.

— Você precisa aproveitar, ele já está velho...

Notei o olhar atravessado que o outro dera ao admirador. — Não diga besteiras. Ele está um pouco velho, mas está em ótimo vigor. Continua escrevendo.

— Disso eu sei. Estou apenas brincando com você. Já disse que quero ver um romance seu ser tão famoso quanto o Ciclano de Bergec.

Ele suspirou. — Você nunca vai acertar o nome? Cyrano de Bergerac — corrigiu.

O admirador gargalhou com a impaciência do mais novo. — Se acalme, é brincadeira!

— Sempre faz a mesma piada falando o nome da peça de jeitos diferentes. — Ele revirou os olhos, voltando a encarar o livro.

— Então não é a mesma piada.

— Por que você não me deixa em paz e vai ajudar a mamãe? Aposto que ela adoraria ter a ajuda do filho prodígio dela no jantar.

— Que ciumento — provocou. — Tudo bem, te deixarei lendo. Adquira conhecimento para ficar famoso com suas novelas.

— Sai daqui. — Riu.

— Bobão. — Deu uma batidinha no topo da cabeça dele e levantou. — Sabe que te amo. — Começou a caminhar para atravessar a rua.

O mais novo ergueu o olhar para o outro e o observou por uns segundos, até que ele chegou do outro lado, que não era tão longe.

— Armin! — berrou, fazendo o mais velho olhar. — Diga à mamãe que eu já vou entrar!

Em resposta, ele fez uma reverência e entrou em uma pequena porta de um prédio estreito.

Pronto, minhas dúvidas foram respondidas. Agora o que me resta é saber o que fazer com as informações que tenho.

— Heloise...? — Ouvi Nathaniel e virei o rosto, o vendo se aproximar um pouco ofegante. — O que aconteceu? O perdeu?

Fiz um bico, indicando para fazer silêncio e dei uma leve indicada para o lado, para o rapaz sentado no banco. Nathaniel deu uma olhada rápida para ele e balançou a cabeça, entendendo.

— Aqui. — Estendeu-me um cartão, ajoelhando ao meu lado. — Ele esqueceu isso na cadeira onde estava — sussurrou.

Peguei aquele papel, vendo que era um cartão profissional, apenas com nome e telefone.

Armin Fabre... Te pegamos. Ou quase.


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Notas finais do capítulo

Eiiiitaaaaaa! Olha só quem apareceu, minha gente!

Gostaram da referência sobre a peça? Eu sinceramente adorei :D

Espero que tenham gostado da Lolo dando uma de espiã de novo.

Nos vemos quarta o/



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