Assassin's Creed: Colony escrita por Danilo Alex


Capítulo 6
Assassinos também amam


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo! Cá estamos!

O capítulo hoje é mais curto que os outros e acredito que seja o último um pouco "menos agitado" da fic; funciona quase como que um capítulo de transição o qual, apesar de tudo, revela um pouco mais da personalidade de nossos personagens. Espero que gostem.

No final, disponibilizarei como sempre as notas com traduções e referências, mas vocês perceberão que alguns termos já não traduzi, porque não quero subestimar a inteligência de meus leitores e sei que com algumas palavras em italiano vocês já estão familiarizados devido a quantidade de vezes que as tenho usado aqui.

Quero dedicar este capítulo à minha leitora mais que especial (e namorada rsrs) Ariadne Lunna, às minhas queridas amigas e incentivadoras Morgana Nerthus e Fefa Rodrigues, bem como ao meu mais novo amigo e fã da franquia AC, GilCAnjos, um escritor muito talentoso com quem tenho aprendido bastante. Valeu pelas dicas, irmão!

Boa leitura!!!



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Itália, Cidade de Roma, meses mais tarde.

 

Os primeiros raios de sol tocavam timidamente os telhados de Roma, numa manhã esfuziante que prenunciava dia quente, quando Ezio Auditore da Firenze viu surgir uma figura conhecida entre a multidão que já circulava freneticamente pela Piazza Del Popolo*(1).

          Ostentando uma expressão faceira, Ettore Sparviero se dirigiu até o mestre e tocou-lhe o ombro com gentileza.

Estava muito elegante; tinha trocado o manto branco Assassino por suntuosas vestes de seda azul e preta com punhos de renda, e uma capa escura com detalhes dourados pendia de seu ombro. Os longos e lisos fios dourados de seu cabelo farto estavam muito bem escovados e quase todos presos na parte de trás da cabeça por uma fita de seda azul escuro, salvo as mechas que lhe caíam sobre os olhos de diabrete, e a barba cheia brilhava sob o efeito de algum óleo hidratante. Seu porte atlético e espigado conferia-lhe certo ar aristocrata, e ele poderia se passar sem problema por algum membro da nobreza romana.

 Trocaram um sorriso cúmplice antes que o Mestre Assassino o saudasse, inquirindo com certa ansiedade:

Salute, Ettore! E então?

Buongiorno, maestro*(2)! Missão concluída com sucesso. Por meio da mulher, soube que o nobre realmente é associado dos Templários, atuando como ferramenta política importante para nossos inimigos no sentido de construir alianças diplomáticas e expandir seus domínios. Tem uma audiência agendada com um senador ainda essa semana, a fim de obter apoio a seus intentos escusos.

— Nesse caso, o marquês deve morrer antes disso. — disse Ezio, pensativo — Certifique-se de que seja rápido e que ele não sofra muito.

— Como quiser, Mentor. — concordou Ettore balançando a cabeça.

— E quanto à marquesa? — Ezio fez a pergunta conforme ambos se deslocavam misturados à multidão, invisíveis aos olhos atentos e desconfiados dos bem armados soldados Borgia.

Devido ao avanço Assassino na cidade e à perda de aliados importantes que gradativamente iam sucumbindo à lâmina de Ezio, Cesare Borgia se tornara quase paranoico, instruindo energicamente que seus homens vasculhassem minuciosamente as ruas e aniquilassem de modo impiedoso a praga Assassina de Roma. Desde então, com a preocupação crescente do Duque, os guardas viviam em estado de alerta, circulando pelas ruas como lobos caçando. Eram tempos perigosos aqueles para os membros da Irmandade, e qualquer descuido poderia se tornar fatal.

 — A viúva viverá seu tempo apropriado de luto, mas creio firmemente que superará a perda. — Ettore falava friamente, como se o desafortunado nobre associado dos Templários estivesse já morto, e completou, com um sorriso cínico — Além do mais, para uma mulher tão bela não será difícil encontrar consolo.

Detendo-se um instante, o lendário Mestre Assassino voltou-se para fitar com curiosidade seu jovem interlocutor. Deparou-se com um par de chamejantes olhos verdes atrás de uma vistosa franja loira e uma expressão de garoto travesso. Arqueou as sobrancelhas ironicamente antes de indagar:

— Isso significa que você se encarregará, ao mesmo tempo, de fazer com que o corpo do marquês esteja definitivamente gelado, e o da marquesa permanentemente quente?

— Digamos que sim, Mentor. Se tivesse visto o sorriso de felicidade estampado no rosto dela quando deixei sua cama esta manhã, concordaria que estou mais do que apto para assumir tal missão e realizar esse “sacrifício” pelo bem da Ordem.

 — Ah, mas que pequeno diabo você é, ragazzo! Nunca perde a oportunidade de desfrutar de uma figa*(3), heim?

Ma certo. Tive um bom professor.

Explodindo juntos em uma sonora gargalhada que se perdeu em meio à algazarra vibrante da turba, caminharam alegremente até a barraca de vinho mais próxima, sem se importar que talvez fosse demasiado cedo para isso. Um observador ocasional poderia dizer que se tratava de pai e filho celebrando juntos alegremente alguma coisa.

Eram realmente parecidos, não somente no ardor com que serviam à Ordem, mas também por compartilharem a mesma paixão por bons vinhos e lindas mulheres.

Semelhantemente a Ezio, Ettore tinha um olhar magnético, um sorriso charmoso e uma forma singular de acariciar a própria barba, o que exercia um poder misterioso e irresistível sobre as donzelas, fazendo-as subir as saias e soltar a língua com igual facilidade. Justamente por esse fato o Mentore o designava para missões cujo objetivo fosse seduzir esposas de inimigos e delas arrancar informações sem que percebessem. Mais do que um espião competente, o rapaz era um amante incansável. Exatamente como seu mestre.

Não raro Claudia precisava expulsá-los do Rosa in Fiore, falando com eles em tom de reprimenda e vendo-os rindo embriagados, fugindo como meninos flagrados em uma travessura quando eram descobertos na cama das cortesãs.

Apesar de seu modo de vida boêmio e tão similar, ambos os Assassinos às vezes, ainda que constantemente embriagados nesses momentos, entabulavam conversas filosóficas e produtivas.

Certa vez, se encontravam no topo de um prédio, cada qual com uma garrafa de vinho em mãos, um tanto quanto ébrios, contemplando o pôr do sol e divagando.

— Há alguma mulher que ocupe seus pensamentos com frequência? — perguntara Ezio de repente, quebrando o silêncio e sem olhar diretamente para o pupilo. Fitava o horizonte, pensativo.

 — Na verdade, sim. — Ettore virou-se para o mestre, o rosto afogueado pelo efeito da bebida — Há duas mulheres que nunca saem de meus pensamentos. A primeira é minha mãe, cujos traços do rosto eu mal me lembro. Era apenas uma criança quando uma febre repentina e incurável a levou.

Ezio assentiu gravemente e levou a garrafa aos lábios mais uma vez, tomando um longo gole de vinho ao passo que guardava silêncio, encorajando o amigo a prosseguir.

— A segunda mulher... — continuou Ettore meio hesitante — Bem, a segunda mulher, como você deve saber, é Giuliana.

— Apesar de nunca tê-la conhecido, sempre penso nela. — admitiu o Mestre Assassino surpreendentemente.

— Você costuma pensar em minha irmã, Mentor?

— O tempo todo. Fiz a você uma promessa que não fui capaz ainda de cumprir.

— Sei que fez tudo a seu alcance, meu amigo. — consolou-o Ettore — Procuramos o máximo que pudemos. Mas já se passou um bom tempo, e minha irmã era uma donzela frágil como vidro. Duvido muito que tenha resistido a qualquer que seja o meio de vida a que provavelmente foi submetida. Quero ser acalentado pela esperança de que Giuliana descansa em paz agora, ao lado de meus pais. Mas aprecio que tenha se preocupado em salvá-la e guarde a memória dela com carinho. Grazie, messere.

— Fala de sua irmã como se ela estivesse morta. — observou Ezio em tom reprovador — Não devia.

— E no que então eu deveria acreditar?

— Que Giuliana vive segura e bem, mesmo contra todas as probabilidades. Algo me diz que ela está por aí em algum lugar, apenas esperando que a encontremos para trazê-la de volta para casa.

— Acha mesmo isso, maestro?

Ezio assentiu, sério, antes de replicar:

— Não apenas acho, como sei. Meus instintos me dizem isso, e estou nesse ramo há tempo bastante para saber que posso plenamente confiar neles.

Foi a vez de Ettore mover a cabeça, concordando em silêncio. Simultaneamente tomaram mais um gole de vinho, refletindo.

— Você me contou sobre duas mulheres que ama, e nas quais sempre pensa. — Ezio parecia disposto a retomar a conversa — E eu entendo bem o que disse. Compreendo seus motivos. Mas fiz essa pergunta com outro propósito. Quero saber se já amou alguém. Se houve uma mulher importante na sua vida. Além das puttane*(4) com quem costumamos nos divertir, é o que quero dizer.

Ettore pensou um pouco antes de dar sua resposta:

— Acho que não. Desde pequeno sempre tive que me esforçar muito, ajudar meu pai no trabalho, cuidar da minha irmã. Nunca tive tempo para pensar mais seriamente numa mesma mulher.

— Entendo... — Ezio acariciava a barba pensativamente.

— E quanto a você, mentore? Já amou alguém nessa vida?

— Sim. Uma vez. Há muito tempo. Em Firenze. — a fala pausada do Mentor denotava angústia diante de uma lembrança provavelmente dolorosa, e seu modo de falar parecia penoso, como o caminhar lento de um homem ferido na perna que sofresse a cada passo dado.

Percebendo o esforço do mestre em visitar o passado, Ettore respeitosamente calou-se, encorajando-o a continuar.

— Seu nome era Cristina. A mais bela entre todas as mulheres.

— Fala como se algo tivesse ficado entre vocês... — comentou Ettore com sutileza.

Ezio concordou com a cabeça.

— E ficou, de fato. A Ordem dos Assassinos sempre me levou por caminhos diversos dos de Cristina. Ainda muito jovem precisei fugir de Florença com minha mãe e minha irmã, pois meu pai e meus irmãos tinham sido apanhados em um ardiloso plano dos Templários para erradicar os Assassinos da cidade. A vingança então me conduziu para longe de meu amor. Reencontrei Cristina algumas vezes nos anos seguintes, mas sempre estive muito engajado à nossa causa, principalmente quando percebi que não se tratava apenas de mim. Fui tomado pela compreensão de que minha responsabilidade não se resumia a vingar minha família, mas honrar o legado de meu pai, o grande Assassino Giovani Auditore, lutando para proteger o direito humano de ser livre e fazer escolhas. Minha missão, entretanto, privou-me de Cristina. Ela se casou. Parecia feliz. Fiquei muito tempo sem vê-la e, quando a reencontrei, ela me acusou de tê-la abandonado, deixando-a para que se casasse com um homem a quem não amava, porque seu coração pertencia a mim. Cristina jamais entenderia meus motivos, Ettore. Mas eu não a condeno. Em seu lugar talvez eu mesmo não tivesse entendido.

— E o que aconteceu a ela? — quis saber o rapaz, de alguma forma já prevendo a resposta.

— Foi assassinada pelos lacaios de um antigo inimigo, um velho fanático que tinha conseguido obter a posse da Maçã e enlouqueceu. — replicou Ezio, lacônico. — Não cheguei a tempo para salvá-la, e só pudemos trocar algumas últimas palavras.

— Eu lamento muito por sua perda, mentor.

— Também lamento, figlio mio*(5). Também lamento.

O jovem notou uma sombra anuviar por um brevíssimo segundo o semblante do mestre, e reparou seus olhos tornarem-se nublados pouco antes do esgar de dor quase imperceptível a contrair-lhe os músculos da face.

Ettore Sparviero, solidário ao sofrimento do mestre, guardou um momento de silêncio pesaroso e constrangido. No entanto, Ezio parecia alheio ao pupilo. Sua mente o transportou a um ponto doloroso de seu passado.

Recordou-se com nitidez do beco barulhento de Florença, as pessoas agitadas fugindo, a cidade em polvorosa. Via com clareza o corpo de Cristina estendido no chão, envolvido em seus braços, o belo vestido dela manchado de sangue, o sopro de vida abandonando a mulher que amava, sobre a qual ele se debruçava agora, sentindo o peso da tristeza mortal tomar seu íntimo.

Requiescat in pace, amore mio...”*(6) ele sussurrara ao fechar gentilmente os olhos de Cristina, despedindo-se com carinho quando ela partiu para seu descanso eterno. Essas palavras ecoavam em sua mente, penetrando seu coração com a dor de pregos enferrujados.

 — E o que me diz de Caterina Sforza, maestro?

 Arrancado abruptamente de suas lembranças dolorosas, Ezio dirigiu ao companheiro um sorriso triste:

— É um caso complicado. Meu coração dói por causa daquela maledetta. Nos entendemos bem em público e na cama. Os momentos de amor com ela são bons. Muito bons, se quer saber. Não nego que conviver com Caterina despertou emoções adormecidas em mim há muito tempo. Julguei que poderia amá-la e, mais ainda, ter esse amor correspondido. Antes de Cesare atacar Monteriggioni, base de operações da Irmandade na Toscana, eu ingenuamente acreditei que meus dias de luta pudessem estar chegando ao fim. E passou pela minha cabeça que não seria nada ruim ter alguém como Caterina ao meu lado. Animou-me a possibilidade de viver o que restava de meus dias em sua companhia. No entanto, vim descobrir depois que a condessa de Forlí somente me usou. Deitou-se comigo para me manipular conforme seus interesses. Eu já devia saber que uma mulher como Caterina não tem ilusões sobre o amor, e que sua figa é pouco mais que um instrumento político, uma moeda de troca.

Uma pausa. Guardaram um instante de silêncio.

— Vou te dizer o que penso, caro Ettore — começou o lendário Mestre Assassino, amargurado, após mais um gole de vinho — Homens como nós não foram feitos para o amor. Somente para a guerra.

— É o que parece, mentor. — concordou o loiro, consternado.

— Bem... — a voz grave de Ezio, que estava engrolada, repentinamente propôs — Então façamos um brinde, pois é o que resta a nós, desgraçados.

— Sim! — as faces de Ettore estavam afogueadas ao assentir — Um brinde a nós porque, embora todos duvidem, os Assassinos têm coração e também amam!

Salute! — bradou Ezio erguendo dramaticamente sua garrafa.

Salute! — ecoou Ettore, chocando a lateral de sua garrafa com a do mestre.

Tomaram um novo gole de seus gargalos e com olhos injetados de bêbados procuraram as primeiras estrelas que despontavam, entre nuvens acolchoadas, no céu já praticamente escuro de Roma.


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Notas finais do capítulo

Notas:

1 - Piazza del Popolo: A Piazza del Popolo (em português: Praça do Povo) é uma das célebres praças de Roma.
A praça e a sua porta constituem um ótimo exemplo de "estratificação" arquitetônica, um fenômeno consumado na Cidade Eterna, fruto das várias intervenções por parte dos pontifícios que comportavam modificações e reelaborações dos trabalhos edificadores e viários.

A igreja de Santa Maria del Popolo, ao lado da porta, foi erigida no século XI no local onde Nero morreu e foi sepultado, sendo mais tarde reconstruída por sob o papado de Sisto IV, por Baccio Pontelli e Andrea Bregno, entre 1472 e 1477, que lhe imprimiram um aspecto maioritariamente renascentista. Entre 1655 e 1660, o papa Alexandre VII devidiu restaurar a igreja, dando-lhe um aspecto brioso; para iss1o encarregou Gian Lorenzo Bernini, que restauraria novamente a igreja, desta vez imprimindo-lhe uma expressão barroca que permaneceu até hoje. A igreja acolhe obras artísticas de grande relevo: de Caravaggio, a "Conversão de São Paulo" e a "Crucificação de São Pedro", bem como vários afrescos de Pinturicchio, "Assunção da Virgem" de Annibale Carracci. No campo da arquitetura, está patente a marca de Rafael Sanzio e de Bramante, e algumas esculturas de Andrea Bregno e de Gian Lorenzo Bernini, como o magnífico órgão sobre dois anjos em bronze.
2 – Buongiorno, maestro: Bom dia, mestre.
3 – Figa – Termo popular pejorativo para vagina.
4 – Puttane – putas, em italiano.
5 – Figlio mio – Meu filho, em italiano.
6 – Requiescat in pace – expressão latina para “Descanse em paz”, Amore mio – meu amor, em italiano.

Nos vemos em quinze dias, pessoal!



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