— Segure-se firme, você vai ficar um pouco tonto – essas foram as palavras de Carol para Clint poucos segundos antes da Capitã Marvel pegar impulso e voar rapidamente pelos céus com um desnorteado Gavião Arqueiro nos braços.

Destino da dupla: Capital da Georgia, Estados Unidos.

Chegaram a Atlanta no que parecia ser um fim de tarde quase surreal, num caos entre os cidadãos amedrontados que nenhum dos dois podia imaginar. Prédios pegavam fogo, construções estavam parcialmente demolidas, o ar estava inundado de fuligem, havia gritaria e barulho de confusão por todos os lados.

— O que está acontecendo aqui?! – Carol perguntou olhando para todos os lados, mas só conseguindo enxergar humanos desesperados e com medo em todos os lugares.

Medo...

Como aconteceu anos atrás, não muito diferente do mundo da Capitã na década de 90, mais uma vez a humanidade transbordava medo. Aos olhos de Carol, era como se a história estivesse se repetindo mais uma vez. A única diferença era que o vilão da batalha atual se mostrava ser outro, afinal...

— Venha comigo! – Clint disse rapidamente, mal prestando atenção no caos ao seu redor.

O homem havia passado ligeiramente mal e vomitado após o voo repentino, mas não tardou até estar novo em folha ao lado da Capitã.

— Estamos perto da casa dele! – Gavião Arqueiro exclamou – Venha por aqui, por favor.

Tentando acompanhar os passos de Clint, que eram um pouco lentos demais para Carol, ela seguiu lado a lado do Vingador até uma casa no subúrbio de Atlanta. Uma casa que, para a heroína, não parecia muito diferente das demais...

“Como alguém importante, um Vingador, poderia viver num lugar tão simplório e desprotegido como esse?!”, esse foi o pensamento da Capitã Marvel quando finalmente estavam de frente à casa do Homem-Formiga.

— Scott! – Clint gritou a plenos pulmões, tocando a campainha apressadamente. – Sou eu, precisamos de você!

Capitã Marvel apenas olhou para aquela cena, pensando com seus botões... Diante do silêncio da casa, ela não aguentou mais e disse:

— Clint, você acha mesmo que um Vingador estaria agora dentro do conforto de sua casa quando o mundo inteiro desaba ao seu redor?

Gavião Arqueiro olhou para a Capitã como se nunca tivesse pensado naquela possibilidade.

— Scott fez como eu... – Clint tentou ponderar com calma. – Fizemos um acordo com o governo e ambos estávamos atualmente em prisão domiciliar... Por isso pensei que ele podia estar aqu-

— Hey! – ouviram de repente uma voz distinta surgir logo atrás deles.

Capitã Marvel foi a primeira a ver duas minúsculas criaturas, dois insetos, bem na frente deles, e estava prestes a espantá-los com a mão quando notou que não eram exatamente dois simples animais. Um deles, o curioso ser com asas, simplesmente pousou na mão na heroína e pareceu observá-la por um momento antes de dar um mortal para trás no ar e cair no chão bem aos pés de Carol ao lado do outro minúsculo ser.

Em instantes, as duas pequenas figuras cresceram e ficaram do tamanho de um humano convencional.

— Asas bio sintéticas – a figura desconhecida disse para Carol simplesmente.

— Clint! – Scott tirou seu capacete e olhou para o amigo Vingador. – Não achei que fosse vê-lo por aqui.

— Muito bom te ver também – os dois se cumprimentaram rapidamente. – Eu não conheço essa sua amiga... Quem é?

— Podem me chamar de Vespa – a mulher ao lado de Scott disse, também tirando seu capacete – Vocês são Gavião Arqueiro e... – a mulher olhou atentamente para a heroína loira e séria na frente dela. – Isso parece quase surreal, mas você é a Capitã Marvel, certo?! Li muito a seu respeito e é um prazer finalmente conhecê-la.

Carol olhou atentamente para aquela mulher inteligente a sua frente e sentiu – mesmo que não deixou transparecer – um leve orgulho de si mesma por ser conhecida assim por aquela mulher nomeada de Vespa. Ela sorriu para Vespa e disse:

— O prazer é todo meu em finalmente conhecer novos heróis... – sem perder mais tempo, ela foi logo objetiva: – Mas, afinal, o que aconteceu com o planeta?

— E como sabiam que estávamos aqui? – Gavião Arqueiro indagou.

Vespa e Homem-Formiga se entreolharam rapidamente.

— Estávamos tentando ajudar os moradores de Atlanta – Scott começou. – Quando de repente vimos um ser desconhecido vindo dos céus com alguma coisa nos braços. Achamos que eram novos inimigos, vindos a mandato de Thanos, mas quando chegamos mais perto para averiguar, percebi que estavam perto da minha casa e, afinal, não eram inimigos algum... Eram, na verdade, vocês dois.

E então o Vingador apontou para Carol e Clint, terminando a explicação.

Nesse momento, todos ouviram um estrondo ao longe e em seguida uma explosão.

— Tudo está se deteriorando rápido demais... – Vespa disse, pensando tão objetivamente quanto Carol. – Vamos para dentro da casa de Scott, precisamos explicar tudo a vocês... Pelo visto, nenhum dos dois sabe nada sobre o que aconteceu atualmente, certo?

Capitã Marvel e Gavião Arqueiro sacudiram a cabeça negativamente.

— Eu estava em sono profundo, acordei há poucas horas atrás...

— E qual sua explicação, Clint? – Scott perguntou ao amigo. – Você estava na Terra esse tempo todo... A internet e a TV a cabo não chegaram a tempo até sua fazenda escondida do mundo?

Clint olhou com desdém para o amigo e não perdeu tempo respondendo essa pergunta sem noção. Ele conhecia, claro, a personalidade de Scott, porém não imaginava que o Vingador teria tempo para humor numa situação como aquela...

— Estava passando um tempo com minha família – ele tentou soar gentil em suas palavras, no entanto o amargor e a tristeza não escaparam da voz de Clint – Não imaginei que as coisas chegariam a esse ponto... Até que vi cada um deles, minha esposa e meus filhos, desaparecerem bem na minha frente. Foi assim que tudo começou...

Scott engoliu em seco e o sorriso irônico em seu rosto desapareceu completamente. Ele tentou olhar para Clint e sorrir, mas tudo o que conseguiu foi uma careta triste, o rosto agora tão cheio de dor quanto o de Gavião Arqueiro.

— Minha família também desapareceu... – Scott revelou finalmente. – Só sobrou eu.

Vespa abraçou com força o homem cabisbaixo ao seu lado. Após alguns instantes, quando Scott pareceu recuperado, ela afastou-se dele e encarou aqueles novos heróis a sua frente.

— Vocês vieram em boa hora. Venham, vamos para dentro de casa que explicaremos tudo a vocês.

Então, Homem-Formiga e Vespa passaram o próximo par de horas revelando a Capitã Marvel e Gavião Arqueiro todos os detalhes sobre Thanos, as Joias do Infinito e os demais Vingadores.

— Onde eles estão agora? Precisamos encontrá-los – Carol disse sucinta.

— Estão em Wakanda, onde aconteceu o confronto final com Thanos e seu exército – Vespa respondeu.

Ela olhou para Scott por um momento, e uma pergunta brilhou em seus olhos. Como se lesse a mente dela, diante do aceno afirmativo de Homem-Formiga, Vespa enfim revelou:

— Conseguimos hoje cedo contato com Tony Stark... Ele já foi em direção a Wakanda com Nebulosa e pediram que encontrássemos com eles em breve lá. Nós ainda não fomos por uma única razão... E vou mostrar ela para vocês agora...

Diante disso, Vespa e Homem-Formiga levaram os novos heróis até o porão supreendentemente bem protegido, cheio de senhas e travas da casa de Scott. O que encontraram ali dentro, entretanto, faria qualquer viciado em tecnologia cair de joelhos...

Diante deles, estava um cômodo totalmente equipado com computadores e aparelhos de última geração. Havia máquinas ligadas por todos os lados, aparelhos similares a microscópios, porém mais potentes e inovadores, que analisavam no modo automático diversos componentes desconhecidos para Carol e Clint até então.

— Devo isso aos meus pais e alguns companheiros – Vespa disse, soando enigmática. – Capitã, Gavião, diante de vocês está toda a informação que reuni sobre Partículas Pym e o Reino Quântico ao longo dos anos... Aqui, neste esconderijo, tentei trabalhar com a ajuda de Scott numa forma de acessar o mundo subatômico através do poder do reino quântico e salvar, assim, todos aqueles que desapareceram por causa de Thanos.

— Mas não é tão simples assim – Scott retrucou.

— Ah, isso já não me pareceu simples de forma alguma – Clint riu para espantar o nervosismo, mal acreditando em toda aquela tecnologia a sua frente e na mente hábil daquela mulher que era chamada de Vespa.

Homem-Formiga riu de volta e Vespa apenas sacudiu a cabeça, como se desviasse de um comentário desnecessário. Capitã Marvel, no entanto, estava mais concentrada que os demais, escutando e absorvendo com atenção toda aquela informação compartilhada por Vespa, alguém que ela já estimava consideravelmente.

— Continue, por favor – Carol disse apenas.

— Tem um detalhe que ninguém pelo visto pensou, uma teoria que estou trabalhando atualmente e pode ser a chave de tudo...

Vespa pigarreou e seguiu para perto de um trio de computadores. Ligou todas as telas e apontou para elas. No centro de cada tela, uma Joia diferente se destacava numa figura 3D.

— Vocês estão vendo em cada tela uma Joia do Infinito diferente. Respectivamente, Joia da Realidade, do Espaço e do Tempo. Todas elas têm um detalhe que pode mudar tudo. Algo que, combinado às habilidades minhas e de Scott, pode trazer todos de volta...

— Sentem-se, senhoras e senhores – Homem-Formiga disse, apontando para cadeiras invisíveis bem atrás deles. – Vocês não vão querer perder o que essa mente brilhante bolou. Cuidado, pois pode ser demais para o cérebro de vocês...

Vespa ignorou o comentário de Scott e seguiu adiante com sua teoria:

— Thanos está num paradoxo... Uma Contradição... Uma vez que ele tem a Joia da Realidade, Espaço e Tempo, acredito que os heróis e parte do universo podem ter sido transportados para diferentes eras, diferentes universos e diferentes realidades. Através do multiverso podemos encontrar maneiras de trazer os Vingadores de volta, acessando portais dimensionais sem Thanos sequer saber que seu desejo, na verdade, não se concretizou por completo. Ele não dizimou metade do universo como realmente acredita, apenas os tirou da realidade e do mundo em que eles estavam agora... Ou seja, podemos salvar a humanidade, só precisamos adentrar no reino quântico e, em seguida, acessar essas realidades...

Vespa terminou seu raciocínio e um silêncio sepulcral se instalou ao redor.

— Há mais teorias além desta? – Capitã Marvel foi a primeira a perguntar após alguns minutos, os olhos brilhantes e acesos extremamente curiosos em saber mais sobre tudo aquilo.

— Ah, teorias não faltam, Capitã... – Vespa respirou fundo enquanto tentava aquietar os pensamentos que trabalhavam rápidos em sua mente. – Os heróis e toda a metade do Universo também podem estar dentro da Joia da Alma, ou apenas uma parte ou até mesmo só alguém em específico pode estar ali dentro enquanto todos os demais foram transportados para diferentes eras e diferentes realidades. Por isso, precisamos nos reunir com os demais, para juntar todas as informações que temos e, assim, conseguir meios de acessar o mundo subatômico. Apenas com ele conseguiremos salvar todos aqueles que viraram pó...

O grupo todo se entreolhou em silêncio.

— Sabem, uma vez um amigo me disse... – Homem-Formiga aproximou-se de Vespa, colocando a mão amigavelmente em seu ombro, ao mesmo tempo em que a encarava com um orgulho sem tamanho. – “Nunca deixe ninguém te dizer que você não tem nada a oferecer”.

Vespa olhou para o homem a seu lado e sorriu levemente, sabendo exatamente quem havia dito aquelas palavras há algum tempo atrás para Scott.

— Acho que chegou a hora, Hope. Não há nada mais que possamos fazer aqui em Atlanta... Os Estados Unidos está um caos, e sozinhos aqui não faremos muita diferença. Precisamos, afinal, derrotar o causador de tudo isso, só assim todo o planeta voltará ao que era antes – Scott murmurou, olhando em seguida para Carol e Clint.

O Vingador respirou fundo e arrumou a postura. Num segundo, seu semblante brincalhão finalmente se transformou num olhar cheio de seriedade e concentração. Sem perder um segundo a mais, Scott disse suas palavras finais:

— Heróis, chegou a hora de partir... Wakanda não pode nos esperar mais.

Carol e Hope sorriram no mesmo instante.

Vespa assentiu diante do discurso de Scott e disse:

— Sim, ele tem razão... – olhando enfim confiante para todos aqueles ao seu redor, a mulher alargou seu sorriso e proferiu: – Vamos botar pra quebrar.