Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 37
XXXVII – Dyo




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Ao voltarem ao celeiro, viram que Rebeca estava dormindo e ficaram próximos da entrada, longe o suficiente para que a garota não os ouvisse conversando.

— Ele tomou? — Isabel indagou em um sussurro.

— Ainda não... — Olhou para fora, parecendo concentrado. — Ele acabou de ver a mochila e estranhou... Está tentando lembrar onde a tinha deixado a última vez que a viu... Lembrou que foi na minha casa... — Deu um sorrisinho. — Xingou um pouco... e agradeceu por eu ter a levado de volta.

— Justo. — Deu de ombros.

— Está abrindo... Mexeu nas roupas... e viu o papel.

— O que ele está pensando?

— Se a carta é minha ou de Rebeca. A segurou e está olhando, pensando se abre ou não.

— Ai, santo menino! Que tensão. — Colocou as mãos na cabeça, agoniada. — Faz ele tomar logo essa água.

— Espera. Talvez nem precise... Droga.

— O quê?!

— Ele guardou o papel na gaveta do criado mudo... Viu a garrafa.

— Faz ele tomar!

— ... Cecília o chamou para tomar café... Deixou a garrafa lá e saiu do quarto.

— Mas que saco, Ethan! Faz ele voltar lá e tomar essa porcaria.

— Não dá. — A olhou, impaciente. — Não posso interferir tanto na vontade de alguém.

Isabel saiu de perto, passando as mãos pelo cabelo cacheado. — Que saco, Gabriel. Colabora.

— Que foi? — Rebeca perguntou, sonolenta, se sentando. — Conseguiram?

Isabel lançou um olhar para Ethan, que foi se sentar ao lado da menina. — Conseguimos sim, mas ele ainda não viu a carta.

— Ah... — Seus ombros caíram um pouco. — Tudo bem, né? Vocês acabaram de deixar a mochila lá.

— É. Ainda tem muito tempo pela frente.

Ela afirmou e encostou no ombro dele, querendo voltar a dormir. Isabel fez uma cara triste ao vê-la desanimada. Era sempre ruim não ter o que fazer para ajudar, e ela sabia muito bem como era.

Rebeca fechou os olhos, torcendo para que ele decidisse ler, e começou a se lembrar das vidas que visitara. Mesmo que eles não estivessem juntos ainda, eles iam ficar, cedo ou tarde. Então, pensou se algo parecido com aquilo tinha acontecido antes. Alguma briga, discussão ou qualquer coisa que os tivesse feito se separar por um tempo.

— Sim, aconteceu. — Ethan comentou, pensativo, fazendo Rebeca olhá-lo. — Algumas vezes.

— Quantas? Nos resolvemos?

— Não lembro exatamente quantas... Mas na maioria das vezes, sim, se resolveram.

— Então teve vezes que não nos resolvemos? O que aconteceu?

— Vocês se separaram e seguiram caminhos diferentes. Uma vez chegaram a se encontrar muitos anos depois da separação... Entretanto, já tinham família e... ficaram juntos apenas uma noite. Depois voltaram para suas vidas.

As sobrancelhas de Rebeca se ergueram enquanto ela tentava imaginar a situação.

Será que naquela vez foi mais difícil do que agora? Tínhamos famílias e ainda assim... ficamos juntos uma última vez. Isso poderia se repetir? Eu aguentaria passar pelas mesmas coisas, por mais que não me lembre de nada? Como será que eu reagi? Ethan...?

— Você ficou muito mal. — Ele disse. — Mas acho que ela pode te contar melhor, já que estava sempre com você. — Indicou Isabel com a cabeça.

Ao ouvir seu nome, Isabel se aproximou e sentou no braço do sofá, deixando seu braço direito esticado no encosto. — É, foi bem difícil. Você demorou muito tempo até se interessar por outra pessoa... Ficou muito tempo dentro de casa. Não queria sair para lugar nenhum, não queria fazer as coisas que costumava fazer... O tempo foi passando e aos poucos, você começou a ter sua vida de volta, até que conheceu outro homem e se casou com ele.

— Mas... eu gostava dele?

— É... não era um amor extraordinário, mas ele conseguia te fazer feliz. Na verdade, à princípio, você quis se casar justamente para tirar Gabriel, no caso, Giovanni, de vez da sua cabeça.

— Espera... Giovanni? Aquele de Veneza?

— Sim, ele mesmo.

— Mas... ele e Rebecca se encontraram naquela festa e pareciam ter ficado encantados um pelo outro.

— E ficaram, tanto que esqueceram quem eram e o que precisavam fazer. Giovanni começou a passar muito tempo com Rebecca, e esqueceu do detalhe que já havia pedido uma moça em noivado.

— Noivado...? — FArregalou os olhos de surpresa. — Por isso eles... discutiram?

— Sim. Giovanni teve que conversar com ela sobre aquilo e... claro que não deu muito certo. Rebecca ficou desolada... Não que ele também não tenha ficado, mas... Ele teve que se casar, semanas depois.

— Caramba... isso é... tão estranho.

— É... olhando agora, acho que é um pouco. Só a gente que sabe o quão ruim foi. — Deu uma olhada rápida para Ethan, que afirmou com um aceno.

— Você também estava lá? — Rebeca o olhou.

— Estava... observando de longe.

— Eu sabia de você?

— Não.

— Em nenhuma vida?

— Não.

— Por quê?

— Eu não queria interferir. Eu te ajudava caso precisasse, sem você saber. E além disso, Isabel estava por perto para cuidar das coisas.

Rebeca deu um pequeno sorriso para a amiga, que retribuiu com carinho, e suspirou. — Tudo bem... se eu consegui viver com isso antes, eu devo conseguir agora — falou com certo desânimo, não convencendo nenhum dos dois ali.

— Nós vamos passar por isso, Beca. — Isabel abraçou a cabeça dela.

— Vou deixá-las por enquanto. — Ethan deu uma rápida apertada na mão de Rebeca e levantou. — Tenho coisas a resolver, mas caso tenha novidades, entrarei em contato.

— Como? — Rebeca questionou.

— Por aqui. — Tocou o centro da testa dela com o dedo indicador, com um leve sorriso.

— Tudo bem. — Sorriu.

Com uma última olhada para elas, Ethan desapareceu.

Isabel empurrou a outra, a fazendo passar para o outro assento, e se sentou. — E agora? O que faremos?

Rebeca suspirou. — Não sei. Eu queria ficar deitada, esperando um milagre acontecer e ele ler a carta, mas também queria distrair minha cabeça para não ficar pensando nisso.

— Já sei! — Isabel disse, de repente. — Você quer conhecer minha casa?

— Em Dyo?

— Sim. Te dou as honras de chamar o portal de novo.

— Tudo bem, vou avisar minha mãe.

As duas voltaram para casa rapidamente, avisaram Maristela de que iam sair e foram para a floresta, na sorrateira. Rebeca se concentrou, e novamente um portal se materializou entre duas árvores. Ambas entraram e saíram no Ponto Nulo. Como da última vez, a mais nova procurou por Tempo, e — felizmente — não o viu. Seguiu Isabel para outro portal e, assim que saíram do outro lado, seu queixo caiu. A porta era como um elevador que dava para um hall enorme, todo feito de vidro, onde era possível visualizar as muitas árvores do lado de fora.

— Aqui também tem a Biblioteca Interdimensional — comentou Isabel, com certo orgulho. — Então está sempre cheio.

De fato, havia muitas pessoas transitando para todos os lados. Pessoas diferentes e “normais”, como as que passavam pelo Ponto Nulo. Isabel começou a andar na frente, indo para a saída. Era incrível como a modernidade se misturava com a natureza.

A rua se estendia de oeste para nordeste e, bem na frente do local, havia mais quatro ruas que seguiam para caminhos diferentes, milimetricamente iguais. Assim que pisaram do lado de fora, Rebeca percebeu que a rua era feita de vidro, dando a visão da terra abaixo do piso. Notou também diversos círculos pequenos, enfileirados. Daquela forma, a terra não era completamente abafada e ainda dava vazão à água da chuva.

Seguindo para a direita, Isabel cruzou seu braço com o de sua companheira.

— Bonito, não é? Eu gosto de como usam o vidro em quase tudo na arquitetura.

— Sim, é muito lindo… — Apesar de ter várias lojas, a natureza se sobressaia com as árvores, arbustos, trepadeiras e flores, muitas flores coloridas. — Sua casa é longe?

— Não muito. Alguns minutos de caminhada daqui.

Enquanto andavam, algumas pessoas que passavam por elas cumprimentavam Isabel simpaticamente.

— Você é muito querida, pelo jeito — comentou Rebeca, sorrindo.

— Ah, bom… Acho que sim. Eu ajudei todas essas pessoas com minhas essências. Quer dizer, vendi.

— É assim que você ganha dinheiro?

— Sim, é meu trabalho na Central Gytzë. A minha função é analisar todas as demandas solicitando determinada essência. Quando alguém precisa de um poder, ela precisa ir até a Central e fazer uma ficha com todos os dados pessoais e profissionais, informar seu trabalho e o porquê precisa da essência.

— Nossa… É bem controlado, então.

— Sim, as essẽncias nas mãos erradas podem fazer muito estrago.

— Imagino. — Com análises curiosas de Rebeca, continuaram caminhando enquanto as construções deixavam de ser frequentes, dando ainda mais espaço para as árvores. — Você mora aqui há muito tempo?

Isabel riu. — Depende do que você considera muito tempo, mas sim, faz tempo. Eu gosto daqui, foi difícil achar um local onde eu me sentisse bem o suficiente para ficar.

— Então você se mudava com frequência?

— Até que sim… Apesar de eu ficar mais tempo na sua dimensão te procurando. Assim que você… morria, eu voltava para casa e sentia um grande necessidade de me mudar então pegava minhas coisas e vagava por aí até achar um lugar agradável.

— E como você vagava com todas as suas coisas?

— Não, nós temos o spyltro, um aparelho que modifica as células de um objeto para diminuir seu tamanho, para que caiba em locais pequenos. Eu consigo levar todas as mobílias, objetos e roupas dentro da mochila.

— Uau, que demais.

— Sinceramente, acho normal. O que acho estranho é não ter nada disso na sua dimensão. Vocês são bem atrasados — provocou, com um sorrisinho travesso.

Rebeca não conseguiu pensar em uma boa resposta, e deu apenas um sorrisinho.

— Eu odeio te ver desse jeito, garota — disse Isabel, impaciente.

— Desculpa…

— Não — interrompeu, parando de andar. — Não pede desculpa. Eu só quero que você se anime… Enfim, chegamos. — Apontou para a casa que estava logo à frente.


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