Lepus Timidus escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Raposa, da Família Canidae, do Gênero Vulpes


Notas iniciais do capítulo

Será uma história em 3 capítulos.



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— Policial Hopps se apresentando.

— E policial Wilde tomando um café.

— Espera, o que? — Judy olhou para trás, seu parceiro segurava um copo descartável em uma mão e uma rosquinha com granulados coloridos na outra. — O que você está fazendo? Temos hora marcada com o capitão substituto.

— Tomando o café da manhã. — Nick aproximou-se, lançando um olhar de obviedade para a coelha. — E o nosso novo capitão não vai fugir, afinal, ele mal consegue subir na cadeira, veja.

Judy virou-se e olhou na direção que Nick apontava. O substituto temporário do capitão Bogo era uma lebre de pelugem marrom e orelhas curtas, os olhos lembravam duas bolotas de vidro na cor cinza e o focinho marrom.

— É um Lepus Timidus. — Ela concluiu, estreitando os olhos e torcendo para o novo chefe não cair e passar vergonha logo no primeiro dia.

— Lepus quem? — Nick fez uma careta, as migalhas de rosquinha caíam em seu uniforme. Ele deu leves batidinhas para limpar a sujeira.

— Assim como as raposas, os coelhos possuem diversas classificações de espécies.

— Sim, sim, uns peludos, outros nem tanto. Uns orelhudos, outros nem tanto. — A raposa zombou. — Vamos lá na frente, quero ouvir o que o Senhor Leproso tem a dizer.

Lepus Timidus. — Judy corrigiu. — Mas não fica falando da espécie dos outros por aí, é constrangedor.

A sala de reunião no departamento estava apinhada de animais, aguardando o discurso do capitão. Assim que ele conseguiu subir na cadeira, fez um discurso rápido sobre suas previsões quanto ao departamento de Zootopia e dividiu os trabalhos para os agentes.

Nick e Judy ficaram por último, recebendo uma missão importante diretamente das mãos do capitão. Eles precisariam fazer a segurança da estrela Gazelle.

— Estamos investigando uma série de cartas ameaçadoras à cantora, então precisamos que vocês trabalhem disfarçados em um show. — O capitão liberou a dupla e assim que deixou a sala, Judy comemorou com Benjamin Garramansa que iriam encontrar Gazelle.

— Não se esqueça de que ela está sendo ameaçada. — Nick acabou com a alegria dos dois, colocando os fatos na mesa, ou melhor, a pasta com mais informações sobre o caso. — Vamos fazer o disfarce de amigos comemorando aniversário? — A raposa levou a garra ao queixo. — Ou quem sabe a gente pode se fantasiar de zebras.

Judy balançou as orelhas, não entendo como poderiam os dois se fantasiarem de zebras e agirem naturalmente.

— Precisamos ficar juntos sem levantar suspeitas. — Ela comentou, enquanto se dirigiam para fora do departamento, em direção ao estacionamento onde pegariam a viatura.

— Que tal irmãos? — Nick sorriu, mostrando suas presas e levando as patas sobre a cabeça, fingindo ter duas orelhas de coelho. — Somos praticamente iguais.

— Não, não é o bastante. — Judy girou os olhos e abriu a porta do carro. — Talvez tenhamos que fingir que somos um casal, ou algo parecido, a nova turnê da Gazelle está bastante romântica. — Ela falou com um ar tranquilo. — Vamos nos hospedar no hotel cassino, será melhor dar sobrenomes iguais.

Nick estancou as patas no asfalto, assimilando o que a coelha havia sugerido. Judy colocava os óculos escuros e ajeitava o cinto de segurança, mandando ele entrar de uma vez no carro. A raposa sentou no banco e agiu de forma mecânica ao puxar o cinto de segurança.

— Você não acha que ia chamar muita atenção do público um casal como nós?

— Não.

Nick Wilde não era o tipo de animal que guardava para si o que pensava. Ele tinha essa grande capacidade de constranger todos com suas revelações. Contudo, quando seus sentimentos por Judy ficavam expostos, ele sentia-se ameaçado. E ouvir a coelha falar com tanta naturalidade que não havia nenhum problema em um casal interespécies, o deixou abalado emocionalmente.

Não tinha como ele gostar mais dela depois disso.

A coelha passou toda a viagem falando sobre a missão. Em um ponto da conversa, ela percebeu que Nick não havia feito nenhuma piadinha ou questionado suas ideias.

— Está tudo bem?

— Sim, sim, claro. — Nick olhava pela janela, como se as dunas da Praça Saara fossem tão interessantes assim para ele não querer sequer virar-se para os olhos dela.

— Vamos chegar lá antes de anoitecer. Fazemos uma vistoria no lugar do show e depois o check-in.

— Claro, claro. — Nick ainda olhava pela janela. Havia levado aquele sentimento pelos últimos meses numa boa. Pelo menos até Judy ir ao cinema com um tal de Chris Boletas, um coelho metido a besta que não merecia a coelha mais doce do mundo.

“Argh.”

 Ele fez uma careta, agora estava ficando piegas e meloso em pensamentos. Precisava dar um jeito nisso.

Mas a questão era, como se dava um jeito nisso?

***

 

— Então, vamos conversar sobre o que está rolando com você? — Judy mostrou um sorriso compreensível. Estava começando a achar que Nick não queria mais trabalhar ao seu lado. Constantemente fugia dela após o experiente e raramente participava do happy hour.

Da última vez que tentaram sair em grupo, ele foi mais sarcástico do que nunca, principalmente quando apresentou Chris, um coelho que estava tentando dar uma chance, mas o relacionamento não parecia ter muito futuro.

— Estou apenas cansado, muitas horas extras. — Ele se limitou a falar e Judy decidiu não forçar a conversa. Ligou o rádio e começou a cantar até chegarem ao Hotel Oásis.

Havia um letreiro enorme com o nome de Gazelle piscando todo pomposo. Nick tratou de verificar as dependências do teatro em que o show iria se realizar, enquanto Judy encontrou a cantora em seu camarim para uma rápida entrevista.

Eles se encontram no saguão do hotel prontos para dar entrada no quarto de casal.

— Muito bem, somos um casal de férias românticas e vamos ao show da Gazelle mais tarde, pois você comprou os ingressos para me fazer uma surpresa. — Judy falava, enquanto ajeitava os pelos do rosto, adquirindo uma imagem mais animada.

— Nada mal, você conseguiu pensar nesse roteiro de filme clichê nas últimas horas sozinha? — Nick falou, num tom debochado. Ele carregava uma maleta de couro marrom, tirando os óculos escuros do rosto. — Como eu sou romântico, vou pedir o melhor quarto e colocar na conta do departamento.

Na recepção, a expressão na cara da doninha que os atendeu era cômica, para não dizer revoltante. Judy não estava gostando muito da forma que era encarada, principalmente o olhar repreensivo do bicho ao ouvir que estavam em uma noite romântica.

Judy olhou para Nick e ele balançou os ombros, como quem quisesse dizer que aquela ideia não era boa. Mas a policial não se calava diante de uma clara cena de preconceito. Afinal de contas, quem disse que espécies diferentes não poderiam ficar juntas? Era uma ideia repulsiva pensar que amor se dividia por classificações.

— Querido, estou tão feliz com nossa viagem. Você é a raposa mais maravilhosa do mundo. — Judy sorriu, abraçando Nick, ele fez uma cara de quem não entendia nada no começo, mas depois captou a encenação.

— Tudo do bom e do melhor para a minha coelhinha. — Ele piscou para a doninha, que estava de boca aberta. — Quero uma garrafa de champanhe, e morangos, e flores, muitas flores para o meu amor.

— Claro, senhor Wilde. — A doninha engoliu seco.

Judy riu, se divertindo com a encenação, até que beijou Nick no focinho, de forma espontânea. A pata dele apertou suas costas, fazendo as garras sobressaírem.

Um pouco constrangidos, eles fizeram o check-in e subiram para o vigésimo quinto andar em silêncio. O quarto era luxuoso e possuía uma sala com confortáveis sofás e uma mesa de centro com um balde de gelo com champanhe e duas taças. Os morangos em uma travessa de vidro e vasos de flores espalhados pela sala. As janelas iam do teto ao chão, com uma vista exuberante de toda Saara que se iluminava no final daquele dia.

Judy caminhou pelo quarto com olhos brilhantes. Ao lado, a cama de casal era grande e convidativa, cheia de travesseiros. Ela entrou no banheiro e comemorou a suntuosa banheira.

Nick ficou no sofá, servindo o champanhe nas duas taças.

— Estamos a trabalho. — Judy ralhou, retornando para a sala.

— Não, nós estamos em um romance juvenil que vai fazer coelhinhas saírem do cinema sonhando com uma raposa como eu. — Ele piscou na direção da parceira, erguendo a taça e bebendo em seguida.

Judy queria falar sobre o que aconteceu no saguão do hotel, mas Nick mudou de assunto, analisando o mapa do teatro onde o show de Gazelle aconteceria. Eles repassaram o plano e quando viu, já era hora de se arrumar para o show.


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Notas finais do capítulo

Oi, gente.
É fofinho, só posso dizer isso.



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