Assassin's Creed: Colony escrita por Danilo Alex


Capítulo 4
Persona non grata


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Desculpem o pequeno atraso!

Hoje o capítulo aborda um personagem importante e interessante.
Espero que gostem!
No final, como sempre, disponibilizarei traduções e notas.
Boa leitura!!!



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Itália, Cidade de Roma, ano de 1503.

 

 

Uma vez iniciado seu caminho dentro da Ordem, Ettore Sparviero trabalhou furiosamente em prol dos Assassinos.

A luta prosseguia.

Niccolò Machiavelli e Ezio Auditore, reunidos com os líderes das facções aliadas ao Credo, tinham chegado à conclusão de que, para vencer aquela guerra, seria necessário agir estrategicamente. Sua missão consistia em desgastar o poder Templário nas mãos dos Borgia pacientemente, derrubando os aliados de Cesare e Rodrigo, principalmente do primeiro, privando-o de suprimentos e de suas fontes de apoio político, financeiro e militar.

Foi justamente o que passaram a fazer.

Por meio de Egídio Troche, um senador romano frequentador do Rosa in Fiore e que devia dinheiro ao tesoureiro de Cesare, conseguiram confirmar a identidade do banqueiro do Duque Templário: Juan Borgia. Tratava-se de um cardeal corrupto, dado a excessos carnais, como a gula, bebedeira e fornicação. Ajudado por Egídio e pelas garotas que trabalhavam para Claudia, Ezio se infiltrara em uma comemoração noturna organizada pelo cardeal que, surpreendido pelo lendário Mestre Assassino, tombara a seus pés, vítima de sua lâmina implacável.

Aquela primeira vitória era significativa, ainda que pequena.

Ezio trabalhava duramente para consolidar as forças da Irmandade em toda a Roma. Com a ajuda dos Ladrões da Guilda, a pedido de La Volpe, comandou a reforma do La Volpe Addormentata, transformando-a em uma estalagem funcional que, além de gerar lucros, serviria como fachada convincente para a base de operações da Guilda de Gilberto.

Investiu também no Rosa in Fiore, incumbindo Claudia de renovar totalmente o estabelecimento e dar-lhe nova e melhorada aparência. E ainda, a pedido de Bartolomeo, colaborou na melhoria da Caserma Di Alviano, trabalhando nas defesas da cidadela e ampliando os alojamentos dos soldados. Realizaram com sucesso essa renovação graças ao projeto requisitado por Bartolomeo a Michelangelo*(1), um notável florentino que era, ao mesmo tempo e com igual genialidade em todas essas áreas, arquiteto, escultor, pintor e poeta.

Embora jamais admitisse, Leonardo Da Vinci*(2), estimado amigo de Ezio, tinha certo ciúme de Michelangelo. Simplesmente hilário.

Aqui é também importante frisar que o primeiro encontro entre Leonardo e Ettore não foi exatamente o que se pode classificar como amistoso.

O aprendiz tinha acabado de retornar ao esconderijo depois de uma missão bem sucedida no distrito romano de Trastevere.

Estava ansioso para se reportar ao Mentor, narrar seu êxito e deixá-lo orgulhoso. Moveu-se pelos corredores e salões da grande base Assassina, orientado pelo som da voz do Mestre. Percebeu que Ezio parecia mais alegre do que o habitual, rindo alto e conversando animadamente com alguém.

Antes mesmo de se deparar com Leonardo, Ettore já implicava com ele. Cheio de ciúmes filial, perguntava-se quem seria aquele, capaz de conquistar tamanho apreço do Mestre Assassino.

Sua imaturidade juvenil às vezes o fazia parecer uma criança geniosa enciumada do pai, desejosa de atenção. Aproximou-se evitando fazer ruído, parou por um momento e inspirou fundo. Deixou a cabeça descoberta ao jogar o capuz do traje de aprendiz para trás e, como se tivesse ensaiado, surgiu espontaneamente no campo de visão da dupla, que se encontrava no meio de uma conversa sobre amenidades.

— Com licença, Mentor. Ah, minhas desculpas. Não sabia que tinha um visitante. — mentiu — Queria apenas relatar o cumprimento da missão que me confiou.

Nessun problema*(3), meu amigo. Entre, por favor, entre! Quero apresentá-lo a uma pessoa muito querida.

O pupilo Assassino lançou um olhar avaliativo para o homem que ocupava uma cadeira ao lado de seu Mentor. Aparentemente estava se sentindo em casa, pois segurava uma taça de vinho e tinha as pernas cruzadas elegantemente quando Ettore chegou. Assim que Ezio declarou pretender fazer as devidas apresentações, o desconhecido rapidamente tratou de deixar a taça de lado e se colocar de pé polidamente.

Sendo alguns anos mais velho que Ezio, ostentava no olhar o brilho de um espírito ainda jovem e decidido, embora a castanha barba cheia, bem cuidada e permeada de fios brancos envelhecesse um pouco os contornos seu rosto jovial e delicado. Tinha cabelos castanho-escuros consideravelmente longos, olhos muito azuis e inteligentes. Possuía aproximadamente a mesma estatura de Ezio, era atlético, dotado de uma postura altiva, quase aristocrática. Tratava-se de um homem bonito e que se vestia elegantemente; usava uma boina escarlate e trazia sobre os ombros uma capa bordada da mesma cor.

— Leo, este é o jovem sobre quem mencionei mais cedo. Ettore Sparviero, o discípulo mais dedicado de nosso Credo atualmente.

Onoratissimo* (4), messere Sparviero. — disse o visitante ao inclinar-se garbosamente em uma pequena e cortês reverência — Seu mestre me falou muito bem de você.

O aprendiz o cumprimentou com um aceno de cabeça e um sorriso tão mínimo quanto breve.

Voltando-se para seu jovem recruta, sem esconder sua satisfação Ezio anunciou:

— Ettore, este é meu grande amigo e importante colaborador de nossa Ordem, Leonardo Da Vinci.

A expressão de Ettore mudou instantaneamente ao ouvir isso.

— Da Vinci? — repetiu arregalando os olhos e comprimindo os lábios, recuando instintivamente um passo antes de levar perigosamente a mão ao cabo da espada — Não é esse o homem encarregado de estudar a Maçã e revelar seus segredos aos Borgia? Que inventa armas poderosas e desenvolve máquinas de guerra para o inimigo, deixando-nos em alarmante desvantagem? Como pode permitir que alguém tão vil profane a santidade deste teto e tome vinho em sua companhia, Mentor? Só posso concluir que ele usou os poderes da Maçã para confundir sua mente. Maestro, afaste-se. Vou derrubar este traidor com minha própria lâmina.

Leonardo parecia muito mais envergonhado do que amedrontado.

Ser* (5) Ettore, eu sei que está aborrecido. — balbuciou encabulado, o rosto afogueado, olhos baixos, as mãos se retorcendo embaraçosamente como um menino apanhado no meio de uma travessura — Já esperava ser persona non grata*(6) aqui entre vocês. Mas se puder me deixar explicar...

— Não será necessário, Leonardo. — interrompeu Ezio, erguendo a mão ao interpor-se entre o amigo e o discípulo.

Seu rosto assumiu uma expressão severa quando direcionou um olhar faiscante para o estimado aprendiz:

— Ettore! Parece que é você que não está em seu perfetto*(7) juízo. Eu elogiava seu comportamento ainda agora, e você me constrange assim na presença do meu amigo? Onde estão os seus modos? Faça o favor de se retratar imediatamente.

— Ezio, não há necessidade. Eu compreendo a irritação do jovem. Não me ofendi... — começou Da Vinci, conciliador.

Porém, sem olhá-lo, novamente o Mestre Assassino ergueu a mão para silenciar gentilmente o amigo, enquanto seus olhos negros continuavam indignados e fixos no aluno. Exatamente como um pai corrigindo seu caçula em público.

— Estou esperando seu pedido de desculpas a ele, Ettore. Andiamo*(8)!

O recruta afastou as mãos da espada na bainha e encolheu os ombros, ainda tentando se justificar:

— Mas... mas... Mentor, ele se aliou a nossos inimigos...

— Por meio de coação, Ettore! Cesare obrigou Leonardo a trabalhar para ele, estudando a Maçã e desenvolvendo armas, porque ameaçaram matá-lo caso se recusasse. Por nossa sorte, Leonardo incluiu de propósito alguns defeitos em seus projetos de máquinas de guerra e fingiu-se menos inteligente do que é quando estudou o artefato. Se ele tivesse empregado toda a sua genialidade, não teríamos mais nenhuma chance de vencer os Borgia. Sabe o que ele fez ao invés disso? Utilizou os poderes da Peça do Éden para me encontrar. Se descobrirem que Leonardo veio até mim, ele é um homem morto. Meu amigo está arriscando a vida para se explicar e propor nos ajudar. E você o insultou.

— Tive minhas razões. — retrucou Ettore, na defensiva, ainda resistindo em dar o braço a torcer.

— Todas elas equivocadas, tenho certeza. — devolveu Ezio, exasperado. — Precisa melhorar sua maneira de pensar, Ettore. Seu hábito de fazer julgamentos instantâneos ainda pode custar a vida de alguém. Seja humilde e tome isso como lição. Leonardo não é inimigo. Pelo contrário. Você nem faz ideia de quantas vezes os inventos desse homem ajudaram nossa Ordem, salvaram minha vida. Se Leonardo não tivesse me oferecido tamanho auxílio nos tempos difíceis, seu mentor não estaria aqui, vivo. E se eu não vivesse até os dias de hoje, é provável que você também não, Ettore. Machiavelli inicialmente não aprovava minha ideia de recrutar noviços entre os cidadãos injustiçados de Roma, o que significa que dificilmente interferiria caso visse os guardas estripando você em praça pública. Ao salvar minha vida, indiretamente Leo também estava preservando a sua, garoto. O mínimo que ele merece é o seu respeito.

O recruta abaixou a cabeça e fez silêncio por um momento, refletindo.

— E se ele contar a alguém a localização de nosso esconderijo, mesmo acidentalmente? — questionou então o teimoso pupilo num fio de voz, sem olhar diretamente para os dois homens diante de si.

— Eu não farei isso. — assegurou Da Vinci, sincero.

— Mas e se ele contar? — insistiu Ettore, ignorando propositalmente o visitante e olhando altivamente para o Mestre, em desafio.

— Não acontecerá. Se chegar a acontecer... — a voz de Ezio era firme, e ele não olhou para o velho amigo quando afirmou em seguida — Eu mesmo matarei Leonardo. Com minhas próprias mãos. Ele está bem ciente disso.

Ettore olhou de Ezio para Leonardo, que estava de pé, pouco atrás do Mentor.

O artista não parecia preocupado ou intimidado. Na verdade, mostrava-se descontraído e cordial. Empunhava outra vez a taça de vinho pela metade, a qual ergueu em direção ao aprendiz Assassino em um brinde silencioso, meneando a cabeça de forma bem humorada. Logo em seguida, levou a taça até a boca para tomar mais um gole e, assim, esconder um sorriso discreto.

Aquela, pensou Ettore, era a postura de um homem sensato o bastante para nunca despertar a ira de alguém como Ezio Auditore.

O jovem considerou que aquele poderia ser um bom exemplo a ser seguido. Ele também não gostaria de provocar desnecessariamente a fúria do Mentor. Ademais, a última resposta do Mestre Assassino em relação à possibilidade de deslize do amigo satisfizera plenamente o discípulo enciumado.

Finalmente dando-se por vencido, ele tombou a cabeça, ruborizado de vergonha e disse, mal conseguindo olhar para o homem que caluniara:

Perdonatemi*(9), messere Da Vinci.

— Va bene, ragazzo.*(10) Ficou no passado. — sorriu Leo, amigável.

As feições de Ezio se abrandaram e seu olhar ia de um amigo a outro enquanto esboçava um sorriso aprovador.

— Mas espero que compreenda minha indignação. — reiterou o jovem, mal humorado — Aquelas armas de fecho de roda que você criou para os soldados dos Borgia... Têm precisão, alcance e potência diabólicos! Os telhados e as ruas de Roma estão infestados de atiradores portando aquela coisa, e em mais de uma ocasião escapei por muito pouco de ter minha cabeça arrebentada por seus tiros.

Sí! Ma certo!*(11) — apressou-se o artista em dizer — Claro que compreendo. E lamento todos os transtornos que meus inventos causaram, tanto a você quanto à Ordem. Como Ezio explicou, eu tive que dar algo aos Borgia se quisesse permanecer vivo. Morto eu não teria utilidade a ninguém. Mas te dou a minha palavra, Ettore: vou me redimir por esse erro, e recompensá-los apropriadamente o quanto antes.

Assentindo, o recruta aproveitou o momento para informar o Mentor sobre os detalhes da missão e depois solicitou licença para se retirar, sendo surpreendido pela recusa de Ezio. Sem entender, olhou para Da Vinci, pedindo silenciosamente uma orientação.

— Eu não estava brincando quando afirmei que pretendo me retratar com vocês. Com “o quanto antes” eu quis dizer literalmente “”, “agora”.

Perplexo e cada vez entendendo menos, o rapaz voltou seu olhar para o Mestre, que explicou pacientemente:

— Leonardo está aqui por sua causa, Ettore. Por causa de você e sua família. Contei-lhe sobre o que houve à Giuliana, e ele se propôs a vir até aqui ajudar. Além de cientista, matemático, inventor, astrônomo, engenheiro, geólogo, anatomista, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico, Leo também é um pintor de extrema genialidade.

— Não acredite em tudo o que Ezio diz. — corou Da Vinci com um sorriso modesto — Ele gosta de me superestimar.

— Estou falando apenas a verdade. — garantiu Ezio, e continuou — Com suas habilidades, Leo nos ajudará a encontrar Giuliana. Você lhe descreverá sua irmã do modo mais preciso que conseguir, e ele fará uma pintura, algo que ele chama de retrato falado*(12). A partir desse retrato, faremos cópias e espalharemos por nossas guildas em todas as cidades, ampliando assim o alcance de nossa busca.

— Faria isso por mim? — sussurrou Ettore com a voz embargada ao mirar os olhos azuis do artista.

— Sem sombra de dúvidas. Alegra-me saber que, a despeito das tentativas dos atiradores Borgia, sua cabeça continua no lugar, pois só desse modo serei capaz de conhecer as feições de Giuliana através de seus olhos, Ettore. — gracejou Da Vinci, a fim de desanuviar definitivamente a atmosfera de desconfiança e animosidade que se formara ali desde o princípio da conversa — Mas me fale de sua irmã, meu jovem amigo. Ela se parece com você?

Depois de pensar um pouco sobre a pergunta, puxando uma cadeira para perto de Leo, Ettore respondeu:

— Os olhos dela são iguais aos meus. Talvez o nariz também. Ela puxou mais ao meu pai, sabe? Já eu vim ao mundo com semblante parecido com o de minha mãe. Enfim, Giuliana tem por volta de dezoito anos hoje. Possui uma pinta de nascença no queixo, e os cabelos são lisos e compridos, levemente ondulados. Os fios são dourados como o meu cabelo, embora o dela seja de tonalidade um pouco mais escura...

E Ettore passou a próxima hora descrevendo todos os pormenores físicos que conseguia se lembrar da irmã.

Leonardo Da Vinci não o interrompeu uma vez sequer. Permaneceu o tempo todo prestando atenção na descrição, como se bebesse as palavras do rapaz. Às vezes tombava a cabeça para o lado, a fim de escutar melhor e encorajar Ettore a continuar falando. Alisava pensativamente a barba bem cuidada enquanto ouvia. Tomou alguns goles de vinho durante a narrativa, sem nunca desviar os olhos de seu interlocutor.

Molto bene*(13). — exclamou depois de algum tempo, ao perceber que o rapaz já não tinha muito mais a acrescentar — Acho que terminamos. Agora o resto é comigo.  Passei muito tempo fora, preciso voltar antes que os homens dos Borgia estranhem minha ausência prolongada. Com todos os detalhes que me deu, irei trabalhar na pintura em meu ateliê e logo mando notícias.

— Você não vai anotar nada do que eu disse? — quis saber Ettore, estupefato.

— Está tudo devidamente anotado. — respondeu Da Vinci sorridente, tocando a própria fronte com o indicador ilustrativamente — Bem aqui.

Diante do olhar de incredulidade do discípulo, Ezio resolveu intervir:

— Ettore, vamos dar um voto de confiança ao Leo, sí*(14)? Se ele diz que é capaz de se lembrar de tudo o que você lhe contou, é porque ele de fato é.

O jovem Sparviero concordou com um gesto de cabeça.

— Agradeço muito por sua atitude, signore*(15) Da Vinci. Se não precisam mais de mim, pretendo me retirar agora.

— Suba até o telhado e verifique o pombal, por favor. Talvez haja mensagem nova de nossos aliados. — solicitou Ezio.

— Certamente. Mentor, maestro Leonardo, scusatemi*(16).

Ezio e Da Vinci acenaram com a cabeça educadamente e o rapaz os deixou.

O artista então, quando teve certeza de que Ettore já não podia mais ouvi-lo, voltou-se para o amigo, comentando com empolgação:

Ma quanto bello é questo ragazzo!*(17) — e suspirou ao completar, os olhos brilhando sonhadoramente — Ah, se Salai e eu não fôssemos tão próximos...

— Nem pense nisso, Leonardo. — advertiu Ezio com uma risadinha — Ettore Sparviero o mataria agora mesmo, sem piscar, se ao menos imaginasse o que está se passando em sua cabeça neste momento.

O artista pareceu um pouco decepcionado.

Suspirando, conformado, disse:

— Uma lástima. Ele tem olhos verdadeiramente impressionantes. Luxuriantes, eu diria. E seu aspecto lembra o de um anjo... — e então uma ideia repentina iluminou seu rosto.

Voltando-se para o Mestre Assassino, perguntou:

— E se eu convidasse Ettore para ser meu modelo, Ezio? Você acha que ele aceitaria posar para mim?

O Assassino pensou por um instante.

— Bem, creio que desde que você permita que Ettore permaneça vestido enquanto você pinta seu retrato, talvez ele concorde em aparecer em seu estúdio qualquer hora dessas, Leo.

Ambos riram.

— Venha, velho amigo. — chamou Ezio — Eu o acompanho até a porta.

***

Poucos dias se passaram desde o primeiro encontro de Ettore com Leonardo Da Vinci.

O rapaz viu Ezio feliz da vida com uma encomenda que recebera do amigo. Reuniu os irmãos para lhes mostrar as novidades providenciadas pelo inventor.

Entre os novos equipamentos havia: uma lâmina oculta dupla, com a qual seria possível realizar com eficácia dois assassinatos ao mesmo tempo, uma pequena pistola retrátil que podia ser atarraxada ao bracelete, uma lâmina envenenada, uma braçadeira metálica para o antebraço esquerdo, uma luva de couro extremamente aderente, que permitia agilidade na escalada em praticamente qualquer tipo de superfície, e uma besta que, embora pequena, se mostrava poderosa e resistente, acompanhada por seis dardos envenenados reutilizáveis e de efeito quase instantâneo.

Após as demonstrações, quando todos já se afastavam, Ezio pediu que Ettore aguardasse um pouco.

Uma vez a sós, Ezio retirou também do baú um papel enrolado em forma de canudo, preso com um laço, como se fosse um projeto arquitetônico.

— Leo concluiu o retrato falado de sua irmã. — falou, estendendo o papel para o aprendiz — Ele quer saber sua opinião, porque apenas você pode dizer se isto retrata Giuliana de forma fidedigna. Estou apenas aguardando sua aprovação para que façamos as cópias e as enviemos a todos os nossos associados, estejam perto ou longe daqui.

Meio cético, Ettore virou-se, rompeu o laço e passou a desenrolar a pintura. Assim que visualizou a imagem, parou estático, permanecendo em silêncio perturbador.

— E então? — perguntou Ezio, ansioso. Respeitara o espaço do amigo; da posição em que se encontrava, não era capaz de enxergar o desenho e, mesmo se fosse, de nada adiantaria, já que nunca vira Giuliana Sparviero na vida.

Os lábios de Ettore se moviam na tentativa de formular uma resposta, mas não emitiam som. Estava chocado demais para conseguir articular alguma palavra. O papel tremia em suas mãos. Seus olhos verdes estavam arregalados.

Em cores e traços vivos e estupendos, sua bela irmã, reproduzida com perfeição ali, parecia olhá-lo de volta de dentro do papel, o olhar doce e meigo de sempre e um leve sorriso nos lábios macios. Quem visse aquela pintura jamais acreditaria que Leonardo Da Vinci nunca antes encontrara pessoalmente a moça retratada. Era impossível crer que aquela garota não fora pacientemente sua modelo por horas a fio.

— É ela! — finalmente Ettore ouviu-se dizendo com a voz trêmula e embargada de emoção — Simplesmente perfeito! Mestre Leonardo é um homem tocado pela mão de Deus!

E então, quando a onda de sentimentos que o assaltava tornou-se impossível de controlar, lágrimas quentes formigaram-lhe os olhos antes de rolarem livremente por seu rosto jovem. Com algum esforço, disse:

 — É a minha irmãzinha que vejo neste papel, Mentor. Faz tempo que a levaram e eu... Sinto tanto a falta dela...

Ezio tomou delicadamente a pintura em suas mãos, colocou de lado, aproximou-se e abraçou fraternalmente seu discípulo.

— Nós vamos encontrá-la, meu amigo. — encorajou, partilhando sua tristeza — Ainda vamos encontrar Giuliana.


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Notas finais do capítulo

Glossário e Notas:

1 – Michelangelo: Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (Caprese, 6 de março de 1475 — Roma, 18 de fevereiro de 1564), mais conhecido simplesmente como Michelangelo ou Miguel Ângelo, foi um pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano, considerado um dos maiores criadores da história da arte do ocidente.

Ele desenvolveu o seu trabalho artístico por mais de setenta anos entre Florença e Roma, onde viveram seus grandes mecenas, a família Medici de Florença, e vários papas romanos. Iniciou-se como aprendiz dos irmãos Davide e Domenico Ghirlandaio em Florença. Tendo o seu talento logo reconhecido, tornou-se um protegido dos Medici, para quem realizou várias obras. Depois fixou-se em Roma, onde deixou a maior parte de suas obras mais representativas. Sua carreira se desenvolveu na transição do Renascimento para o Maneirismo, e seu estilo sintetizou influências da arte da Antiguidade clássica, do primeiro Renascimento, dos ideais do Humanismo e do Neoplatonismo, centrado na representação da figura humana e em especial no nu masculino, que retratou com enorme pujança. Várias de suas criações estão entre as mais célebres da arte do ocidente, destacando-se na escultura o Baco, a Pietà, o David, as duas tumbas Medici e o Moisés; na pintura o vasto ciclo do teto da Capela Sistina e o Juízo Final no mesmo local, e dois afrescos na Capela Paulina; serviu como arquiteto da Basílica de São Pedro implementando grandes reformas em sua estrutura e desenhando a cúpula, remodelou a praça do Capitólio romano e projetou diversos edifícios, e escreveu grande número de poesias.

Ainda em vida foi considerado o maior artista de seu tempo; chamavam-no de o Divino, e ao longo dos séculos, até os dias de hoje, vem sendo tido na mais alta conta, parte do reduzido grupo dos artistas de fama universal, de fato como um dos maiores que já viveram e como o protótipo do gênio. Foi um dos primeiros artistas ocidentais a ter sua biografia publicada ainda em vida. Sua fama era tamanha que, como nenhum artista anterior ou contemporâneo seu, sobrevivem registros numerosos sobre sua carreira e personalidade, e objetos que ele usara ou simples esboços para suas obras eram guardados como relíquias por uma legião de admiradores. Para a posteridade Michelangelo permanece como um dos poucos artistas que foram capazes de expressar a experiência do belo, do trágico e do sublime numa dimensão cósmica e universal.


2 – Leonardo Da Vinci - fez por merecer o título de mais versátil artista de que se tem notícia. Pintor, desenhista, escultor, arquiteto, astrônomo, além de engenheiro de guerra e engenheiro hidráulico entre outros ofícios, cuja mente será sempre objeto de admiração. Juntamente com Rafael e Michelangelo deram base ao Renascimento. Nascido no vilarejo de Vinci, na região de Florença, Itália, em 15 de abril de 1452, era filho ilegítimo de Ser Piero um proprietário rural e Catarine uma camponesa. Numa referência a cidade natal, adotou o sobrenome Da Vinci.
Desde criança suas habilidades artísticas já eram notadas pelo pai que reuniu alguns de seus trabalhos e encaminhou a oficina de Andrea del Verrocchio (1435-1488), figura de grande importância no âmbito das artes e oficio da região. Leonardo com 14 anos de idade foi aceito na oficina de Verrocchio, passando a ser seu aprendiz. Logo, aos 20 anos, passou a compor a Corporação dos Pintores de Florença, nessa época já era admirado e aceito por outros artistas e intelectuais. Morou em Milão, Veneza e Roma até ser convidado em 1516 pelo soberano francês Francisco I, para morar no Castelo de Clous na França. Aos 67 anos, já abatido e com a mão direita paralisada, morreu em 02 de maio de 1519. Antes de morrer Da Vinci que era canhoto, deixou vários manuscritos que mais tarde seriam reunidos no Tratado sobre a pintura.

Na oficina de Verrocchio, Leonardo teve o aprendizado que levaria para todo vida. Aprendeu as técnicas da fundição e seus segredos; a partir de modelos nus e vestes drapeadas, aprendeu a preparar quadros e esculturas; aprendeu a desenhar animais e plantas, bem como, teve uma base sólida no aprendizado na perspectiva e no uso das cores.

Da Vinci foi um artista cuja genialidade despertou a curiosidade por quase tudo na natureza. Foi um dos primeiros a sondar os segredos do corpo humano e o desenvolvimento dos fetos no útero, dissecando cadáveres. Observou o voo dos pássaros e insetos, o crescimento das plantas, as formas, sons e cores da natureza, que por sua vez, dariam base a sua arte. Além disso, dedicou-se a escrever da direita para esquerda de maneira que suas anotações só poderiam ser lidas refletidas no espelho e foi o inventor de uma técnica que os italianos chamaram de “sfumato”, que consistia em fazer com que uma forma se misturasse a outra por meio de contornos embaçados e cores suaves. Leonardo Da Vinci recusava-se a entregar uma encomenda de um quadro enquanto não tivesse satisfeito com ela.

Como inventor criou centenas de projetos de hidráulica, cosmologia, geologia, mecânica, música e audaciosos projetos de engenharia. Na década de 1960 em Madri, descobriu-se mais de 700 páginas de desenhos sobre aviação, arquitetura e engenharia mecânica, datadas entre 1491 e 1495. Muito embora a maioria de seus projetos nunca tenha saído do papel é inegável sua contribuição para as ciências.

Entre suas obras mais famosas estão Mona Lisa ou Gioconda (1503-1505) na qual fez uso da técnica do esfumado que havia criado, encontra-se atualmente no Museu do Louvre em Paris; e A última ceia (1495-1497), um mural representando Cristo e seus apóstolos encomendado pela Igreja de Santa Maria dele Grazie, em Milão. O fato de não ter assinado suas obras, faz com que muitos de seus trabalhos ainda estejam perdidos, além disso, ganhou fama por deixar grande parte de suas obras inacabadas. O Papa Leão X ao se referir a essa característica proferiu: “Da Vinci gosta mais do caminho que da chegada, mais do processo que do resultado.”.
3 – Nessun problema – em italiano: “sem problemas”.
4 – Onoratissimo – Muito honrado em conhecê-lo.
5 – Ser – em tradução livre do italiano, parece ser uma versão abreviada de messere, ou seja, senhor ou meu senhor.
6 – Persona non grata – expressão do Latim utilizada para indicar alguém que não é bem vindo, alguém que é desagradável, indesejado em algum lugar.
7 – Perfetto – Perfeito.
8 – Andiamo – Vamos logo!
9 – Perdonatemi, messere – Me perdoe, meu senhor
10 – Va bene, ragazzo – Tudo bem, rapaz.
11 – Sí! Ma certo! – Sim! Certamente!
12 – Retrato falado – Na verdade, o primeiro retrato falado da História surgiu bem mais tarde, em 1881, feito pela polícia inglesa Scotland Yard para capturar um homem suspeito de assassinar duas pessoas dentro de um trem que cumpria o trajeto Londres-Bringthon. Todavia, recorrendo à liberdade criativa de autor, decidi adiantar essa proeza aproximadamente 300 anos e a transferi da Inglaterra para a Itália, a fim de explicar meu audacioso plano de localizarem Giuliana. Obviamente este é um fato fictício, improvável mas não impossível. Assim como diversos projetos e inventos de Da Vinci, feitos por ele naquela época serviram como base para a invenção contemporânea do avião, por exemplo, não é difícil imaginar que Leo, com toda sua genialidade, pudesse ter pintado um predecessor do que hoje conhecemos por “retrato falado.”. Se mesmo após essa explicação ainda parecer um fato inconcebível, peço perdão e justifico que esse foi um recurso que considerei ideal para esse ponto da fic. Me julguem! kkkk
13 – Molto bene – Muito bem.
14 – Sí – Sim.
15 – Signore – Senhor.
16 – Scusatemi – Com sua licença.
17 – Ma quanto bello é questo ragazzo – Mas como é lindo esse rapaz.


Espero que tenham gostado! Nos vemos em quinze dias!



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