O Mentor escrita por MaahHeim


Capítulo 2
O Gênio




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Ainda estava escuro quando ela chegou ao campo de treinamento; Os longos cabelos presos em um rabo de cavalo, os olhos não apresentando nenhum cansaço apesar do horário.

Determinação. Típica característica dos esforçados. Era uma das poucas coisas que eu podia realmente admirar neles, se é que realmente admirava-os em alguma coisa.

Mas eu havia escutado o despertador dela tocando quando estava saindo. Estava passando na frente do seu quarto no exato momento.

Isso mostra a diferença entre eu e ela: Ela precisa de um objeto dizendo-lhe que horas são, dizendo que ela deve levantar para um compromisso. Eu não preciso de nada. Simplesmente regulo meu relógio biológico e acordo no horário correto.

— Estou aqui. – Posso ver que você está. – Vamos começar? – Por que não iríamos, se você veio aqui apenas para isso?

Eram tantas maneiras de cortá-la que minha língua coçava. Como alguém conseguia ser tão tola? Tão ingênua? Chegava a ser irritante.

Amarrei meus próprios cabelos em um rabo de cavalo, encarando-a com uma expressão indiferente.

— Vamos começar pelo seu taijutsu. - Falei. – Tente me atacar.

— Mas isso é impossível. – Ela disse. – Você vai me matar.

A última frase me irritou. Ela havia dito como se eu fosse algum tipo de monstro.

— Não! – Ela exaltou-se, parecendo perceber que havia dito algo grosseiro. – Eu não quis dizer que você-

— Eu facilmente mataria você se quisesse, mas isso não seria proveitoso para o clã Hyuuga, e meu dever é protegê-la, então não teria sentido. – Agora ela tinha uma expressão séria, parecendo não se importar mais de ter soado grosseira. Melhor assim. – Taijutsu.

Ela ativou o byakugan, e eu fiz um gesto negativo com a cabeça.

— Por enquanto não.

As veias ao redor dos olhos voltaram a relaxar e ela respirou fundo, colocando-se na posição do estilo de taijutsu dos Hyuuga. Coloquei-me também, próximo à ela.

— É permitido usar o chakra? Ou apenas taiju-

— Por enquanto não. – E deixei que ela avançasse sobre mim.

.

— Ingênua! – Parei minha mão próxima ao coração dela, quase tocando nos gigantescos seios.

Ela saltou para trás, respirando com dificuldade. Tinha diversos arranhões espalhados pelo corpo e suava. Uma parte de seu quadril estava suja de terra devido à um escorregão que ela sofrera há algumas horas.

— Mais uma vez. – Pediu. Confirmei com a cabeça, e ela veio até mim.

— Aqui. – Falei movendo minha mão onde sua defesa estava aberta, como se fosse acertar-lhe um tenketsu, mas sem fazê-lo. – Aqui. Aqui. Aqui. – Uma longa pausa enquanto eu revidava alguns golpes dela. – Aqui. – Ela recuou, tropeçando e quase caindo para trás.

Estalei a língua, movendo meu corpo para frente para poder segurar sua mão e impedir que ela caísse. Puxei-a para perto, fazendo-a recuperar o equilíbrio.

Ela ergueu os olhos para mim, minha mão em sua cintura, sua mão em meu ombro. Era como se fôssemos começar a dançar valsa. Seu rosto ficou vermelho de repente e ela se afastou.

— Obrigada. – Murmurou.

Confirmei com a cabeça e esperei para ver qual seria sua decisão. Continuar, ir para casa? Provavelmente ir para casa.

— Mais uma vez. – Pediu.

Impedi minha testa de franzir-se. Aquilo não era surpreendente.

Afinal, esforçados tinham determinação.

.

Alguns dias depois, esperei Hinata sobre uma árvore. Era um teste para ver se ela conseguiria me perceber. Alguns poucos minutos depois ela chegou à área onde treinávamos e olhou em volta, procurando-me.

— Neji-niisan? – Ela olhou em volta e atrás das árvores onde treinávamos, esperando me encontrar. – Será que ele perdeu a hora?

Que audácia! Hyuuga Neji e perder hora não poderiam estar na mesma frase.

Apareci atrás dela e fiquei ali por dois segundos, esperando que ela me percebesse. Ela não o fez. Apenas continuou olhando em volta, procurando-me. Coloquei uma kunai em seu pescoço.

Os ombros ficaram tensos e ela prendeu a respiração.

— Ingênua. – Tirei a kunai e afastei-me. Ela virou-se para mim.

— Você quase me matou de susto! – Falou. – Não precisava ter feito isso.

— Foi um teste. – Expliquei. - E você não passou.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas eu fui mais rápido, é claro:

— Taijutsu.

Ao ver sua expressão de indignação enquanto se postava na posição de estilo de taijutsu dos Hyuuga, quase me permiti dar um meio sorriso.

Quase.

.

— Ingênua. – Falei, movendo minha mão na direção de seu coração. Ela teria morrido se eu estivesse lutando a sério.

Dessa vez ela não disse “Mais uma vez”. Soltou um impropério e bateu em minha mão, continuando a luta.

— Você precisa expandir seu vocabulário. – Falou. – É sempre: Ingênua, ingênua, ingênua.

Expandir o meu vocabulário? Eu sabia muitas palavras que ela nem devia imaginar que existiam!

— Meu vocabulário é ótimo. Se não gosta de ser chamada de ingênua, então pare de sê-lo.

Hinata tentou dar-me um golpe direto no coração, mas o bloqueei e repeti o mesmo contra ela. A jovem cambaleou para trás e caiu sentada no chão.

Com prazer, repeti o mais recente “apelido” que havia dado à ela:

— Ingênua.

.

Se fosse um estúpido, teria perdido a conta dos dias que estávamos treinando, mas como não era, sabia que eram exatamente 26.

Já achava suficiente o treino de taijutsu. Com o passar do tempo, Hinata aprendera a corrigir os próprios erros, melhorara sua postura e passara a defender meus ataques com mais facilidade.

Agora, chegava fazendo o familiar rabo de cavalo no cabelo, com um leve sorriso nos lábios:

— Neji-sensei. – Era como ela havia começado a me chamar. Provavelmente havia notado meu desprazer ao ser chamado assim pela primeira vez e, achando graça, continuou. – Bom dia.

Ignorei o cumprimento e levantei-me.

— Hoje vamos ativar o byakugan. – Avisei. O sorriso dela aumentou. Parecia estar excitada pelo avanço no treinamento. – Ataque como se fosse me matar.

.

— Concentre-se! – Mandei, acertando um tenketsu do seu braço. Ela tentou acertar meu coração, mas hesitou no último momento, e minha mão que acabou por ficar próxima do coração dela. Pulou para trás, afastando-se de mim. – É uma luta de vida ou morte. Se você vê que tem chance, aja como se fosse me matar.

— Mas e se você não conseguir defender?

— Ingênua! – Falei. – Claro que vou me defender. Estamos em níveis muito diferentes.

Ela expirou audivelmente e sentou-se na grama, encostando as costas em uma árvore.

— Podia acontecer alguma coisa que me fizesse acertar. - Procurou algo dentro de uma mochila que havia trazido, tirando uma maçã e jogando-a para mim. – Não quero que você morra, Neji-sensei.

Agarrei a maçã, levando-a à boca para uma mordida.

— Gênios não morrem tão facilmente.

Ela tirou outra maçã da mochila e pôs-se a olhá-la por alguns segundos.

— Todos morrem, sensei, não importa se são ou não melhores que os olhos. – Deu uma mordida na maçã. – Acho que você é o ingênuo.

Terminei de mastigar o pedaço de maçã que havia levado à boca e ajeitei meu rabo de cavalo.

— Não vou ser morto por você, Hinata-sama. – Era a primeira vez que a chamava pelo nome desde que havíamos começado com o treinamento. – Foi o que eu quis dizer.

Ela revirou os olhos.

— Podemos treinar mira um pouco? – Perguntou, tirando uma kunai do bolso. – Acho que sou boa nisso.

Dei de ombros, sentando-me na árvore ao lado da dela.

— Eu sou melhor.

Ela deu uma risada.

— Convencido. – Deu outra mordida na maçã. – Ah. É Hinata.

Lancei-lhe um olhar indagador.

— Pode me chamar de Hinata, Neji-sensei.

Confirmei, sentindo algo remexer-se em meu estômago. Dei outra mordida na maçã em minhas mãos e tirei uma kunai do bolso.

.

— Ingênua! – Falei, bloqueando um de seus golpes. Hinata revirou os olhos rapidamente. – Ingênua! – Repeti, ao vê-la perder a concentração em consequência do gesto e tropeçar para trás.

Estalei a língua, sabendo que aquilo já tinha acontecido antes. Segurei sua mão, puxando-a. Seu corpo bateu contra o meu, minha mão em sua cintura, sua mão em meu ombro.

— Neji-sensei? – Chamou sem se soltar de mim. Achei que fosse algo importante que precisasse ser dito em voz baixa, por isso esperei sem me mover. – Ingênuo!

Pressenti o movimento, mas não consegui evitá-lo. Recebi a rasteira e pus-me a desabar para trás. Tola como era, esquecera do fato de que minha mão ainda estava em sua cintura. Puxei-a para o chão junto comigo.

Hinata pareceu surpresa ao cair sobre mim, como se não esperasse o acontecimento. Provavelmente havia achado que o plano era perfeito, mas, como uma tola, cometeu um erro.

Suspirei e ela me olhou em indagação.

— Ingênua.

E ela começou a rir, o corpo todo tremendo com a crise de riso.

Para que ela não saísse de cima de mim – pois ela poderia se machucar – apertei um pouco mais a mão que ainda estava em sua cintura.

Claro, era apenas para que ela não caísse e se machucasse.

.

— Não é chato ser um gênio? – Hinata perguntou em uma das pausas em que dava no treinamento. Eu acertava um tronco com o punho gentil. – Digo, você não tem nada pra aprender.

— Posso aperfeiçoar o que já sei.

Ela pareceu pensativa por um momento e aproximou-se, entregando-me um kiwi.

— Não é chato ser uma esforçada? – Ela não entendeu a pergunta, e fitou-me numa indagação muda. – Quero dizer, ter nascido sem saber das coisas e ter que ficar se esforçando e se esforçando para aprendê-las, mesmo sabendo que nunca vai chegar ao nível de um gênio.

— Acho que posso chegar ao nível de um gênio... – Tentei disfarçar a expressão de descrença em meu rosto, pois ela estava falando sério. – Justamente pelo fato de ser uma “esforçada”. – Fez aspas com os dedos.

Me calei. Eu discordava, mas ela realmente acreditava naquilo, e eu não podia simplesmente dizer que não poderia ocorrer.

— É difícil. – Continuou. – Mas não deve ser impossível.

Considerei o argumento e dei uma mordida no kiwi depois de tirar a casca dele.

Ela aproximou-se mais, erguendo um dedo na direção do meu rosto com um sorriso nos lábios.

— Você parece uma criança, se sujando todo. – Falou, tirando um resquício de kiwi do canto da minha boca e levando à sua própria. – Ah! Você pegou um mais gostoso.

Eu não via diferença no gosto de nenhum kiwi, então dei de ombros.

Mas por algum motivo, meu coração havia acelerado.

.

— Estilo do punho gentil! – Falei e ela tentou recuar, mas não pôde. Eu era mais rápido, e ela estava bem longe do limite da linha de alcance. Não tinha como fugir. - Hakke Rokujuuyon Shou!

Hinata caiu no chão, derrotada, depois que acertei seus tenketsus.

— Você está bem? – Perguntei ao vê-la respirar com dificuldade, uma mão no seio esquerdo. Arrependi-me da pergunta no momento em que ela ergueu os olhos para mim.

— Agora você se preocupa comigo, Neji-sensei?

— Não. – Respondi rápido demais e ela sorriu, percebendo a mentira. Maldita.

— Eu estou bem. – Respondeu e deitou-se de costas na grama, encarando o céu. – Só cansada. Não é muito fácil lutar contra um gênio.

Sentei-me ao seu lado, observando-a fechar os olhos, aproveitando o calor do sol. Os músculos estavam um pouco mais desenvolvidos desde o começo do treinamento, e ela havia mudado suas vestes com a ajuda dele, escolhendo umas que lhe dessem mais mobilidade.

Eu mesmo estava surpreso com as mudanças que ela estava sofrendo. Não só as externas, como também as internas. Hinata costumava ser retraída, gaguejando sempre. Mesmo no começo do treinamento, parecera acanhada, apenas lutava sem dizer uma palavra. Agora ela já ria, fazia brincadeiras comigo e até trazia-me frutas.

Não que nós houvéssemos nos tornado íntimos. Não nos abríamos um para o outro nem nada do gênero. Parecia simplesmente que ela estava mostrando quem ela era realmente, por trás do medo, da fragilidade.

— Você mudou muito desde que te conheci, sensei. – Falou de repente. Estávamos pensando na mesma coisa, o que era uma coincidência um tanto assustadora. – Antes você não dizia nem mesmo um oi para mim. Mesmo dentro do clã Hyuuga, você não me cumprimentava nem nada. Fiquei realmente surpresa quando você aceitou me treinar.

Vendo que eu não esboçava reação alguma, ela ergueu-se um pouco, apenas para deitar em meu colo.

— Agora você está diferente. – Continuou, ignorando minha expressão de incredulidade. – Continua com esse seu jeito de marrento, é prepotente e arrogante... – Ela riu ao ver minha expressão de “você está me xingando ou elogiando?” – Mas agora já conversa um pouco comigo, não me repele e até me deixa deitar no seu colo.

Olhei para o céu, para que ela não reparasse no leve rubor em meu rosto.

— Você também mudou bastante, não está mais tão acanhada como antes.

Ela deu-me um de seus sorrisos.

— Eu gosto de como você está agora, Neji-sensei.

— Eu também. – Sussurrei, sentindo novamente uma sensação de que algo se remexia no meu estômago. Droga.

Dessa vez, apenas dessa vez, quis ser um estúpido, para não saber o que eu estava realmente sentindo por Hinata. 


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Notas finais do capítulo

Haro, haro! Espero que tenham gostado do treinamento desses dois fofos. Vejo vocês no próximo capítulo!



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