W.a.l.s.h escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 2
Episódio 2: O Império do Rei da Cocaína


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo de Walsh e a primeira missão do nosso herói. Hoje contarei sobre Ramón Valdez, seu envolvimento com a Ragnarök, seu império desmoronando e sua relação com os inimigos. Shane conseguirá detê-lo?



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CALI, COLÔMBIA

Um carro Pajero prata estacionou numa vaga na garagem de um sítio um pouco afastado do centro da cidade. Três homens fortemente armados desceram do veículo, um quarto saiu por último. Este senhor, aparentemente com os seus quarenta anos, colocou uma pistola 9 milímetros na cintura e saiu andando até o portão do muro do sítio. Alguns homens abriram os portões e o mesmo senhor idoso que antes negociava com Kapwann III agora dava as boas-vindas ao traficante colombiano.

— Ramón Valdez, bem-vindo ao encontro secreto da Ragnarök.

— Velho, é melhor que isso seja de uma puta importância pois, se não for, a puta da tua madre vai ter companhia tua no cemitério ao lado do túmulo dela.

Ramón Valdez, o Rei da Cocaína. Temido pelo governo de Bogotá e procurado da justiça há pelo menos dez anos. Sempre se exibia com itens de luxo como carros e iates, além de um jatinho particular. Tudo fruto de muitas vidas mortas e sangue em suas mãos. Seu tamanho de 1,70 metro era a antítese do tamanho da sua influência. Um dos chefes do cartel Los Manos, controlava quase 40% das demandas de cocaína, pasta base e crack. Ficou poderoso depois que mandou fazer o lendário "El Patron", uma fazenda, fábrica e laboratório de alta tecnologia na produção das drogas. O nome desse rancho era em homenagem ao seu herói, Pablo Escobar.

— Deixe disso, senhor Valdez. Esse assunto será pertinente. Entre, vamos conversar.

O traficante e os seus três seguranças foram a pé até a entrada da casa. O velho negociador sempre estava acompanhado por um homem vestido com uma roupa militar e um capuz cobrindo-lhe a cabeça. Em suas costas duas espadas, uma cruzando a outra. Isso chamou a atenção do criminoso.

Ramón era um pouco velho para a sua idade. Era calvo, com um bigode preto, barrigudo. Usava um chapéu de palha, camisa social com estampa de flores por baixo de uma calça jeans azul e cinto, também ostentava botas de couro de jacaré e um relógio de ouro.

Entraram na sala da mansão. O velho pediu ao seu guarda-costas para ficar de prontidão. Os dois se sentaram nos sofás na sala.

— Pode falar, gringo. O que tu tens para me dizer que é tão importante?

— Odin pediu que você e os seus capangas aceitassem a entrada deste homem na Ragnarök. Ele quer a sua assinatura pessoal — disse, retirando um celular com a foto do sujeito.

— Quem é?

— Omar Said Abdulla. Ele é um príncipe saudita que age por debaixo dos panos. O cara é mais rico que todos nós e viu um grande potencial em aumentar o poder da organização ao participar. O rei da Arábia Saudita sequer sabe que ele age no poder paralelo.

— E o que eu ganho com isso?

— Omar investe mais no cartel Los Manos, o retorno multiplica, todos saem ganhando. Inclusive se você aceitar essa oferta, poderá enriquecer mais e bater de frente com os outros chefões do tráfico. Quem sabe exportar drogas para o Oriente Médio.

— Onde assino?

O velho pegou uma folha e uma agulha. Valdez pegou um punhal e furou o dedo indicador. Pressionou sobre o papel e marcou com o seu sangue.

— Não quero pegar AIDS. Espero que seja verídico, velhote.

— Isso é fato consumado, meu caro Fenrir. Uma última coisa: Kapwann entrou em contato e está enviando uma remessa de armas pelo caribe. Onde será o novo local de desembarque?

— Eu comprei uma ilha com uma pista de pouso para aviões monomotores. Depois eu mando a localização pra ti.

— Certo. Mas tem que ser antes das 00:00. Vai pessoalmente ou mandar um desses seus capatazes?

— Isso eu decido depois. Posso ir? Tá na hora do recreio. Garoto aqui precisa voltar com a brincadeira de matar quem deve.

O guarda-costas levou os quatro para fora do sítio. Ramón Valdez pegou o celular a fim de ligar para os seus aliados do cartel. Contou todas novidades.

O velho esperou o mascarado voltar para poder ligar para o seu Líder.

— Senhor, ele marcou com o sangue. Está feito. O novo membro da Ragnarok é Omar. Sim... sim... Melhor eu sair desse paiseco logo antes que eu pegue febre amarela. Hermit?

— Sim?

— Prepare o carro. Vamos sair em cinco minutos.

— Sim.

 

Ramón e seus capatazes prenderam um empresário numa cabana afastada por causa de dívida de drogas. O impiedoso traficante se divertia enquanto seus capangas açoitavam as costas do cativo com um chicote.

— Por favor! Ramón! Ramón!

O homem, chamado Jose Padilla, era tão feio quanto o seu algoz. A única coisa que se diferenciavam era que o Jose era magro.

Ramón colocou uma mesa de plástico no meio da sala, sentou-se numa cadeira, acendeu um cigarro e viu seus capatazes baterem no homem. Jose estava de costas para ele, de joelhos, com os braços esticados para cima e amarrados em cordas que iam até o caibro. O traficante ficou jogando o jogo da cobrinha pelo celular.

— Porra! Quase fiz um recorde.

— Ramón! Por favor... eu te suplico. Dá mais uma chance.

O vilão se levantou da cadeira, pegou a sua pistola e caminhou até a sua vítima. Terminou de fumar, apagou o cigarro na sola da bota.

— Hijo de una puta. Jose, Jose, oh Jose. Pensou que podia me passar a perna?

— Não...

— O que foi que eu disse ao vender aquela carga de cocaína? "Pague-me em até seis meses". Dez milhões de dólares. Acha que eu vou passar batido, compadre? Deixei que me devesse sete meses, ou seja, um mês a mais.

— Eu juro que te pago tudo.

— Sabe que até hoje de manhã eu faria questão por essa grana? Mas agora que eu soube que vou ficar mais rico ainda já não precisarei do seu troco — ele apontou o cano da arma na testa de Jose e puxou o gatilho. O sangue misturado com parte da massa encefálica espirrou na mesa. — Limpem esse lixo. Vámonos!

Os capatezes tiverem todo o trabalho de limpar o sangue e esconderam o corpo do empresário a sete palmos debaixo da terra.

Ramón dirigiu a sua Hillux preta até El Patron. Seus empregados abriram a porteira para que ele pudesse passar com o veículo. Foi para o seu rancho e residência. Uma mansão faraônica no meio das montanhas colombianas. Ele desceu do carro e abraçou o seu filho de cinco anos. Sua esposa, Serena, deu-lhe um beijo.

— Parece abatido? Já foi resolver pessoalmente? Cadê seus capangas? E o Chico?

— Chico tá vistoriando o laboratório. E esses caras precisam saber que Ramón Valdez é o seu pior...

— Pior o quê, papai?

— Nada, Juan. Vamos entrar.

A dona Serena Valdez sabia dos crimes do marido, mas o amava como cúmplice. Uma mulher jovem, trinta e poucos anos, vestida num vestido floral e um chapéu grande.  Juan Valdez era o único herdeiro do império do mal do seu pai. Cinco anos, pardo e bastante mimado.

Juan ficou feliz quando um dos empregados trouxe um pônei que Ramón havia prometido. A criança deu um beijo no pai e saiu pelo jardim da mansão com o animal.

— Mamãe está doente e prometi que a visitaria em Medellín.

— E por que não vão? Precisa dar um abraço na dona Josefa por mim.

— Sério?

— Sério. E se quiser pode levar o Juan junto e passar esses dias lá. Esta semana El Patron vai ficar movimentada.

Serena deu um beijo no marido. Naquela tarde ainda a mulher e o filho do traficante viajaram para outra cidade.

O rancho El Patron tinha pelo menos uma área total de cinco quilômetros quadrados. Uma vasta área florestal que ia até uma montanha. Nos limites havia um muro com cerca elétrica. O plantio de coca era a principal fonte de trabalho, além de uma verdadeira fábrica de cocaína e um laboratório. Um armazém servia para guardar quilos e quilos da droga e prontas para a sua distribuição. 

O governo colombiano sequer podia invadir o local, haja vista o sistema de defesa com mísseis prontos para serem disparados.

 

Chico Cruz era o homem de confiança do traficante. Um varão moreno, com meia idade, com o olho esquerdo com a pálpebra caída, usava roupas de fazendeiro. Tanto ele quanto Ramón eram amigos de infância e trabalhavam juntos. Chico, porém, era subordinado do amigo, ainda que fosse superior aos demais capatazes.

Os dois subiram em seus respectivos cavalos e cavalgaram pela área de plantio da coca. Ficaram vendo os trabalhadores — muitos com máscaras e luvas para não se intoxicarem.

— Como foi o encontro lá em Cali?

— Aquele velho é esperto. Conseguiu me convencer. Sabe o que é melhor para um homem poderoso? Mais poder. Chico, eu terei muito mais poder.

— Ainda temos o problema do dinheiro. Semana passada cerca de seis milhões foram pro forno pois os ratos roeram as notas de cem dólares.

— Mesmo assim ainda é pouco se fôssemos pagar o imposto de renda.

— Algo te preocupa. O que é?

— Não é preocupação. Os coreanos enviarão as armas pelo Caribe, mas o único lugar seguro é a minha ilha. Estou na dúvida se vou pessoalmente ou mando os meus homens.

— Essa tua preocupação é conhecida. Se quiser ir para a ilha, então que vá. Eu tomo conta de El Patron. É só uma noite ausente mesmo.

— Chico, tu me deste uma resposta que eu queria ouvir. Obrigado, amigo.

Eles cavalgaram por mais algum tempo até voltarem ao estábulo.

...

FRONTEIRA DO PANAMÁ COM A COLÔMBIA

O avião pousou no aeroporto da capital do país, de lá Walsh pegou um helicóptero direto à fronteira. Um acampamento militar americano aguardava o tenente. De dentro de uma tenda, um oficial do Pentágono.

Shane viu o helicóptero chegar numa região litorânea. Pousou num heliponto improvisado e foi recepcionado por militares panamenhos. Foi escoltado em um jipe até a tenda do seu compatriota.

— Você deve ser Victor Green. Eu sou o Coronel Sanders. Soube da sua vinda para uma missão secreta.

— Será um prazer cumprir com a missão dada pelo nosso país, coronel.

— Entre.

O coronel era um senhor pardo, com um cabelo grisalho e bem penteado para o lado. Usava a típica roupa militar, lembrando e muito um personagem de guerra. Ele recepcionou Shane até o meio da tenda e mostrou um mapa para ele.

— Soubemos que um carregamento muito importante chegará perto da costa norte da Colômbia. Será num local de difícil acesso, aparentemente inédito, e temo que Ramón Valdez tenha algum plano para driblar a marinha da região.

— Esse carregamento parece ser armas.

— Por quê?

— Se o tal traficante utilizasse de uma rota para o tráfico de drogas, ele não usaria um local inédito. O meu palpite é que receberá um grande carregamento de armas.

— Bom, ainda não temos certeza. Mas o fato é que surgiu um grande problema em nossa operação. A inteligência recebeu uma mensagem de que possivelmente um agente secreto da DEA fora capturado por Valdez hoje ainda e está querendo que ele fale sobre nossos planos. A sua missão é tentar salvar o homem e capturar Valdez.

— Salvar o homem? Coronel, não sou seu subordinado. Eu posso ter um tempinho para salvar o cara, mas a minha missão já foi traçada. Quero apenas que me levem para o local exato agora mesmo e posso fazer o resto.

— Calma, jovem. O Rei da Cocaína vai ser páreo duro. Você precisa cortar a energia dos cabos e desligar os mísseis para que possamos invadir. Não será fácil.

Shane saiu da tenda deixando o coronel sozinho. Um soldado trouxe uma mochila com os equipamentos do espião.

— Tem algum local em que eu posso trocar de roupa?

— Ali.

Shane entrou num tipo de vestiário improvisado. Retirou a sua roupa social e pôs o uniforme. Uma calça preta, coturnos da mesma cor, uma camisa verde escuro, um colete à prova de balas e armas. Um fuzil, uma pistola com silenciador e uma faca eram suficientes.

— Meu serviço é chegar e arrombar com a boca do balão.

O coronel Sanders deu um sorriso tímido. Nunca viu uma determinação tão grande.

Na ida para o ponto exato para o início da missão, Shane lembrou da explicação do capitão Langdon. Segundo o chefe, o tal Ramón Valdez fazia parte de uma organização criminosa mundial chamada Ragnarök e que ao mesmo tempo era um dos chefes do Cartel Los Manos. O agente lembrou de uma informação muito importante acerca do primeiro alvo.

— Pode matar Ramón.

— Capitão?

— Os militares querem ele vivo, mas já recebi informação do diretor Straussen que pode eliminar o alvo.

— Beleza.

Shane encostou o corpo no assento do helicóptero. Adorou a ideia de ser autorizado a fazer o serviço completo.

 

19:00

O helicóptero parou numa região florestal perto da cidade de Cali.

— Temos que te deixar aqui pois não podemos nos aproximar nem perto da região de El Patron. Há capatazes armados mesmo fora do rancho. Muito cuidado.

— Certo.

Shane prendeu uma corda de rapel na cintura e pulou do helicóptero quase que imediatamente. A mochila com as armas e equipamentos foi jogada em seguida. Retirou a corda, vendo a aeronave ir embora. Pegou a faca pôs na bainha da perna esquerda, verificou a pistola e pôs do lado direito num coldre, verificou o fuzil M-16 e a mira óptica e pôs numa mochila. Kit de primeiro-socorros, kit de acampamento, GPS, mapas, celular a satélite, bússola e munições foram todas verificadas.

A floresta perto da fronteira com o Panamá era tropical.

O agente Walsh caminhou por muitos quilômetros e atravessou muitos obstáculos. Conseguiu atravessar um riacho, passar por um vale e entrar na "zona de risco". Nem mesmo os militares da Colômbia se atreviam a isso.

Escutando um bom Careless Whisper de George Michael, Shane armava uma barraca preta sob o céu estrelado da América do Sul. Revisou as últimas coisas, comeu um lanche, fez suas necessidades fisiológicas, bebeu água, contou o tanto de balas na mochila, deu um replay no celular para ouvir a música várias vezes. Lembrava de quando ainda namorava com Barbara. Terminou de ler uma história em quadrinho da Marvel. Desfez acampamento.

Ainda longe da fronteira de El Patron, uns sentinelas armados com AK-47 observavam em postos improvisados na floresta. Shane viu, com um binóculo com visão noturna, as posições dos inimigos. Vagarosamente foi atrás de um. Assobiou, pegou a sua faca e deu um golpe nas costas do homem ao mesmo tempo em que tampava-lhe a boca.

Os próximos alvos eram quatro. Nenhum deles conseguiu deter o americano. Este matou todos com apenas a sua faca. Com o perímetro seguro, o próximo passo era entrar na propriedade do traficante.

— Vámonos! — gritava Chico aos capatazes.

— Chico, eu decidi ir para o Forte Azteca pegar pessoalmente o carregamento. E aquele gringo da DEA está me esperando ansiosamente. Confio em ti, hermano.

— Podes ir.

Ramón foi com seus capangas armados para o helicóptero e de lá foram para o litoral. Chico tomou conta do rancho com a ausência do dono.

Shane ouviu o barulho do helicóptero, escondeu-se até passar. Viu na bússola no pulso que o transporte ia para o norte.

A cerca elétrica de El Patron tinha pelo menos três metros de altura. Com um alicate específico, ele foi cortando a precária e enferrujada estrutura. O buraco feito por ele foi suficiente para passar para o outro lado.

Capatazes faziam rondas noturnas ainda na floresta perto da cerca. O espião botou o silenciador na arma já preparando para atacar o seu próximo alvo.

Uma pedra jogada no chão chamou a atenção do guarda. Um único tiro na cabeça foi suficiente. A arma de Shane saía fumaça.

Os trabalhadores noturnos continuaram na colheita da coca. Os capatazes acharam estranho a ausência de umas colegas da ronda. Foram averiguar.

— Chefe, quatro capatazes não respondem ao chamado. O rádio está mudo.

Chico se levantou da cadeira no gabinete e pediu reforço total no local. Pegou uma pistola e colocou no coldre da cintura.

— Prepara-te! Pode ser uma invasão do governo.

Holofotes foram estrategicamente colocados a fim de iluminarem as plantações e a fábrica. Chico tomou as rédeas de toda a operação.

Shane montou o fuzil, acoplou a mira e ficou deitado no chão. Uma localização extremamente privilegiada pois tinha a visão até da mansão de Valdez. Um a um, os capatazes foram caindo mortos. Soltaram cachorros para a caçada.

— Merda...

Dois pitbulls correram na direção do agente. Ele utilizou uma arma de choque para paralisar os animais.

— Achei ele! Parece ser um soldado! — disse um capataz vendo Walsh com visão noturna.

— Atirem no bastardo!

Uma chuva de tiros obrigou o invasor a se esconder atrás de uma árvore.

— Ele está atrás daquela árvore.

Dez capatazes cercaram a árvore que o agente havia se escondido, porém não o acharam. Um capanga viu uma HQ do Homem-Aranha pendurada numa corda na árvore, puxou.

— NÃO!

O grito do seu colega foi insuficiente para evitar a explosão da granada. Todos morreram. Shane, por sua vez, correu plantação adentro. Jogou um pouco de álcool e queimou uma parte do plantio. O fogo se espalhou por todos os lados. Trabalhadores fugiram com medo de serem mortos.

Chico ficou impressionado ao ver que a invasão acontecia minutos depois da ausência do seu amigo e chefe. Tentou ligar para Ramón, mas não dava sinal.

— O que está havendo?

Shane instalou um bloqueador de celular perto do rancho. Em minutos se infiltrou em El Patron, matou vários guardas, incendiou a plantação de coca, instalou um bloqueador de celular e cortou os cabos de energia elétrica. A mansão, a fábrica e o laboratório ficaram no escuro. Os mísseis foram carregados, mas os guardas foram pegos pelo agente.

Sistema de defesa desligado!

Inoportunamente o celular via satélite do espião tocou. Sua esposa estava ligando.

— Merda... Oi, amor.

— Oi, querido. Anda ocupado?

— Sim. Estou no meio da missão agora... quer dizer, do trabalho.

— Tudo bem. Vou ser rápida. Quero que quando voltar amanhã passe no marceneiro. O umbral do quarto do Junior tá com rachaduras.

— Umbral? Tá, vou me lembrar desse umbral. Agora tenho que desligar.

— Isso foi barulho de tiro? Alô?

Barbara achou estranho o marido ter desligado imediatamente. Revisava alguns trabalhos escolares na mesa de jantar.

O espião desligou imediatamente ao ver luzes de lanternas se aproximando. Com a sua pistola com o silenciador, abateu mais inimigos. Infiltrou-se na fábrica de cocaína por uma entrada de ar na lateral. Os capatazes sequer viram pois as luzes dos refletores foram apagadas.

A saída de ar cabia com folga um homem adulto de um metro e oitenta e cinco como Walsh. Ele rastejou até um parte em que precisava subir.

— Consegui entrar no laboratório.

O capitão Langdon comemorou a entrada de sucesso do seu espião. Com um comunicador, falou para Walsh os próximos passos da missão.

— Você precisa encontrar o escritório de Valdez dentro dessa fábrica. Encontre qualquer documento que pode servir contra a Ragnarök. Sobre o Cartel Los Manos, deixa com os militares.

Os comandos eram ouvidos por um ponto eletrônico na orelha do espião. Logo Walsh subiu o tubo de ventilação e foi parar no teto da fábrica. Do topo deu pra ver a grande movimentação dos colombianos na tentativa frustrada de encontrá-lo. Retirou a grade da saída de ar, pendurou-se numa viga de aço e saiu praticamente de cabeça para baixo. Uma queda era morte na certa, haja vista ele estava a mais de vinte metros do chão.

Chico deixou o gabinete de Valdez destrancado e sem nenhuma proteção aparente; grande erro. Foi crucial para que Walsh pudesse invadir o local no segundo andar da fábrica e roubar arquivos do computador. O tempo era precioso, mas o download era lento.

Um capanga entrou na sala, nada viu. Walsh, escondido atrás da porta, o pegou por trás e o interrogou.

— Quietinho. Entende a minha língua?

— Sim, senhor.

— Que bom. Se não quiser morrer, diga-me onde o seu chefe foi?

O capataz era jovem, talvez tendo em volta dos vinte e poucos anos. O rapaz era magro e com feições indígenas.

— Por favor, senhor. Eu não sei muito. Comecei o trabalho hoje.

— Então hoje é o seu dia de sorte. Vai me levar até a mansão do Ramón e me mostrar o seu paradeiro. É muito fácil para um traficante se dizer poderoso por trás de homens como vocês, mesmo homens burros.

O capataz foi levado como refém até uma entrada dos fundos da fábrica e saíram. A mansão da família Valdez tinha uma entrada também pelos fundos, perto de uma piscina. Os dois caminharam para a porta.

— Abra.

O capataz novato ficou se tremendo, engoliu em seco. Shane viu o jovem fazer xixi nas calças.

— Porra. Cadê os seus culhões?

— Eu sou um covarde, senhor. Tremo porque não tenho chave.

— Ah é? Então pra que tu serve? — Shane deu um choque que fez o mais novo desmaiar.

Arrombou a entrada dos fundos da mansão. Silenciosamente pegou o fuzil e apontou para os lados. Com a ajuda de óculos de visão noturna, ele caminhou pela escuridão.

— Entrei na casa. Parece que Valdez não está. Peguei documentos do computador dele e agora estou subindo as escadas. Avisa o pessoal para invadir.

Langdon imediatamente entrou em contato com o coronel Sanders para avisar do êxito da infiltração. O coronel avisou ao governo de Bogotá que em poucos minutos mandou seus soldados para invadirem o rancho. Helicópteros da polícia federal, policiais e até o exército invadiram todo o local. Uma verdadeira guerra foi travada.

Chico ficou desesperado ao ver a invasão por parte do governo. O império de Ramón estava colapsando a cada segundo. Saiu do quarto do tragicante e deu de cara com Shane no corredor perto. Ambos atiraram um no outro, destruindo os bustos e esculturas. As balas de Walsh acabaram, a mesma coisa para Chico.

Com um punhal na mão, o capataz preparava-se para uma luta X1. Walsh também pegou a sua arma branca. Em pouco tempo os dois travaram uma acirrada e breve luta de facas.

O helicóptero atirou com a metralhadora na direção dos guardas do rancho. Os trabalhadores restantes foram todos presos pelos policiais e soldados.

Dentro da mansão, a luta prosseguia com Walsh acertando Chico com golpes precisos. O traficante deixou cair a sua arma, e deu chance para o americano esfaqueá-lo no pescoço. O sangue da jugular jorrou imediatamente. Shane não viu o oponente, saiu do corredor e entrou no quarto de Valdez.

Os militares colombianos conseguiram entrar com sucesso no rancho. Um coronel local e Sanders foram na direção da mansão.

— Um agente americano fez tudo isso sozinho?

— Aparentemente sim. — Sanders sentiu orgulho patriótico ao ver o resultado perfeito da operação.

Shane saiu da casa caminhando. Os soldados apontaram as armas para ele, mas Sanders o reconheceu.

— Conseguiu capturar Ramón?

— Ele fugiu antes da missão. Mas eu tenho quase certeza para onde ele foi. E coronéis, isto é preocupante.

Shane entregou uma pasta com fotos de armamentos nucleares. Desde mísseis intercontinentais a bombas de hidrogênio.

— Santo Deus. Esses caras já estão mais avançados do que eu imaginava. Green, o Pentágono precisa saber disso imediatamente.

— Certo. Agora tenho um encontro com Valdez. Podem me dar uma carona?

...

O helicóptero de Ramón sobrevoava no Oceano Atlântico, perto da costa da fronteira com o Panamá. Uma ilha era vista no horizonte.

O Forte Azteca era uma ilha particular comprada pelo traficante há cinco anos. Uma ilha rochosa, com um forte cujas paredes estavam em formato de 180°, um resort com duas piscinas, um heliponto numa parte mais ao sul que era um prédio circular branco — a residência e escritório de Valdez ficavam nesse local. Fora do forte havia uma pequena floresta com pouca vegetação. O sul da ilha, a praia em si, servia para estacionar os iates. Um pier era visto.

— Bem-vindo de volta, senhor Valdez — disse um capataz.

— Quero ver o gringo.

O agente da DEA estava preso dentro de uma cela na masmorra. As pernas estavam presas em grilhões. A porta de madeira foi aberta, possibilitando o traficante entrar.

O capanga retirou a venda preta dos olhos do homem.

— Então temos um gringo tentando me passar a perna. Levem o bastardo na sala do abate. Depois darei uma passada lá para o interrogatório.

Um barco de médio porte aproximou-se do pier por volta de 1 hora da madrugada. Mesmo o horário bastante tarde, Ramón fez questão de dar as boas-vindas aos carregadores da mercadoria — eram todos com pinta de estrangeiros.

Cerca de vinte caixotes de madeira. Ramón sorriu quando abriu um e viu um míssil russo contrabandeado. Nem mesmo o governo federal da Colômbia tinha aquilo.

 

— Parece que nossos amigos estão a um passo a nossa frente. O carregamento com as armas chegaram. — Shane relatou assim que viu pela mira do seu fuzil.

O coronel Sanders, Shane e outros estavam num barco de cor escura para se camuflarem no oceano à noite. O Forte Azteca tinha uma iluminação excelente e um farol que iluminava a parte norte da ilha.

— Victor, tem certeza que vai fazer isso sozinho? É arriscado.

— Coronel, eu já fiz isso numa visita à Bangkok. Uma ilhota no caribe é fichinha.

Shane pegou o fuzil, pendurou nas costas e saiu nadando dali mesmo. O agente era um exímio nadador. Foram cerca de seiscentos metros de nado livre. Quando chegou nas pedras, deitou-se cansado.

— Eu estou morto. Eu quero a minha cama. — Seus olhos azuis fitaram a Lua no céu. Levantou e preparou a próxima investida.

A missão agora era de capturar definitivamente Ramón Valdez e impedir que as armas fossem levadas embora. Uma coisa de cada vez: matava Ramón e em seguida as armas.

O coronel Sanders pediu que se afastassem imediatamente dali com medo de uma represália do traficante pois suspeitava-se que o mesmo tinha tecnologia de radar.

 

As várias caixas foram retiradas da cabine inferior e colocadas no convés do barco. Vistoriando o trabalho, o traficante resolveu ligar para Chico. O silêncio do seu amigo era perrurbador.

— Vámonos! Gringos malditos. Espero que terminem logo com isso. Tenho algo para fazer.

Shane se camuflou na vegetação. Um guarda em cima de uma pedra urinava na água. Foi vítima da faca do herói. E,como em El Patron, Walsh se infiltrava na sombra,como um espectro, sem ser visto por seus inimigos.

Continua...


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Notas finais do capítulo

E agora? Será que Shane vai conseguir salvar o compatriota? Será que Ramón vai cair?



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