Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 41
XLI - Arriscado




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Rebeca parou logo atrás de Olívia, que estava empilhando alguns livros na mesa.

— Olívia?

— Sim? — Ela deu uma olhada para trás.

— Meu nome é Rebeca, muito prazer. De onde você é?

Curiosa com a pergunta, a garota se virou. — Depende... Imagino que sejamos do mesmo lugar.

— Espera, deixa eu reformular minha pergunta. Você mora aqui?

— Sim.

— E você já... foi humana? Dyotrreini?

— Sim, claro. Todos que estão aqui já foram, ou ainda são e estão em pausa.

— Em pausa?

— É. Sabe, esperando para reencarnar.

— Ah.

Olívia virou levemente a cabeça, intrigada com algo. — Você é uma belli?

— Não... Por quê? Pareço uma?

Ela deu uma risadinha. — Sim, já que está fazendo tantas perguntas. Não que eu me incomode de respondê-las.

— Eu sou a deslocada. Eu não desencarnei ainda, provavelmente não é muito certo eu estar aqui... Mas eu estou com o Ethan. — Apontou para ele, que fingia estar muito interessado nas estantes. — Ele é de Dyo.

— Uau... Isso é bem incomum. Haziel sabe que ele a trouxe?

— Sabe. Haziel é meu amigo também, e pelo jeito não deve ter problema, desde que eu não mexa em nada.

— Entendi, que bom, então. Aproveite, com certeza não são muitos que tem a oportunidade de vir até aqui.

— Sim, sei disso. Estou aproveitando... E... Eu fiquei pensando... Eu já te vi em uma foto.

— É mesmo? Onde? Em Dyotrr?

— Não, em Dyo mesmo... — Rebeca suspirou, cansada de tentar ser sutil. Daquele jeito a conversa não acabaria nunca. — Olha, eu vi sua foto na casa de uma amiga minha, e pelo jeito vocês tiveram uma relação muito forte, mas ela se recusa a falar alguma coisa sobre, e eu e Ethan achamos que ela bloqueia os pensamentos dela porque não quer que ninguém saiba do passado, ou sei lá o que ela pensa, porque...

Uma mão tapou a boca de Rebeca, e ela não precisou olhar para cima para saber que era Ethan. Suas bochechas coraram, já que ela se deixou falar demais.

— Se você continuar falando alto desse jeito, ela vai ouvir — cochichou ele, a soltando.

— De quem vocês estão falando? — Olívia parecia ainda mais interessada no assunto.

— Isabel — respondeu Rebeca, mais baixo.

Ela franziu o cenho, fazendo certo esforço para lembrar. Rebeca encarou Ethan, esperando que ele tivesse como ajudar, mas ele parecia distante, concentrado.

— Eu conheci tantas pessoas em minhas vidas... Vocês têm mais detalhes?

Como Rebeca não sabia de mais nada, olhou mais uma vez para Ethan, que estava de olhos fechados. Ela sabia que ele estava procurando alguma informação relevante, talvez dentro da mente de Olívia.

— Rosário — disse ele, de repente, abrindo as pálpebras. — Seu nome era Rosário, você vivia em Portugal, em mil quinhentos e trinta e nove. Você tinha uma... amiga chamada Isabel.

Olívia desviou o olhar, pensativa. Demorou alguns segundos até voltar a encará-los, com as sobrancelhas erguidas.

— Sim, claro! Eu lembro! Isabel... Nossa... Nunca mais tive notícias dela. Como ela está?

— Bem, acho. — Rebeca deu um sorriso aliviado e envergonhado ao mesmo tempo. — Nós... estamos falando com você... porque queríamos saber se você sabe se aconteceu algo com ela.

— É como eu disse, não tive mais notícias dela depois que desencarnei...

Ethan segurou o braço de Rebeca. — Com licença um minuto? — Olívia afirmou e ele puxou a mais nova para perto da primeira estante.

— Que foi?

— Isabel matou Olívia.

— Quê?! Como...?! — exclamou, completamente perplexa.

— Foi como uma... explosão. Olívia acha que foi uma explosão causada por velas e produtos inflamáveis no cômodo... Mas não, foi Isabel. Foi totalmente sem intenção.

— Como aconteceu?

— Elas estavam discutindo... Olívia teria que se casar contra sua vontade, e Isabel queria que elas fugissem, mas Olívia sabia que não adiantaria. Isabel... estava inconformada que ela estava aceitando tudo aquilo, sendo que as duas... tinham mais do que uma amizade.

— Quer dizer que elas eram tipo... namoradas?

— Pode ser, mas claro que não era considerado, na época. Bom... Isabel estava desolada e, em um acesso de raiva, não conseguiu controlar seus poderes e graças à força deles, a casa explodiu...

— Você viu tudo isso na mente de Olívia? — Ele acenou afirmativamente. — Mas como ela sabe desses detalhes?

— Como posso explicar... São fragmentos que ficam na alma, mesmo que ela já não esteja no corpo físico. Todos os sentimentos, sensações do ambiente... impregnam na alma, porém, ela não sabe. Ela ainda não tem total liberdade, como eu ou Isabel, de saber sobre todas as vidas que tivera.

— Hm... Então... Será que isso tem a ver com o fato de Isabel bloquear seus pensamentos?

— Talvez ela bloqueie essas lembranças dela mesma, inclusive. Deve ser doloroso para ela... Mas não entendo o porquê dela bloquear tudo.

— Não seria bom se ela conversasse com Olívia? Pelo jeito, elas nunca mais se encontraram.

— Não sei se é uma boa ideia. Isabel evita esse assunto com todas as suas forças, aparentemente.

Rebeca observou Olívia de longe, que voltara a ordenar livros. Lembrou-se de como Isabel evitou falar sobre a foto, ou até quando elas e Ludevik estavam no jardim, e ela ficara nervosa e se afastara. Será que ela estava tão brava que teve medo de explodir de novo? E por isso saiu?

— Provavelmente — comentou Ethan. — Estou começando a achar que Isabel não só bloqueia seus pensamentos como também seus poderes.

— Mas ela usa as essências.

— Não deve ser seu único poder. Para ela conseguir explodir coisas ao seu redor em um momento de raiva...

— Talvez ela seja mais forte do que você — apontou, sobressaltada, com certa animação.

Ele deixou escapar um sorriso. — Talvez. E por isso temos que tomar cuidado com esse assunto, já que não sabemos como ela pode reagir — acrescentou, mais seriamente. — Provavelmente ela não consiga controlar totalmente seus poderes, e por isso saia de perto sempre que se irrita. Seria arriscado simplesmente chegar com Olívia aqui, com tantas almas, sem falar dos arquivos...

— Eu não acho que Isabel ficaria brava vendo Olívia. Emocionada, provavelmente.

— É aí que está. Emoções, no fim, se descontroladas, são perigosas.

— Haziel não nos ajudaria?

— Sem dúvidas. Posso falar com ele sem que Isabel perceba.

— Pela mente.

— Sim.

— Então vai.

Sem mover-se ou dar qualquer sinal, Ethan começou a falar com Haziel, explicando a situação e o que eles planejavam fazer. Não demorou para que Ethan voltasse a encarar Rebeca.

— Ele concordou. Temos que ir com Olívia para o pátio de trás, ela já foi avisada.

Naquele instante, viram Olívia se virando e os olhando, esperando. Sem dizer mais nada, os três caminharam para fora do prédio, e seguiram a garota para o tal pátio, bem parecido com a entrada, com a diferença de que havia uma fonte grande no centro no lugar, alguns bancos de madeira e uma vista aberta para o mar.

— Estou ansiosa para vê-la — começou Olívia, caminhando até um dos bancos, próximo às escadas, debaixo de uma grande árvore de flores amarelas.

— Nós também — concordou Rebeca, sentindo um leve frio no estômago, decidindo ficar de pé. Estava agitada demais para sentar.

Ela lançava olhares constantes para a porta de onde saíram, e não demorou para que Ethan virasse seus ombros para o caminho à direita do banco, por onde vinham Haziel e Isabel, conversando animadamente. A poucos passos de distância, Isabel os viu ali e sorriu, como se estivesse em uma divertida excursão escolar, e seu olhar foi para a figura que se ergueu do banco, abrindo um pequeno sorriso de reconhecimento.

Isabel estacou no lugar conforme seu sorriso desaparecia, e tudo pareceu parar por alguns segundos. Ela parecia enxergar uma miragem, sem piscar, sem respirar. Olívia teve que tomar a dianteira e se aproximar.

— Oi, Isabel. Há quanto tempo.

Um tanto desconfiada, Isabel observou Rebeca e Ethan rapidamente, tendo a certeza de que aquilo era coisa deles. Voltou a encarar a moça a sua frente e suas sobrancelhas franziram para cima em uma careta de tristeza.

— Eu sinto muito...

Olívia deu um sorriso compreensível e chegou mais perto, abraçando Isabel, que envolveu sua cintura em um abraço apertado, começando a chorar.

Haziel aproximou-se do pequeno grupo. — Está tudo bem, Ethan. Melhor as deixarmos a sós.

Rebeca queria muito ouvir a conversa delas, e mesmo que entendesse que deveria ser particular, teve que ser puxada pela mão por Ethan para dentro do prédio.


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