A luz do teu olhar escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 3
Uma tarefa especial


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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− Aqui, cada um de nós é responsável por um setor, Kiba-kun. – Hinata havia sido chamada pela recepcionista a pedido de Kiba assim que ele chegou ao local, pois constava em sua ficha que ela era a responsável por ele.

Embora achasse que seria julgado pela bela moça loira da recepção, tudo o que Kiba recebeu dela foi um sorriso cúmplice que dizia: ‘ei, não te julgo! Eu também já estive do lado errado da vida!’.

E logo soube que seriam amigos, ele e a tal Yamanaka Ino. Não se esqueceria seu nome. Tampouco o sorriso lindo que lhe atribuiu.

Tenho certeza que irá gostar daqui. Kiba, não é? Me procure se precisar de algo!

− E qual o seu cargo, Hina-chan? – perguntou, olhando tudo ao redor. A estrutura do lugar era simplesmente fantástica! Com uma arquitetura moderna e trabalhado com madeira – o carro forte da construtora Senju – na maior parte da construção, a construção não deixava a desejar em nenhum aspecto.

Parecia-se com aquelas casas do futuro que resgatavam um pouco as origens arquitetônicas nipônicas das casas antigas, com grandes janelas que permitiam uma boa iluminação do local, além de contar com painéis solares e fontes de energia eólica, visto que Rasa era o responsável pelos setores de energia autossustentável de Konoha, o que tornara a cidade uma das únicas que trabalhava unicamente com energia limpa em todo o País do Fogo.

E, para coroar, contavam com equipamentos médicos de excelentíssima qualidade, cortesia da Hyuuga Enterprises, comandada por Hiashi, uma grande fábrica que era especialista em produtos médicos, além de Hiashi estar à frente como dono do Hospital de Konoha, agora filiado com o centro Mokuton.

− Sou fisioterapeuta. – disse, com um sorriso no rosto. Quando Kiba havia sido preso, ela ainda estava concluindo o curso! – E também coordeno a equipe médica daqui como responsável técnica. Mas trabalhamos todos em conjunto para oferecer o melhor atendimento às pessoas que chegam aqui.

Kiba ficou fascinado quando passaram pela ala da fisioterapia. Contava com banheiras de hidromassagem, piscina, uma academia com todos os tipos de aparelho tanto para fortalecimento dos músculos quanto para recuperação.

Estavam atravessando o setor da fisioterapia quando um dos pacientes acenou para Hinata de maneira bastante vigorosa. Ela acenou de volta com um sorriso e outro rapaz de aparência muito semelhante ao homem de spandex verde que estava na cadeira de rodas o empurrou até que se aproximasse de Hinata.

− Hinata-chan! Como anda o seu fogo da juventude hoje? – O homem sorriu de maneira energética. Kiba ficou surpreso que alguém em uma cadeira de rodas demonstrasse tanto vigor assim. – E quem é esse? Namorado novo? E o Naruto-kun?

− POBRE NARUTO! SENDO DEIXADO PARA TRÁS! – O rapaz de pé escondeu o rosto em um dos braços. Chorando.

Hinata, que até então não havia tido tempo para falar nada, escondeu-se por trás da prancheta, corada até a raiz dos cabelos de tom preto azulado.

− G-Gai-kun! Lee-kun! Já falei para pararem com isso! – exclamou baixinho, olhando para os lados. – Naruto-kun e eu não somos namorados.

Mas à essa altura, Kiba, que não era bobo nem nada, tinha o maior sorriso safado do mundo. Passando um dos braços ao redor dos ombros da amiga. Pois conhecia Naruto, era seu melhor amigo. E sempre soube que Hinata, desde os tempos do colégio, havia tido uma quedinha pelo loiro hiperativo. Só não sabia que isso se arrastava até os dias de hoje!

− Então você e o Naruto, ein? – questionou ele, com um sorriso enorme e cheio de dentes. – Eu sempre soube! O que falta praquele descompensado te chamar pra sair?

− K-K-Kiba-kun! Eu e o Naruto-kun somos apenas...

− O que, Hinata-chan? – O assunto em questão apareceu como num passe de mágica. Se Hinata antes estava corada, agora parecia roxa de vergonha! Kiba achou que a amiga fosse desmaiar! – Já está na hora da nossa sessão? O-oe! Kiba!

− Yo! – Acenou para o amigo. Somente naquele momento notando a ausência do braço protético que ele costumava usar. – Onde está a prótese?

Uzumaki Naruto era bombeiro na brigada de Konoha desde os 18 anos, quando havia passado na prova de proficiência. Embora Kiba quisesse ter seguido carreira ao lado do melhor amigo, faltou-lhe um pouco de disciplina para tanto. Fato é que, embora Naruto não fosse nem um pouquinho disciplinado fora do trabalho, havia surpreendido a todos demonstrando garra e argúcia em sua profissão.

A coragem estava em suas veias, pois o pai, Namikaze Minato, fora condecorado como um dos maiores bombeiros de Konoha. Hoje ele era Capitão da brigada de Konoha onde Naruto costumava atuar antes do fatídico incidente que lhe custara um braço.

− Está em avaliação. – Naruto coçou a nuca. – Estava apertando demais e Hinata-chan achou melhor eu passar por uma consulta para averiguar. Então retiramos ela. Para tentar adaptar para uma melhor. Talvez assim eu possa voltar a atuar na brigada além de ser instrutor.

Kiba, que não estava por perto no dia do acidente, apenas ouvira falar por alto. Naruto havia salvado o namorado da irmã mais nova de Hinata de um incêndio. E perdera o braço na tentativa de salvar seus pais, ao que o garoto implorara por isso. Fora em vão. Os dois haviam morrido no incidente. E Naruto havia perdido o braço direito.

Desde então, a vida era um reaprendizado, já que costumava ser destro e agora acostumava-se com o braço inábil.

− Entendo. – Encolheu os ombros. – Acho que posso ver o resto sozinho, Hinata-chan. Você parece ter muito o que fazer por aqui. – Sorriu de maneira maliciosa.

− É, nós também já vamos indo! – Gai acenou. – Acendam o fogo da juventude de vocês, Yosh? Lee! Prepare-se para apostar corrida com seu pai!

− OSS! – Lee respondeu de maneira energética. Kiba achou engraçado que os dois utilizassem spandex e o mesmo penteado ridículo em forma de tigela. Mas eram boas pessoas e pareciam felizes apesar de tudo. Ele esperava poder recuperar aquela felicidade também. Junto com os anos perdidos.

Não pense nisso.

Sua mente adorava lhe pregar peças. Mas apenas respirou fundo, vendo enquanto Lee corria, sendo seguido pelo pai na cadeira de rodas, o tal Gai, que não ficava pra trás.

− Esses dois são cheios de energia, ‘te bayo! – Naruto abriu um largo sorriso, observando as costas de ambos. Lee, que havia perdido a corrida, plantava bananeiras e andava com as mãos. Naruto sentiu uma pontadinha de inveja que não escapou ao olhar do melhor amigo. Era uma inveja saudosa. De quem queria poder fazer o mesmo.

− S-sim. – Hinata gaguejou, apertando a bandeja contra o peito. – J-já passou em sua consulta médica?

Naruto negou com a cabeça.

− Sakura-chan ficou de me chamar. Estou indo para lá agora. – Mostrou a ficha de identificação. – Nos vemos mais tarde, Hinata-chan?

Ela acenou com a cabeça. Ao que Naruto deu-lhe um beijo estalado na bochecha e fez um cumprimento complicado com o punho esquerdo batendo contra o de Kiba.

− Continua sendo o sabichão que não esquece de nada? – Naruto perguntou, indiferente ao fato de que Hinata praticamente tinha fumaça saindo das orelhas de tão corada que estava!

− Sacomé! Algumas coisas não mudam! – Kiba gargalhou.

− Precisamos colocar a conversa em dia. – Naruto disse. – Que tal sairmos juntos aqui do centro? Vou te esperar na entrada no final da minha consulta. Está aqui pro trabalho voluntário, não é?

− Hai, hai. Hina-chan vai me mostrar o que tenho que fazer. – Kiba encolheu os ombros, tentando inteirar a amiga que parecia uma estátua ao seu lado. – Nos vemos depois?

− Sim. Tchau, Hina-chan. – Copiou o apelido de Kiba, piscando para ela e caminhou na direção da ala médica.

Kiba acenou com uma das mãos na frente do rosto de Hinata. Mas ela parecia apenas ter olhos para as costas de Naruto. O que o fez rir. Era bom estar entre amigos novamente.

X

Hinata levou Kiba até o refeitório, apresentando-lhe o local onde faria suas refeições.

− Basta que você venha aqui todos os dias com seu cartão de voluntário e insira ele para passar na catraca. – Hinata apontou o sistema de identificação. – Todos os voluntários têm direito a refeições aqui. E a maior parte do pessoal que faz o tratamento também tem suas refeições inclusas. – Hinata sorriu.

− Wooh, isso é incrível! Pena que eu nunca fui muito bom na cozinha! Mas posso ajudar a descascar batatas! Tá aí algo que eu aprendi muito bem na prisão! – Kiba deixou uma gargalhada sonora ecoar, recebendo alguns olhares por chamar tanta atenção. Mas Hinata apenas sorriu para o amigo de maneira complacente, lembrando-se do desastre que ele sempre havia sido quando a matéria era culinária.

− Sei bem disso, Kiba-kun. Me lembre de nunca mais te deixar responsável por fazer a pipoca na noite dos filmes.

À mera lembrança de que quase havia explodido uma das panelas na casa de Hinata ao tentar fazer pipoca por conta própria, Kiba sentiu as bochechas se aquecerem e coçou a nuca.

Terminaram tomando um suco juntos, e Kiba reparou que havia todo um cardápio desenvolvido especialmente por nutricionistas ali. Saíram caminhando pelo centro, passando pela ala médica onde Kiba observou uma mulher de cabelos róseos que tratava um paciente de cabelos plantinados arrepiados que usava uma máscara sobre o rosto.

Seus olhos percorreram rapidamente o nome na porta da sala: Haruno Sakura, oftalmologista. Mas o que lhe chamou atenção foi a placa da sala ao lado com uma placa ladeada por flores: Yamanaka Ino, massagista.

− Ino? Yamanaka Ino? A recepcionista? – Kiba arqueou as sobrancelhas, surpreso.

− Oh, é verdade. Você conheceu Ino-chan, não é mesmo? – Hinata jogou fora o copo ao terminar o próprio suco. – Ela é nossa massagista, trabalha em conjunto comigo na recuperação dos enfermos na parte ortopédica.  E, claro, por conta de sua grande facilidade com comunicação, ela também gosta de ficar na recepção. Na verdade, cada um de nós faz um pouco para ajudar aqui.

Kiba havia notado isso. As pessoas pareciam simplesmente felizes em ajudar umas às outras. E isso era algo que lhe causava uma boa sensação. Uma sensação que não sentia desde que sua vida fora tirada de si junto com a morte da irmã. Mas não queria pensar nisso agora.

− E o que eu vou fazer, Hina-chan? – perguntou, animado para começar a fazer parte daquilo. Integrar-se novamente à sociedade. Sabia que não seria fácil, é claro, pois uma vez que sua ficha estava manchada como um criminoso, todas as portas para ele seriam mais difíceis.

Ela pareceu contemplativa por um momento, quase como se não tivesse pensado nisso até então. Mas Kiba sabia que ela não era assim.

− Existem inúmeras funções que você pode fazer aqui, Kiba-kun, inclusive trabalhar com as crianças do orfanato. Muitas perderam os pais. A terapia é algo que ajuda bastante. – Ela encolheu os ombros. – Mas eu queria delegar a você uma tarefa especial.

Kiba inclinou o rosto para o lado, encarando-a enquanto caminhavam pelos corredores.

− Uma tarefa especial?

− Sim.

Era um pouco difícil falar sobre isso, mas haviam casos que não progrediam nem mesmo com o tempo. E Hinata considerava aquele um deles.

− Para falar a verdade, estamos precisando de uma mão na biblioteca também. Para catalogar os livros que recebemos de doações de editoras ou até mesmo de pessoas que não os usam mais. Sei que pode parecer um trabalho chato, mas ele tem um propósito também.

“Acontece que existem pessoas mais reclusas, mesmo dentre aquelas que estão passando pelo processo de recuperação. E algumas delas não permitem aproximação nenhuma. Este caso, em especial, recusa-se a falar com nossos psicólogos, e não fez muitos progressos com os médicos também. Embora sua saúde esteja, atualmente, indo de vento em popa. Se é que posso falar assim. Mas não conseguimos abrir brechas em suas barreiras. Ele se recusa a aceitar ajuda, mas ao mesmo tempo acredito que quer ser ajudado ou simplesmente pararia de vir aqui. E todos os dias, ele fica recluso na biblioteca, apenas sentado em um canto, quieto. Calado. Todas as tentativas de aproximar-se dele foram um fracasso. E embora eu ache que ele quer seguir em frente, algo o impede.”

Pararam diante da porta da biblioteca naquele momento e Hinata o olhou nos olhos, séria. Havia algo por trás daqueles olhos perolados que Kiba sempre achou bonito. Uma peculiaridade de todos os membros da família Hyuuga.

− Devo alertar que muitas vezes o comportamento dele pode ser um pouco grosseiro com quem tenta aproximar-se. – Hinata disse, a mão repousada na maçaneta. – Mas tenha paciência, Kiba-kun. Como nós, ele perdeu algo precioso por causa do ataque terrorista.

− Não se preocupe com isso, Hina-chan! Vai ficar tudo bem! Afinal, ninguém pode ser tão ruim assim! – Kiba impulsionou a porta para frente, o rangido das dobradiças fazendo com que a cabeça de todos os presentes na biblioteca olhassem naquela direção.

 Kiba encolheu um pouco os ombros, desculpando-se e recebendo vários shh! em resposta.

Foi naquele momento, enquanto esquadrinhava o local, guardando-o em seu extenso arquivo de memórias, que o viu. Soube imediatamente que ele era a pessoa de quem Hinata falava pois estava em um canto mais afastado, o olhar oculto por trás de lentes escuras e um casaco de mangas longas e gola alta embora fosse verão em Konoha. Soube, pela bengala que viu repousada ao seu lado, o que aquele homem havia perdido no ataque e um frio percorreu-lhe a espinha, como se ele o enxergasse mesmo a despeito de sua cegueira. E embora não tivessem trocado sequer uma única palavra, Kiba sabia que teria grandes problemas a partir daquele momento.


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Notas finais do capítulo

O primeiro encontro dos nossos meninos e as coisas parecem que já não vão bem! Pois é, aqui temos um Shino que nunca conviveu com Kiba, sempre recluso e sem muitos amigos, que perdeu a visão após uma vida inteira enxergando. Não deve ser nada fácil lidar com essas coisas, fora os outros dramas que tem por trás da história. E do outro lado temos Kiba, querendo se integrar novamente.

Além disso, o que acharam dos dramas secundários? Lee e Gai de spandex com o fogo da juventude queimando! Shippando NaruHina! Acho muito válido. E Kiba, como maior NaruHina shipper do canon não podia ficar de fora! Ino como uma pessoa extremamente comunicativa é algo que eu adoro fazer. Então quis colocar ela na recepção e ajudando Hinata como massagista, que é a carreira que ela decidiu seguir aqui na fic!

Ainda falta muitos personagens aparecer, mas como vocês puderam notar, há uma gama muito grande deles para serem exploradas. Vamos ver se os próximos capítulos mantém esse tamanho ou se vamos aumenta-los um pouco.

Nos vemos no próximo! Até lá!



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