A luz do teu olhar escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 2
O primeiro passo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O centro de reabilitação Mokuton havia sido fundado há mais ou menos 2 anos e meio após um grave incidente terrorista que levou consigo um quinto da população de Konoha. Nunca antes fora visto um ataque com uma devastação tão grande em todo o mundo.

A organização que se autodenominava Lua Vermelha—Akatsuki—era comandada pelo cabeça que se intitulava Pain. E dizia que, através da dor, ele libertaria o mundo de toda a imundície que havia se instalado nele.

Mas até que ponto libertar o mundo com o que chamavam de arte explosiva fazia sentido, disso não tinham ideia.

Com tantas baixas, três dos homens mais ricos da cidade, também afetados pelo incidente, se reuniram para criar aquele centro de reabilitação para os sobreviventes. O incidente que se tratara de bombas espalhadas por toda a cidade nos centros mais movimentados havia sido uma verdadeira carnificina.

Foram ao todo contadas 48 bombas, nas quais 23 foram encontradas e eficientemente desarmadas pelo esquadrão anti-bombas da ANBU, a força-tarefa especial da cidade.

Onde a Akatsuki havia conseguido todo aquele arsenal, eles nunca souberam. Pois depois daquele ataque, onde o membro responsável pelas explosões havia se matado dentro de um shopping cheio de gente, abraçado com a mulher de Sabaku no Rasa, e transmitindo para toda a cidade, todos eles haviam desaparecido.

Sim. Rasa ainda se lembrava da dor de ter aquilo televisionado. De ver a esposa dizendo aos filhos e a ele através da transmissão, o quanto os amava. O negociador à frente de tudo, Uchiha Itachi, não foi capaz de parar o jovem e insano Deidara, que se explodiu deixando sua própria mensagem: A arte é um estouro.

Derrubar a transmissão havia sido difícil, pois o hacker deles era excepcional. Mas Shikamaru era o melhor agente fora de campo que eles possuíam. E conseguiram evitar que o pior viesse ao ar: o ato da explosão.

Mas infelizmente Gaara, o filho mais novo de Rasa e Karura, estava presente no momento da explosão. Não conseguindo salvar a mãe. E martirizando-se todos os dias por isso.

A esposa de Hiashi, que era enfermeira no hospital de Konoha, estava ajudando a transportar as crianças quando foi pega por uma das explosões. Os escombros a soterraram viva. Quando acharam seu corpo, apenas dois dias depois, já era tarde demais.

E para Hashirama, a perda lastimável havia sido a do irmão, Senju Tobirama, que dirigia no momento da uma das explosões. Seu corpo sequer pôde ser recuperado, pois a explosão do carro havia consumido tudo. Melhor assim, Hashirama gostava de pensar. Ao menos não havia sentido dor.

Unidos pela tragédia, os três fizeram a doação de metade de seus patrimônios com o intuito de fundar o maior centro de reabilitação existente em todo o mundo. Contratando profissionais, angariando uma escola. A cidade havia sofrido perdas inestimáveis, e reerguer-se em tempos tão difíceis para a economia havia sido difícil.

Mas os cidadãos de Konoha eram unidos, e com a ajuda de cada membro da sociedade, o centro de reabilitação tornou-se não apenas um símbolo de esperança, mas o patrimônio que ajudou a reerguer a cidade, estruturando-a com empregos, sobretudo para os jovens que saíam recém-formados da faculdade e procuravam uma chance no mercado de trabalho.

A empresa de Hashirama ficara à frente da reconstrução da maior parte dos prédios destruídos da cidade. O Estado havia liberado fundos e mesmo países distantes foram solidários com a Nação do Fogo, unindo-se em prol de ajudar as vítimas daquele trágico incidente.

A Akatsuki era, afinal, uma organização procurada em todo o mundo. E saber que o atentado havia atingido a maior capital da Nação do Fogo certamente abalara os interesses internacionais.

Todos os dias, quando se lembrava daquilo, solitário em sua sala no gabinete da prefeitura, Rasa sentia-se culpado. Como se tivesse falhado por completo com aquela cidade. Sendo incapaz de prever tamanho desastre bem embaixo de seu nariz. Aquilo não lhe custara apenas a vida de milhares de cidadãos konohenses, mas também a de sua preciosa esposa.

E não importava o que fizesse em prol da recuperação da cidade, aquela ferida estaria para sempre aberta em seu peito. E seu coração sangraria para sempre. Até que parasse de bater.

X

Era isso. Aquele era o seu primeiro dia ali. O marco zero de sua vida depois de tudo o que havia acontecido. Dois anos e meio haviam se passado desde então. Isso contabilizava um total de 885 dias e 21.240 horas. A prisão havia lhe dado certos hábitos, como contar os dias e as horas, coisa que não conseguira abandonar. Como certos pensamentos que o assombravam em pesadelos horríveis.

O rosto da irmã sorrindo-lhe, pedindo para que ficasse escondido. Aquele homem puxando-a pelas pernas enquanto Kiba não conseguia se mover. Fruto da perna lesionada enquanto tentara fugir de uma das explosões. E o desnorteamento. Horrível. Mas não o suficiente para apagar de sua mente o rosto do homem que havia sido responsável por tirar de Hana sua vida.

E Kiba nunca se esqueceria de como olhara nos olhos dele. De como parecera vazio e sem sentimentos. Assentimental.

Quando viu Kiba, o garoto conseguiu escapar. Protegido pelos céus por mais uma explosão. E então foi encontrado por um membro da força-tarefa ANBU que o ajudou a ficar em segurança.

Ele sabia que Hana estava morta. Mesmo assim, implorou que o homem voltasse por ela. Mas era impossível. O rosto daquele o homem o assombraria por dias a fio depois disso e não bastaria, pois aquele terror se tornaria seu pior pesadelo vivo ao acusar de crimes que não cometera para colocá-lo na prisão.

Mas seu bom comportamento e o fato de sempre lecionar aos outros presos ensinando-os a ler e incentivando-os a se reeducar o tornaram um prisioneiro modelo, sendo solto sob a promessa de cumprir seis meses de serviços comunitários no Centro de Reabilitação Mokuton.

Kiba, que até então apenas ouvira falar a respeito, sentia-se animado para dar um novo sentido à sua vida. Afinal, não seria nada fácil conseguir um emprego agora que era fichado. Mas estava esperançoso já que Naruto, melhor amigo desde os tempos do colégio e Hinata, amiga de longa data, estavam ali. O primeiro, que sempre o visitava, como paciente. E Hinata era filha de um dos fundadores e fisioterapeuta responsável pelos pacientes do local.

Kiba nunca poderia ser grato o bastante, pois fora com a ajuda da amiga que havia conseguido ter um advogado decente para ter a tão sonhada liberdade, ainda que tivesse que pagar seis meses de auxílio no centro comunitário. Mas não se importava com isso. Na verdade, seria bom ter algo para ocupar a cabeça depois de tudo. Havia se mudado na noite anterior de volta para a casa da mãe. Sendo recebido por seu abraço caloroso e ausência dolorosa da irmã mais velha. Tsume nunca acreditara, por nenhum instante sequer, que Kiba era culpado. Mas não nadava em dinheiro para pagar-lhe um bom advogado. Sentindo-se culpada em aceitar a ajuda de Hinata. Pois o orgulho ferrenho não permitia.

No entanto, era de seu filho caçula que estavam falando. Agora único filho. E embora a inocência a respeito dos crimes que fora acusado não tivesse sido comprovada, saber que ele estava livre, mesmo tendo que cumprir trabalhos comunitários, enchia Tsume de alívio.

Mas voltar para casa havia sido um tormento sem fim. Com imagens de Hana presas em todo lugar. Com seu quarto intocado como se fosse um santuário. Kiba sentia-se atordoado, sufocado. E ver que a mãe não conseguira seguir em frente era algo doloroso. Mas não era como se ele estivesse muito melhor, pois graças à condição de hipertimesia que possuía, tinha uma supermemória que não permitia que se esquecesse de nada. Mas as lembranças ruins eram sempre as piores.

Voltavam para assombrá-lo como os fantasmas do natal passado dos filmes que costumava ver com Hana. À simples lembrança, sentiu um aperto no peito. Não queria nunca esquecer-se da irmã, mas relembrar do incidente fatal que ceifara sua vida porque alguém julgara-se deus a ponto de interrompê-la lhe causava uma sensação deveras ruim.

Como se prensassem seu coração contra o peito, deixando-o em frangalhos.

Fechou os olhos por um momento, sentindo as imagens em flashes em sua cabeça. Abriu e fechou os punhos, fazendo o exercício de respiração que o psicólogo da prisão havia lhe ensinado.

Afaste as coisas ruins da cabeça. Foque-se nas coisas boas ao redor.

O cheiro da madeira ao redor. Das folhas molhadas e das cerejeiras. O barulho dos passos e dos burburinhos da multidão. O cheiro de biscoitos recém-assados. Os gritos de crianças animadas.

Kiba abriu os olhos. Pronto para dar seu primeiro passo na direção do futuro.

X

Estava em silêncio em seus aposentos quando viu alguém bater. Pain sabia que poucas pessoas ousavam a adentrar em seus aposentos sem que desse ordens, mas não foi surpresa nenhuma ver Konan ali. A mulher com os cabelos tingidos de azulado e o olhar mais vazio que ele conhecia fez um meneio de cabeça, meramente cumprimentando-o.

− Diga. – Foi direto ao ponto, como sempre. Estava deitado na cama, jogando para o alto uma daquelas bolinhas anti-stress, parecendo bastante pensativo. Konan o analisou por um momento, ponderando suas palavras e sopesando-as. Mas conhecia Pain há tempo o suficiente para saber que não deveria esconder as coisas dele.

− Nosso infiltrado na prisão disse que o garoto Inuzuka foi liberado. – revelou sem rodeios. – Por bom comportamento. Embora o advogado dele pareça estar trabalhando no caso para livrá-lo por completo das acusações. Ao que parece, está em condicional prestando serviços comunitários.

Pain ficou em silêncio por um momento. Apertando a bolinha quando agarrou-a no ar. Konan sabia que esse era o jeito dele refletir. Olhou para cada um dos piercings em seu rosto, a maneira analítica de seu olhar. E desejou que tudo fosse como antes. Mas ela sabia que jamais seria.

− Devo colocar alguém atrás dele? – Sabendo que as engrenagens do cérebro de Pain ainda trabalhavam, resolveu se manifestar.

− Não. – Pain respondeu, sentando-se na cama e tocando os pés sobre o chão frio do quarto. – Eu resolverei isso.

Konan arqueou as sobrancelhas. Quem era Inuzuka Kiba para atrair tanto assim a atenção do líder da Akatsuki?


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Notas finais do capítulo

Para o primeiro capítulo, uma pequena introdução sobre o atentado terrorista e sobre um dos nossos protagonistas! Ainda não sei qual será a média de tamanho dos capítulos dessa fic. Por ser uma multiship, ela tendenciará a ter capítulos maiores do que este e do que o prólogo, com uma média provável de 2500 a 3000 palavras. Mas vamos ver como isso se desenvolve. Como Kiba ainda estava chegando ao centro de reabilitação, não quis entrar com foco nos outros por enquanto. Mas no próximo capítulo, teremos mais aparições.

Sobre a condição que o Kiba possui de nunca esquecer-se de nada, é nomeada de hipertimesia, ou Síndrome da Supermemória. Em geral, a pessoa passa uma quantidade excessiva de tempo pensando sobre o passado, e exibindo uma extraordinária capacidade de recordar eventos específicos do mesmo. E isso vai ser bem abordado aqui.

E aí, o que acharam?



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