Existem dois tipos de situação nas quais uma pessoa pode se encontrar. O primeiro é aquele que você entende perfeitamente os motivos que te levaram até ali. Como por exemplo, eu prometi aos meus melhores amigos que faria tudo para que o casamento deles seria perfeito e isso significava me aliar a James Potter. O segundo tipo é o que te deixa boquiaberta e assustada, mesmo tendo uma leve ideia dos motivos que te obrigaram a tomar certas decisões. O melhor exemplo para essa situação era: eu estava em frente à porta do apartamento desse mesmo James Potter, onde nós iríamos ensaiar músicas românticas para o casamento.

Suspirei e bati na porta antes que eu pudesse desistir e sair correndo por causa do nervosismo. Eu nem sabia porque estava nervosa, para falar a verdade. Eu só estava sentindo que estava passando dos limites, por entrar na casa do meu arqui-inimigo, James Potter.

Potter abriu a porta e me deu um sorriso.

— Evans! - ele exclamou - Chegou bem na hora da comida!

Ele acenou com a cabeça e me deixou entrar no apartamento.

— Eu sinto muito, eu posso esperar você acabar de comer. - me virei para ele.

Ele franziu as sobrancelhas, mas sorriu novamente.

— Ou você pode comer junto comigo. - ele disse

O encarei.

— Você cozinhou para mim? - perguntei, incrédula.

— Que tipo de troglodita sem educação você pensa que eu sou? - ele riu - Eu teria jantado antes de você chegar se não fosse fazer comida para você.

Ri.

— Inacreditável. - murmurei - James Potter cozinhando para mim.

Ele revirou os olhos.

— Não se acostume. - ele disse - Pode sentar.

Assenti e finalmente consegui dar uma olhada no apartamento.

A cozinha era conectada com a sala e havia um pequeno corredor que eu imaginei que seria o caminho para o quarto e o banheiro. Várias paredes estavam pintadas de azul marinho ou amarelo e eu conseguia ver vários vasos de plantas.

Embora fosse um apartamento extremamente confortável, ele era muito menor do que eu imaginei que fosse. James não vinha de uma família pobre,  até onde eu sabia, e também era um dos donos de uma empresa que só crescia no mercado.

— Você quer uma tour? - ouvi Potter perguntar

— O que? - perguntei

— Pelo apartamento. - ele riu - Você me parece interessada nele.

Sorri.

— É muito diferente do que eu imaginava. - eu disse

Ele se apoiou no balcão para ficar com o olhar na altura do meu.

— O que você imaginava?

Dei de ombros.

— Que fosse muito maior. - eu disse - E eu achei que as paredes seriam todas brancas ou cinzas. Sem plantas. E você teria um quadro de um terno emoldurado.

Ele deu uma gargalhada.

— Por que eu teria um terno emoldurado? - ele perguntou

— Poderia ser um terno de alguém famoso. - eu disse - Como o Liam Neeson.

Ele suspirou.

— Sinto muito por ter te decepcionado. - ele disse - Eu prometo que vou pintar as paredes e conseguir um terno do Liam Neeson.

Sorri.

— Agora, vá sentar.

Levantei as mãos.

— Certo, certo.

Me sentei na pequena mesa que estava arrumada para nós dois, que separava os ambientes da sala e da cozinha, e ele colocou duas travessas entre nós. Uma delas tinha um macarrão com molho branco, a outra tinha filés de peixe grelhados. Ele foi até a bancada novamente e voltou com duas taças e uma garrafa de vinho.

— Vinho? - perguntei

Ele deu de ombros.

— Combina com o peixe. - ele murmurou

Dei uma risada e coloquei uma garfada de comida na boca. Imediatamente, senti o sabor do néctar dos deuses preenchendo o meu corpo.

— Isso está delicioso! - suspirei - Eu não acredito que você consegue cozinhar tão bem assim. Isso não é justo! Você tem algum defeito?

Ele riu.

— Eu não sou muito bom no boliche. - ele respondeu

Dei mais um suspiro.

— Eu te odeio. - sorri

Potter deu de ombros, ainda sorrindo.

— Eu agradeço. - ele disse

O encarei.

— Como você aprendeu a cozinhar tão bem? - perguntei

— Eu sempre gostei de cozinhar. - ele disse - Quando Sirius e eu nos mudamos para Londres, eu precisei melhorar minhas habilidades na cozinha para não morrer de fome.

— Vocês são de York, não é? - perguntei

Ele assentiu.

— Quantos anos vocês tinham? - perguntei

— Dezoito. - ele disse - Meus pais ficaram super preocupados. Eles tinha certeza que morreríamos em menos de um ano.

Dei uma risada.

— Eles devem estar super orgulhosos de vocês, agora. - murmurei

James me encarou intensamente por um momento, e assentiu lentamente.

— Eles vêm para o casamento? - perguntei, limpando minha garganta

— Eles não perderiam o casamento do filho favorito deles por nada. - Potter sorriu - Eles estão tão felizes, tão animados. Eles realmente consideram Sirius um filho. Remus te contou, não contou?

Assenti.

Quando Sirius se assumiu gay para sua família, os Black o expulsaram ele de casa, cortaram todas as relações. Sirius deveria ter dezesseis anos, mais ou menos. Ele foi até os Potter, que o acolheram como mais do que o melhor amigo de James.

— Eu estou feliz e animada também. Quando Remus era mais novo ele tinha tanto medo de não encontrar ninguém. Ele achava que estava fazendo algo errado. - murmurei - E Remus é inteligente, bondoso, interessante, sexy e extremamente bonito.

James sorriu.

— Eles são um casal deslumbrante. - ele comentou - Isso que não é justo. Os dois andam na rua e parecem dois modelos.

Ri.

— E Sirius também cozinha bem! - exclamei

James deu uma gargalhada.

— Os seus pais também vão vir? - ele perguntou

— Não. - murmurei - Eles já estavam com uma viagem marcada quando Remus os convidou para o casamento. Eles vão fazer um cruzeiro pelo Caribe.

Ele sorriu.

— Incrível. - ele disse

Assenti.

— Eles ficaram bem tristes, na verdade, pelo casamento. Eles também são bem próximos de Remus. - continuei - Mas disseram que vão comprar um presente em cada parada do navio. Eles adoram dar presentes.

James deu um sorriso.

— Acho que é hora de você me apresentar para eles. - ele brincou

Revirei os olhos e voltei toda minha atenção para o incrível prato de comida que estava na minha frente. Afinal, ainda precisávamos cumprir o propósito daquele encontro e ensaiar as músicas.

…

Três horas e duas garrafas de vinho depois, eu e James estávamos deitados no tapete da sala, completamente exaustos depois do ensaio. Nós havíamos tocado, pelo menos, dez músicas, mas havíamos escolhido duas para o casamento. A primeira, eu cantaria sozinha, a segunda, cantaríamos juntos. James tinha uma voz incrível, além de tocar violão muito bem, o que fazia a vida ainda mais injusta.

Fora do apartamento, a chuva caia com força. O vento fazia com que os pingos de chuva batessem na janela, assim como os galhos das árvores mais altas que alcançavam o apartamento.

— Quando eu era pequeno, eu tinha medo dessas chuvas fortes. - James disse - Eu achava que a qualquer momento os galhos iriam quebrar minha janela.

— Você ainda tem medo? - perguntei

Ele se virou para me encarar.

— Agora não, pelo menos. - ele disse

Sorri.

— Você deveria adotar um animalzinho. - eu disse - Eles ajudam quando você fica com medo.

— Como você sabe disso? - ele perguntou

— Minha melhor amiga é veterinária. - dei de ombros. - Ela ganhou uma gatinha quando era criança e sempre abraçava ela quando estava com medo. Especialmente na época em que os pais dela brigavam todas as noites, antes de se divorciarem.

James assentiu.

— Quando ela deu o seu primeiro beijo, ela correu de volta pra casa para ficar com a gata. Eu e Remus não sabíamos o que fazer com o garoto.

Ele deu uma gargalhada.

— Eu consigo imaginar ela fazendo isso. - ele disse - O garoto era Frank?

Neguei com a cabeça.

— E você? - ele perguntou

— Se eu era o garoto? - perguntei

Ele revirou os olhos.

— Como foi o seu primeiro beijo? - ele perguntou

Sorri.

— Eu tinha quatorze anos. Eu tinha uma queda por um menino da minha sala, Amos Diggory. Ele era bonito, inteligente. - eu disse - Um dia, combinamos de ir ao cinema em grupo e nós dois sentamos algumas fileiras para trás.

James sorriu.

— Romântico. - ele murmurou

— Foi fofo! - protestei - Ele comprou vários doces para mim.

Ele continuou rindo.

— E o seu? - perguntei

Ele apoiou a cabeça na sua mão, se virando ainda mais para mim.

— Eu estava na nossa festa de despedida, na casa de Peter, meu ex-sócio. - ele disse - Uma garota que eu conhecia, Emmeline Vance, queria muito ficar comigo e eu aceitei.

— Festa de despedida? - perguntei

— Estávamos nos mudando para cá.

Também apoiei a cabeça nas mãos, para encará-lo.

— Você tinha dezoito anos? - perguntei

Ele sorriu e assentiu.

— Patético? - ele perguntou

Sorri.

— Fofo.

James riu.

— Foi horrível. - ele disse. - Eu não sabia o que fazer.

— Ninguém sabe de primeira. - eu ri.

— Com dezoito anos, a maioria das pessoas já sabe. - ele disse - Emmeline deve ter se arrependido.

— James, você é provavelmente o homem mais bonito da terra, eu tenho certeza que Emmeline não se arrependeria nem se você tivesse lambido a cara dela inteira.

James deu uma gargalhada ainda mais alta.

— Que nojo, Lily! - ele protestou

Ri.

— É verdade! Principalmente se ela realmente tivesse uma queda por você. - respondi - No meu trabalho, tem esse cara, Severus. Ele é completamente fascinado por mim. Eu tenho certeza que ele gostaria de uma lambida.

— Você é nojenta. - ele riu - Mas me conte mais sobre esse tal Severus. Você gosta dele?

Tossi.

— Céus, não. - eu disse, estremecendo - Ele é pegajoso e irritante.

James riu.

— Coitado. - ele disse - Deve ser difícil ser rejeitado por Lily Evans.

Sorri.

— Eu acho que ele ainda não entendeu que foi rejeitado. - murmurei - Não importa quantas vezes eu tente deixar claro.

James deu de ombros.

— Às vezes, ele ainda tem esperança de te fazer mudar de ideia. - ele disse.

— Nunca vai acontecer. - eu disse - Mas tudo bem. Ele não me incomoda o tempo todo.

James suspirou.

— Eu provavelmente deveria ir para casa. - murmurei

James levantou os olhos para a janela, onde o vento ainda chapiscava os grossos pingos de chuva que caiam.

— Eu não vou te deixar ir embora. - ele disse, sorrindo - Não com um tempo desses.

Suspirei.

— Então eu fico. - murmurei - Onde é o banheiro?

— Eu te mostro. - ele disse, se levantando rapidamente.

Revirei os olhos e segurei sua mão, fazendo impulso para me levantar. Ele me puxou e nos desequilibramos, quase caindo juntos no sofá.

— Eu acho que exageramos no vinho. - James riu, me segurando pela cintura.

— Nós bebemos uma garrafa cada. - eu disse - Eu tenho certeza que exageramos.

Ele riu e me puxou para a vertical novamente, me levando pelo corredor. Ele possuía vários quadros espalhados, com fotos de James, Sirius e várias outras pessoas, assim como alguns desenhos e certificados. Quase chegando na porta, vi uma foto de James com Sirius, Remus… e eu.

Era uma foto que havíamos tirado na comemoração de quando Remus e Sirius foram morar juntos, oficialmente, que Alice havia tirado. James e eu fizemos questão de ficarmos o mais separados possível, com o casal entre nós.

— Eu adoro essa foto. - eu murmurei

— Eu também. - ele disse - Nem parece que a gente se odeia.

O encarei, rindo.

— Mal posso esperar pelo dia depois do casamento, quando poderemos nos odiar em paz novamente. - eu disse

Ele sorriu.

— Depois do casamento, só precisaremos nos ver em novembro, no aniversário de Sirius.

— É quase como férias de verão. - eu disse

Ele chacoalhou a cabeça e abriu a porta do seu quarto.

— Ali é o banheiro. - ele disse apontando com o dedo. - Eu vou te esperar na sala, para te dar tempo de bisbilhotar o meu quarto. Eu sei que você está curiosa, não adianta negar.

— Eu não vou bisbilhotar nada…

…

— Você tem o box com as dez temporadas de Friends! - gritei

Em menos de cinco segundos, James apareceu na porta do quarto.

— Eu sabia que você ia bisbilhotar! - ele riu

— Eu amo Friends. - eu disse - Eu assistia o tempo todo, com o meu pai, quando ainda morava com ele.

James sorriu e se aproximou de mim.

— Você quer assistir? - ele perguntou

— Está bem tarde. - murmurei - Eu só estou esperando a chuva passar para ir para casa.

— Podemos assistir enquanto esperamos. - ele disse - Não tem mais nada pra fazer.

O encarei. Ele tinha argumentos muito bons. Eu não poderia ir pra casa com aquele temporal, mas também já havíamos ficado horas conversando. Os assuntos acabariam em breve.

— Só alguns episódios. - eu disse

Ele assentiu.

— Até a chuva passar.