Seth escrita por Anitra


Capítulo 4
Capítulo 4 - Sorriso


Notas iniciais do capítulo

Esse é o último que eu tinha já pronto. Acho que vou demorar um pouco mais para postar os próximos. Bom, espero que gostem :)



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Aurora não tinha nenhuma característica Quileute. Por sorte, os Cullen eram bons em inventarem histórias, já que faziam isso há décadas.

Chegaram a conclusão de que o melhor a fazer era dizer que Sue tinha um primo distante que não era da reserva e adotara um bebê. Ele e a esposa morreram em um acidente e a guarda passara para Sue.

Como Aurora era pequena demais para sair de casa agora, os habitantes da reserva só saberiam dela daqui alguns meses, então só precisariam se preocupar em sustentar a mentira quando essa hora chegasse. Carlisle prometera arrumar os documentos que dariam a guarda legal da criança a Sue.

Com o imprinting de Seth, algo mudou entre os lobos. Tudo aquilo em que acreditavam estava ruindo cada vez mais.

Não tinham registros de mulher alguma no bando. E de repente, bum, ali estava Leah. Achavam que o imprinting era algo raro, que acontecia apenas com alguns sortudos – ou azarados, dependendo do ponto de vista – , mas metade do bando já havia encontrado sua “alma gêmea”: Sam, Jared, Paul, Quil, Jacob, e agora, Seth. Também achavam que o imprinting servia para garantir que os genes dos lobos não se extinguissem, e isso fez sentido por um tempo. Quando Jacob teve um por Renesmee, porém, as coisas pararam de fazer sentido de vez. Além de não ter ligação nenhuma com os Quileutes, a menina ainda era metade vampiro – o inimigo natural deles, o que eles viviam para destruir. Agora, Seth sofrera o imprinting por uma completa desconhecida e, pior ainda, apenas um bebê. Já eram três os que teriam que esperar, agora. Jake, nem tanto, já que Nessie crescia assustadoramente rápido, mas ainda sim iria esperar.

Os lobos estavam em pânico.

Tinham medo de entrarem no mercado e saírem com uma aliança no dedo.

Seth achava todo esse desespero muito engraçado. Leah também se divertia às custas deles, inventando cenários onde pudessem ter um imprinting. Foi a maneira que encontrou de lidar com o fato de que todos pareciam estar morrendo de amores ao seu redor.

Em qualquer lugar que eles fossem como lobos, ela fazia questão de lembrá-los que naquele dia eles poderiam encontrar a sortuda. Atormentava-os tanto que a maioria deles tinha medo de andar de cabeça erguida nas ruas. Preferiam encarar o chão e tremiam de medo sempre que ouviam uma voz feminina.

Era algo que assustava os garotos. Ter sua vida inteira ligada a uma pessoa – literalmente qualquer uma – que poderia até mesmo ser um bebê... era realmente assustador.       

Mas não havia como fugir de um imprinting. Por mais que eles tentassem evitar, se fosse para acontecer, aconteceria.

Seth nunca pensara muito nisso. Não estava preocupado. Saía com algumas garotas, nunca da reserva. Não podia entrar em um relacionamento sério por causa da coisa toda de lobo, então preferia sair com quem não tivesse chance de se apegar demais. Se não visse a pessoa constantemente, imaginava que a coisa seria mais fácil. Tomava o cuidado de não magoar ninguém. Não queria fazê-las sofrer, só queria aproveitar sua adolescência tendo experiências normais – e encontros estavam inclusos em experiências normais na vida de garotos de dezesseis anos.

A questão é que sabia que não podia ter um relacionamento sério, já que não podia revelar o segredo da tribo para alguém que não fosse seu imprinting. Como não sabia se ele iria acontecer e, se sim, quando, preferiu não se preocupar com isso.

Agora que acontecera, sequer se lembrava das meninas com quem saíra anteriormente. Na verdade, sequer via outras garotas. Era como se não tivessem rostos, não tivessem nada, fossem apenas pessoas sem nenhum atrativo. Seth sequer se lembrava quem era sua atriz favorita agora. O crush que tinha não era mais importante. Se ela ficasse nua na sua frente, ele provavelmente diria para ela se cobrir para não pegar um resfriado.

Era engraçado como o imprinting funcionava.

Aurora estava em sua vida há dois dias, mas já era todo o seu mundo e sabia que não conseguiria sobreviver sem ela.

Tudo o que ela fazia era motivo para que ele se derretesse todo. Como quando batia as perninhas na banheira e espirrava água para todos os lados, ou quando soltava resmungos desconexos, ou até mesmo quando o encarava sem piscar, como se olhá-lo fosse algo muito interessante.

Seth realmente se encantava quando ela fazia qualquer coisa.

Mas ela era tão pequena, tão frágil, que ele também se preocupava com cada coisinha pequena. Cada vez que ela chorava, seu coração se apertava tanto em seu peito que a dor era quase física.

Na primeira noite que Aurora dormira ali, Sue o convencera a dormir em seu próprio quarto e deixar o berço com ela. Seth acordou ouvindo o choro do bebê e sua mente já registrou os piores horrores possíveis. Levantou e correu até o quarto de sua mãe em apenas um segundo.

Sue sequer tinha se sentado na cama.

Ela o explicou que isso era normal, que os bebês choravam muito, que era a maneira deles de se comunicarem. Aurora provavelmente estava só com fome.

Mesmo assim, Seth preferiu conferir se ela estava machucada. Três vezes.

Não achava que um dia iria se acostumar com o choro dela.

— Seth? Seth? Que porra, Seth!

Piscou, virando-se para uma Leah irritada, que o encarava de braços cruzados.

— Desculpa, eu não estava prestando atenção.

— Eu percebi, seu palerma. Escuta, Jacob pediu para eu te avisar que, apesar de saber que você está bem ocupado agora, quer que você vá até a reunião do bando daqui dois dias. Ele disse que vai reorganizar as rondas para você poder passar mais tempo em casa, ou algo assim.                            

Seth sorriu, realmente feliz com a notícia.

— Obrigado, Leah.

Leah desviou o olhar. Não se dava muito bem com demonstrações de afeto ou agradecimento, mesmo que viessem de seu irmão.

— Não me agradeça, idiota. Quem disse foi Jacob, eu só passei o recado.

— Tudo bem. Agradeça ele por mim, então.

Continuou a comer seu cereal, absorto em seus pensamentos, até que ela o interrompeu de novo.

— Depois que as férias acabarem, você tem que voltar para aula. Sabe disso, certo? Não vai fugir da escola.

Ele suspirou. Era difícil sequer pensar em ficar longe de Aurora por qualquer tempo que fosse, agora, mas sabia que Leah tinha razão. E, mesmo que tentasse fugir das aulas, Leah e Sue o dariam um sermão daqueles. Sem falar no bando. Sam era realmente rigoroso com o lance dos lobos terminarem a escola, e Jacob também se sentira responsável depois que se tornara alfa.

Não tinha como fugir da escola.

— Eu sei. Vou dar um jeito. Vou alternar meus horários entre a escola, os deveres de lobo e Aurora. Que bom que tenho você e mamãe para me ajudar.

— Eu? De jeito nenhum! Você que se vire para cuidar da barulhenta. Ela não me deixa dormir faz dois dias, Seth, dois dias! Quando eu achei que as coisas estavam mais tranquilas por aqui e que eu finalmente teria minhas maravilhosas horas de sono sem rondas todas as noites, ela chega aqui e atrapalha até isso. Você vai ter que ficar de olho porque qualquer dia desses, jogo ela pega janela! Falo sério!

Seth enfiou mais uma colher de cereal na boca, mastigando calmamente antes de falar.

— Leah, eu sou seu irmão. Não precisa usar a armadura comigo – ela começou a protestar, mas ele continuou antes que ela o interrompesse – Eu sei que você não odeia Aurora. Muito pelo contrário. Você adora crianças, sempre adorou. Ajudava a cuidar de mim quando éramos menores e você nem era tão mais velha que eu assim. Então, guarde as pedras um pouquinho e me ajude, como eu sei que você quer fazer. Prometo que não conto pra ninguém que o seu coração ainda ta aí, batendo, e não congelado.

— Idiota! – o resmungo baixo foi a única resposta que ele teve. Ela permaneceu carrancuda pelo resto do café da manhã, saindo o mais rápido que conseguiu, quase derrubando de novo a porta que Jake gentilmente pregara de volta no lugar.

Iria ajudá-lo. Ele sabia.

Era incrível o quanto Leah tentava sustentar a pose de garota amargurada, tentando fazer todos se sentirem mal. Achava que, se abaixasse a guarda por alguns segundos, toda a dor que sentira voltaria – e isso era algo que não podia e não iria permitir.

Já se acostumara com a ideia de que Sam não era mais seu, de que agora ocasionalmente tinha quatro patas e um rabo, de que provavelmente não iria poder ir para a faculdade, de que talvez não pudesse ter filhos – ou sequer um namorado – , mas isso não significava que aceitava. Tudo a tornara uma pessoa amargurada, que já sofrera muito e que não queria mais sofrer. A única maneira que encontrara para se proteger foi atacar os outros primeiro.

Mesmo que sua personalidade difícil tenha melhorado, e muito, desde a sua transformação, Leah ainda era uma pessoa complicada.

Era difícil conviver com ela, mas era sua irmã e Seth a amava. Lembrava como ela era antes de tudo aquilo, linda e cheia de vida, e sabia como ela era agora – machucada, carente, sofrida. Apesar de tudo, não era uma má pessoa. E apesar do que queria fazer todos acreditarem, ainda sentia. Seth a conhecia. Ficava toda boba perto de bebês. Tentava disfarçar, manter a pose de durona, mas a ouvira invadindo o quarto de Sue sorrateiramente na última noite quando achou que ele estava dormindo. Ficara lá por vários minutos, provavelmente olhando Aurora dormir.

Seu anjinho iria fazer bem para Leah. Seth sabia disso.

Um bebê tinha o poder de amolecer até mesmo o mais duro dos corações.

Terminou de comer a terceira caixa de cereal rapidamente, deixando a tigela na pia e correndo até o quarto de Sue.

Aurora ainda dormia.

Era engraçado. Ela não fazia muita coisa além de dormir. E, mesmo assim, Seth não se cansava de olhá-la.

Apoiou os braços no berço e o rosto nas mãos. Ultimamente ficava tanto assim que um dia deixaria suas marcas na madeira, tinha certeza.

O rostinho dela estava corado de maneira saudável, as bochechas tingidas de um rubor bonito. Usava um macacãozinho branco com ursinhos estampados, que fora de Leah. Se mexera durante o sono até tirar os bracinhos para fora das duas mantas quentes que a envolviam, e uma de suas mãozinhas repousava ao lado de sua bochecha gordinha. A outra apertava uma parte da manta.

Sue não estava em casa. Era dia de folga de Charlie. Fora visitá-lo e deixá-lo a par das notícias.

Depois que Jake revelara parte do segredo do bando para ele, Sue achou que não tinha mais o que esconder e o levou para uma das tradicionais fogueiras Quileutes. Charlie ouviu as lendas e tomou suas próprias conclusões. Se acreditara em tudo, Seth não sabia, mas Sue estava mais feliz em não ter que esconder isso do seu... er... namorado. Como parte do conselho e mãe de dois filhos lobos, as lendas eram grande parte – e parte constante – da vida de Sue. Ela se sentiu bem em dividir aquilo com ele. Não conversaram sobre, mas ela sabia que, pelo menos em partes, ele entendia. E estava bem com isso. Era o suficiente para os dois.

Ainda era estranho pensar em Charlie como namorado de sua mãe, mas ela estava feliz. Seth não queria que ela ficasse sozinha e Charlie era um bom homem. Não fazia muitas perguntas, só queria saber se ele frequentava a escola direito e se não estava aprontando por aí. Também era pai de Bella e isso fazia, de certa forma, com que Seth tivesse uma ligação concreta com o clã de vampiros.

Gostava disso. Gostava deles.

Leah não. Recusava veemente qualquer tipo de parentesco com os Cullen e não gostava de falar com Charlie, apesar de não o destratar.

Seth não sabia o que Sue iria dizer para ele a respeito de Aurora, mas sabia que não faria nada que a colocasse em risco, então não se importava realmente.

O pequeno movimento o tirou de seus pensamentos. Aurora começara a se mexer e resmungar levemente. Seu coração batia rápido e suave, como as batidas de um passarinho.

Os olhos dela se abriram aos poucos, piscando lentamente algumas vezes, como se quisessem se ajustar a claridade do quarto. Assim que despertou completamente, focou sua vista diretamente em Seth, como se fosse atraída até ele, como um imã. Então algo extraordinário aconteceu.

Sua boquinha minúscula, que antes só balbuciara coisas sem sentido e bocejara, começou a se curvar nos cantos, sutilmente.

O coração de Seth quase parou.

Ela estava... sorrindo?

Sim. Definitivamente, aquilo era um sorriso.

Um sorriso banguela e cheio de baba e, ainda sim, a coisa mais linda que Seth já vira na vida.

Emocionado, esticou os braços para pegá-la, e ela foi de bom grado. Aconchegou-se em seu colo, suspirando levemente, parecendo feliz. Uma sombra do sorriso ainda curvava seus lábios pequenos, e Seth não conseguia parar de olhá-la.

— Ta na hora do seu café da manhã, não é mesmo, raio de sol? – sussurrou, acariciando suas bochechas gordinhas. Ela segurou seu dedo, apertando tão levemente que Seth sequer sentia, e o levou até a boca, babando em tudo.

Ele riu, seguindo até a cozinha, pronto para esquentar sua mamadeira.

De agora em diante, fazê-la sorrir estava em sua lista de prioridades.


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Notas finais do capítulo

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