Quando você dorme em um lugar que nunca dormiu antes, é bem possível que você acorde e se sinta confusa, por alguns segundos. Você demora a se lembrar das circunstâncias que a fizeram dormir ali. No entanto, se você levar um grande susto no momento em que acordar, é possível que as lembranças voltem um pouco mais rápido.

Eu poderia ter acordado e visto que um episódio qualquer de Friends ainda estava passando na Tv, e lembrado da noite anterior. Eu poderia ter observado, com calma, o quarto de James, agora iluminado pela luz do sol. Eu não fiz absolutamente nada disso, no entanto, pois acordei e só consegui perceber que nós dois estávamos completamente entrelaçados.

Suspirei e, delicadamente, tentei tirar os braços dele, que estavam à minha volta. Sem sucesso, o meu movimento só fez com que James me puxasse ainda mais para perto e com mais firme.

— Merda. — sussurrei.

O meu plano era me levantar rapidamente e voltar para casa, deixando um bilhetinho ou uma mensagem de texto dizendo que tinha algo importante para fazer – o que era mentira. Com James me abraçando, porém, eu só tinha duas opções: ficar ali até que ele acordasse ou acordá-lo.

— James… - murmurei - Jamie, acorda.

James grunhiu.

— Está cedo, Lils. - ele suspirou

Sua voz estava rouca e conseguia ficar ainda mais bonita que a sua voz normal.

— Você pode voltar a dormir. - eu disse

— Certo. - ele sorriu

— Mas eu preciso que você me solte. - ri

Ele abriu os olhos, confuso. Ele me encarou e, lentamente, seu olhar foi até os seus braços, que ainda me seguravam.

Rapidamente, ele me soltou.

— Desculpa. - ele disse

— Não tem problema. - murmurei, me sentando na cama.

Ele suspirou e esfregou o rosto com as mãos. Nós dois estávamos cheios de marcas, por provavelmente termos dormido na mesma posição por muito tempo.

— A chuva passou. - James riu.

Assenti.

— Eu vou para casa. - eu disse - Tudo bem se eu usar o banheiro?

James concordou.

— É claro. Fique a vontade. - ele pigarreou - Você precisa de alguma coisa? Quer tomar um banho?

Neguei rapidamente.

— Obrigada. - eu disse - Eu só preciso lavar o rosto. E fazer xixi.

James riu.

— Ok. - ele disse - Se divirta.

Revirei os olhos e entrei no banheiro, começando a surtar logo em seguida.

Tirei a minha blusa e fiquei me encarando no espelho, repetindo para mim mesma que não estava ficando maluca. Eu havia dormido com James Potter, não era uma grande coisa. Estávamos um pouco bêbados e estávamos vendo Friends. O máximo que isso significava era que éramos amigos. Nada havia acontecido.

Eu só não conseguia entender muito bem porque aquela havia sido uma das melhores noites de sono que eu já havia tido. O corpo de James era morno, firme e macio…

— Lils… - James chamou, do outro lado da porta. - Você gosta de ovos?

— Gosto! - eu disse, com a voz esganiçada. - Mas não se preocupe, James.

— Eu não estou preocupado. - ele disse, e eu pude ouvir o sorriso em sua voz.

Suspirei e enfiei meu rosto embaixo d’água assim que ouvi ele se afastando. Minhas axilas estavam levemente fedidas, então eu as lavei e passei o desodorante de James, que estava em cima da pia.

Eu estava mais calma. James era maduro, de vez em quando. Ele provavelmente estava super calmo, na cozinha. Ele nunca teria entrado no banheiro para ter um surto, principalmente porque nada de mais havia acontecido.

Coloquei a minha blusa novamente e fui secar meu rosto com a toalha. Ela tinha o nome James bordado em ponto cruz, assim como o desenho do ET de Spielberg. Minha mãe também havia feito uma toalha daquelas para mim, com a Princesa Buttercup e Westley bordados. Era um dos meus filmes favoritos quando eu era criança.

Peguei a toalha e fui até a cozinha.

— Essa é a coisa mais fofa que eu já vi! - eu disseJames, que estava no telefone, arregalou os olhos e colocou o dedo na boca, pedindo silêncio, mas em seguida suspirou.

— Sim, Sirius, tem uma garota aqui. - ele disse, me encarando - É por isso que eu me atrasei para o encontro com a cerimonialista.

Merda.

James e eu tínhamos combinado com Remus e Sirius que iríamos encontrá-los para um brunch com a cerimonialista do casamento, para decidirmos os últimos detalhes da cerimônia e da festa. Com toda a coisa do ensaio (e do vinho) havíamos esquecido completamente.

— Por favor, não fique bravo. - James continuou - Eu saio daqui de casa em cinco minutos!

Franzi as sobrancelhas.

— Certo, até logo. - James disse, desligando em seguida.

— Eu não acredito que esquecemos do brunch. - eu disse

James assentiu.

— E agora Sirius está ainda mais bravo, porque acha que eu esqueci porque estou com uma companhia feminina.

Ri.

— Me desculpa.

— Não tem problema. - ele sorriu

— É uma boa oportunidade para falar com a cerimonialista sobre a música. - eu disse

Ele assentiu.

— Mas você fala. - ele disse - Ela me assusta.

Ri e abri a boca para retrucar, mas meu telefone começou a tocar. Era Remus. Suspirei e atendi, com medo da bronca que levaria.

— Eu estou a caminho! - eu disse, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.

— Eu não acredito que você esqueceu!— ele exclamou

— Eu tive um imprevisto. - eu disse - Mas eu chego em dez minutos!

Remus suspirou.

— James está atrasado também.— ele disse - É melhor você chegar antes dele.

E ele desligou.

James me entregou um pote com um pouco de ovos mexidos.

— Obrigada.

— Não há de quê. - ele sorriu.

Engoli os ovos rapidamente. Eles estavam maravilhosos, mas eu não podia arriscar Remus e Sirius ficando ainda mais bravos conosco.

— Você quer uma carona? - perguntei

— Não. - James disse - É melhor se a gente não chegar junto. Eles podem desconfiar alguma coisa.

Assenti.

— Te vejo daqui a pouco. - eu disse, pegando minha bolsa e as chaves do meu carro.

Eu havia ido de carro até a casa de James, pois havia passado lá direto do trabalho. Eu não achei que iria ficar muito tempo no apartamento dele, muito menos dormir nele.

James, desatento, me puxou pela cintura e deu um beijo na minha testa. O encarei, confusa, e ele percebeu que havia feito e deu uma risada nervosa.

— Desculpa. De novo. - ele disse

— Não tem problema. - eu sorri.

— Você deveria ir. - ele disse

Assenti e sai correndo.

…

Cheguei esbaforida no restaurante e fingi que não percebi que Remus e Sirius estavam com expressões extremamente irritadas. Madame Trelawney, a cerimonialista, me recebeu com um abraço.

— Olá, Lily! - ela sorriu - Que bom que você chegou!

— Me desculpe pelo atraso. - eu disse

— Não tem problema. - ela disse

Dei um beijo estalado na bochecha de Sirius e agarrei Remus em um abraço, o que foi um erro.

— Você está com cheiro de homem! - Remus exclamou

— É imaginação sua… - murmurei

Ele deu uma gargalhada.

— Cheguei, cheguei… - disse James, chegando correndo na mesa. - Desculpem pelo atrasado.

— Vocês dois são os piores padrinhos do mundo! - Sirius riu - Você esqueceram do brunch porque estavam transando.

James engasgou.

— O que?! - ele riu

— Lily está com cheiro de homem e você estava com uma garota no seu apartamento.

James sorriu.

— Era sexta-feira! - ele disse - Até mesmo Lily Evans merece um pouco de diversão, embora eu não inveje o pobre coitado que levou ela pra casa.

Ele veio até mim e bagunçou meu cabelo, do jeito que ele costumava fazer, sentando ao meu lado em seguida.

— Nós sentimos muito por termos nos atrasado, mas agora estamos aqui. - ele sorriu.

Assenti.

James era brilhante. Mais um pouco de pressão e eu inventado uma história mirabolante para não estragar a surpresa, mas o meu nervosismo teria feito com que os dois desconfiassem de alguma coisa.

Por debaixo da mesa, apertei a mão de James em agradecimento. Ele apertou de volta, dando um sorrisinho.

— Bom, nós temos várias coisas para decidir ainda… - disse Trelawney.

…

Quando deu meio-dia, Remus e Sirius saíram correndo do restaurante, pois precisavam ir à sua penúltima aula de dança. Eles estavam bem mais tranquilos, no entanto, a reunião com Trelawney foi ótima para decidir os últimos detalhes da decoração, comida e decorrer da festa.

Quando vimos os dois saindo pela porta, James suspirou e começou a rir.

— Essa foi quase… - ele murmurou

Assenti.

— Você acha que eles desconfiam de alguma coisa? - perguntei

Ele negou.

— Nunca passaria pela cabeça deles que estávamos juntos. - ele deu de ombros.

Madame Trelawney nos encarava com curiosidade.

— Precisamos conversar com você. - eu disse - James e eu preparamos uma surpresa para os noivos. Depois dos discursos, nós dois iremos apresentar algumas músicas.

Ela sorriu.

— Que coisa linda! - ela exclamou - Eu tenho certeza de que eles vão gostar muito.

James sorriu.

— Não é nada demorado. - ele disse

— Dez minutos, no máximo! - eu disse

Trelawney assentiu.

— Sem problemas, vou encaixar vocês sem que os dois desconfiem. - ela disse

— Obrigado. - sorriu James

Trelawney sorriu de volta, mas ela ainda possuía uma certa curiosidade, misturada com travessura, em seu olhar.

— Era isso que estávamos fazendo ontem à noite. - murmurei - Ensaiando.

— Vocês devem ter ensaiado bastante. - ela riu, se levantando.

James e eu nos entreolhamos.

— Vocês não precisam se justificar para mim. - Trelawney piscou. - Até a próxima, queridos.

Ela se dirigiu até a porta, deixando nós dois boquiabertos.

— Ela acha que transamos! - James exclamou

— Como é possível? - perguntei

— Sim! - ele concordou - Somos nós dois, nós nunca…

Assenti.

— Nunca. - concordei.

Nos encaramos por alguns segundos e nos levantamos bruscamente/

— Preciso ir. - eu disse

— Eu também. - James concordou.

Demos um aperto de mão e cada um correu para o próprio carro, mas minha mão formigava por causa do seu toque.