DeH; A Maldição do Castelo Funok escrita por P B Souza


Capítulo 3
III




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De Lorval para Vila Magmun, Orel adormeceu.

O vilarejo era na verdade o terreno aonde sei primo havia ganhado o título de Lorde-Corta-Dedos. A carruagem passou ali pela madrugada, então poucos o virão, e Orel, dormindo, não viu ninguém. Mas o facilitador percebeu os olhares de desagrado.

Cruzaram Vila Magmun durante a noite e ainda na madrugada chegaram nos portões do Castelo Funok. A estrada atrás deles era um campo aberto com pouco a oferecer, sem nenhum capricho apenas o caminho em terra, singrado vezes demais pelas rodas para deixar o mato crescer ali, conotava à estrada, mas não parecia nada muito oficial além de um caminho de fuga.

Orel acordou sozinho ainda na madrugada e pegou o facilitador à miúda no canto da carruagem com uma lanterna pendurada no teto, queimando óleo baixinho e uma prancheta aonde escrevia qualquer coisa que não lhe interessava.

— Estamos parados. — Orel se ajeitou no banco, olhou pela janela para ver a noite ainda espreitando. — O que houve?

— Chegamos. — O facilitador respondeu, guardando sua caneta-tinteiro e enrolando a folha aonde escrevia. — Achei melhor esperar pelo amanhecer para lhe acordar...

— Bobagem, já estamos aqui, vamos.

Abriu a porta e desceu da carruagem.

O cocheiro dormia sentado enrolado em um cobertor de lã trançada, no sereno.

— Devia ter o chamado para a carruagem. Está serenando. — Orel disse ao ver o homem encolhido em seu posto. — Então é isso?

Olhou então para o portão da construção.

A única luz ali era da lua, exceto pela lanterna na mão do facilitador e um brilho tão fraco vindo lá do fundo da propriedade. Uma fogueira talvez.

— Bem-vindo ao Castelo de Funok, propriedade da casa Haradram, agora do senhor. Senhor Orel Haradram de Funok. — O facilitador disse com um tom cerimonial quase monástico.

— Podemos entrar?

— O caseiro mora no fim da propriedade. — Apontou para onde vinha a única luz, por detrás da muralha e do portão. — Tenho certeza que ele também deve estar dormindo.

— Um caseiro? — Orel abriu um paco sorriso, e com os dedos nos lábios assoviou alto. Cachorros despertaram ao longe, latidos raivosos surgiram, e correria começou, patas atrás de patas, até o portão, acompanhado dos latidos cheios de um ódio intrínseco. — Não dorme mais.

— Como sabia senhor? — O facilitador perguntou com uma expressão de curiosidade na engenhosidade de Orel.

— Casas assim sempre têm cachorros e caseiros. — Orel respondeu.

O castelo de Funok era uma propriedade simples para receber o nome de castelo, mas tinha sua imponência ainda mais na noite. Era uma única torre frontal de seis andares, havia o que parecia ser um salão anexo, a ideia ocorreu para Orel pelas janelas grandes e o formato oval que o anexo possuía antes da parte residencial e retangular com os demais cômodos ao fundo. O muro tinha três metros de altura, quatro no portão, pois havia ameias para arqueiros. O portão era de aço e levava para o jardim principal aonde a entrada da casa ficava logo na base da torre com uma porta grande de madeira marrom-avermelhada. Toda a estrutura parecia ser nova, o granito não possuía deterioração e estava bem encaixado mostrando que não houve tempo para a estrutura ceder sob o terreno.

No topo da torre um mastro tinha espaço para uma bandeira, porém nenhuma estava hasteada. As janelas estavam todas fechadas e o portão em barras de aço tinha um cadeado pesado com correntes entre as duas portas. O jardim tinha mato crescente, mostrando descuido do local, mesmo sendo uma construção recente.

— Ali vem o caseiro. — O facilitador levou Orel até o portão enquanto o caseiro prendia os cachorros em uma amurada com correntes no canto do jardim.

O luar iluminava bem todos eles, podiam ver bancos e mesas no jardim, até mesmo um tronco para... Orel nem queria imaginar para que.

— Chegaram cedo. — O caseiro disse para eles, destrancando o portão com seu grande molho de chaves. Orel observou-o por um instante, o homem não tinha dificuldade nenhuma em achar a chave correta. — Esse é o novo senhor?

— Sim, isso mesmo. Orel Haradram, herdeiro...

— É um prazer, e desculpe pelo horário. — Orel tomou a dianteira esticando o braço e apertando a mão do homem. — Você é?

— Basri, senhor. — O caseiro disse. — Vocês querem algo? A carruagem pode ir até o fim do jardim, tem lá espaço para os cavalos e uma área coberta onde ficaria o estábulo.

— Não foi terminado a construção. — O facilitador disse. — Basri, poderia ir destrancando as portas? Enquanto isso darei uma volta com o senhor pelo jardim.

— Claro, claro...

Basri disse, e então saiu de perto deles girando o molho nas mãos e pegando uma das chaves, indo para a porta na torre.

Orel e o facilitador foram para o outro lado, caminharam junto da carruagem, até o fundo da casa.

— Pilos começou a reforma desse lugar há um tempo, mas nunca terminou porque os recursos se tornaram escassos, assim como a receita. Ele também gostava de planejar tudo, na sala de estudo estão os desenhos que ele fez para todo o lugar, da torre até as muralhas e as plantas que seriam usadas para decorar. Nem todos ele chegou a terminar. O estábulo é um exemplo. Alguns outros projetos foram destruídos no saque.

— Saque?

— Seu primo não faleceu dormindo em paz...

— Eu sei, ele era odiado, mas pensei. Digo...

— Digamos que não foi uma morte, mas sim um assassinato. — O facilitador disse, Orel ficou sem fala por um instante. Então o homem apontou para o caminho de volta . — O jardim pela manhã fica bem iluminado e nos fundos, pelo estábulo, há passagem para o bosque aonde também há um pequeno canteiro para os funerais, porém o Rio Vyrien é um obstáculo. Há planos para uma ponte, mas também nunca foi construída. Pilos pretendia cercar o bosque e fazer um campo de caça particular.

— O bosque é dos Yel.

— Há também papeis de negociação para locação do bosque. — O facilitador então parou na porta da casa junto de Orel. — Pilos era um visionário em vários quesitos senhor, só não era popular. Infelizmente não soube equilibrar bem a situação, espero sinceramente que seja diferente com o senhor, a vila Magmun precisa de bons nobres, é um lugar que sangra não de hoje por falta de boa gestão.

— Não serei eu o Lorde local.

— Não, não será. O Rei Queloyn havia apontado seu primo como Senhor do castelo e Lorde de Magmun, mas depois do saque ao castelo, Vossa Majestade mudou sua mente e decidiu apontar um Senhor do Castelo e um Lorde de Magmun. Você é tão novo aqui quanto o Lorde em comando, Galleo da família Magmun.

— Um ancestral da própria terra. — Orel disse. A ilha onde estavam se chamava Magmun e o vilarejo também, outrora todas as nações da ilha estavam subjugadas ao controle de um único império, o Sacro-Império-Magmun, governado por aquela família e a afiliação dela com a falsa-deusa-Arcaia. Como podem ter caído de senhores do mundo para lordes de um vilarejo qualquer enfiado no fim do mundo.

— Sim, porém... Galleo é como tu, senhor, sem querer desrespeitar. Ele não é a primeira escolha para o posto, mas sim uma necessidade. Vossa Majestade teme que outro Haradram seja ruim para a reputação, preferiu um Magmun no controle do vilarejo, porém nenhum estava disponível, o herdeiro está viajando, assim que retornar retomará posse.

— O herdeiro é Geodenes? — Orel disse. Se lembrava do nome. — Filho de Balros não é?

— Na verdade Balros morreu deixando o trono para Anelamo, o mais velho. Porém Anelamo está viajando, então Geodenes assumiu o posto, mas Geodenes caçou briga com o próprio Rei, desacatando Vossa Majestade incontáveis vezes para ser acusado de traição, mas Queloyn foi bondoso e apenas o desertou do posto, foi quando seu primo assumiu o posto de Lorde e Senhor, na esperança que Anelamo retornasse, o que não aconteceu.

— Pilos governou por omissão do verdadeiro herdeiro.

— Sim, e Pilos foi rígido demais com um povo acostumado às mordomias de Geodenes, que embora não fosse mais lorde continuava um estorvo. Continua, na verdade. Descobrirá que Geodenes pode ser alguém que guarda rancor com facilidade. Bem, foi então que Pilos assumiu o posto de Lorde que sua vida complicou-se, com planos ousados teve pouco tempo no comando até o saque, e então, sem nenhum governante nem para o castelo nem para o vilarejo...

— Vem Galleo a segunda opção e eu, também segunda opção.

— Isso. — O facilitador então apontou para dentro. E eles adentraram o salão principal do castelo Funok.

Um salão frio com teto alto, lustres apagados e janelas amplas verticais adornadas com colunas de granito polido. Havia escadas rentes à porta de entrada, para subirem à torre, havia também uma passarela suspensa entre uma ponta e a outra do salão, cortinas pendiam do teto, abertas não cobriam as janelas. Um grande tapete grosso tornava o chão de madeira macio de se pisar. Não havia mobília ali a não ser por um armário de espadas vazio ao lado de uma portinhola abaixo da escada lateral à porta de entrada.

— O quarto principal fica no último andar da torre, pode ser acessado por essas escadas ou pela passarela, abaixo do quarto fica a sala do tesouro e abaixo da sala do tesouro fica a sala de guerra. — Virou-se para o outro lado encarando o salão como um todo junto de Orel. — Abaixo das escadas frontais ficam os corredores para os outros cômodos, são nove quatros e oito banheiros espalhados pelos três andares comuns da casa, pois só aqui tem quatro e só a torre tem seis andares. Além disso, são três salas e dois salões de baile este é um deles. São duas cozinhas e tem um sótão na parte dos fundos aonde a mobília antiga está guardada. São três bibliotecas, duas estão vazias, os livros viriam da Casa Yel no leste, mas os acordos nunca foram encerrados. Há uma galeria de quadros igualmente vazia, e um salão para treino ao lado da armaria igualmente vazio. Há um quarto comunitário para a guarda do castelo com capacidade para oitenta guardas, próximo a armaria, atrás dos estábulos, porém também não foi concluído. A construção principal está encerrada, o sistema de esgoto leva para uma fossa própria, há uma horta nos fundos da cozinha principal com capacidade para alimentar a casa com ocupação total, porém o plantio nunca começou, há também planos para um pomar e uma marcenaria na frente dos portões, aumentando o lucro do castelo com comércio, porém com a impopularidade...

— Eu entendi. Meu primo tinha boas ideias, mas não era bom o bastante para executá-las por conta própria. — Orel olhou ao redor, fascinado com o castelo. Era um lugar extremante pequeno para possuir tudo aquilo, mas tudo parecia organizado para fluir de forma orgânica e precisa. É um trunfo arquitetônico, belo e bem planejado. — ao parte disso tudo pode permanecer desativo, armaria, salão de baile secundário, segunda cozinha, quase todos esses quartos, galeria de quadros e as bibliotecas. Tudo isso pode ficar desativo, mantenham as portas trancadas e os moveis cobertos para evitar deteriorar. E essa porta?

— É o porão — O facilitador disse girando nos calcanhares. — Antes usado como adega, quando seu primo ordenou que os impostos viessem para cá para a reforma do castelo o povo não aprovou, mas pagaram mesmo assim. Por um tempo. Quando os protestos começaram, Pilos tomou uma decisão impopular que lhe rendeu o título Lorde-Corta-Dedos.

— Ele cortava os dedos dos que não pagavam os impostos, o que isso tem a ver?

— Foi quando ele desativou a adega e transformou o lugar em um armazém de dedos. — O facilitador disse com certa cautela.

— E então o povo saqueou o castelo em busca dos dedos e matou ele no processo?

— Na verdade foi um pouco pior que isso. — O facilitador olhou para cima buscando as palavras para contar aquilo, então olhou para Orel e sem jeito começou a falar. — Pilos descobriu, um bom tempo depois de ter iniciado a cortar os dedos das pessoas, que os pais e mães cortavam os dedos dos filhos e mandavam para ele, assim os pais e mães podiam continuar trabalhando, pois não teriam como pagar impostos se estivessem amputados incapazes de trabalhar. Quando seu primo descobriu o “truque” que o povo usou, Pilos se zangou e marchou para Vila Magmun, enforcando dezenas de pessoas em praça pública, devolveu os dedos para o povo, uma ação que causou... muita controvérsia. A brutalidade foi tamanha que o Rei Queloyn iria intervir, mas quando a noticia do massacre no vilarejo caminhava para Lorval os camponeses caminhavam para o castelo.

— Pilos não era apenas odiado, era burro por não saber o limite entre cruel e insano! — Orel respondeu com prontidão, apontou para a porta. — Assim como as outras áreas desabilitadas, mantenha trancado.


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