Deitada na cama, Hermione lia as cartas de Tom. Reparava em todos os mínimos detalhes, para tentar convencer-se de que quem conversava não era Lord Voldemort. Não aguentava a culpa, a velha e lastimável culpa.

Tum-tum.

O barulho na porta tirou Hermione de seus devaneios. 
— Entre.— Resmungou.
— Desculpa atrapalhar querida, mas  eu sinto que você precisa de minha ajuda.— Falou amavelmente a Srª Granger.— Não faz bem ficar enfurnada em seu quarto.
— Mas mãe...
— Sem mais mocinha.— Falou a mais velha sorrindo.— Trate de levar Jô para o parque, tenho certeza que vai se divertir.
— Mamãe, descul...
— Não vou aceitar um não como reposta.

Desanimadamente, levantou-se e foi se trocar. O velho quadra-roupa branco descascava a tinta. Quando abriu a porta, ouviu um leve rangido. Cuidadosamente, pegou a primeira roupa que viu. O vestido florido que usava deixava os seus olhos mais vivos e reluzentes. Os cabelos soltos e bagunçados mostravam que ela era única, insubstituível.

Suavemente, saiu do quarto e encontrou sua irmã mais nova com um sorriso travesso estampado no rosto.
— Vamos para o parque Kendin?
— Tudo bem.— Disse a mais velha.— Mamãe, vamos já sair.
— Tudo bem, depois podem tomar sorvete, com uma condição, quero que voltem antes do jantar.
— Prometemos, mamãe.— Disse a mais nova.— Vou cuidar muito bem de Mione

*** 

Hermione estava sentada no banco esverdeado do parque. Josephine já brincava com a seus melhores amigos: Lia e Jake.

Lendo um belo romance (Sendo clara a preferência por Jane Austen). Tirando os olhos do livro, viu o sol ainda cintilando no céu.
— Jô! — Gritou a garota. —Vamos tomar sorvete?

Josephine correu até a irmã e assentiu sorrindo.
— Vamos aonde?
— Vamos lá no Green Coffee. Eu tomo café e você um sorvete...
— De chocolate, claro.

*** 

— O que vão querer? — Perguntou a voz de Darien Freeman.
— Um café e um sorvete de chocolate.
— Nome para o café?
— Hermione.

O garoto olhou bem para ela. Depois da análise, chamou a outra atendente e sussurrou alguma coisa inaudível.
— Vou ligar para ela.— Disse a garota entrando na cozinha.

Hermione, mesmo estranhando, sentou-se numa das mesas ali espalhadas. Jô contava suas aventuras e a garota apenas assentia.
— Hermione!

Ainda lendo o seu livro, levantou e pegou o seu pedido.
— Mi! Cuida...

Quando ela percebeu o que haviam falado, levou um encontrão com um ser um mais alto que ela.
— Desculpa! — Exclamou ela pegando o copo já vazio de café. — Desculpa mesmo, eu não havia-lhe visto.

Quando levantou os olhos, encarou um verde escuro digno da mais densa mata. Um leve sorriso em seu rosto dava conforto a garota, que involuntariamente sorriu.
— Não tem problema, sabe.— Disse ele ainda sorrindo.— A culpa foi minha, eu que me desculpo. Deixe-me pagar um café e o sorvete.
— Um de chocolate, moço.— Falou a voz infantil de Jô, que havia logo se posto ao lado da irmã.
— Josephine!— Repreendeu a mais velha.— Desculpe por isso também.

O outro se divertia com a cena. Os cabelos sedosos negros davam um toque levemente sério. A boca levemente avermelha já soltava um sorriso amável.
— Não tem problema. Vou comprar um sorvete para essa pequena.
— Eba! — Comemorou a pequena dando a sua mão para o moço.
— Senhor, você não...
— Eu insisto.— Disse ele.— Aliás, pode me chamar de Vincent.

Mesmo hesitante, seguiu o jovem para o caixa, onde Darien os tratou com receio. Logo depois do pedido, Vincent fez questão de se desculpar mais uma vez.
— Aqui!— Disse escrevendo algo em um guardanapo. — Se não tiver mais nada para fazer, pode me ligar mais tarde...
— Ok.— Disse ela pegando o papel.— Vamos Jô, está quase na hora do jantar.

***

Já estava na hora do jantar. Josephine contava suas aventuras, de vez enquanto citando Hermione. Porém ela se sentia um pouco estranha. Não sabia o por quê e nem o que era. Era curiosidade? Felicidade? Tristeza? Raiva? Parecia que uma avalanche de sentimentos invadiam a cabeça da garota. Acabara de conhecer Vincent, mas tinha sensação de que eles já eram velhos amigos...
— ... então conhecemos o Vincent. Ele era bem legal, né Mione?
— Ahñ? O que? Sim, sim.— Respondeu.— Ele comprou um café para mim e um sorvete para Jô.
— Ele deu o telefone para Mi.
— É.— Disse Hermione e sua mãe deu um sorrisinho alegre.
— É, Hermione está crescendo.

*** 

Já era quase meia noite. Hermione se revirava em sua cama tentando achar a melhor posição para ler o livro. Já havia acabado de ler “Orgulho e Preconceito” e “1984” e lia “Frankenstein” pela 6ª vez.

Sendo sufocada pelo tédio, desceu lentamente e pegou o telefone de casa.
— Alô?— Falou a voz do outro lado.
— Desculpa a hora. Você consegue conversar agora?