Time of our lives escrita por EsterNW


Capítulo 3
Tempestades


Notas iniciais do capítulo

Hallo hallo, povo! Como vão vocês nesse feriado? Mofando também? Então vamos acabar com o tédio com mais um cap dessa fic que te faz rir... E rir mais um pouco xD
Boa leitura ;)



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Havia duas semanas que os ensaios tinham começado. E havia duas semanas que eu me estressava praticamente todos os dias, com Castiel fazendo as coisas de mal jeito e ainda por cima com deboche. Agora me pergunto: como que um ser desses esperava não repetir na matéria, se levava as coisas desse jeito? Sinceramente, me pergunto o que que eu fiz pra ter que aguentar essa criatura...

— Esse é o jeito de Castiel, Ann — Lysandre comentou, após terminarmos de aquecer a voz. O coitado ficava no meio da chuvarada de deboche entre mim e o Castiel, porque, é claro, não bastasse eu ter que aturá-lo nos ensaios, a criatura ainda estava fazendo questão de me atormentar na escola também. Merecia...

Soltei uma risada de descrença.

— Me pergunto como que você aguenta ele há tanto tempo.

Lys deveria ganhar um prêmio por tanta paciência. Ou talvez fosse apenas eu. Acho que a paciência na família ficou toda para Lysandre e Leigh. Ah, sim, nós somos primos. Sim, eu sei, não temos completamente nada a ver um com o outro. Os meninos, mais exóticos, com seus visuais vitorianos e posturas mais reservadas e eu, mais relaxada e toda extrovertida. Apesar de tudo, era todo mundo divo naquela família.

Lysandre deu uma risada baixa.

— Coitado, deve até ter perdido a sensibilidade depois de tanta patada que levou — zuei com ele e me juntei às risadas.

— É apenas uma questão de tato, Ann — respondeu com classe e eu fiz cara de “ahan”.

— Tá bom, senhor “tenho tato”. Agora, vamos ensaiar logo? Tô ansiosa pra cantar essa música. — Lys assentiu, enquanto eu unia as mãos em entusiasmo.

Tiramos aquela tarde de domingo, onde não haveria ensaio, o que eu agradecia muito, senão surtaria em pouco tempo, para ensaiarmos as músicas que cantaríamos para a audição no conservatório.

Como estávamos no último ano na escola, teríamos que decidir o que fazer da vida. Eu e Lys iríamos para um conservatório de música, portanto, além da prova teórica, teríamos que passar por um teste prático. Eu estava confiante que daria tudo certo para nós dois.

Lysandre assentiu e deu play no instrumental da música. Iniciou-se um piano e eu dei um último respiro fundo, já endireitando a postura e preparando o diafragma. Esperei o tempo certo antes de iniciar o verso.

— Midnight, not a sound from the pavement... — Comecei a cantar, tentando manter o tom correto, enquanto acompanhava o instrumental. Olhei para Lysandre, que assentiu com a cabeça e um sorriso. — And the wind, begins to moan. — Semitonei na mudança de voz de cabeça para voz de peito e me repreendi mentalmente. Mas não parei.

— Por acaso você tá matando algum gato por aqui, Lysandre? — A voz cheia de sarcasmo de Castiel invadiu o cômodo e eu parei de cantar, perdendo completamente a concentração.

— Mas nem aqui você me deixa em paz, criatura? — perguntei irritada e Castiel ergueu uma sobrancelha.

— Eu vim ensaiar com o Lysandre. Não posso fazer nada se vocês estão tentando assassinar um gato. — Castiel se sentou na beira da cama de Lysandre, completamente à vontade com o ambiente. É, ele também era de casa.

— Você não tinha combinado de ensaiar comigo, Lys? — perguntei pro meu primo, pro Castiel pelo menos se tocar que ele tava atrapalhando.

— Eu sinto muito, Ann. — Lys se levantou e parou o instrumental da música, que tocava até agora. — Esqueci que havia combinado de ensaiar com Castiel hoje à tarde. — O ruivo me lançou um sorriso vitorioso e eu cruzei os braços. — Mas podemos continuar o ensaio. Creio que Castiel não se importe em esperar um pouco... — E se virou para o amigo, que tirou o celular do bolso e começou a mexer nele.

— Ligo não — disse com um dar de ombros. — E agora fiquei curioso pra ver o que vocês estão fazendo com o gato. — Dirigiu essa pra mim, junto daquele sorriso de lado dele. Virei o rosto, irritada.

— Continua zoando comigo, que você vai ser só nos ensaios — ameacei irritada e Castiel fez um gesto de “tô fazendo nada”.

— Podemos continuar? — Lysandre interviu, interrompendo a chuvarada de ironias, antes que virasse uma tempestade.

Assenti e ele colocou a música novamente.

...

Ensaiei por cerca de quarenta minutos, apenas. Me sentei na cadeira da escrivaninha de Lysandre e peguei minha garrafa d’água. Lys desligou a música e guardou o celular, começando a mexer em alguns papéis.

— Você se saiu bem, Ann — me elogiou e eu sorri. — Podemos ensaiar mais no próximo domingo.

— Só vê se não marca outro compromisso no mesmo horário, Lys. — E olhei de canto para Castiel, que me ignorou, se abaixando para tirar seu violão da capa.

— Até que foi nada mal — o ruivo comentou. — Mas você semitonou a música inteira. — Sinceridade total, esse garoto.

— Consegue fazer melhor, por acaso? — provoquei, de braços cruzados, enquanto Castiel mexia nas tarrachas do violão.

— Eu não canto — respondeu distraído, enquanto dedilhava o instrumento, pra ver se estava afinado.

— Ainda bem, né? Senão pobre de nossos meros ouvidos mortais — soltei com sarcasmo na voz e Castiel me encarou rápido.

— Podemos começar, Castiel? — Lysandre interrompeu, vendo que aquilo logo viraria uma tempestade de ironias e sarcasmo.

O ruivo assentiu e arrumou o violão no colo.

— Ela vai ficar aqui mesmo? — perguntou, apontando pra mim com a cabeça.

— Ué, a casa é do Lys. Se ele quiser que eu saia, eu saio. — E olhei para meu primo com um sorriso, que ele retribuiu.

— Não vejo por quê. — E parou perto de mim, dando uma olhada rápida pela porta da varanda. Balançou a cabeça, meio contrariado e voltou a olhar para nós. — Com qual música você deseja começar, Castiel? — Sua voz estava amena, mas eu sabia que ela estava triste, porque Catherine iria embora. Pobre Lys.

Castiel disse o nome da música e ambos iniciaram o ensaio.

...

Lysandre terminou de beber a água do copo, enquanto Castiel enfiava a palheta no meio das cordas do braço do violão, guardando o instrumento em seguida de volta na capa.

— Nada mal, hein — comentei com o ruivo. — Mas eu acho que você errou uma nota ou duas... — Coloquei a mão no queixo, pra fingir uma postura pensativa. Castiel não errou uma nota ou duas. Pelo contrário, ele mandou muito bem. Pelo menos uma vez na vida, ele não fez algo malfeito ou todo debochado. Até me espantei com isso, porque nunca tinha visto essa concentração toda nele. Mas é claro que eu não admitiria isso em voz alta, pra aumentar ainda mais a vaidade dele.

— E você semitonou uma música inteira — devolveu a provocação e eu ergui uma sobrancelha.

— Creio que os dois tenham se saído bem — Lysandre interviu na conversa de novo, sempre educado, esse rapaz. — Todos nós podemos melhorar. — E sorriu, tentando amenizar o ambiente.

— Certas pessoas principalmente — Castiel provocou e eu mostrei a língua, numa atitude infantil. Ia continuar provocando, quando ouvi um trovão.

Eu estiquei o pescoço e olhei pra fora, pela porta da varanda: lá fora o tempo estava completamente fechado e ventando muito, pelo tanto que as árvores balançavam.

— Minhas roupas! — exclamei e os dois me olharam sem entender nada. — Meus pais saíram agora à tarde e tenho roupas no varal. — Por é que esse tipo de coisas tinham que acontecer justo comigo? Eu devia ter feito alguma coisa muito grave e estava pagando por isso, só podia ser. — Desculpa, Lys, mas eu preciso ir, senão minha mãe me mata depois.

Lysandre assentiu e começou a me guiar até a porta. Castiel continuou sentado no mesmo lugar. Me despedi bem rápido de Lys, mal dando tempo pra ele falar direito, e sai com passos apressados. A ventania estava forte.

Minhas roupas, cara, minhas roupas... Começou a chover. Não podia esperar mais um pouco, chuva?

Comecei a correr, enquanto a chuva aumentava. Eu estava ferrada, muito ferrada quando chegasse em casa. Queria ver dar um jeito nas roupas antes da minha mãe chegar!

A chuva aumentou para uma tempestade e eu decidi parar de correr, me abrigando debaixo de uma marquise de uma loja, que estava fechada, por ser domingo. Parei lá e me encostei na parede, passando as mãos pelos meus braços, tentando me aquecer. O que é que eu fiz pra você, Universo? Que dia horrível!

Continuava lá me protegendo da chuva e me encolhendo de frio, enquanto sentia aquela ventania passar por mim. Além de tudo, eu estava encharcada da cabeça aos pés. Só me faltava pegar uma gripe depois dessa. Eu devia ter feito alguma coisa muito errada naquela manhã. Talvez fosse o leite azedo que eu bebi, que iniciou toda essa Lei de Murphy. Cara, pra que inventar esse negócio?

Ficava lá xingando mentalmente esse cara de tudo quanto é nome, quando vi uma pessoa de guarda-chuva parar na calçada. Era o Castiel.

— Então a dona de casa não chegou a tempo? — Ótimo, agora completou a situação de vez.

— Cheguei. Já fui pra casa, voltei, resolvi tomar uma chuva e agora tô aqui — respondi sarcástica e irritada. Castiel riu. — Minhas roupas já eram — reclamei, toda encolhida lá ainda.

— Vem — Castiel chamou e eu ergui uma sobrancelha, não entendendo nada. — Ou você quer tomar mais uma chuva?

— Você tá me dando uma carona no seu guarda-chuva? — soltei com um ar de descrença. Okay, essa era nova. — Falando nisso, onde você arranjou um?

— Se você não estivesse tão desesperada por causa das roupas, Leigh teria aparecido e oferecido um. — Deu de ombros, como se fosse simples e eu bufei. Você não está facilitando nem um pouco, Murphy... — Mas e aí, vai ou não? Por que não tô a fim de ficar aqui esperando sua boa vontade.

O encarei por mais alguns segundos, ainda pensando no que ele estava dizendo. O Castiel sendo gentil? Realmente tinha alguma coisa muito errada acontecendo.

Comecei a caminhar até ele e parei, debaixo do seu guarda-chuva.

— Que cara é essa? — perguntou, enquanto continuávamos os dois lá parados e nos encarando.

— Só tô achando que tem alguma coisa muito estranha acontecendo. — Castiel riu com essa. — Vai, vamos logo que eu estou com frio.

Em vez de começarmos a caminhar, Castiel começou a fazer um pouco de contorcionismo, enquanto tirava a jaqueta, sem deixar cair o guarda-chuva. Ele tacou a peça na minha cara e eu ainda acabei derrubando no chão.

— Que que você tá fazendo? — Me abaixei pra pegar a peça de roupa.

— Ué, você tá aí toda se tremendo de frio — respondeu como se fosse o óbvio. Parei e o encarei boquiaberta.

— Você tá me oferecendo sua jaqueta? — questionei o óbvio e Castiel começou a andar. Vesti a peça e comecei a acompanhá-lo.

— Se não quer, devolve. — Revirei os olhos. É, ainda é o Castiel. Mas o que mais me espantou foi ele estar sendo gentil comigo. Não que ele seja uma má pessoa, é apenas insuportável. Porém é meio difícil de imaginar ele fazendo alguma coisa do tipo, ainda mais comigo.

Fechei a blusa, enquanto caminhávamos. A chuva continuava um pouco forte.

— Chega mais perto. — O olhei com a sobrancelha erguida, de novo. Eu estava um pouco afastada dele e molhava o braço direito da jaqueta. — Não vou morder, não.

— Que bom saber. — E encostei meu braço no dele, que segurava o cabo do guarda-chuva. Castiel pareceu nem ligar pro contato físico.

— A não ser que você peça. — E lá veio aquele sorriso, marca registrada dele.

— Ui, cachorrão! — E ri de toda aquela conversa mais a cena a estranha que se passava naquele momento. — Quem vê até pensa. — Me olhou com cara de “que”. — Quem vê até pensa que é todo perigoso assim. No fundo deve ser maior manteiga derretida.

— Não inventa, garota. — E voltou a olhar pra frente, evitando contato visual comigo.

— Maior prova disso é você sendo gentil comigo — insisti no assunto, achando graça da reação dele. Esperava ele rebater minha frase anterior com alguma ironia e deboche, mas não.

— Da próxima vez, vou te deixar na chuva.

Ele acabou ficando em silêncio depois dessa e eu resolvi não importuná-lo mais. Comecei a olhar pra frente, apertando a jaqueta contra mim e sentindo um fraco cheiro de perfume e suor. Castiel precisava lavar essa jaqueta...

Em pouco tempo, chegamos no portão da minha casa.

— Parece que sobreviveu, não? — Castiel brincou e eu sorri de canto. Destranquei o portão e parei, olhando pra ele.

— Obrigada — agradeci e o ruivo apenas assentiu com a cabeça. Comecei a abrir a jaqueta e a tirei, jogando na cara dele. Castiel a pegou. — Vê se lava isso aí, tá fedendo suor.

— Te incomoda, por acaso? — E finalmente voltou com seu sorriso marca registrada. Colocou a jaqueta por sobre um dos seus ombros.

— E se incomodasse? — Cruzei os braços, enquanto o encarava, rindo daquela conversa.

— Ia continuar do mesmo jeito. — Balancei a cabeça e Castiel riu. — Até amanhã, Ann — se despediu com um pequeno sorriso, sem seu sarcasmo usual.

— Até amanhã, Castiel. — Ele assentiu com a cabeça e começou a se afastar. — Vê se lava essa roupa — berrei e o ruivo apenas fez um sinal de “joinha”, continuando a ir embora.

Abri o portão e entrei em casa, encharcada e talvez ferrada, porque as roupas no varal deviam estar mais molhadas do que eu.

Parei pra pensar... O que é que tinha acontecido nessa chuva?


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Notas finais do capítulo

Primeiramente quero agradecer a Stelfs por esse aesthetic lindo que ela fez pra fic :3
A música que a Ann canta é Memory, do musical Cats. Mas aqui eu usei a versão do Epica: https://youtu.be/EuOqYqxqEOU
Castiel sendo gentil? Será que ele foi abudzido por et's? Devolvam o Castiel! -q Ou... Veremos o que pode ser xD
Por hoje é só, povo! Bom final de feriado pra vocês e até a próxima o/



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