Talia foi a última a deixar a mesa, endireitando a saia que usava ao fazer isso. Ela podia sentir Eddie correndo para o lado dela enquanto dava um pequeno sorriso para a mãe dele. - O jantar estava ótimo, Sonia.

Ela viu a Sra. Kaspbrak dando-lhe um sorriso simpático antes que a mão de Eddie segurasse a da garota, notando que o olhar de Sonia automaticamente se moveu para as mãos deles. - Vamos ficar no meu quarto um pouco, ok mãe?

A mulher olhou de um para o outro antes de concordar. Talia sentiu Eddie puxando-a levemente antes de ouvir a voz da mãe dele falando alto atrás dela. - Deixem a porta aberta, vocês dois!

— Tá bom, mãe. - Eddie respondeu sem olhar para trás, caminhando rapidamente em direção ao seu quarto.

Os dois deram alguns passos dentro do quarto dele antes de soltar as mãos um do outro. - Credo, por que sua mão tá tão suada? - Talia franziu a testa, limpando a mão. Eddie apenas sorriu para ela, dando de os ombros antes de limpar a própria mão em seu short. - Então, o que vamos fazer hoje, Eds?

Ela podia sentir Eddie dando um olhar feio para ela enquanto se sentava em um lugar aleatório no chão. Ele poderia dizer a ela para parar de chamá-lo dessa forma o tanto quanto ele queria, ele sabia que ela não iria parar. A garota apenas deu de ombros com um falso sorriso no rosto enquanto Eddie se dirigia para seu armário, pegando algo de dentro.

Era um jogo de tabuleiro, um que Talia nunca tinha ouvido falar. Eddie, no entanto, olhou para ela com um olhar animado em seus olhos. - Que tal isso? - ele perguntou a ela, sorrindo para o jogo em suas mãos.

Talia assentiu em aprovação, ela não saberia se gostava do jogo até tentar jogar.— ‘Tô vendo que nosso encontro hoje vai ser selvagem.

Eddie bufou, mas assentiu com um sorriso no rosto enquanto se dirigia para ela, sentando em frente a garota e colocando o tabuleiro entre eles. - Tem que ser, nosso aniversário de um ano tá chegando.

Talia levantou as sobrancelhas, surpresa. - Sério? Eu não notei que estávamos juntos há tanto tempo assim.

Eddie assentiu, sentindo a mesma surpresa que ela. O menino balançou a cabeça, olhando para o tabuleiro na frente dele, concentrando-se no jogo. - Você provavelmente nunca ouviu falar desse jogo, vou explicar pra você.

Talia assentiu, mas mesmo que Eddie e Talia tentassem não se focar nisso, eles não conseguiram. Um ano era muito tempo, pelo menos para o tipo de relacionamento que estavam tendo.

Talia e Eddie não tinham um relacionamento normal. Eles se amavam, afinal, eles eram melhores amigos, mas isso é tudo que eles realmente tinham: amizade. Ambos eram amigos desde que eram pequenos e isso pareceu fazer com que Eddie se sentisse à vontade para lhe confiar sua sexualidade e os medos que a acompanhavam.

A garota não conseguia lembrar exatamente como essa ideia havia chegado a eles, mas há um ano o relacionamento falso deles começou. A única coisa que ela realmente lembrava era que tinha algo a ver com o medo que Eddie sentia de sua mãe descobrir, com o medo do que ela faria depois disso. Eddie também não se lembrava dos detalhes de como começou, mas estava grato por tudo o que Talia fez por ele naquele período de um ano. Ela era a melhor amiga que alguém poderia pedir.

Apenas uma pessoa sabia que o relacionamento deles não era verdadeiro. Richie, um bom amigo dos dois, bem, para Eddie ele era um pouco mais do que um bom amigo. Eddie e Richie haviam começado a namorar há dois meses, mas o relacionamento deles era um segredo que só os três conheciam.

Richie ainda parecia estar se ajustando a essa coisa toda. E depois de duas horas jogando aquele jogo de tabuleiro, era disso que Eddie e Talia estavam falando, sentados com as costas apoiadas na cama.

Mais cedo naquele dia, Richie parecia ter esquecido completamente que o relacionamento dele e de Eddie era secreto, quase indo beijar o garoto quando os Otários se encontraram na pedreira. Felizmente, Richie conseguiu convencer seus amigos de que ele estava apenas brincando quando percebeu o que ele quase havia feito e ninguém falou mais sobre isso.

— Ainda bem que ele consegue se livrar de qualquer coisa com uma piada de mau gosto. - Talia comentou, para o que Eddie assentiu. A garota bateu o dedo no chão inconscientemente, virando a cabeça para ele. - Você não pensa em contar pra eles?

— Não sei se deveria. Eu sei que eles são meus amigos e que eles provavelmente me apoiariam, mas... - ele balançou a cabeça. - Minha vida é uma bagunça. - ele suspirou, olhando para ela. - Sinto muito por ter te arrastado para isso.

Ela deu-lhe um sorriso reconfortante. - Não se preocupa, Eddie, tá tudo bem.

— Eu sei que não tá.

A garota franziu a testa. - O que você quer dizer?

Ele deu seu olhar “você tá falando sério?” para ela. - Qual é, Talia. - ela continuava confusa, fazendo-o revirar os olhos com um sorriso no rosto. – Até o Richie já notou o jeito que você olha pro Bill.

Talia sentiu-se congelando quando ele disse isso, não porque sua paixão pelo garoto Denbrough tinha sido descoberta, mas por medo de ela ter deixado isso óbvio para todos. - Você acha que alguém mais notou?

— Não. - ele riu, esperando por sua reação à próxima coisa que ele diria. - Mas tá na cara que ele também gosta de você.

Os olhos dela se arregalaram e ela quase engasgou com sua própria saliva - o que fez Eddie rir alto - mas depois ela semicerrou os olhos. Ele estava tirando sarro dela?— Você tá falando sério?

— Claro que sim. - disse ele, com um sorriso ainda no rosto. - Você não notou como ele fica com ciúmes quando estamos juntos?

Talia balançou a cabeça, um pequeno sorriso envergonhado em seus lábios. - Não... Eu nunca achei que ele estava interessado em mim.

— Bem, ele está, mas tenta esconder. – a garota tentou reprimiu o sorriso que se alargava em seu rosto, sentindo seu coração batendo mais rápido com o pensamento de que Bill gostava dela. - Pra ele, você é minha namorada e estamos apaixonados ou coisa assim.

Talia assentiu, baixando o olhar para o colo, sabendo que Bill nunca tomaria uma atitude para cima dela por ser a namorada de Eddie. – É.

Um silêncio desconfortável caiu entre eles nos segundos seguintes, o clima se tornando de alguma forma estranho depois dessa conversa. O menino Kaspbrak olhou para Talia, notando seus olhos tristes. – Desculpa se fingir ser minha namorada te dá esse tipo de problema. – ele a cutucou gentilmente. - Sabe que podemos parar com isso quando quiser, né?

Talia olhou para ele, sacudindo a cabeça. - Não até que você se sinta confortável pra contar pra sua mãe sobre essas coisas. - ela sorriu para ele, segurando a mão dele na dela, tentando lhe passar conforto. – Tô aqui pra você, Eds. - ele não parecia chateado de ouvi-la dizer esse apelido desta vez, um pequeno sorriso aparecendo em seu rosto. Ele nunca duvidou disso. - Além disso, Richie sabe que não estamos realmente namorando, poderíamos contar pro Bill também.

Ele deu uma risada, apertando a mão dela. – Certo.

Ela apertou a mão dele de volta. - Certo.

Um silêncio caiu entre eles novamente, mas desta vez não foi desconfortável, na verdade, foi o silêncio mais confortável que os dois já haviam testemunhado.

Não demorou muito para que o encontro deles terminasse, Eddie a conduzindo até a porta de sua casa para se despedir dela.

— Te vejo amanhã? - Eddie assentiu para ela e ela se inclinou para ele, beijando sua bochecha, antes de se virar para a mãe dele, que estava observando-os da sala de estar. - Tchau, senhora K.

A mulher acenou para ela, fazendo Talia sorrir. A garota deu uma piscadela para Eddie, fazendo-o rir antes de se virar para sair. Ele não fechou a porta imediatamente, no entanto, observando-a andar pela calçada até o final da rua.

— Eu gosto dela, Eddie. Parece uma boa garota. - ele ouviu sua mãe dizer, mas ele não se virou para ela.

Talia era uma boa garota e ele sabia disso desde o dia em que a conheceu quando ambos eram crianças. Desde então, ela fez tantas coisas que provaram que era uma boa amiga, fingindo estar namorando com ele era apenas uma coisa pequena entre muitas outras. Ela sempre colocou a felicidade dele na frente da dela e ele a admirava tanto por isso. Eddie era grato por ela e por tudo que ela fez. Ela realmente era a melhor amiga que alguém poderia pedir.

— Sim, ela é.