Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 40
XL - Dy




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Alguns sons de toques em madeira se propagaram pelo espaço. Isabel andou até a porta e a abriu, dando de cara com Ethan.

— Não era mais fácil aparecer no meio da sala? 

— Não seria muito educado da minha parte. Estão prontas?

— Sim.

Rebeca seguiu Isabel para fora e a mais velha fechou a porta. Posicionando-se ao lado de Ethan, sentiram-no tocar seus ombros e, em um piscar de olhos, apareceram em uma planície gramada, com o mar ao longe. Os olhos de ambas se encheram com a paisagem.

— Uau... — Isabel soltou, com a boca levemente aberta. — Estamos realmente em Dy?

— Estamos.

— Eu sempre sonhei em conhecer esse lugar! — exclamou, animadamente.

— Você nunca veio aqui? — Rebeca perguntou, um tanto surpresa.

— Não! Não são todos que podem vir. Esse lugar é praticamente sagrado.

— Por quê?

— Além das Estações — começou Ethan —, também temos o que vocês chamariam de clínica de reabilitação. Todas as almas que desencarnam vêm para cá e passam por um processo, curando quaisquer males e se preparando para a próxima vida, se for o caso.

— Uau... — Soltou de novo, sem perceber que estava repetindo a palavra. Virou-se para o lado oposto da praia, se deparando com uma construção gigantesca de paredes brancas e de vidro. — Essa é a clínica?

— Sim.

— O que estamos esperando?

— Haziel.

— Ele também trabalha aqui?

— Sim, na maior parte do tempo. Ele não precisa mais ficar tanto nas Estações. Nascimentos de almas não é mais tão frequente como antigamente. O trabalho de hoje em dia é cuidar das almas que já estão aqui.

— Hm...

— Haziel está do outro lado. Pediu para irmos até lá.

Novamente, se transportaram a um toque de Ethan, reaparecendo à frente de uma grande escadaria afunilada, que dava para a clínica. Ao olhar para baixo, Rebeca notou que o chão era composto de pedras pequenas, fazendo um mosaico circular que tomava de ponta a ponta daquela área. Ao redor da construção, haviam árvores, um jardim grande e florido, e do lado oposto, outro prédio, um pouco menor, com a mesma escadaria grande.

Entre os dois prédios, a frente, entre os jardins, havia um caminho com os mesmos mosaicos no chão, seguindo para algum lugar que não era possível ver.

De canto de olho, notou Isabel ajeitando suas roupas e cabelos, e algo a impulsionou a virar-se de volta à clínica. Ali, viu Haziel saindo da porta principal e descer as escadas, conversando com um rapaz de roupas brancas, iguais às dele. Sorriu, lembrando-se de como aquele ser a ajudou e sentiu-se ansiosa para falar com ele.

Ao terminarem de descer os degraus, ambos se despediram segurando suas mãos brevemente. O rapaz seguiu para o caminho entre o jardim, e Haziel sorriu ao ver o trio, começando a caminhar em direção a eles.

— Rebeca — disse ele, estendendo os braços ao chegar perto. A garota não demorou em abraçá-lo com vontade, feliz por finalmente vê-lo.

— Eu estava com saudade de você, Haziel — confessou ela, o sentindo cercar seus braços em sua volta. Era quase emocionante estar ali.

— Eu também. Fico feliz em saber que você e Ethan acertaram as coisas — cochichou em seu ouvido antes de se soltarem. — Ethan... — cumprimentou com um aceno de cabeça, e olhou para Isabel, que deu um passo à frente, abrindo um sorriso encantado.

— Isabel. Muito prazer!

— Igualmente, Isabel... Nós já fomos apresentados?

Ela pareceu surpresa. — Não, nunca... Por quê?

— Tenho a impressão de te conhecer de algum lugar, apesar de não me recordar. Mas se você tem certeza, deve ser realmente apenas impressão minha.

— Talvez eu tenha te visitado em algum sonho, eu sempre quis te conhecer — admitiu de bom-humor.

— É mesmo? — Ele achou graça. — E por quê?

— Você é incrível! Como eu poderia dizer tudo o que você já fez em poucas palavras? Impossível.

Haziel riu. — Bom, acho que podemos conversar sobre seus pensamentos enquanto tomamos uma xícara de chá. Vamos?

Sem esperar por afirmações, os mais velhos tocaram nos ombros das mais novas, e assim o grupo apareceu em um local fechado e bem iluminado, cheio de janelas grandes e piso de madeira canela. Parecia ser uma espécie de escritório, e o cômodo era mais comprido do que largo. Exatamente no centro, havia uma dupla de sofás separados por uma longa mesinha de centro. Mais para a frente, ficava uma escrivaninha espaçosa de frente para a sala de estar, com poltronas de visitantes e de receptor, logo na frente de uma estante de livros que chegava ao teto. Se tivesse quatro metros de altura, seria pouco.

Intrigada com o balaústre de madeira ao lado, andou até lá, deparando-se com um vasto salão repleto de estantes altíssimas. Era como uma biblioteca, e cada estante tinha uma escada e uma pequena sacada para alcançar os livros das últimas vinte ou trinta prateleiras. As paredes laterais também tinham estantes que iam até o teto, porém, também divididas com pequenas sacadas e mais escadas.

Tinham mesas compridas pegando quase todo lado esquerdo do salão, onde pessoas transitavam entre elas e as estantes.

— Aqui não é uma biblioteca comum — comentou Ethan, ficando ao lado de Rebeca para observar o movimento. — Todos esses livros contêm registros de todas as vidas existentes nesse mundo. Cada ser e alma possui um livro com seus registros.

— Até eu? Humanos comuns? — indagou, surpresa.

Ethan riu. — Claro, todos, sem exceção. E não, você não pode ver o seu. Apenas pessoas autorizadas podem mexer nos registros.

— Essas pessoas que estão lá em baixo?

— Sim. Elas trabalham exclusivamente aqui.

— E o Haziel é... tipo o chefe?

— Ele está mais para o coordenador.

— Entendi... Esse lugar é lindo. — Rebeca observou as pessoas, algumas escreviam em livros nas mesas, outras empurravam carrinhos com mais livros, outras os guardavam, e assim tudo parecia funcionar tranquilamente.

Um barulho de livros caindo de uma altura considerável chamou a atenção dos observadores, e automaticamente procuraram de onde vinha. Viram uma moça no topo de uma das escadas, e ela parecia agoniada com os livros que derrubara lá de cima.

Sem que tivesse notado qualquer movimento, Rebeca viu Ethan lá, pegando, empilhando os livros e os levando para a garota, obviamente sem precisar usar a escada para chegar até a sacadinha. Aproveitando o embalo, Rebeca correu até as escadas do mezanino e começou a descer rapidamente e, quando chegou no chão, olhou para cima e ficou surpresa em como o mezanino era alto. Andou pelo corredor até encontrar Ethan e a garota e parou ali, dando uma olhada nos livros.

Depois de guardar, os dois desceram, e algo na garota chamou a atenção da mais nova. Analisando seu rosto, viu seus traços delicados, os olhos verdes, o cabelo louro acinzentado, algumas pintas na bochecha e queixo...

Rebeca piscou e se lembrou de onde vira aquela moça. Ethan deu uma olhada nela, vendo seus pensamentos, e voltou a encarar a outra, como se estivesse ligando todos os pontos importantes.

— Olívia — disse ele, pensativo.

Ela sorriu. — Já nos conhecemos de algum lugar?

— Não...

— Ele lê mentes mesmo — comunicou Rebeca.

— Ah... — Olívia fez uma cara surpresa, e deu uma risadinha sem graça. — Nossa, nunca conheci alguém que conseguia ler mentes. Não que eu me lembre... Obrigada pela ajuda, preciso voltar ao meu trabalho.

— É claro. — Ethan indicou o corredor e, acenando, Olívia se foi. Ele parecia tão intrigado com ela quanto Rebeca.

— Quem é ela, Ethan? Por que Isabel tem uma foto com ela?

— Elas... dividem um passado trágico. Será que... é por causa dela que Isabel bloqueia seus pensamentos?

— Por que seria?

— Pelo que eu vi em sua mente, Isabel nunca fala sobre seu passado, e ainda ficou... transtornada quando você pegou aquela foto.

— Será que...

— Podemos tentar, mas... não sei se Isabel vai reagir bem.

— Ela deve estar babando no Haziel, podemos tentar descobrir mais com a Olívia.

Ethan lançou um olhar para o mezanino, pensativo, e virou-se para Rebeca. — Seja sutil.

Rebeca sorriu e afirmou, andando para fora do corredor e procurando pela garota, onde a viu sentada em uma das mesas.


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