Plot? What Plot? escrita por Mileh Diamond


Capítulo 2
Capítulo Bônus


Notas iniciais do capítulo

Olha só quem tá escrevendo Victuuri! Que raridade, é o luto de perder a copa :x
Aproveitem!!



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Yuuri tem alguns momentos em sua vida dos quais ele não se orgulha.

 

Ele não se orgulha da vez que chamou uma juíza de "biscate" em uma competição estadual em Detroit. Aquele placar foi obviamente comprado, mas sua atitude ainda foi repreensível. Ela não ouviu.

 

Ele não se orgulha da vez que apostou com uma estudante de Contábeis que ele conseguiria beijar cinco homens e cinco mulheres consentidamente e de língua em menos de uma hora numa festa. Detalhe: nenhum deles era um conhecido. Ele ganhou a aposta, além de três contatinhos novos e um caso de mononucleose que o deixou de cama por duas semanas. Péssimo.

Ele definitivamente não se orgulha de sua fase fanboy da adolescência.

Ok, talvez ele tenha um pouquinho de orgulho. Se ignorar a tentativa falha de cabelo comprido, o esmalte preto, os brincos de pressão, a gargantilha preta (Perdão, Deus.)... É, teria que ignorar muita coisa. Mas ele desenhava bem.

 

Ele não se importaria em esquecer as fanfics que escreveu.

Era verão e eles resolveram passar alguns dias em Hasetsu, visitando os pais de Yuuri. Yuuri, casado, aos 27 anos, não sabia o que fazer com a caixa que Mari havia colocado em seu quarto.

 

— Que isso? - ele perguntou com sobrancelhas franzidas olhando o conteúdo com suspeita.

 

— Suas tralhas dos anos 2000. - ela disse sorrindo de lado - Achei no depósito. Tem uns três pen drives, dois cadernos de desenho, a gargantilha...

 

Yuuri às vezes odiava sua irmã.

 

— Por que você não tacou fogo nisso? - ele disse com uma careta, já pretendendo se livrar daquilo na calada da noite - Eu sou casado, nee-san. Victor não pode saber do meu passado obscuro.

 

— Ah, mas ele devia ver os desenhos. - ela sorriu mais. - E os cosplays. Definitivamente os cosplays.

 

— Cala a boca. - ele disse mexendo na caixa com uma cara de nojo. Ou nostalgia. Talvez, os dois. - Obrigado, de qualquer forma, por trazer. Eu mesmo terei o prazer de jogar isso no lixo, então.

 

A mais velha revirou os olhos.

 

— Uma vez otaku, sempre otaku, Yuuri. Não pode fugir disso pra sempre. - dito isso, ela saiu do quarto.

Era como abrir a Caixa de Pandora.

 

Yuuri começou pelos desenhos. Algumas folhas estavam arrancadas, outras ainda presas ao fichário. A maioria eram fanarts de seus animes e games favoritos, mas os mais trabalhados consistiam em figuras de cabelos longos desenhando figuras sobre o gelo, no meio de saltos ou simplesmente em roupas que Yuuri fantasiava sobre ele usando.

 

Eram fanarts de Victor Nikiforov.

 

As memórias trouxeram um sorriso teimoso aos lábios. Com 15 anos, Yuuri se achava O Artista por conseguir reproduzir uma fotografia de revista no lápis 2B. E nem ficava tão bom, olhando melhor hoje. Pequenos orgulhos da juventude.

 

Quando entre as folhas algumas fotos de sua fase "cosplayer" apareceram, ele decidiu que estava cheio de cadernos por hoje.

 

Mas a curiosidade matou o gato, a satisfação o trouxe de volta, e a decepção certamente o mataria de novo. Porque não tinha por que ele pegar um dos pen drives e colocar no seu notebook para ver o conteúdo. Ele já sabia que não iria vir coisa boa de lá.

 

Yuuri teve neurônios o suficiente para colocar fones de ouvido enquanto vasculhava sua velha pasta de músicas. Ele morreria antes de deixar tocar Super Junior no último volume naquela casa após sete anos. E My Chemical Romance. É, definitivamente My Chemical Romance era o pior.

 

Ele encontrou uma pasta chamada "videos" e soube na hora o que guardava.

 

Yuuri gostava de editar. Não era o melhor nisso, mas qualquer um com Movie Maker antes de 2010 podia se achar um especialista em efeitos pessoais. Ele não era diferente.

 

Ele se lembrava carinhosamente da edição com Georgi Popovich que fez de presente para uma amiga virtual russa em 2009. Era apenas uma das apresentações de gala dele com a música "Your Entertainment" de Adam Lambert, mas o visual risqué que o patinador usou realmente combinava com a música. Yuuri não se orgulha de admitir que sua lealdade a Victor ficou um tanto abalada naquela temporada. Lembrar disso quando Georgi se mostrou a pessoa mais doce de todas em sua chegada à Rússia o faz se sentir mal, mas hey, seu eu de 17 anos era fraco por jeans rasgados e jaquetas de couro. Quem mandou Popovich usá-las?

 

De qualquer forma, "xxxxNat92" de Rostov gostou muito do presente na época.

 

Eram vários arquivos, com vários vídeos de patinação editados com músicas típicas dos anos 2000. Seu favorito era um com Victor ao som de "Everytime We Touch" de Cascada, por mais brega que soasse hoje. Ele também tinha um espécime de Chris pré-2011 com uma aparência mais jovial ao som de "Smile" da Avril Lavigne. Bons tempos.

 

Ele resolveu deixar os vídeos de lado, por enquanto. Queria saber o que mais de cringey havia naquele pen drive.

O inferno nem estava tão tenebroso, até ele encontrar uma pasta intitulada "trabalho de história".

 

Yuuri respirou fundo uma, duas, três vezes, tendo a audácia de olhar ao redor para ver se ele realmente era a única pessoa no quarto. Velhos hábitos nunca mudam. E ele se lembrava muito bem que aquela pasta não guardava trabalhos de história ou geografia ou qualquer outra coisa relacionada à escola.

 

Ele clicou e foi recebido com pelo menos quinze arquivos do word. O primeiro título fez ele fechar os olhos com vergonha alheia.

"Compulsory figures of the heart." - ele disse em voz baixa. - Você nunca foi bom com títulos, né, Yuuri?

 

A maioria dos trabalhos ali ele escreveu durante em seus 14 ou 15 anos, como forma de treinar o inglês aprendido nas míseras competições internacionais em que estivera. Ele postou algumas no livejournal (isso ainda existe?), apesar de sua ansiedade falar que isso era uma péssima ideia milésimas vezes. Mas haviam pessoas que liam e até deixavam elogios, então não devia ser tão ruim, certo?

 

Errado. Era muito, muito ruim. Ele descobriria isso ao ler a sinopse.

 

"Yuki Storm Tsunenaga é o mais novo vencedor do Grand Prix Júnior e consegue chamar a atenção do melhor patinador do mundo: Victor Nikiforov! Será que o amor pode florescer em um ambiente tão frio?"

 

— Oh, meu, Deus. - Yuuri disse pausadamente colocando a mão sobre o rosto. - Yuki Storm.

 

Ele não tinha se esquecido completamente de seu OC Gary Stu favorito, mas ler isso de novo era muito constrangedor. Ele se lembrava de, na época, ter se achado o máximo por bolar um nome que poderia ser traduzido como "tempestade de neve". E ele era um patinador do gelo. Perfeito.

 

Ok, parecia um romance clichê como todos os outros, mas a leitura em si não era tão ruim, certo? Ele não se lembrava de ser ruim. Talvez alguns erros de ortografia porque seu inglês ainda não era dos melhores, mas em termos de enredo...

 

Ele já estava aqui, não tinha volta. Hora de ler fanfics.

 

"meu nome é Yuki Storm Tsunenaga, eu tenho 17 anos e eu ganhei o ouro no grand prix júnior de 2007."

 

— Que legal. - ele disse rolando a página.

 

"meu nome é Storm porque eu nasci numa noite de tempestade."

 

Yuuri queria vomitar.

 

"eu tenho a pele clara, os cabelos negros como a noite sem estrelas e os olhos castanhos, mas na luz do sol eles têm cor de âmbar e quando eu fico com raiva eles ficam vermelhos."

 

Yuuri não aguentou e riu. Riu alto, porque era tão ridículo, mas dava tanta saudade da sua adolescência. Era uma forma que ele tinha de se ver com sucesso, quando as medalhas de clubes e as palmas de Minako eram insuficientes. Ele podia se imaginar como um patinador cheio de talento e com alguns poderes sobrenaturais lutando contra o mundo para defender o seu espaço. Era bom.

 

Ele continuou lendo. A história continuava igualmente boba, mas com algumas reflexões sobre inseguranças e ansiedade tão profundas que ele quase se esqueceu de que tinha escrito aquilo aos quinze anos. Jovem Yuuri já tinha passado por cada situação complicada e isso, de certa forma, refletia nas histórias que criava.

 

As partes mais constrangedoras certamente eram as que incluíam Victor. O japonês, naquele tempo, devia ver seu ídolo como alguma espécie de deus que agraciava os mortais apenas por pisar no mesmo chão que eles. Isso era visível pelas descrições.

 

"Victor olhou para mim e eu senti minha respiração falhar. Seus olhos que pareciam enxergar os cantos mais fundos da minha alma eram de um azul tão brilhante que eu me lembrei dos mares de Fukuoka. Ele retirou a coroa de flores do cabelo e desprendeu uma das rosas azuis, colocando-a atrás da minha orelha. Eu corei e desviei o olhar, mas ele me fez encará-lo ao segurar meu queixo.

— Você, Yuuri, é uma flor de inverno. - ele disse com aquele sotaque russo que me fazia flutuar nos sonhos. - E, pra mim, elas são as mais bonitas."

 

Yuuri soltou um grito abafado pelas mãos que era um misto de histeria e vergonha. Histeria porque era fofamente clichê e vergonha porque ele escreveu. Ele, que escreveu pelo menos mais dez daquelas fanfics com enredos igualmente bestas, mas que significavam muito pra ele. Ele, que em sua inocência juvenil não fazia ideia de como escrever uma cena erótica e ainda assim postou um legítimo "yaoi lemon boyxboy DON'T LIKE DON'T READ xxxxx" no fanfiction.net. Ele, que já recebeu fanarts de seus trabalhos porque o fandom minúsculo daquele tempo achava a caracterização dele "demaixxxx".

 

Ele que nunca em seus melhores sonhos de criança imaginaria que um dia seria casado com Victor Nikiforov.

Se ele pudesse voltar no tempo e encontrar seu eu do passado, ele diria que ficaria tudo bem. Ele poderia continuar fazendo coisas constrangedoras e escrevendo absurdos fofos na internet. Não machucaria ninguém. Yuuri podia viver com a vergonha alheia nos dez anos seguintes.

 

(No entanto, ele pediria para jogar a gargantilha fora.)

 

— Yuuri.~ - a voz de Victor se aproximando do quarto o acordou de seus pensamentos.

 

Demorou um milésimo para ele se fazer sair da página. E meio milésimo de terror para perceber que o computador tinha travado.

 

Merda. Ele pensou suando frio enquanto clicava o "x" repetidas vezes. Merda, merda, merda...

 

— Yuuri, você tá aqui? - Victor disse já girando a maçaneta enquanto Yuuri tinha textos muito incriminatórios na tela do computador.

 

São nessas horas de desespero que a nossa mente bola as melhores saídas dos problemas.

 

Yuuri podia:

 

1 - Arrancar o pen drive do computador como uma pessoa sensata;

 

2 - Arrancar o computador da tomada como uma pessoa menos sensata;

 

3 - Arrancar toda a fiação elétrica da casa como um lunático;

 

Ou 4 - Se atirar em cima de Victor e beijá-lo tanto que ele nem iria suspeitar de suas atividades suspeitas.

 

Obviamente, Yuuri escolheu a quarta opção.

 

Seu marido mal tinha aberto a porta e ele já estava de pé jogando os braços ao redor de seu pescoço, interrompendo qualquer tentativa de fala com um beijo caloroso. Victor demorou um segundo para corresponder, provavelmente confuso pelo beijo repentino, mas não menos feliz. Hmm, desde quando Victor tinha gosto de limão?

 

Finalmente separados, Yuuri ainda não o havia soltado completamente, mas percebera que ele estava com um picolé em uma mão e outros dois fechados na outra. E seu rosto estava um pouco corado pelo beijo roubado.

 

— Eu ia te oferecer um, mas parece que você queria outra coisa. - ele disse com um sorriso. - O que estava fazendo, amor?

 

— Nada. - ele respondeu com a voz fina de quem definitivamente estava fazendo alguma coisa. - Vamos lá fora, esse calor está me matando. - ele disse puxando Victor pelo pulso para longe daquele computador perigoso.

 

— Mari disse que você ia me mostrar alguns... cosplays?

 

— Outro dia, Vitya. - ele disse num suspiro, mas não conseguiu evitar um sorriso. - Outro dia...

 

A vida que tinha já era melhor do que qualquer fanfiction.


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Notas finais do capítulo

Quem nunca teve OCs constrangedores que atire a primeira pedra u_u//
E eu sinto muita falta dos AMVs com Everytime We Touch. Não é um ship de verdade se não foi homenageado com essa música.

Bom, é isso, gente. Espero que tenham se divertido com a fic o//

XOXO



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