A luz do teu olhar escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 4
A dor que é sentida por todos


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo, temos um pouco de sofrimento a mais por parte de outros personagens também. Preparem os corações!



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Konohomaru acordou gritando outra vez. Sentia que as chamas lambiam seu quarto, as cortinas, seu corpo. Emaranhado aos lençóis, sentia a pele ardendo em chamas e gritava, tentando se livrar da sensação desesperadora que o aturdia. Caiu no chão, ainda embrulhado nos lençóis, sufocado, chorando baixinho.

Até que a porta do quarto se abriu e Asuma aproximou-se dele, ajoelhando-se ao seu lado e abraçando-o.

− Tudo bem. Está tudo bem. Foi só um pesadelo. – repetiu, como em todas as noites, enquanto Kurenai os observava da porta, com a pequena Mirai adormecida em seus braços.

− Mas tio, eles... os meus pais...! – Soluçava, tentando buscar uma resposta, algo que o fizesse compreender. Não havia.

− Você sabe que Naruto fez o possível, não sabe? – A voz de Asuma era compreensiva. Porque o bombeiro os visitava constantemente, querendo saber notícias de Konohomaru. Porque além de tudo era um grande amigo da irmã de sua namorada, Hanabi. E ele sabia o quanto Konohomaru o admirava mesmo que não quisesse admitir. Vira os testes que ele pensava em fazer para ser bombeiro.

− H-hai. – murmurou baixinho, encolhendo-se nos braços dele.

− Quer que eu deixe a luz do corredor acesa, querido? – Kurenai perguntou depois que Asuma o cobriu, colocando-o de volta na cama.

Ainda se lembrava das chamas, do incêndio que havia aprisionado seus pais no prédio onde moravam e de como sua vida havia mudado desde então.

− Não precisa. – Engoliu o choro.

− Tem certeza?

Konohomaru escondeu-se atrás dos lençóis.

− Boa noite, Konohomaru-kun. – Kurenai suspirou, ajeitando Mirai em seus braços enquanto Asuma a acompanhava, levando embora o cheiro de tabaco e hortelã.

Kurenai não apagou a luz do corredor e Konohomaru sentiu-se grato. Como poderia ser bombeiro um dia se não conseguia superar o próprio medo?

Encolheu-se, apertando os olhos, sentindo a respiração abafada. E, sobretudo, lembrando-se. Lembrando-se do acidente que havia levado embora seus pais.

X

Era incomum que seus dois pais estivessem de folga no mesmo dia e ainda mais que lhe deixassem faltar à escola, mas hoje era uma exceção. Passariam a manhã toda vendo a coletânea de filmes ruins escolhidos por Asura, pai de Konohomaru, – Sharknado — e no período da tarde, os romances água com açúcar que Aya escolhesse. A noite era dele e já havia optado por suas animações!

Tudo seria perfeito.

Sua mãe havia preparado a pipoca e o brigadeiro e todos estavam muito bem acomodados no sofá, embaixo de uma manta de lã quentinha.

Prontos para um filme de tubarões de arrepiar? – Asura acomodou-se ao lado da esposa, que sentou-se entre os dois Sarutobis.

Você e sua mania de filmes horríveis, querido. – Aya gargalhou. Embora não se importasse de fato. Já havia até mesmo pego as agulhas de tricô para o caso de ficar entediada.

Konohomaru encheu a mão de pipocas amanteigadas e levou-as à boca. A última lembrança que tinha dos pais antes da explosão dos ductos de gás que causou o incêndio era do som de suas gargalhadas.

X

Kiba queria que Hinata pudesse ficar um pouco mais além das apresentações formais, mas sabia que ela tinha suas próprias obrigações. E ela havia lhe dito que lidar com ele não seria fácil, sobretudo com mais pessoas por perto. Ao que parecia, Aburame Shino era bastante recluso. Não gostava de nenhuma companhia. Então, tudo o que Hinata havia feito, havia sido introduzir os dois em um diálogo com via de mão única.

− Aburame-san, este é Inuzuka Kiba. – disse ela. – Ele o acompanhará daqui para frente, ajudando-o no centro de reabilitação. Espero que possam se dar bem.

Ao que Shino nada respondeu e Kiba, debilmente, estendera a mão em sua direção.

− Espero que não esteja com a mão estupidamente estendida para frente esperando que um cego a aperte. – A amargura em sua voz era quase palpável. Kiba mordeu o lábio inferior.

− Claro que não. – mentiu, coisa que fazia muito mal por sinal. Escondendo as mãos atrás do corpo. Então, embora não enxergasse, o rosto de Shino voltou-se na direção de Hinata.

− Eu já disse que não preciso de ninguém. – expressou-se. – Principalmente de um idiota para me acompanhar.

− O-oe! Eu não sou nenhum idiota! – A voz elevada de Kiba fez com que todos se virasse em sua direção com mais shhs. Corado até as orelhas, abaixou a cabeça, indignado com a atitude daquele babaca.

Hinata suspirou, pois sabia que Shino seria resistente a isso. A última pessoa que pedira para acompanhá-lo havia desistido de ser um voluntário ali. Era uma garota dócil, com boa vontade, mas que não resistiu às alfinetadas de Aburame. O motivo pelo qual escolhera Kiba para o papel, era por saber que seu amigo não desistiria de maneira alguma. Se não para ajudar Shino, por sua teimosia. Mas ela sabia que em algum momento, quando Shino resolvesse se abrir, Kiba compreenderia os motivos que o levaram a ser daquela maneira. Ela sabia.

− Sabe que as coisas não funcionam desse jeito, Aburame-san. – Hinata apertou a prancheta contra o peito, pois odiava ter que chamar a atenção de alguém como Shino, tratando-o como se fosse uma criança. – É preciso que faça o acompanhamento médico com Sakura-chan, que vá ao grupo de apoio e que esteja presente nas aulas de braile. Kiba-kun vai se encarregar de ajudá-lo com isso.

− Feh. – Shino virou o rosto para o lado, o casaco de gola alta se sobressaindo por um momento. Apenas o suficiente para que Kiba visse, em um trecho de seu pescoço, a marca de algo que se parecia com uma cicatriz. – Eu poderia fazer essas coisas sozinho.

− Mas a política...

−... diz que preciso de uma babá. Eu sei, eu sei. – A expressão mal-humorada permanecia em seu rosto. – Vamos ver quanto tempo ele aguenta.

Kiba tomou o tom de troça de Shino como um desafio pessoal da mesma forma que Hinata deduzira que ele faria. E ela notou isso através do brilho do seu olhar.

− Deixarei os dois sozinhos. Não perca o horário do médico, do grupo e de sua aula, Shino-kun.

Aburame nada disse, a expressão taciturna sobre o rosto, insondável. E Kiba perguntou-se, naquele momento, qual seria a extensão daquela cicatriz que descia por seu pescoço.

X

Gaara odiava pisar naquele centro de reabilitação, pois ele era a lembrança viva de que ele permanecia ali enquanto sua mãe estava morta. Mas uma vez por semana, participava de um grupo de apoio para tentar superar os traumas causados pelo incidente, e precisava dizer a si mesmo que desta vez estava um tanto ansioso.

Tudo porque, na semana anterior, aquele rapaz de sobrancelhas proeminentes e jeito excessivamente energético falara consigo. E foi a primeira vez, em muito tempo, que se sentiu realmente à vontade em uma conversa. Mesmo que tivesse sido algo trivial sobre as cerejeiras que desabrochavam no local.

Aproximou-se do balcão da recepção onde Ino estava e ela reparou no cabelo desalinhado de Gaara, como se tivesse acabado de acordar. Pelo menos a roupa estava apresentável. Talvez apresentável demais. E seus olhos afiados não deixaram isso passar.

− Quem é o rapaz sortudo que agarrou seu coração, Gaara? – Ino sorriu largo, vendo Gaara ficar mais vermelho que o tom de seus cabelos.

− Por que você precisa fazer essas perguntas indiscretas? – Não era como se ele se sentisse incomodado de fato. Afinal, Ino era sua melhor amiga desde sempre. A pessoa com quem podia contar. Para quem, inúmeras vezes ligara de madrugada para chorar sobre a culpa que sentia pela morte da mãe.

− Oras, bobinho! Porque sou sua BFF! E preciso saber de tudo! Vem aqui! – Gaara aproximou-se ao que Ino inclinou-se para frente no balcão, ajeitando seus cabelos com um creme que carregava na bolsa, alinhando-os até ficarem certinhos. – Perfeito! É com aquele rapaz que você me falou? O Lee?

Gaara acenou positivamente com a cabeça, sentindo as orelhas queimarem.

− Como está minha maquiagem? – perguntou.

− Perfeita como sempre. Algum dia vai ter que me ensinar esse delineado, querido! – Ino pegou um espelhinho, mostrando o penteado para ele. Gaara teria arqueado as sobrancelhas se as possuísse; uma pequena sequela de um incidente culinário que as queimara por completo. Desde então, nunca mais cresceram.

− No dia em que você me der o segredo da sua hidratação. – Gaara piscou para ela, respirando fundo. – Acha mesmo que estou apresentável?

− Lindíssimo, arrasando tudo! Vai e pega seu macho! – Ino deu-lhe um soquinho no ombro. – Se sair com Lee, vou te dizer o segredo da minha hidratação E te ensinar a massagem de lótus! Vai com tudo, beesha!

Gaara revirou os olhos. Mas a verdade é que falar com Ino sempre lhe trazia um certo conforto no peito.

X

O silêncio entre eles pairou de maneira absoluta depois que Hinata havia ido embora. Shino parecia ignorar completamente a existência de Kiba e fazia o possível para parecer desagradável enquanto esperava o tempo passar.

De fato, esperar era a única coisa que podia fazer.

Levou uma das mãos ao pescoço, sentindo a gola desajeitada e a puxou mais para cima. Sentindo coçar as marcas das cicatrizes como se ainda fossem recentes. Mas a dor fantasma às vezes o acompanhava, o que era deveras estranho. Mas, segundo o psicólogo com quem tinha horário todas às quintas-feiras, isso era completamente normal.

Exceto que ele não sentia que fosse.

− Vai ficar calado o tempo inteiro? – Kiba finalmente perguntou em voz baixa para não serem repreendidos uma terceira vez na biblioteca.

− Se me impedir de ouvir a sua voz irritante o tempo inteiro, sim. – rebateu de maneira amarga.

Kiba deixou uma risada seca escapar de seus lábios, abafada.

− Faz sempre o possível para ser desagradável assim? – Foi uma pergunta retórica, tendo em vista que se levantou e estendeu a mão para tocar o ombro de Shino. Naquele momento, sentiu o tapa na própria mão e Aburame encolheu-se como se o tapa tivesse sido nele próprio.

Não me toque.

Os olhos de Kiba se arregalaram em surpresa e mágoa. Como podia alguém agir dessa maneira? Talvez naquele momento, Kiba não tivesse notado, mas algum tempo depois, quando essa lembrança o assombrasse, ele teria certeza de que as expressões corporais de Shino indicavam pavor.

− Vamos. A sua terapia em grupo já vai começar.

Shino nada disse. Apenas esticando a bengala para frente. E, mesmo a contragosto, sendo guiado por Kiba segurando em seu braço durante o caminho.

X

Havia uma sala que se parecia muito com um auditório onde, todas as terças-feiras, religiosamente, havia o encontro em grupo com vítimas e parentes do atentado terrorista. Muitas pessoas ali haviam perdido alguém importante ou algo. E costumavam compartilhar entre si um pouco desse sofrimento, de maneira solidária.

Mas algumas pessoas simplesmente se recusavam a falar. Como Shino e Gaara, que eram mais fechados.

O grupo era liderado por Umino Iruka, uma pessoa empática que despertava em todos um sentimento bom no peito por conta de sua amabilidade e gentileza. Era por isso que, naquele dia, Konohomaru havia decidido se abrir.

Não era fácil, é claro, sobretudo porque ele fora muito resistente a entrar no grupo que havia sido formado há apenas seis meses. Mas por insistência de Hanabi, que lhe acompanhava às reuniões, havia passado a frequentá-lo. E precisava admitir que, apesar de sentir-se um pouco incomodado a princípio e a despeito de ainda ter os próprios pesadelos sobre o fato ocorrido, aquilo ajudava. E muito.

Aqueles que chegaram antes, passaram a organizar a cadeiras em forma de círculo, da maneira que Iruka gostava de dispô-los.

Assim que Gaara adentrou o recinto, Lee acenou de maneira energética para ele, ficando ao seu lado.

− Yo! – Abriu um largo sorriso para o novo amigo. Notando então sua aparência diferenciada. Vestindo um sobretudo de tom vinho por cima de uma camisa preta lisa e calças de brim de tom creme, com sapatos pretos. Mas o que mais havia lhe surpreendido era o penteado liso, muito semelhante ao seu. – Ficou muito bem em você!

Gaara sentiu as orelhas queimarem.

− Obrigado. – murmurou, incerto sobre o que dizer. Afinal, Lee vestia um spandex verde com polainas e, bem, não sabia o que pensar além de que ele tinha senso zero de moda. – Você está... bastante maduro.

Bastante maduro, Gaara, meus parabéns.

Deu-se um tapa mental por isso, mas Lee apenas gargalhou chamando atenção para si.

− Você é hilário, Gaara-san! – Deu-lhe um tapinha breve no ombro, secando as lágrimas dos cantos dos olhos.

− Ninguém nunca me deu um elogio desses. – Coçou a bochecha de leve.

− Você é. – Sorriu de maneira tranquila ao notar Shino entrando acompanhado de alguém desconhecido. Seria seu novo acompanhante? Lee apenas cumprimentou Kiba com a cabeça. Gaara notou também. – É o terceiro acompanhante dele em menos de um mês.

− Sim. – Gaara não sabia muito o que pensar além do que já havia ouvido sobre Shino. Mas ele parecia uma pessoa bastante difícil de lidar, embora Gaara achasse justificável por tudo o que havia acontecido a ele. Parecia simplesmente... injusto.

Mas não havia sido com todos eles também?

− Espero que ele consiga superar isso. Que todos consigam um dia. – O sorriso de Lee era bonito. Mesmo por trás daquele traje esportivo ridículo, tinha um sorriso bonito. E até mesmo as feições e os grandes olhos negros como pedras de carvão eram bonitos também. Gaara se pegou pensando que, de sua maneira peculiar, Lee era bonito com os músculos bem torneados dos braços queimados de sol. E tinha um coração lindo. Talvez o mais lindo que jamais houvesse conhecido antes. Pois quem mais se importava com estranhos assim?

− Eu também espero. – Falava mais de si próprio do que dos outros. Mas a culpa que carregava o consumia por dentro e levava embora seu sono e até mesmo a vontade de viver.

Shino e Kiba instalaram-se no semicírculo até que o mesmo estivesse completamente fechado. Kiba ainda ligeiramente incomodado com a atitude do outro rapaz que não parecia muito mais velho que ele. Olhando-o a todo momento de esguelha. Como se quisesse desvendar em quê ele pensava.

− Prontos para começar? – O sorriso acalentador de Iruka tomou o ambiente. – Dêem as mãos.

Shino estendeu a mão para Kiba. Por um momento, Inuzuka apenas encarou-o, sem saber ao certo se deveria aceitá-la ou não, mas optando por fazê-lo. A mão dele era macia, de dedos longos e pálidos. As unhas, embora ele fosse cego, eram bem feitas e cobertas por base. Não o tomara por vaidoso tendo em vista como se vestia, mas...

Uma breve oração foi feita. Pedindo por iluminação e por ajuda. Kiba pegou-se imaginando quantas pessoas ali, de fato, acreditariam nisso. E pensou em sua própria irmã, e no sorriso dela. Sentindo a garganta fechar. Tendo que morder o lábio inferior para segurar a dor que aplacava seu peito no momento em que as imagens inundaram sua mente. Do último sorriso de Hana. E de como havia sido assassinada.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal, como estão? Espero que bem. Pra falar a verdade, estou bastante animada com essa fic. Tem tempo que não me sinto assim com algo que escrevo e tem sido bastante satisfatório!

Nesse capítulo, temos a introdução de um dos ships citados, GaaLee, e um pouco mais sobre a interação ShinoKiba, além do personagem Konohomaru. E então, o que estão achando até então?

Dúvidas? Críticas? Sugestões? Gosto de ouvir a voz dos leitores.

Espero vocês no próximo capítulo!



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