Because I am a Girl escrita por Clarinha96culle


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
XD



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— Ele gosta de chocolate com nozes. – minhas amigas se voltaram para mim com uma súplica silenciosa. 1,2,3 segundos se passaram. Então...

   - Ahhhhhhhh!

   O que fiz? Sim, chorei igual a um bebê! Pela quinta vez na semana, um detalhe.

   - Amiga, não chora. – antes de Alice me abraçar notei a expressão repentina de dor em Rosalie. A baixinha sem dúvida cravou o salto fino da sandália no pé da loira com toda a força. Vá por mim, dói como o inferno.

   - Você não pode mudá-lo...

   - Mas Mike precisava ser assim? – murmurei com desgosto.

   Vocês devem estar se perguntando: quem é Mike. Simples. Meu ex-namorado. Gay! Exatamente. Homossexual. O pior? Namorei durante um ano com o desgraçado. Sério que acham que isso não poderia piorar? E claro que pode! Afinal, sou Isabella Azarada Swan, prazer! Desgraça pouco pra mim é bobagem! Mike terminou comigo no dia em que completamos exatos 365 dias de namoro e o motivo era bem plausível. Jogou na lata que era gay, sem dó nem piedade. Eu avisei que o motivo era bom. Aquele ingrato! Dei dias maravilhosos pra ele e o infeliz faz uma porcaria dessas comigo!

   - Por que tinha que gostar da mesma fruta que eu? – pendi a cabeça para trás e ergui as mãos em sinal de desespero. É, sou exagerada – Quando esse azar vai terminar?

   - Que azar? – Rose sentou-se ao meu lado já sem o chocolate. Acho que o jogou fora temendo que eu abrisse ainda mais o berreiro.

   - Vamos refrescar a memória. Aos 12 anos me apaixonei por um emo maluco quem me convidou pra ir ao cemitério, dois anos depois me deparo com um pé rapado e perfeito exemplo de vagabundo sustentado pelos pais e com mais de 20 anos na cara sem querer estudar e nem trabalhar, meu namorado termina comigo porque gosta de pauzinho e só recebo cantada de velho tarado, bêbados e mendigos na rua. É praga!

   - Deixa de neura, Bella. – repreendeu Alice ao colocar o braço direito ao redor dos meus ombros.

   - Neura é o cacete! Tenho provas! Há uns anos escutei minha mãe comentando de uma tataravó da prima de minha tia de terceiro grau jogou uma praga, dizendo que as mulheres da minha família não teriam sucesso na vida amorosa.

   - E é possível? – as minhas duas amigas trocaram um olhar desconfiado entre si.

   - É só ver a minha situação.

   Elas podiam ser minhas irmãs postiças e extremamente amadas por mim, porém não podiam negar: sou azarada e meus relacionamentos amorosos são uma mistura de filme de terror e comédia. Ou melhor. Um terror trash, porque você não sabe se ri ou se chora de tão ruim.

   - Não acredito. Bella está chorando de novo?

   Conhecia aquela maldita voz irritante de longa data.

   - Some daqui, Cullen! – gritei.

   Edward Cullen era o roqueiro charmoso da escola onde estudávamos. Não gostava dele porque além de se achar era justamente o tipo de cara que detestava: galinha, filho da puta e sem porcaria alguma na cabeça. Até matar aulas o imbecil matava. Fora as várias festas regadas a álcool que participava.

   - Está triste de novo pelo viado? – puxou uma cadeira e sentou-se em minha frente. Hoje usava um alargador preto na orelha direita.

   - Mike não é viado! É gay. É diferente. – tentei manter um tom neutro, contudo o meu bico me entregou.

   - Então por qual motivo estaria chorando? – o olhar debochado me lembrou de como o detestava, principalmente porque volta e meia implicava comigo. Talvez porque me achasse meio... Um tanto... Digamos assim... Maluca? Vão por mim, no decorrer da história vão entender.

   Pensei um pouco e sem idéia melhor, gritei – como uma completa histérica, só pra dar aquela emoção na minha atuação:

   - Sou mulher! Estou na TPM, merda! Estou feia, inchada, com bolsas nos olhos e estressada! Não tenho esse direito, não? Você não sabe como é difícil ter cólicas e passar mal o dia ou então a semana inteira por causa disso.

   Aparentemente essa atitude foi boa, já que ele se levantou com calma, pôs as mãos onde eu pudesse ver e avisou enquanto se afastava:

   - Entendi. Está tudo bem. Sou seu amigo. Fique calma.

   Quando estava há uns metros de distância de nós três, Alice comentou segurando o riso:

   - Acho que ele ficou com medo.

   O sinal tocou e voltamos para a aula.

   O mês passou lendo e gradual. Era complicado entender que tinha levado um fora de Mike. Explicarei melhor a situação.

   O conheci no primeiro dia de aula do ano passado, ou seja, no segundo ano do ensino médio. Sabe aquelas histórias de amor à primeira vista muito utilizadas no enredo de filmes e letras de música? Sim, foi exatamente o que aconteceu. Essa porra existe! Podem duvidar, assim como eu duvidava tanto. Agora, analise a cena comigo. Entrei na sala e vi um menino de cabelos loiros e sentado no fundo da sala. Juro, tudo em minha volta parou e só tinha olhos para ele. Não sei até hoje o que me chamou a atenção, todavia fiquei como uma babaca, parada em frente ao desconhecido – sim, não sabia nem mesmo o nome dele – enquanto o observava mexer com preguiça no celular. Depois de me empurrarem me dei conta do que fazia e sem graça sentei-me numa cadeira. O súbito e extremamente estranho pensamento passou pela minha mente: seria bom se você se tornasse amiga dele. Claro, pensei que fosse loucura e resolvi me focar na aula, embora ainda não tivesse começado. Por fim, descobri o nome do garoto, Mike Newton, e precisei ir com ele pra tirar Xerox de algumas páginas do livro que estávamos usando. Aí nossa amizade começou. E eu, é claro, burra, já havia me apaixonado por ele.

   - Amiga, na boa, não aguento mais isso!

   Fui despertada dos meus devaneios pela voz da Alice.

   - O que?

   - E ela nem escutou... – Rose se sentou atrás de mim na sala de aula, como de costume.

   - Fiz uma coisa que você não vai gostar. – a baixinha colocou a mochila sobre a mesa.

   - O que?

   - É melhor contar a história toda pra ela. Se jogar na lata Bella vai surtar. – Rose alertou desembrulhando um pirulito.

   - Do que diabos estão falando?

   - Preste atenção. – a baixinha se abaixou ficando na minha altura para que os demais não escutassem – Lembra-se daquele meu amigo, o Jas?

   - Quem conheceu pela internet?

   - Sim, esse mesmo.

   - Que tem?

   - Em uma conversa comentou comigo que tinha um amigo com problemas amorosos.

   - E?

   - E esse amigo tem várias coisas em comum contigo.

   - E?

   - Encontramos vários pontos em comum entre vocês dois, inclusive o fato desse menino ter sido bem machucado pelas garotas por quem sentiu algo a mais.

   - E? – desconfiei onde queria chegar e não gostava nem um pouco.

   Respirou e soltou o ar de uma só vez em uma frase:

   - Dei o seu número de celular pro Jas dar para o amigo dele.

   - Você fez o que? – me controlei muito para não gritar.

   - Eu disse que ela surtaria. – Rose abaixou-se do meu lado direito.

   - Com que direito fez isso, Alice? E se ele for um maníaco psicopata?

   - Asseguro que não é. – Rose disse – Segundo Alice o garoto até canta e tem 19 anos.

   - Pense nisso como um favor. O término com Mike estava afetando até a nós duas.

   - E olha que não ia com a cara dele, você sempre soube.

   - E o que querem que eu faça? Comece a conversar normalmente com um completo desconhecido do nada? – indaguei revoltada.

   - Exatamente. – Alice abriu um largo sorriso.

   - Não sei o motivo, mas isso está me cheirando mal. – pensei antes de nos acomodarmos nos nossos lugares.

   Ainda não sabia, contudo tinha completa razão.

   - Alice, eu duvido que ele vá me procurar. – dizia ao telefone do quarto enquanto assistia a um filme sexta-feira a noite.

   - E por quê?

   - Ainda não percebeu? Já se passaram duas semanas e não recebi nenhuma mensagem dele.

   — Bella, relaxa. Jas me contou que o cara quase não para em casa e há cinco dias deu o seu número pra ele.

   - Sei, não...

   - Quando menos esperar receberá uma mensagem.

   - Por que está tão convicta de que será um SMS?

   - Assim como você, o garoto também prefere enviar mensagens de texto.

   — Continua não me convencendo, mas...

   Nesse instante, senti a vibração de meu celular. Nunca o colocava para tocar, portanto pra mim não era uma surpresa. Antes de pegá-lo, senti um súbito frio na barriga. Estranhei, porém deixei para lá e o peguei. Era uma mensagem de texto vinda de um número desconhecido.

   De: 9924407815

   Oi. Tudo bem?

   - Bella? Está aí?— Alice me chamou, pois eu ficara muda.

   - Amiga, acho que ele me enviou uma mensagem agora.

   — O que está esperando? Responde mana! Vou nessa. Amanhã conversaremos e você me dará todos os detalhes de como foi falar com ele. Tchau.

 

   Para: 9924407815

   Ah, oi. Tudo, sim. Você é aquele amigo do Jas que minha amiga me falou?

   Não demorou a responder. Devia estar com o celular na mão.

   De: 9924407815

   O próprio. Prazer, senhorita...

   Para: 9924407815

   Olha, por enquanto prefiro não dar o meu nome. Pode me chamar de Paynne, se quiser.

   De: 9924407815

   Ok, respeito a sua opinião, mas por que Paynne?

   Para: 9924407815

   É o nome de uma personagem de uma saga que acompanho.

   De: 9924407815

   Por mim não há problema. Sabe o meu nome?

   Para: 9924407815

   Não, mas... Iria se incomodar de também usar um codinome? É que tenho medo de conversar com quem não conheço por mensagens de texto ou internet.

   De: 9924407815

   Como fui alertado sobre isso, não me surpreendo. Pode ser. J Muito bem. Prazer, Paynne. Qual apelido você gostaria de me dar?

   De: Bella.

   Que acha de Chuchu?

   De: 9924407815

   Chuchu? Assim fere a minha masculinidade! O que vão pensar de mim se você me chamar de Chuchu para outras pessoas? Kkkkkkkkk

   De: Bella.

   Bem, não lhe tiro a razão. O que acha de Simon?

   De: 9924407815

   Pode ser. Algo me diz que é personagem de mais algum livro que lê.

   De: Bella.

   E é. O que acha? Não gostou? Ah, qualquer coisa posso chamá-lo de cuti, fofo, titinho... Há uma série de possibilidades. #brincadeiraaaaaaaaa

   De: 9924407815

   Ai, meu Deus... Vamos voltar pra Simon porque está de bom tamanho! Pelos céus, não me chama assim, não. Daqui a pouco vão me chamar de gay e não tiro a razão. Kkkkkkkkkkkkk

   Duas horas mais tarde Simon pôs o celular para carregar. Passou as últimas horas conversando com a menina de quem tanto escutou Jas falar – ou melhor, o irmão conseguiu convencê-lo a conhecer, mesmo virtualmente. Não mentiria para si, gostou de bater papo com ela. Era educada e com bom senso de humor. Não gostava daquelas garotas chatinhas, sem graça e só com rostinho bonito pra levar uma conversa. Chamou-lhe a atenção.

   Ao se deitar mudou de opinião. Foi bom Jasper, o irmão mais novo, ter insistido tanto ao dar o número de uma estranha a ele.

   De: Bella.

   Para: Alice e Rosalie.

   Amigas, acabei de conversar com Simon (o menino. Não conheço o nome dele e vice-versa, mas estamos usando codinomes a meu pedido). Assim, foi legal... Por enquanto, não está parecendo um psicopata e nem maníaco. Até é maneirinho. Não sei se vamos conversar novamente, contudo foi bom falar com ele. É fácil levar um assunto com Simon. Boa noite, manas. As vejo amanhã na escola.

   - Anda, Bella! Não me estou aguentando de tanta ansiedade aqui. – a baixinha praticamente pulava na cadeira.

   - Eu li a sua mensagem essa manhã e também quero saber de todos os detalhes. – a outra estava tão empolgada quanto.

   - Não foi nada de demais. – fiz pouco caso ao me sentar na cadeira.

   - Duvido! Principalmente pelo que Alice contou.

   - O que você contou? – indaguei curiosa.

   - Ah, tive um papinho com Jas enquanto me arrumava pra cá. Soube que o menino quer continuar conversando contigo. – um sorriso suspeito desenhou os lábios de Alice.

   - Como assim?

   - Simon, assim como decidiu chamá-lo, ficou curioso em relação a você e quer continuar conversando.

   - Amiga, seja sincera. Já perguntei uma vez e a resposta não me convenceu. Tem certeza de que não está agindo como cupido?

   - Quer saber de uma coisa? Estou sim! Precisa esquecer o Mike e descobri por acaso de uma porra de um garoto parecido contigo. Considere uma ajuda minha e ponto final.

   - Ok, gente. Calma... – disse.

    - Provavelmente nem se dará conta de quando esquecer o Mike e talvez isso nem demore. – Rosalie falou me encarando.

   - Por quê?

   - Porque, minha cara, você se apaixona com facilidade.

   - Estranho. Achava que era fogo no rabo ou então desespero, mesmo. – Alice deu de ombros.

   - Valeu, hein!  Me adora! – ironizei.

   - É a verdade, ora! Sempre digo isso. – deu uma piscadela.

   - Não acho. Pra mim Bella apenas acaba se entregando de coração quando um garoto aparece na vida dela. Até porque você – apontou o dedo indicador em minha direção – é romântica, sentimental e se encanta com pequenas coisas, até mesmo por palavras doces.

   - Ou seja, sou fácil pra caralho!

   - Não é fácil, amiga. – o tom usado era sereno – Apenas se entrega a um menino de coração aos poucos e sem perceber. Só isso.

   Naquela mesma noite assistia ao filme Três Metros Acima do Céu. Sabe aquelas histórias feitas justamente para os melosos e românticos de plantão? Era esse mesmo. E garanto. Mesmo depois de meses ainda não me recuperei emocionalmente desse filme.

   Voltando...

   Ao terminar o filme meu celular vibrou. Adivinhem quem era?

   De: Simon.

   Oi. Tudo bem?

   Para: Simon

   Sim, chuchu. E você?

   De: Simon.

   Chuchu o.O. ?

   Kkkkkkk

   Para: Simon

   Ué! É que chamo assim todo mundo. Tem problema?

   De: Simon

   Não. É que nunca na vida me deram um apelido tão masculino quanto esse. #zoa

   Para: Simon

   Já que gostou, talvez eu possa chamá-lo também de cuti, fofo ou de Titinho. O que acha? #brincadeiraaaaa

   De: Simon

   Kkkkkkkk! Vamos deixar no chuchu mesmo. É o mais masculino dentre esses. Kkkkk

   Para: Simon

   Ok. Que está fazendo de bom?

   De: Simon

   Assistindo Game of Thrones. E você?

   Para: Simon

   Estou de vagabundagem, mesmo. Peguei um livro aqui, Fortaleza Digital. É muito bom! Gosta dessa série? É foda pra caralho! E sim, eu xingo. Xd!

   De: Simon

   Kkkkkkk. Maneiro.

   Bem, eu não vou expor a conversa toda. Até porque escrever com detalhes uma conversa a qual durou cinco horas seguidas seria, no mínimo, cansativo. Só adicionarei a despedida.

   Para: Simon

   Chuchu, eu vou dormir. Acordarei cedo porque amanhã tenho aula. Boa noite.

   De: Simon

   Ok, Paynne. Vai lá. Vamos marcar pra sair um dia desses? Queria conhecê-la pessoalmente. Qualquer coisa nós juntamos uns amigos.

   Para: Simon

   Ok. Podemos marcar, sim. Seria divertido.

   - Ele disse o que? – Rose indagou enquanto almoçávamos no refeitório.

   - É. Ele quer se encontrar comigo. Vocês querem ir junto? Vou chamar uma galera. – levei meu suco de uva aos lábios.

   - Que galera, Isabella?! – Alice me fuzilou com os olhos – Amiga, ele quer sair sozinho contigo.

   - Não, gente.

   - Quer, sim! Se deixar está até interessando. – Alice jogou verde.

   - Interessado em que? – ainda não notaram? Sou tapada por natureza.

   - Em você, Bellinha. – Rosalie respondeu.

   - Não. A gente só está tendo uma amizade. Nada mais, além disso. E ficaremos por isso mesmo. – afirmei decidida.

    - Vamos ver se com o passar do tempo ela continua na mesma opinião. – deu uma piscadela para Alice.

   - Como assim?

   - Espere e verá, minha querida. – respondeu a outra.

   Por favor, me respondam. Como elas tinham razão? Das duas uma: ou eram adivinhas ou me conheciam bem até demais! Cacete, não é possível!

   Após aquela segunda troca de mensagens com Simon, passamos a nos comunicar todas as noites. Semanas mais tarde, durante a tarde e às vezes, durante o dia todo. Com o passar dos dias fui me acostumando a falar com ele. De início, uma parte minha ficava ansiosa pra chegar logo a noite – já que só nos falávamos nesse horário. Então, ele me enviou mensagem de tarde e depois de manhã. Por fim, já acordava na expectativa de encontrar um SMS no meu celular.

   Nesse período meus pensamentos e comportamento em relação ao menino também mudaram. Devagar, fui parando de pensar em Mike para, no final das contas, pensar no Simon. Conversávamos sobre várias coisas e, em alguns momentos, os assuntos eram bem pessoais – como relacionamentos amorosos, família e, não me perguntem como, mas cheguei a contar do que sofria no colégio antes de entrar para o ensino médio. Sim, esse é um tema complicado para mim, porque... Bem, não é nem um pouco divertido quando riem as suas custas.

   Devem estar se perguntando: como o comportamento de Bella mudou? Explicarei com algumas situações.

   Passei a sentir muitas saudades dele quando não recebia mensagens. Pois é. Se acostumar a conversar com alguém é uma porcaria. Depois, comecei a ficar neurótica. Exatamente o que leram. Neurótica. Como? Da seguinte forma.

   Uma vez me peguei falando sozinha comigo mesma dentro de casa. Isso daí mesmo, meu povo! Eu falava sozinha comigo mesma! E o pior! Pedia minha própria opinião e depois me contradizia! É normal essas coisas acontecerem, né? Qual é o problema da pessoa debater um assunto consigo mesma? E ainda mais. Chegava a fazer gestos, caras e bocas! Uma vez estava passando pano na casa – pois é, sou pobre e não tenho empregada. Vida de nego é difícil, é difícil de se ter... Tá, parei – e, como morava na época com minha mãe e minhas duas tias, fiquei encarregada de arrumar a residência enquanto elas compravam algo pra lá. O que fiz? Simples. Passava pano, criava uma teoria mais maluca do que a outra na cabeça – não disse que era neurótica? – e ainda ia conversando! Com quem? Ah, caros fãs, com os móveis e espíritos que por lá moravam junto comigo. É maravilhoso! Nesse dia minha tia chegou em casa e me viu como? Afirmando, ou melhor, quase berrando, as seguintes palavras:

   - Ate porque se a porra do garoto quisesse, já teria me enviado uma merda de um SMS há uns dois dias. Mas não... Não, senhoras e senhores! Ele não se importa com minhas necessidades!

   Reação de titia?

   - Isabella, minha querida... – ela veio da porta, caminhando a passos lentos e cuidadosos. Acho que ficou com medo de eu ter surtado de vez – Está tudo bem?

   - Tá, sim. – coloquei um sorriso amarelo após uma cara de bunda divina que fiz.

   Lembram-se das teorias malucas? Então. Inventei bastante. Bastante não faz jus. Pra caralho se encaixa melhor. Motivo? Saca só a confusão mental da criatura.

   “Simon deve estar sem créditos. Normal. Isso acontece com qualquer um, até comigo.”

   Duas horas mais tarde...

   “Vou é mandar pra puta que pariu! E por quê? Ele não me envia uma mensagem. Custa avisar se está vivo ou não? Afinal de contas, sou amiga. Coleguinha. E coleguinhas se preocupam com o outro colega! E quem se fode nessa porra toda do cacete? Eu. Eu me fodo e sozinha, ainda por cima! Não tem a mínima consideração por mim. Duvido que sinta saudades de mim como eu sinto dele. Saudade é uma merda. É uma merda do caralho! Principalmente quando se é sentida só por UMA pessoa!”

   Trinta minutos depois...

   “Está em uma suruba. É isso! Garotos adoram uma putaria, mesmo. Deve é estar medido em uma surubada. Ou pior. Chuchu deve ter ido lá pra porra do Canadá procurar pela garota! Só pode. Está explicado, meu povo! Ele foi procurar pela menina de quem ainda gosta mesmo se passando quase um ano dela ter viajado.”

   Deu pra ter uma noção, né? Pois é... Calma, gente. Não se apavore nem nada. Sou uma pessoa sã como qualquer outra. Apenas sou um tanto... Excêntrica.

   - Saca só a fofoca. – Rosalie se inclinou em minha direção – Sabe a garota nova?

   - Quem? – Alice indagou.

   - Jéssica. É aluna de filosofia da turma de Bella.

   - É a ruiva?

   - Essa mesma. Segundo meus contatos ela está dando mole pra Edward.

   - E que tem isso? – suspirei, aproveitando cada segundo embaixo da sombra daquela árvore – Uma porrada de menina daqui já dormiu com ele.

   - Fora que é atraente. – completou Alice acomodando-se nos meus joelhos. Afinal, eu estava deitada de costas no chão e com os pés firmes na grama.

   Fiz um som o qual representava o quanto discordava da afirmação dela.

   - Edward está recusando as investidas dela.

   Não nego. Abri meus olhos para encará-la.

   - Sério?

   - Sim. Agora, deixando o assunto de mais uma puta dando em cima de Edward... Como anda a sua relação com Simon? – uma empolgação tomou conta da voz de minha amiga.

   - Nossa amizade vai indo bem. Nada com o que se preocupar.

   - Só isso? – Alice perguntou descontente.

   - Só. – fechei os olhos novamente.

   Descreverei a cena dos próximos vinte segundos: Alice e Rosalie em cima de mim, fazendo cócegas em minha barriga e gritinhos e risadas saindo de minha boca.

   - Ai, Lice... Pára, Lice.... Assim não. Isso... Lice... Lice!

   - Que porra é essa?! – ambas exclamaram e se afastaram de mim bruscamente.

   - Como assim? – sequei as lágrimas. Ri tanto que minha barriga chegou a doer.

   - Que merda de gemido de atriz pornô foi esse? – a baixinha me encarava com os olhos tão esbugalhados que quase tive um novo acesso de riso. A loira, por outro lado, já ria de não se aguentar mais.

   - Eu não gemi. – me sentei de pernas cruzadas.

   - Gemeu, sim. – as duas disseram.

   - Agora que paramos com a sessão de tortura, vai nos contar mais detalhes sobre você e o Simon? – Rosalie tentou novamente retornar ao tema original.

   - Nada de demais. Soube que ele gosta de uma menina quem se mudou pro Canadá. – fiz uma careta.

   - Não gostou de saber disso? – Alice franziu levemente a sobrancelha. Sem dúvida detectou meu desconforto.

   - Na verdade, não. Não fez diferença. – desviei o rosto e vi o grupo de Edward nos observar com curiosidade.

   Provavelmente, caso eu tenha gemido da forma como elas falaram, estavam pensando que rolava uma suruba entre nós três. Já tinha um boato de que Alice e Rosalie tinham um caso. Não me surpreenderia caso me colocassem nesse meio.

   - Você está gostando do garoto! – se Alice não estivesse sentada no chão conosco, sem dúvida teria dado pulinhos.

   - Não estou, não! – serei sincera. Dei um sorrisinho. E o pior. Bem no fundo, gostei de escutar isso.

   - Está, sim! Seus olhos estão até diferentes! – acusou a loira.

   - É exagero da sua parte. – a porcaria do sorriso idiota não sumia.

   - Vai ver como temos razão.

   Rosalie abriu a bolsa e tirou um pó de arroz, o qual abriu e virou a parte espelhada pra mim.

   - Ainda acha que estamos exagerando?

   De fato, eu conhecia muito bem aquela expressão: sorriso idiota, olhos com um brilho diferente...

   - Ah, droga! – resmunguei.

   - Sabe o que isso quer dizer, né? – Alice indagou com certa malícia.

   - A merda da flecha do cupido me acertou em cheio.

   - Um não. Dois cupidos. Lice e Jas. – corrigiu Rose.

   - Duvido que ele vá se interessar por mim. – torci o lábio.

   - Por quê?

   - Porque ele ainda ama uma menina quem se mudou pro Canadá há uns meses.

   - E daí?

   - Chuchu não teve um relacionamento com ela, mas foram grandes amigos.

   - Tá, e daí?

   - Antes de ela ir embora, roubou um beijo dele e o garoto chorou ao vê-la entrar no avião.

   - Repito. E daí?

   - Chuchu ainda sente coisas por ela, cacete!

   - Ah, tá. – a baixinha ironizou – Até porque uma garota quem está morando no Canadá há alguns meses é uma grande ameaça pra você!

   - Com a minha sorte ela deve estar embarcando no primeiro avião pros Estados Unidos agora mesmo.

   O que aconteceu? Começaram a rir da minha expressão facial.

   Vinte minutos depois adentrava na aula de literatura. Ganhei fama de nerd porque sempre sentava na frente. O que os outros não sabiam é que, embora estudasse como se minha vida dependesse disso, minhas notas não eram nem um pouco surpreendentes. Mantinha-me na média. Pois é. Dificuldade de aprendizagem é uma droga. Antes de poder alcançar o meu novo livro e começar à lê-lo, o professor apareceu.

   - Boa tarde. – não entendia de onde o homem conseguia tirar tanta animação – Teremos um trabalho extra hoje e vocês o farão em duplas. Junte-se a pessoa ao seu lado para começar.

   Como eu estava sentada na parede olhei para a esquerda. Por um momento estranhei. A mochila preta a qual fora depositada com um baque quase no mesmo instante em que me virei não era a de Bree, quem costumava a sentar-se ali. Fiz um movimento denunciando minha confusão, então... Quem surgiu do nada – sim, as coisas acontecem do nada na minha vida – com um sorriso idiota no rosto?

   - Seremos parceiros, gata. – disse Edward com um meio sorriso.

   - Que diabo está fazendo aqui? Seu lugar é no fundo. – reclamei.

   - Cansei de lá. É um porre estar sempre no mesmo lugar. – juntou sua carteira com a minha, assim como os outros.

   - Foda-se, querido. Quem senta aí é a Bree. – não podia mais esconder minha irritação.

   - Eu já estou acomodado e não sinto a mínima vontade de sair. E não vi o nome dela escrito na mesa nem merda nenhuma. – respondeu despreocupado.

   - Azar o seu. Levanta a porra do seu rabo murcho e leve-o para o fundo da sala, de onde jamais deveria ter saído. – vociferei. Aparentemente, apesar de manter minha voz baixa, ela intensificava o meu sentimento negativo.

   - Credo, garota. Não fala isso. – me encarou – Minha bunda não é murcha. Pra ser sincero faz um belo sucesso entre as garotas. Todas elas gostam.

    - Não estou estudando pra suportar isso. – murmurei ao passar as mãos nervosamente pelos cabelos.

   - Sua família não a ensinou a ser educada com as pessoas?

   - Só sou educada com quem merece.

   - Senhorita Bree. – ergui a cabeça quando escutei a voz neutra do professor e deparei-me com minha colega entrando na sala – Agradeço por ter encontrado tempo na sua lista de compromissos para assistir minha aula.

  - Desculpe, mas eu... – foi interrompida.

   - Sem explicações, por favor. – terminou de organizar as folhas e encarou-a amigavelmente. A menina era quase uma santa. – Encaminhe-se para um lugar vago e faça uma dupla. Caso não tenha alguém sozinho, pode ser trio.

   Bree – era o apelido que dei a ela – arregalou um pouco os olhos ao ver quem se encontrava ao meu lado e, antes de ir para o fundo, trocou um olhar inquisidor comigo.

   Imediatamente o professor entregou-nos as folhas, as quais continha questões relativamente complexas de literatura. Simplesmente amava a matéria. Portanto, não dei ao trabalho nem de consultar Edward para confirmar as minhas respostas nos minutos seguintes. Afinal de contas, a criatura se sentia muito melhor trocando mensagens com alguém com o celular escondido por debaixo da mesa.

   - Terminamos. – avisei após quase uma hora em silencio e anotando nossos nomes.

   - E o meu ponto de vista? Não vale?

   Economizei saliva. Precisei morder a língua pra evitar rebater.

   Levantei e, ao entregar as resposta do questionário, o professor liberou a nós dois.

   - Bella, espera. – parei ao escutar a voz de Edward.

   - Que quer comigo? – ele parou em minha frente.

   - Como assim? – fez-se de desentendido.

    - Não tenho muito tempo. Anda logo!

   - Ok, ok. É que eu e meus amigos não pudemos deixar de notar a ceninha entre você e suas amigas mais cedo.

   Lá vem merda...

   - E daí?

   - Você e Alice têm um caso? Ou ela só pega a Rosalie?

   Não disse que vinha merda? Gente, como isso é possível!? Alguém explica, por favor! Podia ter escutado as palavras com clareza, mas não pude acreditar que me perguntou na maior cara de pau! É demais pra minha cabeça!

   - Só não me diga que não tem. – acho que ele só falou algo porque eu estava parada com o queixo caído e piscava sem parar.

   Só esqueci-me de contar uma coisinha pra mim para vocês. Eu não presto.

   - Como você percebeu? É claro que a gente se pega! Desde sempre! Ou acha que só dou aqueles beijinhos carinhosos na testa da baixinha por amizade? Normalmente ela e Rose tinham algo um tanto... Superficial. Aí eu cheguei e melhorei a situação. Às vezes até rola uma suruba entre nós três.

   - Explica muita coisa! – saiu como se nada tivesse acontecido.

   Não acredito que o filho da puta não notou o tom extremamente sarcástico usado por mim.

   Quase um mês depois daquilo – e de Alice ter me perseguido dentro de casa querendo me bater por ter mentido descaradamente – estava na sala de estar de Rosalie. Seria tudo normal, se não fosse por um detalhe: ela lia em voz alta as mensagens trocadas com Chuchu.

   - De Chuchu para Paynne. – anunciou Rose sentada no sofá. A essa altura eu já estava ficando vermelha de tanto rir – A gente bem que podia tentar alguma coisa a mais para ver se rola algo entre a gente, né? Temos tanto em comum e gosto muito de conversar contigo. De Paynne para Chuchu. Tentar o que?

   - Isabella! – berrou Alice me batendo com a almofada, a qual não faço ideia de onde surgiu – Não acredito que respondeu isso por garoto!

   - Eu não tinha entendido cacete! – respondi em meio às gargalhadas, me encolhendo no sofá – Li rápido demais.

   - Deixa a menina respirar, Lice. – Rose veio ao meu socorro.

   - Tá! – arrumou os cabelos e entregou a almofada pra ela – Mas se precisar vou apanhá-la novamente. – avisou – O que mais eles falaram?

   - De Chuchu para Payne. Deixa pra lá. Kkkkkkkk. De Paynne para Chuchu. Explica! Sou Tapada, poxa... Ah, ta! Agora entendi. Olha... Não acho ruim a gente tentar algo. Mas... Sei lá. Tenho medo. De Chuchu para Paynne. Medo de que? De Paynne para Chuchu. Medo de me envolver sentimentalmente com alguém e sair machucada.

   - Agora virou A Usurpadora. – a baixinha começou a bater palmas – Está melhorando cada vez mais!

   - Esse é só o começo. – avisou Rose lutando contra um sorriso o qual escapulia pelos lábios – Minha linda, eu também tenho medo. Já fui machucado por praticamente todas as minhas namoradas e não quero que isso volte a acontecer. Era sempre a mesma coisa: conhecer a menina, me interessar, amar, me entregar, me decepcionar e acabar com tudo. Você não faz idéia de como é se entregar a quem apenas vai deixar cicatrizes abertas em seu coração.

   - Puta que pariu. Vocês dois precisam parar de assistir Sortilégio! E com urgência.

   - A novela é tão boa. Eu vou é continuar vendo, isso sim! – cruzei as pernas.

   - Causa consequências graves. – disse a loira.

   - Como assim? – perguntei.

   - Está escrito aqui. De Paynne para Chuchu. Chuchu, as coisas são assim. Não se escolhe quem e nem quando amar. Não acho que o amor deve ser evitado. Ao contrário. Talvez eu esteja falando idiotice ou eu seja somente uma garota, mas há certa beleza nesse sentimento. Deixamos o egoísmo de lado e, quando menos percebemos, nos pegamos pensando, nos preocupando e cuidando da pessoa amada.

   - Por favor, pare. É muito México pra minha cabeça! Suplico. É melação e drama demais pra mim. – acho que Alice ficou desesperada.

   - Tá, bem. Só tenho uma última notícia. – eu disse com um ar mais sério.

   - Qual? Aconteceu mais alguma coisa além do que li aqui?

   - Sim. E não sei se estou preparada pra esse passo.

   - O que houve, amiga? – Alice se aproximou de mim.

   - Ele me chamou pra sair. Só pra gente se conhecer, mesmo. E eu aceitei.

   Vocês acham que eu fiquei nervosa ou ansiosa? Não. Jamais! Imagina! Eu, Isabella Marie Swan, nervosa porque vai sair com um menino? Hahahaha... Estão certos. Virei uma pequenina pilha de nervos e ansiedade à medida que se aproximava do dia marcado. Combinamos um cinema. Coisas simples, né? Fácil de lidar. Luz do dia e local movimentado (escolhemos um Shopping). Sem problemas. Bom, pelo menos era o que eu achava até eu ver a merda que deu. Garanto que vão entender.

   Cheguei ao lugar do maldito (sim, usarei esse termo maravilhoso) encontro: em frente a uma livraria. Como ele já comprara os ingressos, não me preocupei em ficar na fila. Escolhi minha roupa, maquiagem, sapato e penteado com cuidado e antecedência – uma semana, pra ser mais exata. Por fim optei um vestido estampado com cores quentes (vermelho, amarelo, laranja) bem vivas acima dos joelhos, sandálias de salto, cabelos soltos, lápis preto, rímel e batom vermelho bem marcado. Antes de sair, as meninas disseram que eu estava linda. As duas nunca mentiram pra mim.

   Não se passaram dois minutos e vi Edward saindo das escadas rotantes e caminhando em minha direção. Usava jeans escuros, uma camisa preta de botões com as mangas erguidas até os cotovelos, tênis preto, o costumeiro alargador na orelha direita e uma luva de couro em uma das mãos, a qual deixava os dedos de fora. Como sempre, agi como se não tivesse visto-o. Quem disse que sou sortuda?

   - Você de novo? Que surpresa agradável. – o tom de voz denunciava o contrário quando parou ao meu lado.

   - Que faz aqui?

   - Nada de demais. E você?

  - Não é da sua conta.

   - Amável como sempre.

   A presença dele começava a me deixar desconfortável. Cinco minutos se passaram e nada do garoto aparecer. Percebi que, assim como eu, Edward procurava por entre os rostos os quais passavam. Senti meu celular vibrar na bolsa e o peguei. Era uma mensagem do Chuchu.

   De: Chuchu

   Para: Paynne

   Já cheguei. Já está vindo?

   É claro, olhei ao meu redor e não vi ninguém. Confusa, respondi:

   De: Paynne

   Para: Chuchu

   Cadê você? Não estou te vendo.

   Instantaneamente recebi a resposta:

   De: Chuchu

   Para: Paynne

   Estou ao lado de uma garota com cabelos castanhos.

   Por fim, após olhar toda aquela área novamente, não aguentei e liguei para o número dele. Escutei uma música de rock tocando e me virei. Vinha de Edward.

   - Pode, por favor, colocar fones de ouvido? – perguntei.

   - Não estou escutando música. É o meu celular tocando. – tateava os bolsos a procura do aparelho.

   Por um momento pensei que a coincidência era estranha, contudo logo associei.

   - Ai, não. Recuso-me a acreditar que... – calei meus sussurros quando a voz grave de Edward atendeu.

   - Paynne?

   Virando-me pra ele completamente chocada e com os olhos arregalados, gritei:

   - VOCÊ?!

   Inconformado, Edward desligou o celular e o guardou no bolso.

   - Você é a Paynne?

   - Sou sim. – coloquei o meu aparelho de volta na bolsa – Algum problema?

   - Jasper já me pôs em roubadas, mas nenhuma merda como essa. – mexia nervosamente nos cabelos.

   Sim, aquilo me magoou. Mesmo sendo difícil, não permiti expressar nenhuma emoção.

   - Menos, tá? Você já deveria saber que isso não daria muito certo desde o dia em que me enviou a primeira mensagem. E outra. Abaixa a porcaria dessa voz porque não sou nenhuma das putas que você come.

   Com raiva, dei as costas e me afastei. Queria sair de lá. Infelizmente, os planos dele eram outros.

   - Pra onde você vai? – escutei sua voz logo atrás de mim.

   - Pra casa. – desci as escadas o mais rápido que pude. Ou seja, deu mais do que tempo o suficiente para ele me alcançar.

   - E por quê? Comprei os ingressos pro filme.

   Em um movimento brusco me virei, parando bem na frente dele.

   - Por quê? Odiou saber que sou eu quem conversa contigo há quase quatro meses. Não precisa torturar nós dois dando continuidade a isso.

   - Desculpa, mas eu não esperava encontrar com a garota maluca da escola.

   Maluca. Odiava com todas as forças ser chamada assim. Não era apenas isso. Digamos que, se alguém quisesse me deixar triste de verdade, era só me chamar de maluca.

   A expressão facial de Edward mudou à medida que o meu silêncio se prolongava. Talvez tenha percebido que fez coisa errada ou o algo do tipo.

   - Posso até ser maluca, contudo sou sã o suficiente para ver que em você não há nada de bom. – nem eu mesma reconheci a minha voz de tão grave. Ele não me impediu que me afastasse.

   Durante o caminho pra casa telefonei pra Alice. Lutava contra a vontade de chorar.

   - Amiga, tem algo de importante ou um compromisso essa tarde?

   — Por quê? Aconteceu alguma coisa? E o encontro com o menino?

   - Lice, explicarei melhor depois. Agora não posso. Posso passar na sua casa?

   — Claro. Chamo Rose?

   - Sim. Dentro de vinte minutos chego aí.

   Ambas me abraçaram quando a baixinha abriu a porta da entrada pra mim.

   - O que houve, maninha? – Rosalie acariciava meus cabelos.

   - Foi horrível. – murmurei lutando contra as lágrimas.

   - Venha. Vamos pro meu quarto.

   Chegando lá retirei minha sandália e subi na cama dela de casal. Aconcheguei-me nos travesseiros.

   - Tome. Sei que gosta dele. – ela me entregou um pequeno ursinho de pelúcia cor de creme, o qual eu adorava.

   - Agora nos conte. – Rose se deitou no meu lado direito – O que aconteceu?

   - Bem... – a outra ficou do meu lado esquerdo e precisamos nos apertar pra cabermos naquele espaço – O que acham de Edward?

   - O que ele tem a ver com a situação?

  - Só me respondam, por favor.

   - É roqueiro, descolado e quem não vale nada. E, é claro, só está a procura de uma boa transa, assim como vários cafajestes como ele. – afirmou confusa.

   - Pra mim ele é um filho da puta, mesmo. Não liga pra nada. Lembra do ano em que o desgraçado fez uma aposta pra dançar com a garota mais feia da escola no dia do baile? Foi muita maldade. – Alice, direta como sempre, expôs seu ponto de vista.

   - Sabe o Chuchu? É alguém quem conhecemos há mais ou menos dois anos.

   - Quem é? – ambas indagaram.

   - Edward Cullen. Chuchu é o Edward Cullen.

   - Que?! – Alice berrou.

   - Bella, isso é impossível! Como pode ser ele? – Rose estava, no mínimo, assustada.

   - Essa foi a minha reação, também. Chuchu e Edward são a mesma pessoa. – desolada, abracei o ursinho.

   - Ai, maninha... A minha intenção era ajudá-la, não deixá-la assim. Desculpe-me, por favor. Se soubesse que esse seria o resultado jamais teria dado o pontapé inicial nessa história. – apoiou o rosto no meu ombro.

   - Tudo bem, mana. Você fez isso nas melhores das intenções. Nunca me machucaria. – sem dúvida eu estava com cara triste de uma criança de cinco anos.

   - Mas amiga, como foi esse encontro? Você não explicou.

   Sentada, terminei o relato com a seguinte frase:

   - Então ele falou “Desculpa, mas eu não esperava encontrar com a garota maluca da escola.”

   - Ele não disse isso. – chocada, Rose sussurrou.

   Fechei os olhos e baixei a cabeça, sentindo a primeira lágrima descer.

   - Aquele filho da puta. Ai, amiga. Vem aqui.

   Passei o resto do dia e parte da noite na casa dela. Após o choro, pegamos filmes de terror pra assistir e comemos chocolate.


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