À Espreita escrita por EsterNW, Entusiasta


Capítulo 4
Obsessão


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Tan dan dan dan ~le guitar riff
Hallo hallo, meu povo! Tudo bem com vocês? Sentiram saudades da gente (ah, mas foi só uma semana)? Sentiram saudades de jovem Heitor e companhia? Então vamos lá, com mais um cap cheio de tensão de... À Espreita.
Boa leitura ;)
Ps: Hoje temos esse humilde aesthetic que fiz pra história :3
Entusiasta:
Oi gente, tudo bom? Enfrentamos problemas técnicos (eu esqueci), por isso o pequeno atraso. Esse é um dos meus capítulos favoritos, aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759382/chapter/4

— Trinta segundos pra voltar ao ar, Heitor. — Fui avisado e mexi na minha gravata, tentando deixá-la mais impecável. Aquilo parecia estar me sufocando aos poucos…

A equipe me deu o sinal e finalmente voltamos do comercial.

— Estamos de volta com o Cidade do Povo. — Sorri para a câmera, ficando sério logo em seguida, me preparando para mais uma notícia ruim. — Denúncia. — Virei para a outra câmera. — Mãe foge com criança da cidade Colina dos Hibiscos. A jovem é acusada de sequestro e cárcere privado, segundo familiares e conhecidos. Põe no ar, Cláudio.

E fiquei quieto enquanto a reportagem era posta no ar para os espectadores. Uma moça, Natalie Veiga, de expressão apática, com cabelos castanhos claros e olhos escuros, apareceu na foto junto de uma criança de cerca de seis anos. O garoto sorria feliz, olhando para a mãe com os mesmos olhos escuros. O rosto parecia-me familiar, porém, os traços eram comuns. Associei a sensação de dejá-vu a isso.

A jovem mãe, acusada pelos familiares de manter a criança em cárcere privado, devido obsessões paranoicas, causadas por um provável distúrbio psicológico, fugiu com o infanto, ao saber que, em breve, iria para uma clínica psiquiátrica, tratar de seu possível transtorno.

Nada de muito surpreendente, ao menos para mim, acostumado a lidar com notícias do gênero todos os dias.

— Segundo autoridades… — Suspirei e continuei com a notícia, assim que a reportagem acabou e o foco voltou para o estúdio.

Afrouxei a gravata, finalmente me sentindo mais livre para respirar e sem aquela sensação quase asfixiante de antes. Despedi-me dos funcionários, bati meu ponto e caminhei até o estacionamento da emissora.

Céus, aquela semana estava realmente estressante. Apesar de não trabalhar tanto nas ruas, ser apresentador não deixava de ser uma tarefa desgastante da mesma forma. Ficar por dentro das notícias para o programa, ler a pauta, gravar, ser reconhecido nas ruas… Pensando nisso, abri a porta e entrei no carro, pegando meu celular em seguida. Apenas uma mensagem de Tárcio e outra de minha mãe, falando sobre o programa do dia. Nada de Camila.

Suspirei — sabe-se lá quantas vezes eu já havia feito isso naquele dia — fechei a porta do carro e o liguei, indo calmamente para casa.

Desde o incidente com meu fã na loja de tintas, Camila tornou-se ainda mais reclusa nas duas semanas que se passaram. Apenas duas vezes ela saiu para vender seus quadros.

Por algum motivo que desconheço, ela parou de sair para trabalhar havia uma semana. Isso estava se tornando cada vez mais preocupante.

Pensava em algo para fazer com que ela saísse de casa. Um lugar sossegado, sem muitas pessoas… Parei no semáforo, esperando os pedestres atravessarem. Apoiei o braço na lateral do carro e olhei para fora. Acho que encontrei um bom local para chamá-la…

...

— Eu estou te dizendo, é um lugar ótimo! Tenho certeza que você vai conseguir muita inspiração por lá. — Camila continuou me olhando de forma incerta. Após, voltou o olhar para fora e se calou.

Depois de muito insistir, finalmente a convenci a sair de casa. Fui até meu apartamento, almocei, e comecei então o meu difícil trabalho de fazê-la sair pelo menos um pouco. Só faria bem a ela sair para tomar um pouco de sol e ar fresco.

— Você precisa de um pouco de vitamina D, querida. — Camila me lançou seu olhar de “é mesmo?”. Repreendi-me mentalmente. — Digo isso porque faz bem. Até mesmo eu preciso de vitamina D.

— Já tomo sol em casa. Não vejo porque sair de casa para tomar vitamina D. — Continuou apática, olhando para fora com a cabeça sobre o braço, que estava apoiado na lateral do carro.

— Vamos, querida, tenho certeza que isso vai te fazer bem. É um lugar lindo. — Camila apenas bufou de leve em resposta, se mantendo calada pelo resto do curto trajeto. O único som entre nós era do rádio, que tocava algum rock do momento. Camila cantarolava baixinho, distraída. Sorri, pois finalmente ela mostrava algum sinal fora daquela apatia.

Chegamos até o local e achei um lugar para estacionar o carro. Saímos e fui até o porta-malas, ajudando-a com seu material de pintura. Caminhamos lado a lado, até chegarmos em um quiosque à beira lago.

— Não é lindo? — Àquela hora o sol estava quase se pondo. Com certeza renderia um belo quadro. Camila sorriu mais em resposta. Fiquei feliz de finalmente vê-la animada novamente.

— Ali parece ser um bom lugar. — Apontou para uma das mesas mais próximas ao lago e fomos até lá.

Ajudei-a a montar seu equipamento. Feito isso, sentei-me na cadeira, estralando os dedos e alongando o pescoço, enquanto ela alternava o olhar entre a paisagem e as tintas que tinha. Escolheu as cores preta, laranja, azul, verde e vermelha.

— Acho que dessa vez vamos ter um quadro bem colorido, hein? — Ela apenas sorriu, terminando de colocar a tinta no godê. — Quer algo para beber? — Minha namorada negou e eu chamei a garçonete do local, pedindo um suco natural. A moça me reconheceu do Cidade do Povo e prometi a ela um autógrafo quando o pedido chegasse.

Em vez de puxar conversa com Camila, resolvi deixá-la pintar em paz e apenas hora observar a paisagem e hora jogar o game Snake II no meu celular.

— Seu suco, senhor. — A garçonete voltou e dei a ela meu autógrafo, junto do dinheiro do suco.

Comecei a beber o suco de fruta com o canudo, olhando o sol se por e pintar o céu com cores fortes. O reflexo batia sobre a água do lago, parada, sendo pintada com as cores daquele momento que só a natureza conseguia transmitir com tanta beleza. Ao redor, os grilos começavam a cantar e as escassas pessoas presentes paravam para admirar aquele breve momento, que logo terminaria.

— É lindo isso, não acha, querida? — Porém, Camila não respondeu. Olhei para ela e vi que o pincel em sua mão estrava trêmulo, mal conseguindo pintar uma linha reta. Sua respiração também parecia irregular e ela olhava fixamente para a tela, extremamente pálida. — O que foi? — questionei, me levantando e segurando sua mão. Ela estava fria.

— Heitor, me tira daqui, por favor — pediu com a voz vacilando e eu me coloquei em alerta. Comecei a guardar seu equipamento o mais rápido que conseguia e logo pegamos tudo, saindo de lá.

No meio do caminho, dei um esbarrão em um homem de preto. Pedi desculpas, porém ele me ignorou, indo embora. Camila praticamente correu até o carro, fechando a porta com força e refugiando-se no banco de trás, deixando suas coisas ali mesmo.

Guardei as coisas o mais rápido que podia e entrei no carro, colocando o cinto e dando partida.

— Quer que eu te leve para casa? — perguntei temeroso e Camila não disse nada. Escondia o rosto nas mãos, com a respiração ainda irregular e a ponto de chorar. — Eu vou te levar para minha casa, tudo bem? É melhor que você não fique sozinha nesse estado. — Ela assentiu, se encolhendo mais no banco.

Fui o mais rápido que podia e logo chegamos ao meu prédio. Ajudei Camila a sair e passei meu braço sobre seus ombros. Ela tremia e sua respiração estava acelerada. Parecia à beira de um ataque de pânico.

— Eu devo ter algum daqueles calmantes que eu usava para insônia, guardado em casa. Acho melhor que você tome um comprimido. Você parece...

Camila saiu do meu braço e entrou logo no elevador. Seus olhos percorriam todos os cantos, como um animal assustado e acuado. Chegamos ao meu andar e caminhei com ela até meu apartamento. Abri a porta e deixei que entrasse primeiro, acendendo a luz em seguida, dissipando a escuridão que começava a adensar conforme a noite iniciava.

Minha namorada se sentou no sofá da sala, colocando os cotovelos sobre os joelhos e escondendo o rosto nas mãos, ainda trêmula e nervosa. Fui até a cozinha e peguei o comprimido e o copo d’água. Com certa insistência, consegui com que ela tomasse.

Deixei o copo na pia e voltei até o sofá, abraçando-a.

— Está tudo bem, querida. Você está segura aqui. — Camila apenas assentiu com a cabeça e começou a murmurar para si mesma, tentando convencer-se que isso era verdade.

...

Já havia se passado cerca de uma hora e Camila adormeceu no sofá. Decidi ficar por lá, velando seu sono. A TV estava ligada, sendo o único ruído no ambiente. Estava no telejornal de início de noite, porém, decidi trocar de canal. Bastava de notícias ruins no meu programa, não precisava de mais. Coloquei num canal de música, deixando que aquela melodia que tocava se tornasse o som ambiente.

“Quando a luz começa a enfraquecer

Às vezes me sinto um pouco estranho

Um pouco ansioso quando está escuro”

Olhei para o lado, vendo Camila deitada encolhida no sofá. Levantei e fui até o meu quarto, pegando uma coberta e voltando para a sala, cobrindo-a com a manta. Sorri, vendo que sua expressão parecia mais calma. Senti também um pouco de frio e decidi ir até a janela para fechá-la.

“Medo do escuro, medo do escuro

Tenho um medo constante que sempre há algo perto

Medo do escuro, medo do escuro

Eu tenho uma fobia que alguém sempre está lá”

Antes de fechar a janela, decidi olhar a rua. O movimento era calmo, com poucas pessoas caminhando e quase nenhum carro. A noite começava a ir mais adentro e a escuridão noturna tomou conta do ambiente. Os postes da rua tinham sido acendidos, iluminando a via. Olhei para o outro lado da calçada, vendo uma figura parada sob a sombra da luz de um dos postes. Não...

Tomei um susto, mas era apenas a TV, com as guitarras da música começando. Respirei fundo, tentando acalmar meu coração que parecia que iria sair pela boca. Fui até a mesa de centro e peguei o controle, abaixando o volume do eletrodoméstico.

Você já correu os dedos pela parede

E sentiu a pele de sua nuca arrepiar

Quando está procurando pela luz?

Algumas vezes quando você está com medo de olhar

No canto da sala

Você sente que alguma coisa está lhe observando”

Olhei para Camila, que ainda dormia um sono tranquilo no sofá. Voltei para a janela, abrindo mais o vidro e colocando a cabeça para fora.

Ele estava lá. Do outro lado, me observando. Observando a minha casa. Isso já tinha ido longe demais...

Fui até a mesa de centro, pegando meu celular e me preparando para discar um número.

“Medo do escuro, medo do escuro

Tenho um medo constante que sempre há algo por perto

Medo do escuro, medo do escuro

Eu tenho uma fobia de que alguém sempre está lá”

Coloquei o celular na orelha e ouvi chamar. Eu tomaria uma providência, porque isso passou dos limites.  Além de fanatismo, isso havia se tornado uma obsessão.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ester:
A música que está em aspas é Fear of the Dark, do Iron Maiden: https://youtu.be/nZ9iq2HGJec
Eita, que tensão! Alguém aí ficou com medo de ter alguém olhando também? ~vai na janela checar a rua -q
É, meu povo, parece que esse cara tá pegando pesada mesmo :b
Vemos vocês no próximo capítulo, nesse mesmo horário e nesse mesmo site. Até lá ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "À Espreita" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.