À Espreita escrita por EsterNW, Entusiasta


Capítulo 12
Precisamos conversar


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Hummmm, acho que esse título já diz tudo, não? Então vamos logo descobrir o que e quem precisa conversar.
Boa leitura ;)



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Senti uma dor aguda na região do pescoço e comecei a movimentar-me, vendo que havia adormecido no sofá. Minhas costas e o pescoço doíam como nunca. Talvez precisasse de um analgésico se quisesse… O sol estava bem alto, com um feixe de luz enorme entrando pela janela da sala. Levantei e peguei meu celular da mesa de centro, vendo que passava das dez e meia e eu estava mais do que atrasado para o trabalho.

— E ficamos por aqui, com mais um Cidade do Povo. — Sorri para a câmera dois, por indicação no meu ponto. — Um boa tarde para você e até amanhã.

A música de encerramento iniciou e eu encarei a câmera por mais alguns instantes, até receber o meu sinal de que estava liberado.

— Tá mal hoje, seu Heitor — Jorge, um dos cameraman comentou quando eu saía do estúdio.

— Você nem imagina, rapaz — respondi sombrio enquanto soltava aquela gravata que parecia sufocar-me aos poucos.

Caminhava pelo corredor em direção ao camarim, mal prestando atenção às pessoas, apenas cumprimentando de volta quem acenava para mim.

Cheguei até a porta branca com a placa marcada com o meu nome e entrei, fechando-a em seguida e acendendo a luz. Vi que alguém da produção havia deixado a embalagem de analgésico, a meu pedido. Tomei um comprimido, sentindo uma dor de cabeça torturante e o torcicolo ainda a incomodarem-me.

Atirei a gravata sobre a mesa, abaixo do espelho, e me joguei na minha cadeira, massageando as têmporas.

Ouvi uma batida na porta e suspirei. Eu devia ir embora logo.

— Heitor, sou eu, Tárcio — meu amigo disse entre as batidas. — Quero falar com

você, rapaz.

Levantei-me pesadamente e abri a porta de meu camarim, permitindo que ele entrasse. Tárcio analisou-me de cima a baixo com um olhar atento e preocupado.

— Você está péssimo, meu caro — sua afirmação soava sem humor nenhum, porém, mesmo assim, sorri fracamente.

— Eu sei. Dormi muito mal essa madrugada.

Fechei a porta e fiz um gesto para que Tárcio se sentasse em um dos sofás do meu camarim. O mais velho me encarou com seu olhar severo e eu suspirei.

— Preciso conversar com alguém, Tárcio.

Tárcio permanecia encarando o chão, ainda sentado no sofá ao meu lado, com as mãos sobre a boca, compreendendo tudo o que eu havia lhe contado, desde a abordagem feita por Edgar e as revelações feitas por ele.

— E você realmente acredita no que ele disse, Heitor? — Assenti, ainda mais pensativo do que meu amigo. — Mas você sequer o conhece, meu amigo! Ele é um maníaco que o persegue há semanas!

— Eu pesquisei sobre o caso Natalie, Tárcio. Passei a noite pesquisando e dormi enquanto fazia isso — expliquei-lhe o motivo de encontrar-me tão mal naquele dia. — E todas as informações são precisas com o que Edgar disse… — Imitei a posição anterior de meu amigo, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e levando as mãos unidas até o queixo.

— E o que você acha sobre tudo isso? — Surpreendi-me com a pergunta e encarei Tárcio ao meu lado. Meu amigo me encarava com seu olhar preocupado, como se aconselhasse um filho.

— Eu não sei… — Suspirei e voltei a encostar-me ao sofá. — Os fatos, contra eles…

— Não há argumentos — Tárcio completou-me a linha de raciocínio e assenti.

— Mas eu conheço a Camila, ela é tão frágil e indefesa, que…

— Às vezes nós achamos que conhecemos a pessoa, Heitor, mas na verdade não sabemos nem metade de quem ela é — Tárcio soltou talvez mais em sua própria mente do que na conversa em si e fiquei surpreso com sua afirmação.

Quem é Camila de Paula, verdadeiramente? Será que aquela pessoa por quem eu me apaixonei era apenas uma… Farsa? Seus sentimentos por mim também seriam uma farsa?

Escondi o rosto nas mãos, perdido. Senti a mão de Tárcio sobre o meu ombro.

— Você pesquisou em todos os sites de notícias possíveis, certo, garoto? — Assenti, erguendo o rosto e olhando para meu amigo. — Ouça, eu… Posso pesquisar mais a fundo para você.

— Como? — questionou e apenas recebi um olhar de Tárcio como resposta. Certo, anos como jornalista e mais alguns como repórter investigativo. — E o que eu devo fazer até lá?

— Apenas… Aja naturalmente.

Encarei-o, achando que aquilo era uma piada. Pela sua expressão, ele falava realmente sério.

Tentei seguir o conselho de Tárcio e “agir naturalmente”, porém, parecia quase impossível. Eu evitava Camila o máximo que conseguia e nas duas vezes em que nos encontramos naqueles últimos dias, eu estava mais distante e calado do que o habitual. Como era eu quem costumava manter a conversa entre nós, caímos em um silêncio quando juntos. Camila parecia não se importar nem um pouco com isso. Já eu, me corroía com as palavras e as dúvidas não ditas. Mas não seria sensato da minha confrontá-la diretamente. Ao menos não tão cedo.

Eu precisava investigar aquilo por mim mesmo. Tárcio não deu mais notícias sobre o caso. Quando o encontrei pela emissora, disse que ainda pesquisava. Contudo eu não me aguentava mais naquela situação. A pressão era ainda pior do que quando Edgar me seguia. Ou melhor, de quando eles nos seguia.

E, falando nele, o vi apenas uma vez após a conversa que tivemos. Exatamente em uma das vezes que estava com Camila.

Naquele dia, em que estava no carro com os seguranças, rumo à casa de minha namorada, não o havia visto. Ponderava se era mais sensato que ele não soubesse seu endereço, ou deixaria os impulsos falarem mais alto.

E era exatamente isso que eu estava tentando não fazer.

— Está tudo bem com o senhor, patrão? — Garcia questionou, observando-me pelo espelho retrovisor do carro.

— Estou. — Vi seu olhar incerto pelo espelho. — É apenas o estresse da vida, Garcia. Garanto que é passageiro — afirmei para os dois, que estavam preocupados comigo há dias. Ao menos eu esperava que passasse o mais rápido possível…

Passamos pela ponte, construída pela prefeitura havia certo tempo, e logo entramos na rua de Camila. Paramos o carro a alguns metros de distância, sob a sombra, para não levantar suspeitas, como ela preferia. Peguei meus presentes e a lasanha que eu havia encomendado para nós, naquele dia dos namorados, e trazia naquele momento.

Eu precisava fazer alguma investigação por conta própria e a primeira opção que veio em minha mente foi a casa, que parecia esconder inúmeros segredos, com todas aquelas portas trancadas. Será que ela escondia a criança lá? Por trás de uma daquelas portas? Espere, eu já estava dando-a por culpada antes mesmo de...

Suspirei e bati a porta do carro.

— Podem ficar por aqui, rapazes — orientei os seguranças. — Fiquem atentos aos arredores — dei o nosso código, que significava: fiquem atentos caso ele apareça. Na presente situação, penso se disse aquilo por força do hábito ou não.

Caminhei até a porta de Camila, sob o olhar daquela mesma vizinha que observava-me da última vez em que fui até lá. Dessa vez, ela varria a calçada. A cumprimentei com um “boa noite” e a senhora apenas assentiu, voltando a varrer.

Bati na porta, envelhecida e carcomida como da última vez. Esperei, tentando ouvir algum barulho do lado de dentro, mas apenas escutava o barulho de uma TV ligada e uma música tocando. Provavelmente o canal de clipes.

A porta rangeu quando foi aberta.

— Heitor, o que você está fazendo aqui? — Camila parecia realmente surpresa ao me ver em sua soleira. Mais do que da última vez que eu vim até sua casa. Ou talvez eu estivesse começando a suspeitar de tudo.

— Feliz dia dos namorados. — Entreguei-lhe o pacote que trazia na mão direita, ficando com a comida na esquerda.

Camila encarou-me, como se pedindo permissão, antes de pegar o embrulho.

Enquanto ela rasgava o pacote, tentei olhar para dentro da casa, porém ela me bloqueava a maior parte da minha visão do interior.

— É lindo, Heitor. — Camila erguia o colar de prata com o próprio nome, olhando-o de perto.

— Mandei fazer especialmente pra você. — Sorri, vendo que ela encarava o presente completamente encantada por ele.

Apesar de tudo, eu ainda amava-a. Mesmo com todas as suspeitas e desconfianças, eu acabava sorrindo nas poucas vezes em que ela o fazia.

— Desculpe, querido, não pude comprar nada pra você — pediu após beijar-me em agradecimento, mantendo os braços ao redor do meu pescoço.

— Me contento com um dos seus quadros — respondi e trocamos um último beijo. — Posso entrar? — perguntei direto e o olhar de Camila transformou-se em espanto. — Trouxe algo para jantarmos.

— Heitor, eu sinto muito, eu estava ocupada, nem… — começou a falar de forma atrapalhada, tendo me soltado e voltado para a porta, como se quisesse fechá-la.

— Eu apenas queria que passássemos o dia dos namorados juntos. Podemos fazer apenas um arroz e comer com a lasanha, Camila, eu não me importo — tentei convencê-la, temeroso de não conseguir fazer efeito. — Eu apenas queria passar um tempo com você — acabei puxando para o lado emocional. Questionava-me se sua expressão era de dúvida ou não.

Ela abriu a porta, deixando que eu entrasse e fechando-a a rapidamente, dando uma olhada para fora antes disso.

— Só peço que vá embora cedo. Não posso dormir tarde, tenho que trabalhar amanhã. — Assenti e entreguei-lhe a lasanha. — Se quiser assistir TV enquanto preparo o arroz.

Assenti e trocamos um beijo, antes de me dirigir até o sofá.

— Os seguranças não vieram com você? — Camila questionou, abrindo um dos armários e retirando panelas.

— Eles estão afastados — respondi-lhe enquanto procurava pelo controle no sofá, para mudar de canal. — Assim eu seria mais discreto quando viesse te visitar.

Senti algo enfiado no sofá e puxei, acreditando que era o controle remoto, porém, para minha surpresa, era um carrinho de brinquedo.

— Quer que eu faça salada pra acompanhar, Heitor? — Ouvi a voz de Camila vinda da cozinha, entretanto não a respondi. Observava o brinquedo entre os meus dedos. A sua voz parecia apenas um som distante.

Senti meu celular vibrar no bolso e atendi a ligação, sem me importar em checar o número no visor. Camila questionou sobre a salada mais uma vez.

— Heitor — a voz de Tárcio disse meu nome do outro lado da linha, — precisamos conversar.

— Precisamos mesmo.


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Notas finais do capítulo

Ester:
Já dizia Hot Wheels: vai encarar? Será que Heitor vai encarar a verdade finalmente? O que será que Tárcio quer falar com ele? Será que Camila é na verdade Natalie e Natalie é na verdade Camila? Não, pera D:
Por fim, faço um agradecimento a nossas leitoras comentadeiras: Drafter, Camélia Bardon e Lua. Vocês são uns amores e seus comentários tem incentivando demais a gente ♥
Vocês fantasminhas que estão aí lendo, não se acanhem, porque também gostamos de vocês! Se vocês quiserem sair das sombras, sintam-se em casa, porque vamos amar bater uns papos e ainda damos café (não, acabou o café -q). Só não fiquem muito nas sombras ou Edgar vai pegar vocês -q
Voltamos com mais na próxima semana, povo, até lá o/