Equidistante escrita por Gaia


Capítulo 3
Palavras não ditas




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(Sobre altura e olhos)

 Alec tinha prometido que não iria mais tomar café depois do expediente. Tinha garantido a Jace e Izzy que sua insônia era por causa da cafeína, não por motivos mais profundos que nem ele ousava procurar. Mas era incrivelmente difícil passar pela melhor padaria de Nova York e não querer entrar. O lugar, apesar de seu absoluto sucesso, não tinha sucumbido às graças do capitalismo. Não tinha franquias e não esbanjava seu sucesso na fachada, que mantinha o mesmo aspecto de quando fora construída nos anos 20. Todo o charme fazia parte da experiência, era como se Alec estivesse fugindo para outros tempos, uma época em que sua vida fazia sentido e ele sabia exatamente o que havia de errado com ele.

Jace e Isabelle nunca poderiam saber o que era aquela sensação, ambos eram extremamente cosmopolitas, gostavam de modernidade, coisas novas e brilhantes. Não saberiam apreciar uma boa arte nem se fosse jogada em seus rostos. Alec, por outro lado, sabia. Ele entendia da arquitetura antiga da construção, reconhecia as referências dos quadros pendurados nas paredes, conhecia as músicas clássicas que tocavam por trás do murmúrio dos clientes. Ele odiava admitir, mas amava passar mais tempo naquela padaria do que qualquer outro lugar da cidade.

E era por isso que ele estava completamente e irrefutavelmente incomodado com a recente mudança nos funcionários. O apelo do lugar sempre tinha sido sua tradição, a estética e a comida impecável, além de uma equipe estelar de cozinheiros e garçons. Alec não gostava de mudanças. Ainda mais de mudanças repentinas.

Por isso é compreensível que a primeira coisa que disse ao se deparar com um estranho do outro lado do balcão foi:

“Onde está James?”

Não ousaria admitir, mas o substituto era agradável de se admirar, seus olhos eram de uma cor que Alec nunca tinha visto antes e, se tivesse que descrevê-los, diria que eram amarelo-esverdeados. Eles contrastavam com sua pele morena e seus cabelos negros, que se dobravam de forma irregular sob a cabeça. Mas o que mais impressionou Alec não foram os olhos hipnotizantes ou a complexão exótica. Foi que ele teve que olhar levemente para cima.

Era um fato notório e inegável que Alec Lightwood era alto. Daqueles que se destaca na multidão e tem que abaixar mais frequentemente que a maioria das pessoas. O mais alto de sua família e certamente mais alto que James, o último garçom.

“Não sei, docinho. Adoraria saber para que eu pudesse arrasta-lo de volta para esse maldito turno.” Alec não sabia do que o homem estava falando, mas algo em sua voz o fez prestar atenção como nunca tinha prestado antes. “Já te disseram que você tem olhos magníficos?”

“Não.” Ele respondeu automaticamente, ato impulsivo que fazia mais frequentemente do que gostava. Não precisava de um espelho para saber que sua pele extremamente clara estava ruborizada.

“Bom, então saiba que você tem olhos magníficos.”

Você também, nunca vi olhos tão incríveis. Parecem mágicos.

“Hmmhm. Me vê um café expresso, por favor?”

(Sobre charme e passarelas)

Magnus tinha prometido a Catarina que ia tentar não odiar cada segundo do seu novo horário. Tinha garantido que ia tentar pelo menos dar uma chance a nova clientela e clima da tarde e noite. Mas era incrivelmente difícil trabalhar na melhor padaria de Nova York e não poder usufruir do melhor que tinha a oferecer: as manhãs. As pessoas que vinham cedo estavam de bom humor, felizes por estarem tomando um café da manhã gostoso em um dia ensolarado, prontos para começarem o dia. Geralmente adultos que conversavam entusiasmadamente com os funcionários, liam o jornal e pediam coisas saborosas.

Já as pessoas da tarde e noite eram desagradáveis, arrogantes, barulhentas e atrasadas. Adolescentes apareciam depois da escola e trabalhadores depois do expediente, de mal humor, querendo apenas alguma coisa rápida para levar para uma esposa descontente. Isso porque ele estava tentando ao máximo não pensar nas fornalhas de pães.  De manhã, podia abusar e fazer quantas fornalhas quisesse, nunca pensava em economizar para o próximo turno. Agora percebia o quanto isso era egoísta. Ele tinha que calcular exatamente quantos pães podiam sair e os deixava ali, envelhecendo sem poder fazer nada. Não poder fornecer pães frescos o matava um pouquinho toda vez.

Um ou outro perguntava de James, o maldito que tinha se demitido e se tornado responsável pela sua miséria. Não gostava de falar dele, então sempre inventava alguma coisa. Já tinha dito que ele estava em coma, casado, virado hippie, em uma reabilitação, feito uma plástica que o tornou irreconhecível e assim por diante. Era uma diversão que o mantinha são no meio daquela gente estranha que entrava e saía como se não tivessem raizes ali.

Foi então que começou a notar padrões. Pessoas que sempre pediam a mesma coisa, que vinham no mesmo horário, que entravam só para usar as tomadas ou banheiros estranhamente na mesma hora todos os dias. Mas se pudesse escolher o mais peculiar, ele diria que era o sujeito que entrava, via o cardápio e saia todos os dias sem pedir nada.

“Por favor, um café expresso?” Ah claro, e tinha ele. O homem galã que pedia um café expresso todos os dias às 19h em ponto, sem nenhum minuto de atraso.

Lembrava bem da a primeira vez que o vira. Teve que se forçar ao não ficar encarando, porque tinha achado que era um modelo. Incrivelmente alto, com olhos azuis intensos e cabelos negros, até o seu andar parecia de alguém que tinha acabado de sair de alguma passarela. Mas foi só analisa-lo de cima a baixo que sua ideia caiu por terra, ele era lindo, sim, mas Deus, não sabia se vestir.

“Algum dia já falhei com você?” Ele respondeu, dando uma piscadela. E eis mais um de seus passatempos favoritos: deixar aquele homem desconfortável ou envergonhado de formas diferentes todos os dias. A verdade era que estava fácil demais. Um flerte era o bastante para tirar toda a concentração do outro. Mas Magnus não tinha o que reclamar, o homem era bonito e fazia tempo que não se divertia um pouco com alguém, só tinha o que ganhar com esse jogo.

“Não, mas eu não dou muita margem para erros.”

Você não imagina o quanto.

“Touché.”


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Notas finais do capítulo

Amo flertes descontraídos e primeiras impressões, haha!

E ai, gostaram? Comentem, odeiem, tudo é bem vindo :)

Beijão :*