Assassin's Creed: Colony escrita por Danilo Alex


Capítulo 3
Aprendiz de Assassino


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Hoje acompanharemos a introdução de Ettore à Ordem.

Nas notas finais disponibilizarei traduções.

Boa leitura!



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Naquela ocasião, Ettore teve uma grande primeira impressão do QG dos Assassinos em Roma. O casarão às margens do Tibre, composto por diversos andares e de aparência austera, mesmo recoberto por uma espessa camada de hera e aparentando abandono ainda exibia traços de antiga imponência.

— Esse prédio foi descoberto por Fábio Orsini, primo de Bartolomeo d’Alviano, membro de nossa Ordem e meu amigo pessoal. — explicou Ezio ao perceber o olhar de interesse do rapaz vagando pelas sólidas paredes enquanto os dois entravam discretamente no esconderijo — A família Orsini luta ao nosso lado porque teve seu patrimônio usurpado pelos tiranos Borgia, sendo Fabio um Assassino ele próprio. Em breve você terá a oportunidade de conhecer a ambos, assim como todos os nossos outros irmãos.

Uma vez dentro do esconderijo, Ezio automaticamente baixou o capuz, relaxando um pouco, sentindo-se em casa. O gesto revelou o rosto firme de um homem na casa dos quarenta anos, cuja fisionomia transmitia experiência, energia e determinação. Os cabelos eram escuros como os olhos vivos e a barba bem cuidada. A visão daquele semblante férreo impressionou a Ettore tanto quanto as paredes do Quartel-General. Fingindo não notar o assombro que sua fisionomia causava no companheiro, o Assassino olhou ao redor, fez um gesto amplo com as mãos enluvadas e continuou falando com naturalidade:

— Quanto a este lugar, creio eu que inicialmente foi utilizado como um grande depósito antes de ser abandonado às traças. É espaçoso e bem localizado, distante de olhares indiscretos. Serve bem aos nossos propósitos.

Ezio ainda estava falando quando um jovem espigado, trajando roupas escuras, de postura rígida e feições circunspectas, atraído pela conversa, aproximou-se sem ruído para juntar-se a eles, as mãos entrelaçadas atrás das costas de modo professoral. Olhou para um e para outro, e então acenou levemente com a cabeça para o Auditore:

Salve, Ezio!* (1)

Salute, Niccolò!* (2)

O recém-chegado encarou Ettore com olhos perscrutadores e cortantes como navalhas. Então, dirigiu a Ezio um olhar inquisidor, aguardando uma explicação ou uma apresentação.

— Machiavelli, conheça nosso novo recruta, messere* (3) Ettore Sparviero. — e voltando-se para o pupilo, o Assassino apresentou — Ettore, este é Niccolò Machiavelli* (4), uma das mentes mais afiadas de nosso tempo e nossa Ordem.

— Pode-se dizer sem medo de errar que eu sou a mente mais afiada; talvez não do nosso tempo, mas, com certeza, de nossa Ordem. — falou Machiavelli piscando de modo discreto e divertido para Ettore antes de ouvir Ezio bufando comicamente ao seu lado:

— Quanta modéstia!

Ignorando o comentário do amigo, Niccolò se adiantou para cumprimentar:

Benvenuto* (5), Ettore. Os inimigos dos Borgia são nossos amigos.

Lieta di conoscervi, maestro Machiavelli.* (6) — o jovem Sparviero apertou a mão do homem de preto, que embora fosse pelo menos dez anos mais moço que Ezio, ostentava um olhar compenetrado e um ar tão rigidamente grave e sério que o envelheciam sobremaneira.

— Quando encontrei esse rapaz, os homens dos Borgia estavam prestes a espalhar suas tripas pela Piazza Navona depois de destruir sua barraca, de onde ele tirava o sustento de sua família. Mais um pouco, e o que sobraria desse ótimo recruta estaria agora no fundo do Tibre, com uma pedra amarrada aos pés, virando comida para peixes. — dando um tapinha amistoso no ombro de Ettore, Ezio acrescentou, satisfeito — Fico feliz de ter chegado a tempo.

— Se você teve que interferir, as coisas não acabaram muito bem, presumo. — comentou Machiavelli alteando uma sobrancelha.

— Não para os guardas papais, pelo menos. — aquiesceu Ezio, sem emoção.

— Achei que tínhamos concordado que seria melhor se o recrutamento acontecesse com discrição, sem alarde desnecessário ou sujeira nas mãos. — o jovem trajado de preto não escondia sua irritação.

— E concordamos. Mas o caso de Ettore foi uma exceção. Situações desesperadas exigem medidas desesperadas. Além do mais, é uma boa adição para a Irmandade. Ele é um pouco magricelo talvez, mas isso o treinamento resolve. O garoto tem colhões, Niccolò! Eu o vi em ação; enfrentou vários guardas com uma adaga na mão. Mesmo sem prática ao manejar a arma, estava disposto a morrer lutando, quando poderia simplesmente ter fugido. Precisamos de gente assim trabalhando conosco.

Va bene.* (7) — rosnou o Assassino de preto, descontente.

Grazie mille* (8), messere Machiavelli. — interferiu Ettore, tentando apaziguar o clima tenso que se formara na sala — Devo minha vida a você e ao maestro Ezio. Devotarei a vocês cada um de meus dias a partir de hoje. Não se arrependerão.

— É o que espero, meu rapaz. — replicou Niccolò secamente enquanto se virava pronto a se afastar.

A voz rouca de Ezio, entretanto, o deteve:

Momentino* (9), Machiavelli. Temos um último assunto a tratar.

O Assassino de trajes negros voltou-se.

— Com quantos irmãos podemos contar aqui na Guilda nesse momento?

Niccolò pensou um pouco antes de responder.

— Provavelmente cinco ou seis. A maioria dos novos recrutas saiu em missão. Posso saber o motivo da pergunta?

Ma certo* (10). Ettore tem uma irmã, Giuliana, que foi levada pelos Borgia. Graças à tirania dos Templários, agora esses dois irmãos são completamente órfãos. Só têm um ao outro nesse mundo.

— Lamento ouvir isso, Ettore. — expressou o Assassino estrategista com sincero pesar — Temo dizer que infelizmente há grande possibilidade de que ela seja vendida a um mercador de escravos nas próximas horas ou, no mais tardar, dentro de dois ou três dias. É assim que nossos inimigos agem. A busca indiscriminada dos Templários por poder e controle visa o lucro acima de quase tudo.

— Dei a minha palavra ao rapaz de que a resgataríamos. — declarou Ezio com firmeza, sustentando o olhar do amigo antes de acrescentar — E de que, para isso, colocaríamos nossos homens nas docas imediatamente. Também acho boa ideia que alguns de nós vigiemos os acessos principais da cidade. Como você disse, não temos muito tempo antes que ela seja vendida. 

Machiavelli franziu a sobrancelha e comprimiu os lábios, aparentemente tentando manter o autocontrole.

— Por que faz promessas que não pode cumprir, messere Auditore? Nossa Irmandade não é uma rede particular de espiões ou mercenários da qual você possa muito bem dispor quando e como desejar.

— Nossa Irmandade tem como um de seus princípios básicos lutar contra a opressão, ao lado dos oprimidos. Você há de que concordar que esse é exatamente o caso. — rebateu Ezio sem pestanejar.

— Há questões mais urgentes. Derrubar Rodrigo e Cesare é nossa maior prioridade. — argumentou Machiavelli, irredutível.

Ettore assistia à discussão nervosamente, sem saber o que dizer ou pensar. Mas Ezio não desistia:

— Sempre acreditei que a nossa maior prioridade fosse a liberdade humana.

— A liberdade que buscamos é algo muito maior do que uma vida somente, Ezio. Nossa luta é para livrar toda uma nação. Não alcançaremos esse objetivo se começarmos a atender casos individualmente.

— Mas Niccolò, como iremos obter a liberdade coletiva, se isso não partir, primeiramente, de uma, duas, meia dúzia de almas? Como inserir Ettore na Ordem, ensinando a ele que existimos como guardiões da liberdade e convencê-lo a acreditar nisso, quando vemos a irmã dele prisioneira de nossos adversários e não fazemos nada a respeito? Se quisermos que os recrutas sigam o Credo, devemos antes viver o Credo. Devemos antes ser o Credo. O modo mais eficaz de ensinar algo ainda é o exemplo vivo.

As palavras inflamadas de Ezio pareceram surtir algum efeito afinal em Machiavelli, porque ele visivelmente relaxou um pouco. Ainda assim, replicou:

— Faça aquilo que achar melhor, meu amigo. Apenas lembre-se de que travamos uma guerra, a qual estamos perdendo. Os Templários se encontram muitos passos à frente de nós. Por acaso já se esqueceu de que Cesare Borgia tem a Maçã?

Ezio definitivamente detestava aquele tom descabido de admiração que captava na voz de Machiavelli sempre quando se referia ao espanhol Duque Cesare Borgia, filho de Alexandre VI e líder dos Exércitos Papais. Por isso, devolveu, azedo:

— Como eu poderia esquecer, já que você faz questão de me lembrar disso a todo instante?

— Se Cesare de fato aprender a usar os poderes da Maçã, que os céus nos ajudem! — sentenciou Machiavelli com uma expressão indecifrável, antes de completar provocativamente — Bem sabemos que há alguém altamente qualificado trabalhando para ele, a fim de ajudá-lo nesse sentido.

Ezio ficou claramente desconcertado ao ouvir isso. Tentou encontrar palavras, mas não soube o que dizer. De todo modo, Niccolò não esperou por uma resposta.

— São os seus métodos que eu questiono, ser Ezio. Jamais os resultados.

O Assassino de roupas negras pareceu refletir um momento sobre suas próprias palavras.

— Talvez um dia, quando tudo isso acabar, por sua causa eu me convença de que os fins justificam os meios. Até lá, tenha em mente que só há uma maneira de vencer: sendo racional. — a voz de Niccolò Machiavelli soou-lhes um pouco abafada em seguida, porque ele já estava longe quando, desagradável, repetiu — Seja racional, Ezio Auditore da Firenze.

Estando os dois novamente a sós no amplo e bem decorado hall de entrada do Esconderijo Assassino, Ettore comentou com amargura:

— Bem, me parece que ele possui a língua tão afiada quanto a mente.

Ezio riu com gosto do comentário do rapaz enquanto envolvia-lhe um dos ombros com um abraço fraternal, a fim de consolá-lo.

— Fico feliz que seja tão espirituoso, meu jovem amigo. Não leve muito a sério as palavras de Niccolò; embora um pouco antipático à primeira vista, é um bom homem. Ainda que a ironia e o sarcasmo sejam, para sua inteligência, tão indispensáveis quanto o ar que respira, isso não faz com que ele deixe de ser boa pessoa. É alguém profundamente comprometido com nossa causa, e anda extremamente angustiado devido o avanço de nossos inimigos. Todos estamos, na verdade, mas Machiavelli tem, como você mesmo testemunhou, uma forma muito peculiar de expressar isso. E não se preocupe, esse tipo de discussão que você presenciou é frequente entre nós. Ele gosta de me alfinetar, nossas opiniões divergem em vários pontos, mas no fim concordamos sempre com aquilo que é melhor para a Ordem. Não sei o que seria de nós sem sua perspicácia e mente estratégica. Tenho fé que com o tempo você vai aprender a gostar dele.

Molto bene.* (11) — assentiu Ettore sem grande entusiasmo.

— Deve estar faminto, não é? Acompanhe-me, por favor. Vou pedir que te sirvam algo para comer.

Conforme se encaminhavam para o salão onde os Assassinos costumavam fazer suas refeições, Ettore externou algo que estivera refletindo:

— Durante a discussão, Machiavelli alegou que Cesare Borgia está vencendo porque tem em seu poder a maçã. Maestro, não entendo como uma fruta pode ser algo decisivo em uma guerra.

Ezio sorriu complacente para o pupilo.

— Ah, mas essa não é uma maçã qualquer, meu caro. É muito especial, bem diferente das que você conhece. No entanto, tudo a seu tempo. Vamos te explicar com calma, e você há de entender tudo claramente.

Uma vez no salão de refeições, Ezio pediu que trouxessem bolo, vinho, pães, doces, salame, queijo e alguns cachos de uva.

Como alguém que não se alimentasse direito há dias, Ettore não se fez de rogado e imediatamente atacou a refeição, devorando tudo com grande apetite. Seu novo mestre o observava sorridente.

— E quanto a você, messere? Não vai comer nada? — quis saber Ettore mastigando ruidosamente uma fatia de bolo.

— Me chame de Ezio.  Somos amigos. — pediu o Assassino servindo-se apenas de uma taça de vinho — E, respondendo à sua pergunta, não, não vou comer nada agora. Talvez mais tarde. Bom apetite. Somente estou tomando esse gole para molhar a garganta, que ficou seca ao discutir com Machiavelli. Tenho muito a fazer por ora. Vou escalar alguns homens para sairmos imediatamente à procura de sua irmã. Eu mesmo quero liderá-los na busca. Pedirei também ajuda à Guilda dos Ladrões, dos Mercenários e das Cortesãs do Rosa in Fiore; todos eles são nossos aliados.  E pretendo ainda hoje percorrer as ruas da cidade, recrutando mais pessoas para juntar-se à nossa causa, assim como fiz com você. A propósito, com licença. Retorno em alguns minutos.

Ezio deixou o rapaz sozinho fazendo sua refeição, mas realmente voltou logo depois.

— Pronto. Já designei os irmãos que vão me auxiliar na busca. O esconderijo ficará sob a responsabilidade de Martino e Pietra, assessorados por Machiavelli. Já os instrui para que preparem água quente para seu banho, providenciem roupas limpas e te mostrem seus aposentos. Se precisar de algo mais, basta chamá-los.

— Eu gostaria de poder ajudar vocês na busca. — falou Ettore ao tomar um gole de vinho para ajudar a descer pela goela um grande e apetitoso naco de queijo que pusera na boca.

— Isso está fora de cogitação no momento. — objetou Ezio severamente — É muito perigoso, e você ainda não está pronto para uma missão dessas proporções. Os rapazes e eu sabemos nos virar. A maioria dos recrutas vive espalhada pela cidade, agindo como nossos olhos e ouvidos ao longo de toda a Roma, morando em suas próprias casas. Normalmente eu autorizaria que você fizesse o mesmo, mas, como eu disse a Machiavelli, o seu é um caso à parte. Nossos inimigos conhecem seu rosto, sua identidade e, depois daquele episódio sangrento na Piazza Navona, sem sombra de dúvida nossas cabeças estão a prêmio. A essa altura, com certeza há guardas vigiando sua casa, e seus vizinhos já devem ter sido persuadidos a entregar qualquer informação sobre seu paradeiro, seja em troca de uma tentadora soma em dinheiro, seja sob violentas ameaças.

Esboçando um sorriso divertido, o Assassino fez então um gesto amplo com as mãos, mostrando o lugar.

— Bem sei que nossas instalações não são exatamente o que se poderia chamar de un palazzo* (12), mas como no momento você precisa de um lar, procure ficar à vontade. Sinta-se em casa, Ettore. Aqui você está em família.

— Obrigado, signore* (13). Neste instante, porém, me preocupo mais com Giuliana. Minha irmã é apenas uma menina de saúde muito frágil. Ela nunca aguentaria uma vida de escravidão.

— Fique descansado, recruta. Iremos achá-la.

O Assassino já se preparava para sair quando Ettore o chamou:

— Ezio...

O homem se voltou a fim de encarar os olhos verdes do jovem feirante.

— Mais uma vez, muito obrigado por tudo que tem feito.

Ezio sorriu amistosamente:

— Não me agradeça ainda, meu amigo. Se quiser mesmo tanto expressar sua gratidão, se empenhe em cumprir a promessa que me fez de ser meu melhor soldado. Termine de comer e procure descansar, recuperar suas energias. Amanhã bem cedo iniciaremos o seu treinamento.

Sorrindo, Ettore anuiu meneando a cabeça, e ambos perceberam que as palavras não eram mais necessárias. Ezio então vestiu o capuz de seu manto, ocultando boa parte do rosto e reassumindo seu aspecto de mensageiro da morte, a mesma aparência que ostentava quando resgatou o rapaz algumas horas antes. Com a capa elegante esvoaçando atrás de si, o Mestre Assassino deixou o abrigo.

Silêncio seguiu-se à sua partida, e o jovem Sparviero, agora solitário, comia imerso em seus pensamentos. Terminou sua refeição e saiu à procura de Martino ou Pietra, rezando para não encontrar Machiavelli no caminho. Quando entrou no banho, a água quente massageou seus músculos, e só então ele percebeu o quanto estava tenso e cansado.

Depois de lavar-se, vestiu as roupas oferecidas pelos Assassinos e aceitou com gratidão a cama disponibilizada no alojamento. Acomodou-se no colchão de palha, cobriu-se com a manta de pele animal e dormiu quase imediatamente, caindo em um sono agitado, repleto de sonhos perturbadores com Giuliana em perigo, clamando por ajuda e sendo levada para cada vez mais longe dele.

***

No dia seguinte, antes que o sol despontasse no horizonte, Ettore já estava de pé, ansioso e cheio de disposição. Depois de um rápido desjejum, vestiu o traje de aprendiz, simples e com capuz. Em seguida, conheceu os demais irmãos, recrutas e Assassinos veteranos. Eles lhe contaram, cheios de assombro e respeito, que Ezio Auditore, o corajoso florentino que o salvara e recrutara no dia anterior era o homem que estava sendo responsável por reerguer a Irmandade dos Assassinos em Roma.

Ao oprimir e explorar o povo, os Borgia desavisadamente estavam conquistando numerosos inimigos de estado, os quais rapidamente se aliavam à causa dos Assassinos. Desse modo, gradativamente formava-se um grande exército o qual, ao crescer cada vez mais, logo seria capaz de fazer frente às hostes papais e à tirania Borgia.

Acompanhando os demais, Ettore cavalgou até um campo verdejante e afastado da cidade, o qual pertencia a um agricultor simpático à causa da Irmandade. Nesse lugar remoto, transformado em área clandestina de treinamento, os recrutas podiam ser preparados longe da vigilância dos guardas papais. Nas primeiras horas do dia, Ezio e Machiavelli instruíam exaustivamente os pupilos em equitação, esgrima, combate corpo a corpo, principalmente métodos eficazes para desarmar e nocautear o inimigo, e formas de ataque com mãos nuas. Também eram os mestres no manejo de diversos tipos de armas brancas. 

— Antes de empunhar sua arma, seja a arma. — repetia Ezio de modo incansável.

Mais tarde, quando o sol se erguia e os mentores tinham assuntos a tratar  com os Assassinos veteranos, as lições e os professores dos novatos eram substituídos.

O lendário Gilberto La Volpe, um homem que era tão misterioso e leal aos aliados quanto frio e perigoso aos inimigos, acompanhado pelos membros de sua Guilda de Ladrões, se ocupava em ensinar aos noviços da Irmandade sobre corridas, saltos, escaladas, movimentação silenciosa, infiltração e furtividade.

Percorriam as ruas e os telhados de Roma indicando opções de rotas de fugas e locais para se esconder com rapidez quando perseguidos. Passavam tempo estudando inimigos e seus aliados, espionando, seguindo sem ser notados, sabotando, ensinando aos recrutas como roubar imperceptivelmente ou criar distrações para afastar guardas de alvos potenciais ou áreas restritas, cuja vigilância precisava ser burlada antes da infiltração. Também com os Ladrões os futuros Assassinos aprendiam a manejar armas de alcance variado, como arcos e bestas, facas de arremesso e dardos.

Quando rumavam para a Caserma Di Alviano, na área sul de Roma, dentro dos muros da fortaleza que abrigava a facção dos Mercenários os recrutas da Irmandade recebiam então novas lições.

Ali conheceram o excêntrico general Bartolomeo d’Alviano, um homem grande e corajoso, de modos que facilmente poderiam ser erroneamente confundidos como rudes, de humor afável com os amigos e explosivo com os inimigos, cuja habilidade como guerreiro e líder era inquestionável. O Comandante d’Alviano tinha Ezio em grande estima. Era inseparável de sua arma, uma pesada espada de lâmina comprida e forjada para ser manejada com ambas as mãos, que ele tratava carinhosamente por Bianca.

Tendo sempre Bianca junto de si, com a ajuda de seus bem treinados condottieri* (14), Bartolomeo ensinava aos aprendizes da Ordem técnicas avançadas de combate armado a pé ou a cavalo, extremamente úteis quando aplicadas no campo de batalha.  Em Pantasilea Baglioni d’Alviano, esposa de Bartolomeo, os alunos encontravam extraordinária instrutora de estratégia militar, uma vez que a mulher possuía conhecimentos amplos nessa área e sua inteligência tática em frequentes ocasiões superava a do esposo.

Ainda na Caserma Di Alviano, os recrutas poderiam testar e aprimorar suas habilidades de combate corpo a corpo em um torneio que Bartolomeo realizava no subsolo de seu casarão com seus mercenários, a título de treinamento, mas também como entretenimento, já que costumava apostar dinheiro em seus campeões.

Quando não estavam com os Mentores Assassinos, Ladrões ou Mercenários, o aprendizado dos noviços os conduzia ao Rosa In Fiore, um dos mais sofisticados e discretos bordéis de Roma, o qual servia principalmente como fachada para a base da Guilda das Cortesãs.

Após a morte da antiga gerente, Claudia e Maria Auditore, respectivamente mãe e irmã de Ezio, passaram a administrar o lugar (contra a vontade do Assassino, verdade seja dita) a fim de obter informações e providenciar serviços para a Ordem. Ao entreter altos membros do clero, políticos e outros romanos importantes, as cortesãs eram capazes de extrair informações úteis e manter os Assassinos atualizados sobre a movimentação de seus inimigos, os Templários, bem instalados em posições de poder dentro de Roma.

Com as garotas de Claudia, os recrutas aprenderam como se tornar os olhos e os ouvidos da Ordem onde quer que estivessem. Receberam lições práticas sobre a arte da invisibilidade, passando despercebidos em plena vista e desaparecendo como fantasmas, misturando-se à multidão. Aprenderam a confundir e despistar perseguidores, e também a se esconder num piscar de olhos, como alguém que simplesmente se evaporasse no ar.

 Foram instruídos nas artimanhas de persuasão e como, por exemplo, poderia se recorrer ao vinho para deixar mais solta a língua de uma potencial fonte de informações, caso a mesma precisasse ser interrogada de forma reservada quando em público.

As Cortesãs partilhavam seu conhecimento sobre disfarces, criação de distrações, envenenamento discreto e movimentação anônima nas aglomerações de pessoas, de modo que em pouco tempo os recrutas eram capazes de esfaquear mortalmente um alvo em plena multidão, sem chamar a mínima atenção de quem estivesse ao redor, desaparecendo em seguida como se nunca tivessem estado ali.

Durante as noites após o jantar, apesar de toda a fadiga física acumulada ao longo do dia, para desespero de Ettore os recrutas eram encaminhados a um grande salão de estudos no esconderijo da Ilha Tiberina, onde Niccolò Machiavelli os ensinava sobre Aritmética, Geografia, História, Filosofia, Política, e aprofundava os ensinamentos sobre a doutrina e a essência filosófica que sustentava o Credo.

Ettore se dedicava ao máximo, superando seus limites, empenhando-se incansavelmente para ser o melhor dos novos recrutas. A rotina do treinamento, apesar de exaustiva e severa, prolongou-se por meses.

No segundo dia de treinamento, a mente do jovem Sparviero estava distante porque ainda não recebera notícias do paradeiro de sua irmã, apesar de todos os esforços de Ezio. As Guildas das facções aliadas também estavam cooperando na busca, mas ainda assim não tinham obtido qualquer informação realmente valiosa. Sentindo as esperanças diminuírem no coração de seu novo amigo, Ezio pousou a mão encorajadoramente em seu ombro, dirigindo-lhe um olhar fraternal e animador.

Aos poucos Ettore começava a entender que estava no meio de uma guerra milenar, algo bem maior do que ele, os colegas recrutas ou os mentores. Lutava pela sobrevivência e liberdade de toda a humanidade, conquistadas a alto preço.

E então o jovem feirante, convertido em aprendiz de Assassino, percebia que um novo sentido tomava forma em sua vida, e que ele se preparava, não para ser só mais um soldado, mas parte importante e decisiva dentro daquele conflito. Finalmente passava a perceber e encontrar o seu lugar no mundo.


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Notas finais do capítulo

1 - Salve - Oi ou Olá, em italiano.
2 - Salute - Vamos ver muito esse termo ao longo de toda a fic. Traduzido ao pé da letra, Salute quer dizer "Saúde", mas é muito utilizada entre eles como cumprimento, saudação.
3 - Messere - meu senhor.
4 - Niccolò Machiavelli - conhecido por nós como Nicolau Maquiavel, foi um importante historiador, escritor, poeta, músico, diplomata e filósofo da Renascença Italiana. Tendo a bela cidade de Florença como sua origem, Niccòlo escreveu a grandiosa obra "O Príncipe" inspirada muito provavelmente na pessoa de Cesare Borgia. Neste livro, Maquiavel expressa boa parte de seus principais pensamentos sobre governo e quais as características mais essenciais a um líder político.
5 - Benvenuto - Bem vindo.
6 - Lieta di conoscervi, maestro Machiavelli - Prazer em conhecê-lo, mestre Machiavelli.
7 - Va bene - Está bem, ok.
8 - Grazie mille - muito obrigado.
9 - Momentino - aguarde um momento.
10 - Ma certo - Certamente.
11 - Molto bene - Muito bom, Muito bem
12 - Palazzo - Palácio.
13 - Signore - Senhor.
14 - Condottieri - mercenários.

Espero que tenham gostado!

Nos vemos em quinze dias!



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