nicht nichts ohne dich escrita por Last Rose of Summer


Capítulo 1
capítulo um


Notas iniciais do capítulo

O dia de Harry se torna cada vez mais estranho.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759996/chapter/1

Eu fiz isso para protegê-lo!

Harry acordou sobressaltado, a voz estridente de sua tia Petunia ecoando pela casa. Ele coçou os olhos, cansado, lançou um olhar de soslaio ao relógio — eram 5h20, maldição — e levantou-se da cama, tateando pelos óculos no escuro.

Protegê-lo! — uma voz masculina retrucou, irônica. Harry franziu o cenho, quase ao mesmo tempo em que seus dedos alcançaram a haste de seus óculos. — Proteger a si mesma, talvez.

Harry levantou-se, bateu com a cabeça contra o teto de seu quarto e xingou mentalmente. Sempre se esquecia de que já estava alto demais para ficar totalmente de pé ali onde dormia, local que se recusava a chamar de “seu quarto” fazia muito tempo.

Desde que crescera demais para a própria cama, talvez, e dormir no chão se tornara mais confortável.

O que você sabe sobre os meus motivos?! — Harry ouviu um baque contra a mesa da cozinha, e se encolheu por instinto. Conseguia imaginar sua tia de punhos cerrados, batendo na mesa com raiva. Deixando para trás uma rachadura, por causa da força.

Dumbledore pode achar que essa é a melhor decisão, mas não quer dizer que eu não esteja de olho. — Harry abriu a porta do quartinho debaixo da escada e saiu. As luzes da casa estavam todas apagadas, com exceção da cozinha. — Sei muito bem o que você faz com o garoto!

— E a sua alternativa seria melhor? — Harry esgueirou-se em direção às luzes, os passos silenciosos. Já conseguia ouvir melhor sua tia Petúnia, embora a outra voz ainda parecesse distante demais.

Qualquer coisa é melhor que o que você tem feito!

Harry finalmente alcançou a cozinha. Viu-se obrigado a olhar uma vez, e depois olhar de novo; da primeira, achou que seus olhos o enganavam. Da segunda, teve certeza de que ainda estava sonhando:

Tia Petunia estava de costas para ele, ainda de camisola, os cabelos enrolados em inúmeros bobs azuis. Na frente dela, a água da pia estava aberta, jorrando, e a luz acesa so cômodo batia em seu anel de diamantes, fazendo um arco-íris artificial através do qual a voz falava, voz esta que parecia pertencer a uma enorme figura barbuda, vestindo um casaco de couro marrom, e, mais importante que isso, que era metade cavalo.

Harry, — ele disse, suave, ao que tia Petunia virou-se para encará-lo.

— O que você está fazendo aqui, menino? — ela interrompeu o homem, tom ríspido. — Não sabe que é falta de educação espiar a conversa dos outros?

Harry pensou em dezenas de respostas mal-educadas. Pensou em dar as costas e voltar para a cama. Preferia passar seu sonho dormindo a ter que lidar com as mesmas coisas que lidava diariamente. Antes que pudesse decidir o que fazer, no entanto, a figura veio em sua defesa:

Petúnia, — repreendeu, também ríspido. Harry notou os ombros de sua tia ficarem tensos, mas estava curioso demais para saber onde o sonho o levaria para sair dali naquele momento.

— Você não tem nenhum poder sobre mim, Hagrid. — Tia Petúnia sacudiu os punhos cerrados. — Não sou uma de suas pupilas já faz tempo. Deixe-nos em paz! — Ela tirou o anel de cima da pia, desfazendo o arco-íris e, por consequência, a figura. Depois, virou-se para a porta. Pareceu surpresa por ver Harry ainda parado ali. — O que ainda está fazendo na cozinha, garoto? Vai dormir, vai! De volta pro quarto!

Ela o enxotou com as mãos, e passou por ele na soleira da porta, seus passos pesados. Harry piscou. Olhou para a cozinha vazia, e tentou não se sentir desapontado que até mesmo seus sonhos estranhos eram controlados por sua tia.

Deu de ombros, e voltou a dormir.




O despertador tocou às seis horas.

Harry tateou no escuro em busca de seus óculos, mas eles já estavam no rosto. Estranho. Ele não costumava ir dormir com os óculos no rosto, para evitar quebrá-los outra vez. Não tinha certeza se sua tia Petúnia seria leniente o suficiente para comprar novas hastes a não ser que mudasse de grau novamente.

Levantou-se da cama, vestiu as roupas largas demais para seu corpo magricela, e esgueirou-se em direção à cozinha. Parou diante da pia, onde jazia o anel de diamantes de sua tia — aquele que ela nunca tirava do dedo — em meio a uma lambança de água para todo lado.

Harry pegou o anel, para examiná-lo, e subitamente se recordou do sonho.

— O que você está fazendo parado aí, menino? — Sua tia arrancou-lhe de seus pensamentos. Estava apoiada contra a soleira da porta, cabelo enrolado em bobs azuis e olhos cinzas despertos demais para alguém que acabara de acordar. — Duda tem um jogo importante, hoje! Precisa de um café da manhã reforçado que não vai se fazer sozinho.

Tia Petúnia pareceu finalmente reparar no anel, e suas feições se retorceram em irritação e- preocupação? Ela andou a largos passos na direção de Harry, e tomou o anel de sua mão, colocando-o no dedo violentamente.

— Anda, menino! Duda vai acordar a qualquer momento, e você sabe como ele acorda faminto. — Tia Petúnia abriu a geladeira com um puxão, e indicou o interior com as mãos.

— Tia Petúnia, hoje cedo- — Harry começou a falar, mas foi interrompido por um olhar repreensivo de sua tia, e os passos pesados de Dudley contra os degraus da escada. Mais tarde eu pergunto, pensou. Quando voltar do trabalho.



A partir daí, o dia foi ficando cada vez mais estranho.

Na escola, um menino uns dois anos mais novo esbarrou contra ele e deixou cair um de seus sapatos — e em vez de um pé, Harry viu cascos. Por um segundo, somente, desaparecendo em um piscar de olhos.

O menino pôs o sapato de volta, como se nada tivesse acontecido, e continuou em seu caminho sem nem mesmo pedir desculpas.

Mais tarde, no trabalho, enquanto atendia os clientes da tarde, um deles ofereceu um sorriso cheio de dentes afiados, e quando Harry foi entregar o troco, notou mãos peludas.

Quase deixou o troco cair.



— Eu estou te falando, Hermione, — Harry disse, olhando para o céu, notando as formas das nuvens cinzentas. Descansava as mãos nas alças da mochila puída. Voltava para casa, como sempre, na companhia de sua única amiga. — Ou eu estou finalmente ficando louco, ou tem alguma coisa muito estranha acontecendo.

Hermione suspirou, e Harry se perguntou por um segundo se ela acreditava no que estava dizendo. Hermione sempre lhe parecera o tipo de pessoa muito cínica, cética, que só aceitava as coisas se lhe fizessem sentido. Era extremamente inteligente, anos-luz de qualquer outra pessoa que já tinha conhecido, e Harry frequentemente se perguntava o porquê de ela trabalhar no McDonald’s, com ele, quando podia muito bem estar no porão de sua casa criando a nova Apple.

Harry achou que receberia uma resposta no nível de “não seja tolo, Harry” ou “é só a sua imaginação” ou “você realmente está ficando louco”, mas ela ficou um silêncio por metade do caminho, e hora ou outra parecia querer começar a dizer alguma coisa, mas desistir antes de formular a resposta.

Finalmente, ela disse:

— Harry, eu- — Mas foi interrompida por um barulho imenso, como uma explosão. Seus olhos se arregalaram. — Merda, — disse, algo que Harry jamais esperara ouvir sair de sua boca; Depois, fez algo que Harry esperara menos ainda: de dentro de sua mochila cor de rosa retirou uma espada.



O barulho viera da Rua dos Alfeneiros, número quatro. A casa estava quase intacta — havia uma janela quebrada, apenas, e uma parte das cercas jazia no chão —, o que fez Harry se perguntar de onde viera o barulho, até que viu sair de trás da casa a sua tia Petúnia, mãos carregadas de pequenas bolinhas de metal — bombas.

Harry lembrava-se vagamente de ter visto Dudley achá-las quando eram menores, usá-las como bolinhas de gude. Lembrava-se com um pouco mais de certeza da maneira como Petúnia gritara com ele, até quase perder a voz. 

Tia Petúnia os viu mais ou menos no mesmo momento em que eles a viram. Ela os encarou com olhos enormes, preocupados, antes de se ver distraída por alguma coisa que Harry e Hermione ainda não conseguiam enxergar.

Enquanto Hermione simplesmente segurou a espada com mais firmeza e correu em direção à batalha, Harry ficou parado onde estava, entrando em pânico quase silenciosamente. Estava ficando louco, é claro que estava ficando louco. Se fechasse os olhos por um minuto, talvez quando os abrisse novamente tudo estaria de volta ao normal.

Hermione estaria do seu lado, o rosto redondo preocupado, e sua tia estaria recostada no portão, esperando que Harry chegasse com os seus braços cruzados. Mas ele ouviu um guincho, alto e agudo, e quando abriu os olhos havia duas criaturas horrorosas voando sobre as cabeças de Hermione e sua tia, com rostos deformados e pele distendida sobre uma complexão ossuda, com enormes asas de morcego.

— Vai! — tia Petunia gritou, preparando mais uma bomba. — Você não vai conseguir matá-las! Vai, corre!

— E você? — Hermione perguntou, ao mesmo tempo em que desviou um golpe com a sua espada. — Não vai conseguir sobreviver sozinha!

— Não sou eu que elas querem. — Tia Petúnia jogou a bomba, que apitou no ar até explodir contra a asa de uma das criaturas. A criatura soltou um de seus terríveis guinchos novamente, enquanto tentava se equilibrar no ar. — Eu vou tentar atrasá-las, corre!

Hermione ainda pareceu dividida por um segundo, um olho nos monstros e outro em tia Petúnia, mas quando a criatura ainda não ferida mergulhou no ar para atacá-la e ela quase não conseguiu desviar a tempo, tomou uma decisão. Passou correndo por tia Petúnia — que aproveitou a distração das criaturas para jogar mais uma bomba —, e tomou Harry pelo braço, puxando-o para longe.

— Hermione, o que-

— Agora não, Harry. Corre!



Eles correram.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "nicht nichts ohne dich" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.