DeH; A Maldição do Castelo Funok escrita por P B Souza


Capítulo 5
V




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Não havia possibilidade de empréstimos, Magmun e Funok estavam afundados em dividas, e isso não era segredo, pelo visto a própria população não acreditava mais em redenção. Viviam na amargura dos dias passados, de glórias perdidas, de Lordes cruéis em histórias esquecidas.

Funok era, para aquele povo, como um símbolo de tudo que era ruim.

Orel não tinha o que fazer a respeito, pois todas as ideias precisavam do povo, e toda tentativa terminava em desistência. A população podia até ser coagida a lhe ajudar, mas o medo do fantasma de Pilos assustava a maioria, e os que não se assustavam com o suposto fantasma, se assustavam com Geodenes. E sem mão de obra era impossível produzir qualquer coisa. Pelo outro lado, na cidade, os que ainda produziam algo, produziam para o benefício dos insurgentes e não do governo. Geodenes furtava para si quase toda a produção livre de Magmun, deixando para os cofres menos que o necessário para a manutenção básica da cidade, então a guarda já não patrulhava as ruas, os esgotos a céus abertos se tornavam maiores a cada dia, as plantações perdiam a proteção contra animais selvagens, não havia reembolso para fazendeiros, o povo que vinha atrás de ervas medicinais encontravam estoques vazios, os Licnóbios mesmo estavam alternando entre os dias que trabalhavam, pois sequer eles recebiam pelo serviço, e a manutenção da fé não era fácil quando o povo estava física e espiritualmente quebrados.

Mesmo quando nada parecia ter jeito, Orel recebeu, como se do próprio Árion, a solução para seus problemas. Era como um milagre, e ele soube aproveitar, agarrou-se à oportunidade e dela fez seu caminho para finalmente trazer o que desejava àquele lugar; lucro. Isso demorou três partes-de-ciclo, o que significa mais de cento e trinta dias depois de sua chegada ali.

Fora um dia comum, quando Orel e Basri saíram para caçar no bosque, pois só assim tinham alimento, que Orel esbarrou com a solução.

Primeiro viu o sangue, sangue demais para ser acaso, então seguiu silenciosamente a trilha até encontrar o corpo, ainda vivo.

— Aonde posso encontrar sua família? — Orel perguntou ao perceber que o homem ali não sobreviveria, ajudou-o a se sentar contra uma árvore enquanto a ferida no estômago fedia. Furou o intestino. Percebeu tentando fingir o desconforto, precisava da resposta. Mesmo sem ver a marca, ele sabia de onde aquele homem havia vindo — O sangue não atrairá somente animais selvagens, os homens do seu senhor virão atrás de ti, irão atrás dos outros. Deixe-me ajudar.

O escravo fatalmente ferido grunhiu tentando se levantar, em vão. O corpo ruiu contra as raízes, da ferida aberta que ele segurava com uma das mãos sangue e bosta pulsou para fora enquanto da boca parecia ser bile e sangue escorrendo.

— Deixei Moogul, assim como tudo. Do outro lado do rio tenho um castelo, posso proteger seu povo, posso salvá-los...

— Lorval. — O escravo ferido balbuciou, os olhos buscavam esperança, buscavam ajuda. E encontrou.

— Isso. Não sou de Moogul, não sou um deles.

Com aquilo o escravo fechou os olhos, esticou o outro braço apontando em um caminho bosque adentro, e o braço tombou, assim como o homem que trazia no peito a marca do ferro. Então é para cá que vocês vêm.

Orel havia se levantado, e marchado com um plano em mente.

Isso fora dias atrás.

Agora Orel ia, em seu cavalo, para o vilarejo Magmun ver o Lorde Galleo. No bolso trazia consigo algumas cartas que precisava enviar para terminar de colocar seus negócios em ordem. Ninguém pode querer governar Funok, mas todos querem seus bens. Orel pensava no valor do castelo. Pilos poderia ter feito do lugar uma fortaleza com muros bem fortificados, mas a localização ainda era problemática. Se não fosse por isso dobraria as moedas.

Chegando na via principal encontrou um grupo de encapuzados. Eles estavam por todos os lados, os simpatizantes de Geodenes. Ele tentava não se importar, mas era frustrante andar sendo encarado como se fosse um ladrão de pães. Então desceu no meio de seu caminho, pulou do cavalo e com passo firme foi até um dos encapuzados. O homem agarrou o punhal que tinha na cintura, Orel não se importou, o que tinha para dizer não era motivo para briga. E se for estou com má sorte. Nunca aprendera a brigar.

— Diga para Geodenes que estou lhe convidando para visitar o Castelo, se ele não tiver medo demais do fantasma do meu primo. — Virou-se e voltou para o cavalo.

Parou primeiro na casa de cartas do vilarejo, aonde entregou as três cartas que deveriam ir ao Rei Queloyn sobre os impostos e o bosque, para seu irmão mais velho Mered sobre o comércio e para o Lorde Jekellyer Yel também sobre o bosque.

Depois partiu para a casa de Galleo, aonde os guardas da entrada o reconheceram. Hoje não havia manifestantes ali, e o vitral estourado estava coberto com um painel de placas de madeira.

Um servente acompanhou Orel até o Lorde, que estava nos fundos, no jardim, jogando disco com o cão da família e seu filho mais novo que não era mais que uma criança.

— Continue brincando, Ellor. — Galleo disse para o menino. — O pai já vem.

— Tá bom papai. — O menino agarrou o cachorro que era do mesmo tamanho que ele, e fiou puxando o disco de madeira da bocarra do animal.

— Não pensei que viria tão cedo. — Galleo limpou as mãos cheias de baba do cachorro nas próprias coxas, e então olhou para Orel, oferecendo a mão em um aperto cordial. — Aconteceu algo? Geodenes...

— Cevada, ameixas, maças, abacates, trigo, feijão, milho e bananas. Tudo fresco. É o que tenho para oferecer de imediato. Em mais três ou quatro partes-de-ciclo poderei oferecer leite de cabra e ovos de galinha, além de, porém em menor número, as próprias galinhas. Também começo a trabalhar com artesanato, algo ainda rustico, mas com preço que não se pode comparar o que facilitará a venda. Vou precisar, porém, de mão de obra. Pagarei pelo serviço, uma taxa do próprio lucro. Posso contar com seu apoio?

— O meu, sempre terá, mas o povo...

— Fará o que o lorde mandar, se o lorde tiver as bolas que se presume ter. — Orel cortou Galleo enquanto eles caminhavam rumo ao escritório do lorde.

— Mas de onde veio tudo isso? Funok é uma terra amaldiçoada.

— Acontece que terra maldita é diferente de terra infértil. — Orel rebateu. — Até hoje nunca vi um maldito fantasma, nem mesmo o de Pilos, e ele é família, deveria vir dormir comigo toda noite, não?

— Não vamos brincar com essas coisas. Os mortos...

— Estão mortos, e nós estaremos em breve se continuarmos atrasando os impostos de Queloyn. Confeccione cartazes sobre Funok, vagas para cozinheira e para lenhadores, também para lavradores. Pagarei o salário comum mais uma taxa da produção e ainda dobrarei o pagamento para aquele que me provar ter fantasmas no castelo. O povo teme o desconhecido, mas ama o ouro...

— Se me permite. — Galleo o interrompeu subitamente. — De onde vem esse ouro?

— Do meu irmão. Consegui um empréstimo, e acordos comerciais, é para onde vou vender o que produzo, levando em conta a taxa que fica para o vilarejo pelo uso das estradas e vassalagem. Sobrará pouquíssimo para Funok, porém é um começo, e assim entrará algo nos cofres daqui também.

— E como encontrou produção? Funok não produz nada, não há nada...

— Eu não vim aqui para lamentar a desgraça de Pilos e esperar o despejo de Queloyn, Galleo. Eu ganhei esse castelo quando não tinha nada, e de nada fiz algo. Tenho planos para Funok, pois tenho planos para eu mesmo.

— Geodenes ainda irá atrapalhar seja lá o que for que tenha planejado, tenho certeza que ele arrumará uma forma...

— Qualquer ilegalidade que Geodenes cometa tenho certeza que o lorde local fará o certo e prenderá o meliante. Ademais, o chamei para uma conversa honesta entre nós dois. Está na hora de lembrar porque ele não é mais Lorde. — Orel então sorriu para Galleo. — Anime-se homem. Estou a um passo de fazer valer a pena todo o esforço que você não tem feito.

Com um tapa no ombro de Galleo, Orel se virou e deixou o Lorde, boquiaberto, em seu escritório.

Funok voltava a produzir e com custo beirando o zero, além do lucro vindo do acampamento dos escravos refugiados.

— Não quero escraviza-los, mas sim propor uma ajuda mutua. Conseguirei proteção para vocês, impedindo que os senhores escravagistas cheguem até este bosque, aqui seus filhos crescerão livres, e suas mulheres não serão abusadas, mas tudo isso vem a um custo; eu preciso da ajuda de vocês tanto quanto vocês da minha, ou será nosso fim, de todos nós! — Havia dito para o líder dos escravos refugiados na ocasião.

Em Moogul não era incomum que escravos tentassem fugir, os que não conseguiam (que consistia em quase todos) eram esfolados vivos, suas partes alimentavam os cães e os cães perseguiam os que conseguiam fugir.

Estes, por sua vez, iam para um lugar que já carregava o nome Rio dos Grilhões. Na verdade era o Rio Vyrien, mesmo que passava próximo do castelo Funok, desaguando em um pequeno charco na Estrada D’ouro alguns quilômetros pra cima da Estalagem Arquedura. Os escravos fugiam para lá porque sabiam que além da estalagem os domínios escravagistas deixavam de existir e eles eram livres até que os caçadores surgissem.

Na melhor das hipóteses a liberdade era se esconder, pois qualquer um que os encontrasse ofereceria a clemencia da lâmina, ou levaria de volta para Moogul em busca da recompensa. E se esconder era viver em medo, com medo da lâmina ou dos grilhões.

Os escravos, porém, nunca desistiam de fugir. Os que conseguiam se juntavam, se união como irmãos pois haviam sobrevivido ao mais difícil, e lutavam pelas suas liberdades na maior parte das vezes preferindo a morte ao retorno para Moogul. É uma terra de oportunidades, desde que você não tenha uma marca no peito. As oportunidades, Orel bem sabia, só existiam por causa daqueles pobres desafortunados privados das liberdades básicas do ser vivo. E no que isso é diferente do que eu estou fazendo?

Ele pensava, mas para começar não usava um chicote.

Moogul ficara para trás, ali Funok era de Lorval e o bosque era dos Yel. De um jeito ou de outro não era propriedade escravagista, mas enquanto os fugitivos estivessem no bosque, não estavam seguros, pois os Yel eram quem contrabandeavam os escravos até ali, pela estrada D’ouro. Não são cruéis, apenas gananciosos esses daí. A família Yel nunca foi o tipo que perdia oportunidades, Orel mesmo conhecia um ou outro Yel de seu tempo em Moogul. E o comércio de escravos era uma excelente oportunidade.

E quando Orel encontrou o acampamento, fez a oferta irrecusável. Eles sabem que se me negarem direi para o próprio Rei Millish que seus escravos se escondem no bosque. Em troca do silêncio, em troca da proteção, em troca de um teto que não fossem as folhas, os escravos aceitaram o acordo.

Os mais fortes e saudáveis iriam para Funok, todo dia, podendo revezar entre eles, para cumprir tarefas básicas, arar o campo, semear a terra, limpar o castelo, carpir o jardim, terminar as reformas inacabadas, e tudo mais que o castelo e Orel precisasse. Em troca, caso houvesse ataque ao acampamento, todos os escravos dali tinham passagem segura para dentro do castelo.

— Por mais que Moogul os encontre e consiga com os Yel a autorização para vir lhes caçar, ou que os Yel venham lhes caçar, a partir do momento que cruzarem o rio estarão em minha propriedade aonde nem os Yel nem Moogul tem autorização para entrar. — Dissera a eles enquanto negociavam.

A proposta era simples, até mesmo uma ponte improvisada foi feita, usando barcos fundeados para sustentar as toras de madeira, ligando uma margem a outra. Enquanto os ex-escravos ajudassem Orel, eles receberiam comida, roupa, armas para se defenderem, e um esconderijo digno caso precisassem. Só não os trago todos, pois isso sim causaria tensão diplomática, Queloyn me enforcaria no ato. Além disso, cortejar guerra com Moogul era brincar com a sorte. Diziam todos; Os Millish eram famosos pela ostentação e pelos acessos de raiva. Aquele que conseguisse a amizade de um Rei Millish teria todo o ouro que desejasse, e o que conseguisse a inimizade daria todo o ouro para o primeiro. Pergunto-me o que fariam comigo, que não tenho ouro para dar.

A coalisão foi benéfica para todos, e de quebra o que os ex-escravos produziam não tinha quase custo, pois embora livres ainda não recebiam nada pelo trabalho. O que significava que o produto, qualquer produto, podia ser vendido com margem de lucro quase total. E o comprador era ninguém menos que seu próprio irmão no Vilarejo Wynma, sob a bandeira dos Yel do qual muitas vezes a matéria prima bruta vinha. Era à volta por cima que Orel esperara por toda sua vida.

Até Geodenes aparecer.

O homem sabia do esquema, embora não tivesse provas. Orel desejava empregados remunerados justamente para poder corroborar sua produção milagrosa, mas o povo vinha, passavam alguns dias e iam embora. Os trabalhadores gostavam de Orel, era um bom chefe, mas iam embora mesmo assim.

Quando chamava Geodenes para conversar, as conversas sempre acabavam em deboche por parte do Lorde Deposto, não demorou para Orel descobrir o que ele fazia. As ameaças, o uso do medo para afastar as pessoas do castelo. Ele apela para a fé e para a violência, mas não é um homem tenente a deus nem capaz de ferir. Orel frustrava-se mesmo assim, pois perdia tempo e com isso perdia também dinheiro.

A gota d’água para a conturbada relação foi quando os encapuzados organizaram um motim a uma carruagem cheia de recursos para comércio e moedas pagando parte do empréstimo feito com seu irmão Mered. Foi como uma facada em seu braço, desmobilizou toda sua produção por duas partes-de-ciclo e Orel estava frustrado, ainda mais com Lorde Galleo que nada fez.

— O povo se revoltou e atacou a carruagem, não posso sair arrastando todos pelas ruas, dezenas de pessoas. Nem tenho como reaver seus bens, pois não eram nada pessoal; como os guardas vão diferir o quilo de milho seu do que é de fato do povo?

Galleo havia dado desculpas, mas nunca soluções. Se quer soluções, faça você mesmo. Orel desde então deixou de esperar de Galleo qualquer coisa, sequer contava com o homem para um chá. Mas isso mudou subitamente.

O silêncio entre ambos se intensificou conforme o comércio de Funok também se intensificava. Orel estava em seu castelo, sentado sob uma cobertura de lenços dispostos sob uma estrutura de toras de olmo cruzadas, criando abrigo do sol. O chão da estrutura era em placas de madeira lixada, e havia ali duas cadeiras além da dele. Em uma delas sentava-se o caseiro Basri, que tornara-se algo como um conselheiro pessoal de Orel.

Então já fazia um ciclo que estava ali, e em um ciclo o castelo estava renovado, as pessoas que antes o evitavam agora faziam fila para ter a oportunidade de trabalhar com Orel Haradram.

— Vou ir verificar os estábulos. — Basri se levantou ao ver que Lorde Galleo chegava. Orel pensou em fazer o mesmo e saudar seu lorde. Mas esta é minha casa, não dele. Continuou sentado. — Meu Lorde.

Basri fez uma cortesia, então se virou e foi embora deixando para trás o rastro de terra de suas botas. Galleo olhou para o caseiro descer do pequeno palanque coberto do sol e ir para os fundos da casa. Ao redor havia três homens trabalhando na poda do jardim enquanto uma mulher lustrava os vitrais do primeiro andar pelo lado de fora.

— A fazenda cresce a cada dia. — Galleo disse em pé, olhando então para Orel.

O jardim estava florido, diferente de quando ele chegara ali quando havia então apenas mato. As trilhas para caminhar estavam abertas e havia na fachada da casa um pequeno arbusto frutífero cheio de pequenas bolinhas avermelhadas aonde borboletas rodeavam.

— Não graças a você. — Orel respondeu apontando para a cadeira. Galleo, de cara torcida, sentou-se. — Esqueci de pagar os impostos?

— Não. — Galleo disse sem entender.

— Não vejo outro motivo para o senhor estar aqui. — Ele respondeu para o lorde. — Pensei que temesse este lugar.

— E temo, seria sensato em temer também. — Galleo alertou-o mais uma vez. — Porém não é disso que vim falar. Não quero discutir, apenas... Entender.

— O que há para se entender?

— Roda a boca do povo que Geodenes partiu de Vila Magmun. Primeiro pensei que ele tivesse partido para cá, temi por você. Mas então entendi os boatos, ele partiu de Magmun, no sentido de deixou a cidade. Só posso crer que foi tu.

— Está correto. — Orel respondeu dando de ombros. — Por varias quinzenas tentei pleitear acordos dos mais variados com Geodenes, se meu primo e ele conseguiram conviver porque não ele e eu? Mas a ganancia do homem é maior que se pode imaginar. Mesmo assim, todos tem um preço.

— O castelo produz tanto assim?

— Produz o bastante. — Orel afirmou com um olhar tenso. Essa conversa não vai a lugar algum. — Porém não pense que é uma solução definitiva, Geodenes há de retornar. E quando o fizer será sua responsabilidade lidar com ele, não minha!

— Então ele só está viajando. — Galleo pareceu contemplar o ar como se tivesse, subitamente, sido atingido por um mau agouro. — Sabe quando ele retorna? Já que é tão bem informado...

— Sei de sua partida, pois eu que a arranjei, mas seu retorno cabe a sua boa vontade, dado que passe o tempo de nosso acordo exilado.

— Que seria?

— Sigilo é parte de meu acordo com Geodenes. — Orel pontuou, encerrando a discussão.

— Entendo. — Galleo se levantou e arfou. — Eu vou indo, sabe como não gosto muito daqui. Mesmo assim é muito bom ver que conseguiu dar um jeito neste lugar. Mesmo nós temos rompido a amizade de antes, sabe que ainda te tenho em alta estima, não?

Eles caminhavam rumo ao portão.

— Quando precisei, e precisei mais de uma vez, da ajuda do Lorde, você me disse que não podia fazer nada a respeito. — Orel disse com a voz monocórdica. — Não guarda rancor de você, Galleo, na verdade tenho apenas pena pelo homem que é, fraco demais para fazer qualquer coisa a respeito de qualquer coisa. Eu sei por que veio aqui, mas sequer tem coragem de me perguntar, então me permita lhe dizer; não vou lhe ajudar a reerguer Magmun, se for isso o que realmente quer. O dinheiro que eu mando como imposto deveria ser o bastante, ainda mais agora sem Geodenes...

— Os seguidores dele...

— Tive que lidar com eles tanto quanto você. — Pararam então na frente do portão de aço. E lá estavam os seguidores de Geodenes em seus capuzes negros, olhando-o como se quisessem mata-lo. Também estava ali a carruagem do Lorde Galleo e quatro guardas de armaduras completas e espadas embainhadas. — Ainda tenho como pode ver. A diferença é que quando eu me ofereço a ajudar um amigo, eu de fato o ajudo.

Galleo então parou e segurou o braço de Orel, olhando-o com seriedade. Parece até mesmo um homem.

— Se Queloyn não receber seus impostos ele se perguntará por que Magmun não consegue pagar. Você me disse certa vez que tinha uma noiva em Moogul, para onde ela irá quando perder o castelo?

— Precisa encontrar argumentos mais fortes para ameaças, meu Lorde. — Orel sorriu para Galleo. — Eu converso por correspondência com o Rei Queloyn de quinze em quinze dias, inclusive falo muito sobre ti e sua maneira peculiar de governo. Chamamos de “política do invisível”, desde que não tropecem em você, nem mesmo te notam. Minha noiva, inclusive, virá logo para cá e viverá comigo, e se você alguma vez tocar no nome dela para me ameaçar é bom que tenha consigo mais que alguns guardas, pois a ti não oferecerei o mesmo acordo que ofereci para Geodenes. Agora retorne para seu vilarejo falido e saia do meu castelo.

Galleo olhou para Orel, abriu a boca buscando falar algo, mas saiu apenas ar pelos seus lábios. O silêncio e a vergonha cortavam profundo, então o Lorde humilhado se retirou.

Orel continuou parado olhando para os seguidores de Geodenes.

— Não ouviram os boatos? O marido de vocês fugiu com o rabo entre as pernas. — Cuspiu no chão na sua frente, se virou e retornou para seu castelo.

O jardim estava lindo, a casa estava limpa, as culturas estavam progredindo e as cabeças procriando. No estábulo havia cinco cavalos machos e duas fêmeas, tinha um galinheiro feito aonde antes seria o quarto da guarda, ali estavam mais de cem galinhas e quase vinte galos.

A parte estrutural passava pelos últimos detalhes antes do grande dia. Nailah está chegando, tudo precisa estar perfeito.

Orel contornou o caminho até o fundo dos estábulos, ouvindo as galinhas cacarejarem. Por trás de toda a construção ficava o caminho para a ponte flutuante que levava ao bosque e ao acampamento dos ex-escravos. Eles ainda vinham ajudar no castelo, mas bem menos agora, embora o acordo entre eles e Orel continuasse firme. Mas chega o dia em que esse acordo deverá acabar. Quando Nailah estivesse ali tudo deveria estar perfeito.

Não poderia correr riscos, e aquela aliança era um risco tremendo para todos os lados, podia jogar três reinos em guerra apenas para conseguir algumas moedas, e acabar decapitado no meio disso tudo. Era um risco que simplesmente não podia correr, não mais. Já havia feito as escolhas perigosas, os acordos indevidos, já havia feito o necessário para estabilizar o castelo e criar uma fonte de renda continua.

Agora é hora de se livrar de tudo que possa me prejudicar. Pensou olhando para o outro lado. Enquanto a trilha levava para a ponte improvisada, o lado contrário levava para um monte de arbustos e folhagens aparadas jogadas como lixo para decomposição próximo a margem do rio. Ali, escondido lá no fundo, Basri terminava de enterrar o corpo de Geodenes. Eu tentei todos os acordos possíveis, mas você foi um risco que eu simplesmente não podia correr.


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