Lepus Timidus escrita por Kori Hime


Capítulo 3
Raposa e Coelha, do Reino Animalia


Notas iniciais do capítulo

"Final"
Boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758855/chapter/3

 O bar do Tony era ponto de encontro de todos os policiais do departamento. Quando Judy entrou pela porta, ouviu uma comemoração vinda do balcão do bar. Alguns policiais arremessavam dardos em um alvo preso na parede, enquanto outros cantavam em frente à máquina de karaokê.

Judy ficou na ponta das patas, a procura de Nick, encontrou-o sentado no último banco do balcão. Ela caminhou até lá, cumprimentando alguns conhecidos no caminho, assim que chegou até Nick, subiu no banco vazio ao lado dele e pediu uma cerveja para a preguiça do outro lado do balcão.

— Judy... que... prazer... — A preguiça lentamente estendeu a mão para pegar uma caneca gelada. — Em... ver... você... aqui... quanto... tempo.

— Se quiser ir bebendo da minha, até ele servir a sua, a vontade. — Nick comentou, fazendo a coelha rir.

— Obrigada, Tony, eu estive ocupada, senti saudades.

A bebida foi servida alguns minutos depois, e ela esperou pacientemente.

— E então, o que você queria conversar comigo? — A voz de Nick era serena e ele possuía um ar tranquilo, o que deixou Judy incomodada. Afinal, onde estava aquele sarcasmo que o acompanhava constantemente?

— Fui designada a retornar às ruas. Acho que as coisas estão indo bem agora.

— Que ótimo, olha, eu realmente não tenho nada contra os gorilas, mas não suporto bananas. E vamos combinar, Grod espalha casca de bananas por onde passa. — Nick ergueu o corpo sobre o balcão e encheu o caneco com mais cerveja, não esperaria Tony vir do outro lado até ali para servi-lo, levaria horas. — Amanhã podemos almoçar naquele restaurante mexicano, o que acha?

— Nick, infelizmente não vamos ser parceiros. — Judy notou as orelhas dele caírem levemente. — Pelo menos ainda não consegui mudar a ideia dele, mas eu vou.

— Você é sempre otimista.

Judy olhou para a bebida amarelada, era mesmo otimista, e isso que a levava fazer coisas como aquela.

A música no karaokê finalizou e uma voz conhecida chamou a atenção de todos do bar.

Em pé, vestindo uma saia de lantejoulas douradas e um top do mesmo estilo, a cantora Gazelle sorria docemente para todos, segurando um microfone em uma mão, ajeitando-o no pedestal.

— Boa noite a todos. — Ela falou, quando um assistente colocou um banco atrás dela para se sentar, trazendo também seu violão. — Eu recebi o convite de uma amiga muito querida para vir cantar para vocês essa noite. Em especial, para um jovem casal.

A cantora acenou para Judy. A coelha abriu um sorriso espetacular, piscando na direção de Nick, que estava de boca aberta com a surpresa.

Gazelle iniciou a música, tocando alguns acordes no violão, sua voz era de fato muito graciosa, mas a música que ela cantava se mostrou ainda mais cativante, pois falava sobre todas as formas de amar, inclusive amor interespécies. Ao final da canção, todos aplaudiram, entre assovios e gritinhos de pedidos diversos para que Gazelle continuasse cantando. Muitos animais usavam seus celulares para gravar a apresentação espontânea.

Ela se levantou e segurou novamente o microfone.

— Antes de continuar, eu tenho um pronunciamento a fazer. — Gazelle dirigiu o olhar para seu assistente que também segurava um celular, onde fazia uma transmissão ao vivo para as redes sociais na internet. — Quero dizer em primeira mão que eu aceitei o pedido de casamento do meu namorado, Brian. — Ela estendeu a mão, convidando o namorado a aproximar-se. — Brian é meu companheiro há muito tempo, todos sabem que ele não gosta muito de estar sob os holofotes, mas hoje ele decidiu dar um oi para todos.

Brian aproximou-se e segurou a pata de Gazelle, beijando-a em seguida. Ele era um Tigre Siberiano, grande e de listras bem destacadas em seu corpo robusto, com pelos brilhantes. Ele roçou o focinho no da noiva e sorriu na direção do público que aplaudia.

— Eu só queria dizer, que ela é quem eu mais amo nessa vida. — Brian falou ao microfone e depois afastou-se, acanhado, pois não tinha o costume de se mostrar muito.

— Ele não é um amor? — Gazelle arremessou alguns beijos para o noivo. — Aquela primeira canção eu compus quando me descobri apaixonada por alguém de outra espécie. Afinal, se é amor, que mal pode causar? Eu sei que ainda há leis em andamento para legalizar o casamento interespécies, mas se nós nos unirmos em uma só voz, seremos mais fortes do que o preconceito.

Todos aplaudiram entusiasmados, então Gazelle voltou a sentar e pegou o violão, cantando uma nova canção para o público que se mostrou ainda mais animado.

Judy cantarolava a música enquanto movia o corpo conforme a melodia, ela notou que Nick a direcionou um olhar conspícuo.

— Você fez tudo isso... — Ele não completou a fala.

— Eu fiz tudo isso, sim. — Judy aproximou-se da raposa. — Garramansa me mostrou esses dias uma foto do namorado da Gazelle, e pensei, se uma Antilopinae namora um Felidae, o que poderiam os outros falar sobre nós dois? Procurei a Gazelle para pedir esse favorzinho e sabe, né... ela é sempre muito gentil e apoia diversas causas.

— Espera, coelha, volta um pouco. — Nick moveu as patas, balançando a cabeça. — Falar sobre nós dois?

— Sim, os bichos não podem nos julgar, você não ouviu o que ela falou? Se é amor, que mal pode causar?

Nick estreitou os olhos, tomando ar nos pulmões.

— Vamos com calma, eu ainda estou processando a parte do amor. — Ele passou a pata sobre os pelos do rosto.

Judy sorriu.

— Amor é quando a gente gosta muito de outro ser, a ponto de ir contra a própria espécie para ficar com ela. — A coelha olhava compenetrada nos olhos da raposa.

— Eu sei o que é amor. — Nick curvou o corpo para frente, aproximando o próprio focinho no dela. — Mas fico intrigado o que você está dizendo especificamente.

— Sabe, por muitos anos as raposas, mais especificamente, canidae, vulpes... amedrontaram coelhos, leporidae, sylvilagus. Hoje eu digo que, uma coelha pode amar uma raposa sem medo. Mais específico que isso, somente se a gente se beijar.

Nick moveu as pálpebras, aturdido com a ousadia da coelha. Mas não negava a ela um sorriso astuto, segurando o rosto dela com as patas de maneira carinhosa, aproximando-se mais para um beijo.

Judy apoiou também a mão no rosto peludo e macio da raposa, sentindo em seu beijo o gosto da cerveja, da bala de menta e de algo mais que seu cérebro distinguia como amor. Eles se afastaram após o beijo, não muito, mas o suficiente para se olharem.

— Então vamos mesmo fazer isso? — Nick perguntou, abraçando-a com carinho.

— Já estamos fazendo, não? — Judy espalmou as patas no peito de Nick. — Os outros não estão nem incomodadas com nós dois abraçados.

— Claro, claro, eles não devem nem estar emocionados pois uma estrela pop está dando um show de graça num bar de esquina.

Lá estava o sarcasmo da raposa. A coelha sorriu, satisfeita por ele estar de volta.

— Ela disse meu nome, já devemos ser o assunto mais comentado da internet. Raposa e coelhos. — Judy pegou o celular do bolso e abriu um aplicativo. — Hmmm na verdade estão falando sobre o Brian, não sabia que ele era compositor também. Olha, ele gosta de velejar e...

— Vamos voltar ao que nos interessa? Onde estávamos mesmo? — Nick abaixou o celular de Judy, resvalando a ponta da língua nos pelos da altura do pescoço da coelha, deixando-a eriçada.

— Vejamos, estávamos saindo do bar, antes que nossos colegas nos prendam por falta de decoro e compostura. — Ela apertou os lábios, puxando Nick pela mão e saindo rapidamente do estabelecimento.

Era um começo, isso era.

Haveria alguns muros a serem derrubados a partir dali, mas não havia sensação mais incrível do que sentir-se livre para apanhar com garras e presas o amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi, pessoal, é eu sei acabou e eu to triste também.
Espero que tenham gostado.

Até assisti ao Animal Planet para pensar melhor no beijinho deles KKKKK
Agora resta saber o que vocês acharam.

Beijos e até uma próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lepus Timidus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.