Bom, tudo começou quando meu melhor amigo se apaixonou.

Remus, Alice e eu éramos melhores amigos desde que tínhamos oito anos. Nós fazíamos tudo que o clichê mandava: íamos para a escola juntos, fazíamos festas do pijama todo final de semana e não nos desgrudávamos nunca. Minha mãe costumava nos chamar de três mosqueteiros – muito original, a propósito.

Enquanto nós crescíamos muito mudou, mas, ao mesmo tempo, nada havia mudado.

Alice começou a namorar Frank no nosso primeiro ano do colegial, e, por um tempo, ela se distanciou muito de nós dois. Porém, Frank, que era o garoto mais paciente e sensato do mundo, a convenceu a correr atrás de nós dois novamente. Amizades e relacionamentos não deveriam ser coisas que competem entre si, mas que se complementariam.

Remus passou por todo um processo, no segundo ano, para assumir que era gay. Ele contou para nós duas, antes de contar pra sua família inteira, e nós o ajudamos a criar coragem.

Na faculdade, Alice fez Veterinária. Ela sempre havia gostado muito de animais. Quando sua gatinha de estimação morreu, ela decidiu que gostaria de cuidar dos animais de todo mundo. Frank – eles ainda estavam juntos, e provavelmente vão ficar para sempre – se formou em Administração, e os dois abriram uma clínica.

Eu fui para o ramo mais clichê de todos: Comunicação. Eu comecei a trabalhar na editora de uma revista, o que fazia com que meu maior talento fosse ser multi-tarefas. Eu passava os meus dias escrevendo, coordenando sessões de fotos e sendo uma boa editora, no geral.

Remus, como menino sério que ele era, fez Direito. E isso foi fundamental para que essa história começasse do jeito que começou e, bom, tudo começou quando meu melhor amigo se apaixonou.

Remus trabalhava em uma firma muito importante onde centenas de advogados passavam todos os seus dias resolvendo os problemas jurídicos dos outros. Remus era incrivelmente bom em resolver problemas, tanto os jurídicos quanto o resto deles.

Um belo dia, um jovem charmoso entrou no escritório. Ele era dono de uma pequena empresa junto com um amigo, mas os dois haviam sofrido um golpe do terceiro (agora ex) sócio. O nome desse jovem era Sirius Black. Depois daquele dia, ele não só ganhou o processo como ganhou o coração de Remus.

Sirius era incrível. Ele não era apenas charmoso, mas também inteligente e extremamente brincalhão. Os dois formavam um casal dos sonhos de qualquer um. Eu passava muito tempo no apartamento dos dois – que era oficialmente o apartamento de Sirius, mas Remus passava tanto tempo lá que eles haviam decidido que era mais inteligente e econômico se ele só se mudasse de uma vez.

Sirius só tinha um problema: seu melhor amigo/parceiro, James Potter. Os dois, assim como Remus e eu, eram amigos desde os primórdios. Potter era encantador, sedutor e provavelmente o pior homem que eu já havia conhecido. Seus traços extremamente atraentes e seu ar de superioridade faziam com que fosse impossível passar o tempo que fosse em sua companhia.

Por um tempo, Remus e Sirius conseguiram separar muito bem o tempo em que ficavam comigo e o tempo em que ficavam com ele. Os dois sabiam muito bem que se nós dois estivéssemos juntos, provavelmente começaríamos a discutir em algum momento. Nossos encontros se limitavam a aniversários e feriados comemorativos.

Um dia, Remus e Sirius me chamaram para o apartamento deles. Eles disseram, no telefone, que precisavam me contar uma coisa muito importante. E foi nesse momento que a nossa história começou.

…

Cheguei no prédio de Remus um pouco esbaforida. Havíamos feito uma sessão de fotos para o editorial de verão da revista. Eu só havia conseguido sair de lá depois de ter certeza absoluta de que nada iria dar errado na minha ausência. Acredite, normalmente dá.

No elevador, arrumei meu cabelo rapidamente. Vários fios escapuliam do coque que eu havia feito às pressas com o meu longo cabelo ruivo. Me encarei no espelho e suspirei. Eu estava tendo uma semana não muito boa. Eu havia ido a um encontro na noite anterior. E, como sempre, o encontro havia sido um desastre. O meu par era tão egocêntrico que eu tive a impressão de ser uma intrusa no encontro entre ele e seu próprio cabelo, sedoso e extremamente loiro.

Cheguei no andar do apartamento deles e me adiantei para a porta. Para a minha surpresa, quem abriu foi Potter.

— Atrasada como sempre, Evans. - ele disse, virando seu olhar presunçoso para mim.

— Alguns de nós trabalham de verdade, Potter. - retruquei

Remus suspirou. Ele e Sirius estavam sentados em um dos sofás, abraçados.

— Lily e James estão há 0 segundos sem brigar. - ele disse - Nosso recorde é de 0 segundos.

Sirius deu uma risada.

Me sentei no mesmo sofá que Potter, embora tenha tentado me distanciar o máximo dele possível.

— Bom… - começou Sirius - Nós chamamos vocês dois aqui, as duas pessoas mais importantes do mundo para nós, para fazer um anúncio e um pedido.

Remus assentiu e os dois se entreolharam, sorrindo.

— Nós vamos nos casar. - ele sorriu

Potter e eu pulamos do sofá para abraçar os dois. Sirius pegou uma garrafa de champanhe e deu taças para todos. Potter levantou a sua taça e fez um brinde aos noivos. Eu não conseguia soltar Remus, aquele era um dos momentos mais felizes da minha vida. Não que os dois não estivessem tecnicamente casados, depois de morarem juntos já há algum tempo, mas eu sabia que um casamento sempre havia sido um dos sonhos de Remus. E, até pouco tempo, ele acreditava que nunca teria um.

— Eu estou tão feliz por você. - murmurei

Ele sorriu e abaixou a cabeça para beijar minha testa. Ele era tão alto. Eu me lembrava muito bem da época em que ele era menor do que eu. Eu fazia questão de lembrá-lo disso sempre que surgia a oportunidade.

— Talvez você fique um pouco menos feliz, depois do pedido que nós temos que fazer. - Remus sorriu, um pouco contido.

Sirius assentiu.

— Como eu ia dizendo, vocês dois são as duas pessoas mais importantes do mundo para nós. - Sirius retomou, limpando a garganta - Então, nós gostaríamos de convidar vocês para serem nossos padrinhos.

Potter e eu nos entreolhamos.

— É claro! - sorri - Nós faríamos qualquer coisa por vocês.

Remus e Sirius suspiraram, aliviados.

— Nós prometemos que vamos fazer de tudo para que a convivência de vocês seja a mínima possível.

Potter deu uma risada.

— Eu faço qualquer coisa pelos meus melhores amigos. - ele disse - E eu tenho certeza de que Evans concorda comigo que nós dois faremos o máximo para nos entendermos durante a preparação do grande evento.

Assenti.

Remus e Sirius se mostraram ainda mais aliviados e continuamos comemorando. Um pouco depois, porém, era hora de ir embora. No elevador, suspirei e me escorei contra a parede, enquanto Potter bagunçava o cabelo na frente do espelho.

— Suspirando por mim, Evans? - ele perguntou

— Vai sonhando. - murmurei - Você sabe que as pessoas normais arrumam o cabelo, não é?

Ele olhou para mim e para meu cabelo ruivo perfeitamente escovado e com ondas que emolduravam meu rosto.

— E ainda assim, eu fico mais bonito. - ele disse depois de um segundo

Revirei os olhos e ele deu uma risada.

— Eles estão completamente malucos, não estão? - ele perguntou - Quem em sã consciência escolhe nós dois para fazermos qualquer coisa juntos?

Dei de ombros.

— Eu acho que nenhum dos dois queria abrir mão de ter o melhor amigo ao seu lado no dia mais feliz da vida deles.

Potter assentiu.

— Eu estava falando sério, lá em cima. - ele disse - Nós deveríamos deixar nossas diferenças de lado quando eles precisarem de nós para o casamento.

— Eu também acho. - concordei

O elevador apitou ao chegar no térreo. Ele deu uma risada e bagunçou meu cabelo, antes de sair do elevador sem olhar para trás nenhuma vez.

Eu grunhi e fui até o espelho do hall, para desfazer a bagunça de Potter. No entanto, não pude deixar de pensar que ele estava certo. Eu faria de tudo para que o casamento de Remus fosse maravilhoso, mesmo se isso significasse ter que aturar Potter.