DeH; A Maldição do Castelo Funok escrita por P B Souza


Capítulo 1
1° Conto; O homem no porão


Notas iniciais do capítulo

Originalmente eu ia postar só três capítulos, como três contos na definição de Allan Poe; que se lê em uma sentada.
Mas desde sempre escrevi a história no esquema de Agatha Christie, então os 3 capítulos são divididos em partes menores com os eventos destes.
Porém vendo que isso é uma plataforma online e a gente tem pouco tempo pensei em cortar os capítulos pela subdivisão destes, postar mais capítulos com menos palavras que facilita a leitura e não compromete a história.
Então esse é o primeiro de três contos.
Cada conto focará em uma das três famílias que ocupou o castelo de Funok. São as famílias 1. Haradram. 2. Turenc. 3. Toulline.
Cada uma tem um motivo para estar ali, assim como vocês tem um motivo para estarem ai, lendo isso! :)
~medo~
Brincadeiras à parte, boa leitura pessoal!



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A rua se chamava Prenrilho, por causa da padaria que ficava na esquina e fazia um pão com sementes de prenrilho, o cheiro logo de manhã era tão forte que ia até o fim da rua onde ficava a casa de Orel Haradram, e fazia-o despertar já com o estomago roncando de fome.

Aquilo era, com certeza, uma das coisas que ele mais sentiria falta. A outra estava no pé da escada no andar debaixo esperando ele descer. Orel olhou para sua casa, aonde tinha morado nos últimos seis ciclos, dois cômodos apertados e um banheiro que tinha que dividir com o vizinho do corredor. Eu sou um Haradram, não deveria estar subjugado a esse modo de vida. Mesmo assim, aquela situação fora ele quem escolheu.

A simplicidade de Moogul nunca lhe trouxe alegria, mas a cidade em si não era um lugar feliz. Orel tinha ido para lá imaginando fortuna, conseguiu menos que isso e com a honra ferida negou-se a voltar. Daí batalhou dia após dia para conseguir comprar os pães de prenrilho pela manhã.

Porém quando conheceu Nailah, Orel encontrou um motivo real para ficar. Foi a primeira vez que encontrou felicidade em Moogul, mas não durou. Agora faziam dois ciclos que conhecia a donzela e a queria desposar, porém não conseguia a autorização do pai de Nailah, e como poderia? O dote era mais caro que tudo que Orel possuía, e ele se recusava a pedir dinheiro para sua família, no fim das constas havia viajado para Moogul, longe de casa e de todos, justamente para não depender dos Haradram.

Sua família, por outro lado, nunca esqueceu dele. E justamente por isso Orel tinha mais uma tristeza em Moogul.

— Precisa mesmo partir? — Nailah perguntou no pé da escada, sua voz doce subindo pelas paredes até Orel, era como um lamento.

— Não é um adeus. — Ele desceu as escadas e segurou-a pelos ombros. — Não aja como se fosse.

— Me leve contigo.

— Seu pai urgiria as tropas do Rei Millish contra Lorval se eu o fizesse! — Orel respondeu com um paco sorriso. — Voltarei por ti, é uma promessa que lhe faço.

Os dois trocaram um longo olhar, Orel tinha olhos castanhos, mas Nailah tinha duas esferas caramelo, olhos que brilhavam com uma chama de esperança. Então o agente facilitador retornou da carruagem, entrando no hall da pensão.

— Faltou algo? — Perguntou para Orel que fez que não com a cabeça.

Nailah segurou a mão dele e Orel a abraçou em seguida.

— Você diz que eles te odeiam, porque lhe dariam um castelo? — Ela perguntou com os lábios colados em sua orelha, um sussurro apenas para os dois. — Tome cuidado, não quero que vá!

— Eu te amo. — Orel respondeu, limitando as informações que nem mesmo ele sabia. — Eu te amo mais que tudo.

Beijou-a uma última vez, seus dedos entrelaçaram-se no meio da trança, desfazendo-a, e abraçou Nailah sentindo a respiração da mulher em ritmo com a própria, o coração apertado faltava se partir no meio, assim ele poderia deixar metade para ela como prova de seu amor. Quando separam-se do acalentador abraço, ele chorou uma lágrima pelo olho esquerdo e ela uma lágrima pelo direito, até nisso se completavam, e mesmo assim ali estavam se despedindo.

— Vamos. — Orel disse para o agente facilitador do Rei Queloyn.

Os dois saíram da pensão com casas para aluguel para a rua de cascalhos. Lá na frente havia a avenida pavimentada com paralelepípedos, mas as ruas menores eram ou em terra batida ou cascalho. Orel lançou um último olhar para a grande muralha de Moogul. Os andaimes iam como se do chão ao céu atrás do próprio Deu Árion. A superestrutura estava com mais de duzentos metros de altura, com toda a terra retirada do Canal. Ninguém vai viver o bastante para ver isso finalizado. Mas ver em construção era o bastante. Moogul era pioneira em tudo que fazia, o centro de um novo mundo florescendo depois da queda de uma falsa deusa e o fim de um sacro-império. Na liberdade que encontraram, a criatividade dos homens rasgou o mapa criando canais, ergueu muralhas jamais vistas, trouxe trunfos que nunca haviam antes sonhado com a possibilidade. E estou trocando isso tudo pelo sossego do interior.

Orel não pode deixar de sentir-se um tolo por abandonar Moogul quando entrou na carruagem. Olhou pela janelinha aberta de madeira, para Nailah lhe dando tchau. O facilitador entrou em seguida, fechando a porta da carruagem atrás de si e o cocheiro lá na frente entendeu o que deveria fazer. Com um solavanco a carruagem começou a se mover rua acima.

Moogul era o centro da civilização moderna, o coração pulsante da economia daquela terra, era o futuro de qualquer um que buscasse algum futuro. E mesmo assim estou indo embora.

Orel imaginava que fosse sentir saudade daquele lugar, mas não conseguia pensar se iria se sentir em casa de volta ao reino de Lorval. Embora fosse sua terra natal, iria para outra cidade, longe da capital e de sua família. O senhor seu pai, agora um literal senhor, tinha armado para seus filhos futuros promissores em academias e com casamentos arranjados, mas todos os seis filhos e as duas filhas o decepcionaram. Orel era apenas mais uma das decepções. Foi quando recebeu a carta.

— Me diga novamente porque nenhum dos meus três irmãos mais velhos foram escolhidos primeiro? — Questionou enquanto abria uma garrafa de vinho tinto. Sacou a rolha e sentiu o cheiro do vinho nela. Pêssego. Lambeu os lábios servindo em uma copo de latão.

— Mered está casado e ocupa espaço no conselho de Lorval, o rei o considera importante demais, pois ele consegue influenciar na oposição política da cidade. Tetonio recusou o pedido de seu pai, embora mais velho sinto que não seja um homem sensato pois no último ciclo tive que retirá-lo da cadeia duas vezes. — O facilitador disse com certo pesar. — E Agrilla está viajando, não conseguimos sequer contata-lo.

— Sabem que a esposa de Agrilla vive nos tentáculos, poderiam contatar ela. — Orel respondeu.

— A oferta não é uma ordem, senhor. Caso deseje declinar...

— Não é isso. — Fez sinal com a mão para que o facilitador parasse de falar. — Me honram com um castelo quando eu mesmo fugi de casa, solteiro e desprovido de educação, sem nunca ter aprendido a lutar. Não entendo porque me transformarem em Lorde, ainda mais quando o senhor meu pai é de um braço distante da família. Cadê os irmãos e irmãs de Pilos? Eu sou primo do maldito azarado, algo fede nessa história toda!

— Pilos não era um homem fácil, senhor. — O facilitador esticou a mão pedindo pelo vinho. Orel passou a garrafa para ele. No baú pegou outro copo e entregou também. — Veja, você não era a primeira opção, bem pode imaginar. Nem é buscando lhe honrar que o castelo lhe foi entregue, mas sim buscando manter a terra sob o controle de sua família. A verdade é que muitos dos que receberam a oferta a negaram por não simpatizarem com seu falecido primo, os outros negaram porque seu falecido primo não partiu desde mundo com muitas amizades, não se engane senhor; Pilos partiu com má reputação, a qual o herdeiro do castelo há de carregar. E este é tu.

— Não posso ser responsabilizado pelos erros de Pilos, e não serei. — Olhou para o lado, vendo a espada pendurada de canto na parede da carruagem. Tinha ganhado do facilitador, um presente de seu pai. Ele nunca se interessou em sequer contratar um espadachim para me ensinar a manusear isto. — Aceitei como meu dever, mesmo soando como punição. Tenho no entanto meus próprios objetivos para ter aceito.

— Sim, a jovem que ama. Pretende usar o título e o dinheiro que vem com ele para o casamento, correto? — Orel fez que sim para o facilitador. — Desejo-lhe boa sorte, senhor. É mais difícil que parece fazer um castelo ter lucro, ainda mais Funok.

— Nailah é uma plebeia em Moogul. — Orel respondeu dando um longo gole que esvaziou seu copo. — Seu dote não é mais caro que algumas cabeças de gado. Logo ela estará comigo em Funok, Lady Nailah Haradram.

Ele sorriu como uma criança, imaginando a felicidade dos dias porvir.

— Não agradará seu pai casando-se com uma plebeia, sabe disso não sabe senhor?

— Acho que corre no sangue dos Haradram. — Orel respondeu quase como um devaneio se lembrando que todos os irmãos recusaram o castelo.

— O quê, senhor? — O facilitador perguntou pego de surpresa, mas a resposta foi como uma facada na própria honra de Orel.

— A decepção.


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