Garoto dos Meus Sonhos escrita por gabis


Capítulo 31
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

Ok, isso ta ficando repetitivo, mas... hum, ta no fim '-'



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Capítulo 31.

Não sei o que me deu na cabeça quando resolvi convidar Lippe pra subir. Vai ver foi por educação... Vai me entender. Mas o problema é que ele aceitou e subiu.

_Sabe, Babi... Nesses 18 meses que eu te conheço, eu nunca conheci seu quarto.

_Sério?

_Sim!

Aquilo só podia ser uma armadilha. E eu caí feito um patinho.

_Bom, então..._Fiz um gesto com a cabeça, indicando pra ele me seguir.

_Ele é... a sua cara.

_E isso significa...?

sério

_É uma bagunça organizada. E é lindo.

Mordi o lábio, um pouco envergonhada. Qual é, sou fraca pra elogios, ok?

Aí eu me arrependi de tê-lo convidado pra subir. Estávamos nos amassando com vontade. Dessa vez a vítima seria minha pobre cama de solteiro.

_Lippe... Não!

_Não? Você provocou.

_Provoquei o caramba. E outra... Minha cama é pequena!

Ele sorriu torto.

_Isso não é lá um grande problema... Quanto mais perto, melhor.

Eu já disse que o lado cafajeste dele me faz perder a noção? Pois é, então estou dizendo agora. Minha cama que aguente. A gente não fez nada, ela que tava ali, parada, nos chamando... Ok, chega.

Resultado disso? Eu deitada praticamente em cima dele, com o queixo em seu peito, vendo-o dormir. E claro, básico: nossas roupas atiradas no chão. Só o que não estava atirado era o par de meias de Felippe, que ele fez questão de dobrar e colocar no cantinho, pois não podia sujar, ou sua mãe o mataria, segundo ele.

Fiquei o fitando, analisando bem suas feições. Deus, como era lindo! Seu rosto, relaxado como estava, parecia o de uma criança na véspera de Natal. Involuntariamente, suspirei.

Ele se remexeu um pouco e, respirando fundo e se espreguiçando, abriu os olhos.

_Que horas são?

_Hum..._Apoiei os cotovelos em sua barriga — Lippe fez uma careta — e peguei meu celular._22:48h.

_Nossa...

_É. E você precisa ir...

_Sério?

_Sim, Lippe. Minha mãe ta pra chegar essa semana. Ela pode chegar no meio da noite, amanhã de manhã ou pode nem chegar. Eu não posso correr o risco.

_Você fala como se estivesse fazendo algo super proibido ou algo assim.

_Proibido não... Mas não seria muito legal ser pega pela minha mãe na minha cama com o... com você.

_Mas a cara dela seria engraçada.

_Rá rá. Agora vai, levanta.

_Você já pensou que vai ter que levantar pra abrir pra mim?

Na verdade, não tinha pensado naquilo. Mas dane-se.

_Não da nada. Eu vou. Mas você tem que ir, Lippe.

_Ok, ok. To indo.

Aí ele levantou. Assim, do nada. Sem se enrolar nem nada. É. Engoli em seco e desviei os olhos, brincando com meu lençol, fingindo indiferença. Notei ele sorrir um pouco. Que garoto safado, sério.

Ele juntou suas roupas devagar. Me irritei e levantei, mas enrolada no lençol, senão não ia prestar. É, pois é. Estava com preguiça de catar minha roupa e veti-la de novo, então peguei um pijama no roupeiro, me sentei de novo e me vesti. O sem vergonha ali era o Lippe, não eu, ok?

Ele se vestiu quase correndo, de tanto eu apressá-lo. Descemos em silêncio, os dois olhando pro chão. Quando abro a porta, quem vem descendo de um táxi, cheia de sacolas? Não, não foi minha mãe. Mas talvez tivesse sido melhor se fosse ela... Pois a pessoa era Dona Filó. É, ela mesma. Sua cara de choque foi ainda maior dessa vez do que da outra em que nos pegara no maior amasso.

_O-oi..._Balbuciei.

_E aí, dona Filó?

Ela se recuperou do susto e sorriu.

_Como vão, queridinhos?

_Bem, bem. E a senhora?

Eu já comentei que a cara de pau do Felippe era infinita? Ou que minha vizinha de 80 era bem safadinha? Pois é.

_Desistiram do corredor?

_Pois é, Dona Filó... Sabe como é, né. A gente precisava de um lugar mais reservado...

Lippe deu uma piscadinha e Dona Filó sorriu como quem diz “eu sei o que você fez na hora passada”. É cada uma que me acontece... Ela foi pro seu apartamento e Lippe me deu um beijo estalado no rosto. Ele tinha tentado beijar minha boca, mas não deixei. Não daria certo. Definitivamente não daria certo. Então ele sorriu de canto e apertou forte mas docemente os lábios na minha bochecha. Senti minhas bochechas esquentarem, como uma menininha de 5 anos que ganha um beijinho do garotinho que acha bonitinho. Credo, quanto ‘inho. Não gosto disso, não... Ok, calei.

Sorte foi eu ter mandado Lippe embora. Eram cerca de 06:00h quando ouvi minha mãe chegando. Ela foi até meu quarto e abriu a porta, mas se me visse acordada, iria me contar cada detalhe de sua viagem e eu perderia o sono, que voltaria no meio da tarde.
E de tarde eu não posso dormir, se não perco o sono da noite. Enfim. Ela chegou bem perto da minha cama e eu me segurei pra não rir. Não sei porque, mas sempre que finjo que estou dormindo e alguém se aproxima, sinto vontade de rir. Não demorou muito pra que minha mãe saísse. E não demorou muito também pra que eu voltasse a dormir.

Acordei já eram quase 11:00h. Saí preguiçosamente do quarto, de pijama e escabelada.

_Bom dia, mãe!

Sorri pra ela, indo abraçá-la. Ela me abraçou apertado por uns segundos e depois me olhou, séria.

_Então tivemos visitas?_Fiquei confusa. Ela saberia do Lippe? Não... Não tinha como.

_Não... Por...?

_Tem certeza?

_Er... tenho.

_Ok. Não tem nada que você queira me contar?

_Não, mãe...

_Certeza mesmo? Pois eu acho que tem.

_Eu..._Engoli em seco._Não tenho nada que precise te contar.

_Ah, então você concorda que aquelas meias do lado do seu criado mudo são macumba pra você arranjar namorado?

_Droga, sabia que não era boa ideia o Felippe deixar as meias tão... escondidas... Ok, agora me entreguei.

_Sim, você se entregou. Agora tem algo pra me contar?

_Er... não?

_Babi! Não mente pra mim!

_Não to mentindo! Você já sabe que ele esteve aqui e dormiu comigo, o que mais precisa saber?

_Ótimo, agora nada.

Ela deu um sorriso angelical. Mano, minha mãe devia ser investigadora. Conseguiu arrancar tudo de mim sem eu perceber.

_Mas você sabe... A responsabilidade é toda de vocês. Eu não vou aceitar que você venha chorar pra mim depois. Não mesmo.

_Eu sei disso, mãe. Mas não precisa se preocupar, a gente é... Hum, responsável._Ela arqueou uma sobrancelha._Sério! A gente... se cuida. É._A não ser naquele dia da chuva. Foi tudo uma pressa só... Um legítimo vuco-vuco... Ta, parei. Mas aquilo não devia ser motivo pra se preocupar... hum. Uma vez não faria diferença, faria? Pff, claro que não. Mas é ÓBVIO que não comentei nada disso com minha mãe, se não eu ouviria o maior sermão de toda minha vida, com certeza.

Sentei no sofá e liguei a TV, esperando o almoço ficar pronto. Almocei, conversei com minha mãe sobre a sua viagem e fui tomar banho. Às vezes é bom tomar banho, né? Haha. Enfim. Quando estava saindo pra me vestir — eu saía de toalha e me vestia no quarto — ouvi a porta de casa sendo aberta e logo em seguida minha mãe falando com alguém. Devia ser um de meus vizinhos, então eu ficaria quietinha no banheiro e depois sairia normalmente pro meu querido quarto.

_Ela ta no banho... Pode ficar sentado esperando se quiser,_Não, não podia ser o..._Lippe.

_Ok, D. Flávia.

_Só Flávia, pelo amor de Deus. Eu sou nova ainda, ok?

Ele riu, meio tímido. Pera aí... Tímido? Rá, ta pra nascer uma pessoa mais cara de pau que o Felippe.

_Certo.

Ouvi minha mãe passando pela porta do banheiro e um dilema se formou em minha mente: Sair do banheiro ou não sair? Eis a questão. Ela passou de volta pra sala e eu grudei o ouvido na porta.

_Você deixou suas meias aqui ontem, Lippe...

Ok, agora eu PRECISAVA sair e ver a cara dele com essa. Abri a porta devagar e coloquei só a cabeça pra fora. Eles estavam distraídos. Lippe estava rosado, com cara de MUITA vergonha e minha mãe parecia muito... tranquila. Tive medo.

Ok, talvez não estivesse pra nascer alguém mais cara de pau do que o Felippe. Talvez já tivesse nascido: minha mãe. Cheguei mais perto. Deixei meu corpo enrolado na toalha parcialmente escondido no corredor e coloquei a cabeça quase toda na sala. Lippe estava realmente envergonhado. Era necessário muito pra deixá-lo assim.

Minha mãe entregou as meias pra ele e ele as ficou encarando, sem saber o que fazer. Piscou algumas vezes, atordoado. Deus, eu precisava aprender a deixá-lo com vergonha! Era hilário.

Mas antes disso eu tinha que aprender a deixar de ME envergonhar. Como saí do banho quente com os cabelos molhados e de pés descalços, indo direto pra janela por onde passava uma leve corrente de ar, espirrei, fazendo Lippe acordar do pequeno ‘transe’ e me olhar espantado, enquanto minha mãe me olhava divertida.

_Opa...

_Filha, ninguém nunca te disse que é feio ouvir a conversa dos outros?

Lippe se recuperou do pequeno choque e, pelo visto, recuperou a cara de pau também, pois sorriu torto, me olhando com deboche.

_É, Babizinha, é feio ficar ouvindo a conversa dos outros... Mais feio ainda nesses trajes. Ou... eu deveria dizer que está bonita neles?

Minha mãe o encarou; seu sorriso murchou. Ele murmurou um ‘foi mal’, pegou as meias e baixou a cabeça.

_Mas o Lippe tem razão, Bárbara._Sem que minha mãe visse, ele levantou a cabeça, me olhando presunçoso. Estreitei os olhos em sua direção, fazendo um bico. Minha mãe se virou rápido, mas ele já estava de cabeça baixa de novo, brincando com o par de meias em suas mãos. Santa infantilidade.

_Eu não tava ouvindo a conversa de vocês, oras. Tava saindo do banho. E mesmo que estivesse, não teria problema, afinal tão falando de mim, não é?

_Mas não estamos falando de você, filha... Estamos falando de vocês. Ou melhor... do que vocês fizeram. Ou seja, to só reforçando o que eu já falei sobre a reponsabilidade e etc.

Lippe corou e eu também. Ele se recompos e deu um sorriso safado, olhando na minha direção e começando a falar com minha mãe.

_Não se preocupe, D. Flávia, porque nós somos responsáveis. Eu sempre faço tudo direitinho...

Sua voz diminuiu um pouco nessa parte. Certamente ficou um pouco envergonhado. Segurei a risada. Ele realmente fazia tudo direitinho... Ok, parei.

_Nem se..._Calei a boca ao notar a besteira que ia dizer. Quase disse a minha mãe que tinha sido irresponsável. Tinha sido uma vez, mas tinha acontecido. Ela daria um discurso enorme. Eles me olharam, esperando a continuação. Merda! O que eu faço agora?_Nem... nem se acha, esse Felippe!_Disse a primeira coisa que veio na cabeça. Eles me olharam confusos, depois minha mãe adquiriu um semblante irônico.

_Se acha? Ele não está ‘se achando’, está me dizendo que é responsável. Você deveria se sentir aliviada.

_Eu sei, eu sei. Deve ser efeito do sono. Vou ali me vestir. Tchau, Lippe.

_Mas eu não vou embora agora...

_Mas até eu sair do quarto com certeza já vai ter ido._Trinquei os dentes na parte do ‘com certeza’ e o olhei séria. Devo ter ficado com cara de ‘MORRE, DIABO’, mas eu queria que ele entendesse que era pra ir embora, então beleza.

Fui até meu quarto e me vesti o mais lentamente possível. Penteei meu cabelo com o maior cuidado do mundo, desembaraçando pequenas mechas aos poucos. Claro que eu fazia isso pra ganhar tempo, pois normalmente penteava os cabelos de qualquer jeito. Assim que acabei, respirei fundo e saí do quarto. Se Lippe ainda estivesse lá, eu... Bem, eu não sei o que faria, mas ficaria muito brava.

Perto da sala, não ouvi voz nenhuma, apenas alguns ruídos na cozinha. Beleza, Lippe já tinha ido embora e minha mãe estava fazendo café.

_Mãe, sabe o que... Lippe?

_Oi!

_O que ta fazendo aqui? Cadê minha mãe?

_Foi comprar pão. Enquanto isso to fazendo o café._Ele deu um sorriso... hum, meigo. Bem gay mesmo.

_E porque VOCÊ não saiu pra comprar pão? Cadê o cavalheirismo?

_Quer mesmo saber?

Ele sorriu torto, mordendo o lábio.

_Eu acho melhor voltar pro meu quarto._Minha voz saiu fina e meio esganiçada nessa parte._Diz pra minha mãe me chamar quando voltar.

Girei nos calcanhares e fui quase correndo até meu quarto, sentido que Lippe estava bem atrás de mim. Coloquei a mão na maçaneta, aliviada por chegar antes que ele me alcançasse, mas ele me segurou, me girando e me colocando contra a porta do meu quarto.

_Qual é, depois de ontem vai ficar fugindo de mim?

_Vou, e daí?

Ele arqueou uma sobrancelha. Depois rolou os olhos, deu de ombros e me beijou. De repente ficou calor...

Ouvi minha porta fazer um barulho, uma espécie de clique. Dane-se, o beijo estava mais interessante. Mas se bem que... a porta fez o clique de novo...

_Lippe, a porta...

_Hum, ta bem.

Ele não entendeu. Na verdade, nem eu estava entendendo. Até que...

_Aah, meu Deus, a gente vai...

Tarde demais. Minha porta não estava bem fechada. E Lippe, com toda sua calma e nenhuma força, fez com que ela fosse se abrindo mais e mais. Até que se abriu inteira e nós caímos. Claro que eu fui a mais prejudicada. Caí de costas e ele por cima de mim. Tipo, não que isso nunca tivesse acontecido, mas ele nunca deixava o peso todo em cima e... Céus, o que eu to falando? Mas, ah, dane-se. Como eu ia dizendo, dessa vez seu peso estava todo em cima de mim, pois ele não conseguira se segurar.

_Opa... a gente caiu...

_É... acho que notei. Agora... DA PRA SAIR DE CIMA DE MIM? Ta me esmagando!

Comecei a dar socos em seu peito. Ele ria como se fossem cócegas. Lippe se levantou e me esticou a mão. Como uma boa criança birrenta, neguei sua mão e apoiei na maldita porta pra levantar. Minha mão escorregou quando estava quase em pé, me fazendo cair de novo. Como Lippe não viu, não pode me segurar. Caí com tudo, dando com as costas na minha cama. Eu sabia, sabia que um dia essa cama perto da porta traria problemas, mas minha mãe não me ouvia.

_Cara, você é mais desastrada do que eu pensava! Isso se intensifica com o tempo?

Ele ria incontrolavelmente. Apoiei-me na cama pra levantar de novo, meus olhos ardendo com as lágrimas de raiva e dor que brotavam. Tinha sido uma bela pancada. Estava doendo bastante.

_Ai. Minhas costas!

_Ah, qual é, Babi. Se quer que eu pare de rir é só falar, não fica se fazendo de...

Aí ele olhou meu rosto.

_Ai meu Deus, você se machucou? O que houve? Onde dói? Foi minha culpa? Vem cá, deixa eu ver. Ta doendo muito?

_Claro que ta doendo, seu imbecil. Se não estivesse eu não teria reclamado! Óbvio que foi sua culpa!

_Minha culpa?

_É! Se não tivesse me jogado contra a porta e me beijado, a gente não teria caído.

_Mas peraí, você se machucou com o primeiro tombo ou com o segundo?

_Com os dois! Mas mais com o segundo. E se o primeiro não tivesse acontecido, o segundo também não. E se você não tivesse me beijado, o primeiro não tinha acontecido. Entendeu?

_Não...

_Ai, Felippe, o que eu quero dizer é...

_Ta, ta. Esquece. A culpa é minha, satisfeita?

_Sim. Quer dizer, não! Minha costas ainda doem.

Ele rolou os olhos e veio na minha direção. Segurou meus braços na altura dos cotovelos e me girou, me fazendo ficar de costas pra ele. Levantou minha blusa até a metade e passou a mão onde estava doendo. Senti um arrepio e meu rosto esquentou um pouco.

_Ai... ta um pouco vermelho..._Ele disse baixo, perto do meu ouvido. Fiquei ainda mais arrepiada._Me desculpa..._Sussurrou, por fim.

_Tudo bem... foi minha culpa também.

Ele me largou do nada e me virou, seu rosto um misto de raiva e confusão.

_Se decide, po! Ou a culpa é minha, ou é nossa, ou de ninguém!

Eu ri. Às vezes eu era mesmo confusa. Mas só às vezes.

_Esquece, ok?

_Ok...

_Lippe... Que cheiro é esse?

_Deve ser da rua, porque eu tomei banho antes de vir!

_Não, besta! Cheiro de... queimado...

_AH MEU DEUS, O CAFÉ!

_Corre lá!

_Mas e você?

_Aff, a gente não ta numa guerra. E eu consigo andar. VAI!

Ele saiu correndo, escorregando no meu tapete e quase caindo. Fui até o espelho, ainda com a blusa levantada e olhei. Estava mesmo vermelho. Logo ficaria roxo. Droga!

_AAAAAI, NÃO CONSIGO! NÃO DESLIGA!!! SOCORRO! BABI, ESSE FOGO É DO MAL, NÃO QUER DESLIGAR! A GENTE VAI MORRER!

Saí correndo do quarto, ignorando a dor nas costas. Quando cheguei, Lippe estava sapateando na frente do fogão, com as mãos na cabeça e girando no mesmo lugar. Cara... ele com certeza deve ter batido a cabeça bem forte quando pequeno. Eu precisava ter uma conversa com sua mãe.

_Lippe, é só girar...

_EU GIREI, MAS NÃO DESLIGOU! OLHA!

_Claro, seu BABACA! Ta girando pro outro lado.

Fui até o fogão pra desligá-lo, ele fez uma cara de espanto.

_Não não não! A gente vai morrer!

_Aff, retardado.

Lippe fechou os olhos com força. Desliguei o botão e o fiquei encarando. Ele abriu um olho e fechou depressa.

_Lippe...

_Antes de morrer, Babi, quero que você saiba que é a mulher da minha vida. A primeira e única que eu amei. Aliás, ainda amo.

Eu deveria ter deixado ele falando. Seria bom. Mas como sou uma pessoa íntegra...

_Lippe...

_A gente já morreu?

_Lippe...

_Já? Nem doeu? Foi fácil... Onde a gente tá?

Ele abriu os olhos devagar. Estava encolhido perto da mesa, com as mãos sobre a cabeça, se protegendo.

_FELIPPE! Deixa de ser frouxo! A gente não morreu. Eu desliguei o fogo!

Ele olhou de mim pro fogão repetidas vezes, até que sorriu e veio correndo me abraçar.

Lippe me pegou no colo ao me abraçar, me girando.

_Você nos salvou! Você salvou as nossas vidas! Você me salvou!_Ele parou de girar e me olhou nos olhos._Eu te devo minha vida. Eu te...

Aí minha mãe abriu a porta. Cara, ela e Diego tinham algo contra meus momentos fofos com o Lippe?

_Interrompo algo?

_N-não, dona Flávia...

Lippe me largou de repente, quase me derrubando. Se eu não me apoiasse em seu ombro, teria levado o terceiro tombo em menos de meia hora. Impressão minha ou ele tinha medo da minha mãe? Hum, bom saber. Eu poderia usar isso a meu favor.

_Tudo bem. Calma, Lippe.

_Capaz, eu to... bem tranquilo.

Cara... ele tava suando frio. Lippe deu um passo pra trás e esbarrou na mesinha ao lado do sofá, quase derrubando o vaso que tinha ali.

_Aham... Então ta. Vamos tomar café?

_Va-vamos.

_É sério, rapaz, tem certeza de que está bem?

_Eu to ótimo, D. Flávia.

Eu podia JURAR que Lippe estava até tremendo. Haha, cadê a cara de pau agora, hein? Rá, minha mãe é NINJA. Só ela é capaz disso.

Minha mãe tentou salvar o café, mas não obteve sucesso. Acabamos por tomar suco. Ainda bem que eu comprei aquele pacotinho semana passada... Enfim.

Durante o café-não-café, minha mãe, que sentou na ponta e praticamente me obrigou a sentar de frente pro Felippe, perguntou, na maior cara de pau:

_Quando vocês voltaram?

Lippe se afogou com o suco. Seu rosto estava super vermelho quando ele se recompos, o que não demorou muito. Ele fez uma cara séria e pensativa. Ta bom, me engana que eu gosto. Lippe, você não pensa! Não da maneira convencional... Enfim.

_Bem, hãn... Nós...

_Mãe, me passa o pão?

Qual é, eu não voltei com ele, não queria que ele desse falsas esperanças à minha mãe. Sim, esperanças. Eu quase não falo da minha mãe, mas ela ficava me pentelhando o tempo todo pra saber sobre o Felippe. Era a mais interessada na nossa volta, depois dele. Ou talvez mais que ele...

_Babi, espera ele responder.

_Aff mãe, a gente não saiu. Então não voltamos, permanecemos aqui.

Quer fugir de um assunto? Se faça de burra. Lippe ficou pasmo com a minha resposta brilhante. Minha mãe mais ainda. Sua boca estava aberta em choque. Eu costumava ser inteligente perto dela.

_Ok, vou fingir que não ouvi isso. Se não queria responder, era só falar. Não precisa se fingir de burra.

Eu to falando... Minha mãe é investigadora e não me contou. Melhor! Ela lê mentes. Oh, meu Deus! Vou parar de pensar isso, se não ela vai saber que eu sei.

_Não to me fingindo de burra! O que foi? Não me olhem assim, poxa!

Eles me olhavam pasmos. Minha mãe sacudiu a cabeça e voltou a prestar atenção no que comia. Lippe uniu as sobrancelhas, tentando entender o que eu tinha dito. Desistiu e voltou a prestar atenção no que comia, também. Rá, sempre funciona. Os dois esqueceram o assunto!

_Mas não pense que vou esquecer o assunto, Bárbara._Minha mãe disse. Cara, ela me assusta.

_Isso aí. Eu também não vou esquecer._Lippe pode ter falado só pra irritar, mas senti um certo tom de seriedade em sua voz. Eu sabia que não poderia evitar o assunto por muito mais tempo. Mas algo me dizia que eu não queria que esse dia chegasse.

_Ta, ta. Que seja. Mas será que dá pra me passar o pão, hein?

_Cara... isso é um dom? Tipo, mudar de assunto assim, num piscar de olhos?

_Nossa, sou tão rápida assim? Mas, não. Infeizmente não é um dom, hum. Anos e anos de prática. Um dia você chega lá._Dei um sorriso cínico e convencido, seguido de uma piscadinha._Mas agora será que da pra me passar esse pão ou ta muito difícil de entender que eu quero essa coisa redondinha e cascuda aí na sua frente?

Lippe não aguentou e começou a rir. Minha mãe se engasgou com o que comia. Sacudiu a cabeça, pegou o prato e foi comer na cozinha. Confesso que nem eu estava me aguentando mais.

Não levou muito tempo pra que minha mãe voltasse. A essa altura, eu já estava comendo o querido pão. Eita fome.

_Gente, que pão bom, né?_Se quer que um assunto seja completamente esquecido, mesmo que por um instante, mude de assunto e leve ele adiante. Lições sobre mudar de assunto, você só encontra com Bárbara. Oi, sou retardada.

Nós comemos e logo Lippe foi embora. Essa gente que vai na sua casa só pra comer... Olha, te contar. Mais tarde, ele me chamou no MSN, dizendo que tínhamos que sair pra jogar conversa fora. Eu sabia bem a conversa que ele queria ter. Eu queria evitar, mas não podia. Seria pior dar esperanças a ele, enrolar, deixar as coisas acontecerem. Eu precisava colocar um ponto final. Seria difícil e até doloroso, mas era necessário.

Por incrível que pareça, fomos ao shopping, ao invés da praça. Estranhei, mas achei até melhor. Eu não tinha coragem de colocar um ponto final definitivo na nossa história no mesmo lugar onde ela tinha começado, efetivamente.

Estávamos andando um ao lado do outro, de cabeça baixa. Os braços se tocando levemente conforme o ritmo da caminhada. Lippe parecia tão tenso quanto eu e não parecia encontrar coragem de iniciar o assunto. Eu fingia que não sabia o que era, mesmo sabendo bem o que ele tinha pra falar. Preferia que ele começasse, pois eu, sinceramente, não sabia o que dizer.

_Bom, então...

Então eu vi minha (quase) salvação. Alguns de seus amigos conversavam em uma mesa na praça de alimentação, próximos a nós.

_Lippe, olha! Não são seus amigos?

_É, são. Depois a gente vai lá falar com eles.

_Acho que eles te viram, Lippe... vai ficar feio você fingir que não os viu. Vem!

_Mas... não, eu...

Não dei tempo a ele pra continuar a frase. Segurei seu braço e o arrastei. Me arrependi quando cheguei perto, pois além dos amigos que eu conhecia, tinham mais alguns que eu nunca tinha visto. Isso não ia dar certo... Mau sinal, mau sinal, mau sinal.

Tentei diminuir o passo e, como quem não quer nada, voltar, mas Lippe tinha pego o embalo e estava quase chegando. Ah, que bom.

_Eaí, pessoal!

_Hum, oi._Antes um ‘oi’ sem graça do que nada. Sou educada, ok?

_Eaíí, Lippe! De boa?

_Tranquilo.

_Não vai apresentar a amiga?

_Que amiga, cara?_Um outro retardado se manifestou. Cara, se arrependimento matasse, Lippe teria um bom prejuízo cuidando do meu funeral._Não ta vendo que é a namorada dele? Dã!_Eu DISSE que era mau sinal. EU DISSE.

_É, minha namorada. Pessoal, essa é a Bárbara.

_Olá Bárbara!_Todos, repito, TODOS disseram ao mesmo tempo, acenando como retardados. Me senti em um grupo de apoio.

_Mas podem me chamar de Babi.

_Podem não. Só eu te chamo assim.

_Chama nada. Você é o que tem menos direito aqui.

_Uh! Que foi que você aprontou, cara?

_Pois é, o que foi que eu aprontei, Babi? Nem eu sei.

Me fiz de surda e, como uma criança, cruzei os braços e fechei a cara.

Comigo, em alguns raros momentos, Lippe parecia um garoto maduro. Junto com seus amigos, a maturidade foi completamente esquecida. Nunca vi tanta babaquice junta. Quando ele finalmente se cansou e quis embora, eu já estava em um estado capaz de matar o shopping inteiro. Lippe passara o tempo todo falando sobre nossa suposta volta e sobre a forma como ele tinha me reconquistado. Sua cara de pau REALMENTE só tinha limites quando minha mãe estava junto. Tinham duas coisas que eu queria mais que tudo: minha mãe e bater no Felippe até a morte.

Saímos do shopping já estava escurecendo. Lippe tentou me dar a mão logo que saímos, mas fingi não ver e quando sua mão passou perto da minha, mexi nos cabelos. Ele não tentou mais isso, mas tentou puxar assunto o caminho todo. Eu respondia só com ‘huum’, ‘uhum’, ‘é’, até que uma hora ele resolveu que era hora de dar piti e perguntou o que tinha comigo.

_O que tem comigo? O que tem é que você contou pros seus amigos uma história QUE NÃO ACONTECEU! Você NÃO me reconquistou. A gente NÃO voltou!

_Reconquistar eu não reconquistei mesmo, porque você nunca deixou de me amar.

_CALA A BOCA! Deixa de ser infantil pelo menos uma vez na vida! Eu devia ter ouvido seu irmão quando ele me disse que você era irritante!

_Ele disse isso? Cara, que idiota!

_Já mandei calar a boca! Você entendeu que nós não voltamos?

_...

_Responde, Felippe!

_Você não me mandou calar a boca?

_Idiota! Quando eu mando, você fala!

_Uiui! Adoro quando você impõe respeito! Já te disseram que você é super sexy quando ta brava?

_Você vai ver o tapa super sexy que eu vou te dar na cara se não parar de besteira!

_Sim senhorita! Babizinha manda, Felippinho obedece. Não, espera. Felippinho é muito gay.

_Argh!

Me revoltei e virei as costas. Achei que ele viria atrás de mim, mas quando dobrei na outra rua, pude vê-lo parado com cara de quem não entendeu nada.

Cheguei em casa com raiva demais pra fazer qualquer coisa. Me joguei na cama e fiquei até cochilar. Acordei não tinham passado nem 20min. Resolvi que estava calma o suficiente e entrei no MSN. Assim que entrei, Lippe veio falar comigo. Um dia vou inventar um jeito de atravessar a tela do computador pra bater nas pessoas. Ah, vou.

*da pra me explicar o que foi aquilo?

Cuidar a gramática, pra que? Ela nem serve pra nada, pfff. Letra maiúscula então... Nem sei pra que inventaram. E o ‘oi’? Tem coisa mais inútil?!

*Oii, Lippe! Chegou bem?

*Da pra deixar de ser retardada?

*Ó que legal, aprendi com você!

*Haha, muito engraçado. Agora pode explicar?

*Claro. Eu não disse nada mais do que a verdade: NÓS. NÃO. VOLTAMOS.

*Ok. Grato.

*Oh meu Deus, 2012 está próximo! Não vai dar piti?

*Já sei o que queria saber. Obrigado. Agora me esquece.

E aí ele saiu.


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Notas finais do capítulo

Nesse capítulo me deu #aloka e eu resolvi misturar de tudo um pouco. Eu, na verdade, deveria estar escrevendo coisas revolts e tristes, pq fui assaltada sábado... Mas isso eu reservei pra Fearless, uma fic bem sem noção onde eu 'desabafo' #MerchanModeOff


Enfim. Espero ter agradado, é. Até logo (=

E não se esqueçam: Lippe é sempre Lippe e Babi é sempre Babi, independente da situação. Ele é lento e retardado. Ela é orgulhosa e confusa. É, agora chega de informações.

Reviews? *-*