Querida Lizzie,

Eu ainda tenho dúvidas a respeito da carta que li, não sei ao certo se estava falando de mim. Mas caso tenha sido, também preciso lhe dizer algumas coisas.

Sinto-me culpado. Sim, culpado. Por não ter deixado claro o que sentia quando tive a chance. Mas logo eu chego lá...

A questão é que fiquei com o coração apertado quando citou a morte e a certeza de não ter mais medo dela. Aquilo doeu, pois me recusava a acreditar que você tinha partido. Agora estou mais aliviado, porém não contente.

Lembro-me nitidamente de passar de bicicleta todos os dias em frente à sua casa, e vê-la olhando para o jardim. Ficava me perguntando no que estava pensando, o que seus lindos olhos estavam admirando. Agora eu sei... era a borboleta.

Sinto-me aliviado em saber que toda aquela melancolia não foi fruto de uma vida infeliz. Tudo o que eu queria na vida era que você fosse feliz, Lizzie... O meu lamento é não ter participado disso como eu deveria.

Fui seu amigo desde sempre, isso ambos sabemos. Estudei com você, me diverti com você, conheci lugares com você, cuidei de você... Cada momento que passei ao seu lado foi incrível e único pra mim.

Saber que eu te fazia bem, que meu carinho e meu cuidado te faziam sentir segurança, me dá aquela sensação de “missão cumprida”, pois eu sempre senti em meu coração que meu dever era proteger você e te dar todo o meu amor. Acabei falhando em um deles. Eu não dei todo o meu amor... eu só dei a metade.

Eu gostaria de ser como essas pessoas, que apenas com um olhar ou gesto conseguem se expressar. De fato eu não sou assim. Se eu fosse, você realmente saberia... eu faria questão que soubesse... você merecia saber.

Fui um tolo.

Agora, suas palavras ecoam em minha cabeça. Todos aqueles sentimentos, todas aquelas sensações que sentia quando me via... Lizzie... eu sentia o mesmo. Sempre senti. Exatamente tudo. E eu sentia a necessidade de chegar perto de você, sentir sua pele macia em meus dedos e palma da mão, olhar no fundo de seus olhos e dizer o quanto te amava. Sim, Lizzie, eu te amava!

Cada sorriso que direcionava a mim, cada riso que eu escutava sair de sua boca, cada aroma doce que eu sentia emanar de seu corpo... eu sentia a necessidade de dizer... e não conseguia. Era como se eu juntasse todas as minhas forças e viesse uma trava contra minha garganta impedindo-me de falar.

Mas eu quero muito que você saiba que eu sempre te amei, e ainda amo.

Com relação a música, creio que há algo sobre ela que você não sabe... Eu só a tocava pra você. Ninguém nunca havia escutado aquela canção, somente você...

Só você ouvia, só você dançava... Sim, eu me lembro da sua dança suave e bela. Sempre gostou de ballet e quando ouvia a minha música, balançava suavemente de olhos fechados. Aquilo me deixava extasiado. A mulher mais linda do mundo, pra mim, era você.

Sinto tanto a sua falta, minha flor de lis. E ao pensar nisso, me dói o coração ao lembrar de suas palavras quase finais, pois consigo ver que está inerte realmente. Isso dói tanto, ao ponto de parecer que alguém está cravando uma estaca em meu coração.

Como sei? Simples.

Estou ao seu lado agora, neste momento, vendo-a dormir profundamente, e rezando para que você acorde.

O rosto pálido, os lábios ressecados, a pele quase fria... parte o meu coração.

Eu juro, não esquecerei do seu amor, e farei com que nunca esqueça do meu.

Obviamente, não deu pra trazer um piano, mas trouxe um violão... Tocarei a música e direi que te amo todos os dias, até você voltar pra mim.

                                                                                    Com amor, Mike ♥