Okaa-san, 

Estou tremendo e chorando. Faz anos que não choro ou me desestabilizo dessa forma; em minha viagem de redenção aprendi a ter maior estabilidade emocional, mas agora ela ruiu da mesma forma que ruiu quando eu era apenas um garoto. No entanto, por um motivo muito melhor. 

Minha filha nasceu. 

Ela é tão linda, Okaa-san. É quente, pequena, chorona, pura e delicada. Eu nem pude acreditar que alguém tão quebrado como eu pudesse ser capaz de gerar um ser tão perfeito como ela... com certeza Sakura tem sua culpa nisso. Sarada me lembra você; recordo-me do seu cabelo escuro, bochechas arredondadas e o nariz curvado, ela puxou todas essas características de nós, Uchihas, e agora refletindo sobre isso, sinto por Sakura porque sei que ela gostaria que Sarada herdasse algo dela. Mas, além do formato dos olhos e a testa, ela é você, okaa-san. É a sua cópia perfeita e por isso mesmo eu não consigo parar de olhá-la.

Sinto que meu peito vai explodir a qualquer momento pelo êxtase que me invadiu ao vê-la pela primeira vez – e que sigo sentindo. Era assim que você se sentia ao olhar para mim e para o nii-san? A cada minuto que  passa eu volto a olhá-la a fim de verificar se ela está respirando ou não, já que Sakura está dormindo exausta ao seu lado com uma mão cobrindo a barriga arredondada de Sarada, mantendo-a presa a si. E essa simples cena é capaz de me deixar tão desnorteado que fico minutos inteiros paralisado e sentindo as lágrimas rolarem.

Simplesmente não consigo parar de fitá-las obsessivamente, nunca pensei que chegaria a esse ponto, mas aqui estou, completamente rendido a uma bebê de uma hora e treze minutos, sabendo que como pai sou tão estúpido quanto Naruto esfomeado olhando para uma porção de ramen. É, eu me transformei no Naruto, mas dessa vez não me incomodo com essa comparação, afinal, eu sei que no futuro farei todos os desejos da minha pequena sem nenhum arrependimento como ele faz com seu filho, Boruto. 

Eu quero tocá-la, Okaa-san, mas ao mesmo tempo não quero atrapalhar o seu sono ou correr o risco de derrubá-la pela falta do meu braço. Achei que a porcaria desse membro nunca me faria falta, mas agora há um bom argumento para mantê-la distante de mim, ainda que isso me machuque. Sakura tentou fazer com que eu a segurasse antes, mas a refutei de várias formas e Sarada, por fim, estava com fome e começou a mamar, sendo assim, a discussão entre nós se findou. No entanto, sei que minha esposa pode ser muito teimosa quando quer e que daqui algumas horas não terei escapatória, só espero que você me guie quando esse momento chegar, como me guiou durante a infância em cada novo momento importante. 

Você deveria estar aqui. Consigo imaginá-la perfeitamente mimando Sarada e chego a sorrir com essa imagem. Você gostaria de Sakura também, ela aguentou toda a dor do parto sem sequer cogitar desistir ou tentar um método mais invasivo e no fim até sorriu quando finalmente deu à luz a nossa menina. O grito estridente de Sakura junto ao de Sarada será uma das minhas melhores e mais bonitas lembranças, uma das quais guardarei para sempre já que meu Sharingan se ativou sozinho durante o parto e agora fico relembrando a sensação que tive quando minha filha veio ao mundo, enquanto observo o seu peito subir e descer num ritmo suave. 

Ela mexe a boca às vezes, fecha as mãos pequenas em punhos e depois as abre como se procurasse algo para apertar, o que neste momento está sendo o indicador de Karin. Minha ex-colega de time foi quem me auxiliou no parto de Sarada, ou melhor: quem eu auxiliei, afinal, eu não sabia a maioria dos cuidados que Sakura deveria ter, mas Karin sim, e por isso serei infinitamente grato a ela.

Karin deixou de lado seus sentimentos por mim e ajudou a trazer minha filha ao mundo, por isso ela é a única pessoa, além de Sakura, a quem direi obrigada e pedirei desculpas pelos meus erros do passado, não foi justa a forma como a tratei antes e tenho certeza que você me repreenderia na época se estivesse aqui, Okaa-san, e com razão... eu mesmo me repreendo agora, principalmente depois de hoje. 

Não poderia ser diferente de qualquer maneira. Tanto Karin quanto eu estamos há meia hora observando Sarada dormir, que está perdida no mundo dos sonhos o qual a faz soltar uma risada límpida hora ou outra, capaz de preencher meus ouvidos e coração de forma aconchegante, e sei que Karin está sentindo as mesmas sensações que eu, porque o seu olhar é tão afetivo e acolhedor que algum desavisado poderia presumir que Sarada é sua filha, e de certa forma é. Minha filha não estaria viva se não fosse por ela, e por Karin ter se provado minha amiga de verdade, Sakura e eu concordamos que o posto de madrinha de Sarada deveria ser dela. Minha amiga aceitou chorosa a proposta e agora ocupa o lugar que deveria ser seu, Okaa-san.

Contudo, não se chateie por isso, afinal, tanto ela quanto você serão lembradas na nossa casa dentro do distrito e serão reconhecidas por Sarada, principalmente por causa do amor que são capazes de sentir, um muito mais genuíno do que eu sou capaz de explicar.

Okaa-san, estou com saudades, mas sei que sempre que olhar para Sarada poderei vê-la viva, de certa forma, e isso basta para acalentar meu peito. Ela, assim como você, me dá a esperança de um mundo melhor.

Com amor, 

Seu filho.