DeH; A Maldição do Castelo Funok escrita por P B Souza


Capítulo 2
II




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Partiram de Moogul para o norte seguindo a Estrada do Carvalho. No primeiro dia ficaram hospedados na Estalagem Bolboda antes dos pedágios. E no dia seguinte chegaram à Vila Azul. O lugar era pequeno e movimentado como uma vila de beira-de-estrada deveria ser. Um entreposto para comercio e descanso.

Orel sequer chegou a encontrar o Lorde Kerem, o facilitador também não sabia aonde ele estava. Hospedaram-se em uma das várias estalagens do vilarejo e comeram e beberam durante a noite para partir pelo amanhecer.

No terceiro dia chegaram em Lorval, mas não podiam parar por ali. Orel apenas viu as muralhas de blocos de basalto da cidade, uma muralha quase negra, e aonde haviam os portões eram pintados grandes círculos adornados com penduricalhos convidativos.

— Sente saudade de casa? — O facilitador perguntou ao perceber a forma que Orel olhava para o portão principal de Lorval.

— Sinto falta de uma vida que jamais terei. — Orel respondeu para ele se lembrando de sua infância e como Lorval parecia o paraíso então. — É engraçado como que crianças vemos uma praça e imaginamos um bosque e se vemos um bosque pensamos logo estarmos perdidos na maior floresta. Depois que crescemos tudo parece tão pequeno.

— Isso talvez explique as guerras.

— Com toda certeza explica porque sempre queremos mais. — Orel lamentou enquanto a carruagem estava presa no transito causado pela vistoria no portão da cidade.

Demoraram quase uma hora para atravessar o bloqueio no portão, o cheiro ali era de serralheria, Orel podia sentir as partículas de madeira no ar, impregnando o ambiente. O comércio ambulante tinha esculturas de Árion esculpidas à mão, algumas simples outras mais elaboradas pintadas em várias cores com detalhes em metal derretido. Haviam quadros pintados na hora e vasos para enfeite ou transporte de água.

Eles seguiram a estrada principal para o coração da cidade acompanhando o fluxo, era como um rio de pessoas, mas para Orel aquele rio parecia um riacho escasso. Todo aquele fervor não era nada, Lorval não tinha um terço da população de Moogul, ou da intensidade. Podia ser uma cidade grande e antiga, com uma história de milhares de ciclos, mas havia sido subjugada pela gigante ao sul. Vivendo na sombra do que um dia foi.

O comércio no portão acabava dando espaço para campos protegidos pelas muralhas, pequenas fazendas de produtos caros, especiarias na maior parte das vezes. Orel sabia como funcionava, seu pai era dono de algumas daquelas fazendas e ele as herdaria se algum dia os irmãos não as quisessem tal como ninguém quis o castelo. Situação mais estranha.

— Prefere dormir na casa do senhor seu pai, ou uma estalagem?

Orel olhou para o facilitador com confusão então. Não havia considerado a hipótese. Em sua mente Lorval era nada além de um lugar aonde não pretendia voltar e mesmo assim ali ele estava não se sentia em casa e sabia que ver o pai não mudaria o sentimento. Ele não gosta de mim ou eu dele.

— Vamos poupar ambos do desconforto, sim?

— Sim senhor. — O facilitador fez que sim com um sorriso sem jeito de quem compreende a situação da família.

No fim, acabaram por forçar os cavalos um pouco mais e sequer pararam em Lorval. Para Orel era melhor assim, pois se alguém descobrisse que esteve na cidade e sequer visitou a família, rumores surgiriam e ele não gostava da fofoca que impregnava a alta-sociedade. Para evita-las preferiu deixar Lorval o mais rápido que pode.

Então cruzaram a cidade sem olhar para estalagens. Desceram apenas no portão de saída do nordeste, pois estavam famintos e ali, devido a proximidade do Rio Tremedal, havia o comércio de peixes.

Aquele portão tinha um grande anel laranja de metal contornando a entrada, repleto de trepadeiras penduradas ne metal, como um jardim vertical de certa forma. E então um punhado de cabanas do lado externo da muralha, servindo ensopados e peixes assados em iscas nos espetos, com pimentões, cebolas e bastante rum.

Ficaram ali o fim da tarde acompanhando o pôr do sol ouvindo a água deslizar Tremedal abaixo, rumo a Moogul. O rio que nascia lá em cima nas montanhas do norte descia contornando as muralhas de Lorval até trocar de nome e se tornar o Rio Dedos, desaguando em Moogul, aonde antes havia um pequeno lago, agora ele desaguava no canal de Moogul, por dentro da cidade interna protegida pela muralha em construção.

— Moogul depende dessa água para viver. — Disse para o facilitador olhando o rio. — Quase metade da água da cidade vem do Tremedal, por isso é proibido em Lorval jogar lixo ou esgoto aqui.

— Incrível que o povo obedeça. — O facilitador respondeu. Ele era um homem de Lorval, conhecia as leis, mas para o bem da conversa deixava Orel falar.

— Não tanto, se imaginar. Moogul paga para Lorval pelo rio. Tem tropas de Moogul patrulhando até os Dedos e a punição para o lorveno que desrespeitar é escravidão em Moogul, ninguém quer ser escravo muito menos lá.

— Os Millish só sabem punir as pessoas com escravidão?

— Moogul tem tudo, inclusive superpopulação. A única coisa que não precisa é de cadeias sugando recursos do governo. A fortuna deles não surgiu do nada, todas aquelas maravilhas não se erguem sozinhas, ou pagando mão de obra por elas. Quanto mais escravos para a cidade melhor para o desenvolvimento dela.

Orel sabia que, poucos concordavam com o sistema de escravos de Moogul, mas o que os Millish haviam conseguido com escravos nenhum outro reino conseguira, nem mesmo no Sacro-Império.

— Li alguns artigos de além-mar certa vez, sobre o uso de escravos nas cidades de Ipeiros, no reino de Miun Saar...

— Ipeiros não é aqui. — Orel interrompeu o facilitador. — Com todo respeito, mas uma terra de magos que podem explodir cidades inteiras em uma briga de bar não tem como ser comparada com nossa vida medíocre. Eles são como Arcaia foi, escravos são dispensáveis quando se tem o poder para erguer a edificação que quiser com um estalar de dedos. E mesmo assim tudo que Arcaia fez foi ser derrotada por sulistas.

— Ela reinou por quatro mil ciclos como deusa...

— E morreu como mulher, por isso nosso Deus é Árion, não Arcaia. — Orel disse se levantando e olhando para a carruagem. — Vamos voltar para estrada, estou entediado.


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