Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 33
XXXIII – Sentimentos Recíprocos




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— E-eu só vim buscar minhas coisas. — Rebeca desviou o olhar dele, completamente envergonhada e arrependida.

— O que aconteceu? — Ele insistiu, aparentemente preocupado.

— Não aconteceu nada.

— Como nada? Como de repente você consegue bloquear seus pensamentos...? — E então, pareceu entender. — Você se encontrou com aquela freira? Ela fez algo sem você saber?

— Não, Ethan. Eu pedi para ela me ajudar — admitiu, querendo falar logo. — E-eu não queria que você lesse minha mente.

— Por quê? — Ele parecia não entender essa parte.

— Porque é óbvio. Eu me sinto vulnerável e exporta. Você consegue ver tudo o que eu penso... Isso não é agradável.

— Qual seu medo? Antes você não se importava com isso. — Saiu do lugar, indo até perto da poltrona, parando em sua frente.

Haziel tinha dito que ele também estava confuso, mas como eu poderia saber? Realmente estava? Não é injusto ele ver o quão confusa eu estou e eu não poder saber o que ele sente?

E-eu... acho injusto.

— Tudo bem, então. — Colocou sua mão por cima da dela, ainda na poltrona.

Rebeca começou a sentir. Ethan estava sim tão confuso quanto ela. Ele se dividia entre querer esquecer e tentar ver até onde aquele sentimento ia. Era tanto tempo, tantos anos e tantos conhecimentos diferente entre eles, e ainda assim, eles dividiam o mesmo sentimento confuso.

 Era isso? Eu deveria tentar? Mas e... Não, Rebeca! Lembra do que Isabel disse. Não existe mais Gabriel. Se você quer resolver isso logo, vai ter que se deixar levar.

Ela olhou diretamente para Ethan, tentando prever o que ele faria. Se olharam, um tentando decifrar o olhar do outro, e Ethan se moveu primeiro, se curvando em direção a ela. Sua garganta secou, e a mão da poltrona voltou a querer transpirar.

Era o nervosismo.

Rebeca sentiu o calor que emanava do rosto de Ethan. Sua respiração estava pesada, porém, silenciosa. Ao mesmo tempo que estava na dúvida, ansiava por aquele toque.

Ethan encostou seus lábios nos dela em um beijo tímido, parecido com aquele que deram em Roma. Fechando os olhos, Rebeca suspirou, tentando se acalmar. Os lábios de Ethan se abriram de leve, e ela o imitou. Aprofundaram aquele beijo de forma lenta, como se estivessem com medo de fazer um movimento brusco.

Ficaram naquilo mais uns segundos, e finalizaram com um selinho suave. Se afastaram o suficiente para se olhar. Eles sentiam como se o medo estivesse passando aos poucos, mas aqueles sentimentos compartilhados continuavam ali.

O amor que Rebeca sentia por Ethan estava ali, apertando seu coração e, graças a isso, o que ela mais queria era abraçá-lo, demonstrar aquilo. Tirou sua mão debaixo da dele e jogou seus braços em volta de sua cintura, o abraçando. Ele deixou seus braços nos ombros dela, encostando seu rosto em sua cabeça.

— Eu... não entendo o que estou sentindo. — Rebeca sussurrou.

— Eu também não.

Rebeca o soltou depois de um tempo, se afastando um pouco. — Acho que... é melhor eu ir.

— Como você conseguiu chegar no Ponto Nulo?

— Isabel me explicou.

— Mas ela veio junto?

— Sim. Íamos atravessar o portal para cá, mas o Tempo me viu e veio falar comigo, e antes que eu falasse algo, me mandou para cá. — E Ethan negou, balançando a cabeça. — O quê?

— É horrível não conseguir a informação sozinho.

Ela riu, andando em direção as suas coisas. — Imagino.

— Espera... Por que não fica mais um pouco?

Ficar mais...? Eu... não sei. Eu nem entendi ainda o que sinto... Talvez seja melhor... E se ficando mais perto dele, eu não consiga entender? É, não custa tentar.

— Tudo bem, eu fico.

— Ah... — E ele pareceu surpreso de repente. Talvez por ter uma resposta positiva. — Ok.

Era engraçado, pois ele parecia tão perdido quanto ela, e Rebeca nunca achou que o veria daquele jeito. Tão perdido com seus sentimentos, tão confuso com o que fazer... tão humano.

Rebeca voltou para perto da parede de vidro e olhou para baixo, vendo um pouco da praia.

— O que está pensando? — Ela acabou sorrindo, pensando que nunca ouviria uma frase daquela vinda daquele homem.

— Eu estava imaginando como deve ser bonita essa visão da praia.

— Você quer ir até lá?

— Acho que sim.

— Tire os sapatos. — Se aproximou, também tirando os seus.

Assim que ela os tirou, sentiu a mão de Ethan no meio de suas costas, e em um instante, estavam pisando na areia da praia. Sentindo os grãos na sola dos pés, Rebeca lembrou de quando estava ali com Haziel. Até sentiu saudade da tranquilidade dele. As coisas pareciam mais simples com ele por perto.

O sol alaranjado refletia na água, a deixando com tons quentes.

— A água deve estar morna a essa hora. — Ethan comentou.

Rebeca deu uma olhada rápida para ele, e andou até onde as ondas terminavam. Colocou os pés na água, sentindo que estava mesmo morna. Sem se importar com suas roupas, andou para o fundo e mergulhou. Como a água era cristalina, conseguia ver tudo o que havia no fundo, juntamente com os raios solares que deixava tudo ainda mais bonito.

De repente, se lembrou de como Aloys a ensinara a nadar. As imagens deles no lago a tomaram e a saudade bateu. Voltou a superfície, vendo que estava longe da praia. As ondas se arrastavam, parecendo preguiçosas, mal sendo percebidas pela nadadora.

Parando de se mover, olhou para cima, vendo as estrelas começando a aparecer, junto com as galáxias. O céu começara a ficar um tom mais escuro de azul, e dava para ver nitidamente o degrade do tom mais claro, perto do sol, para o mais escuro, perto das montanhas. Dali, dava para ver a casa de Ethan, toda iluminada.

Seu olhar baixou para a praia, vendo Ethan sentado na areia, a olhando. Sempre que o olhava, seu coração se enchia de bons sentimentos. Era amor, carinho, orgulho...

Era até estranho ter dúvidas do que ela sentia. Como poderia duvidar de um sentimento tão puro e intenso? Mas não era isso que a atormentava. Ela ainda não sabia como lidar com aquilo. Como demonstrar, como manter, como cultivar. Suspirou, pensando em quanto tempo ia levar para se entender.

Será que se demorasse, nesse meio tempo, Gabriel a perdoaria? A ouviria? E... se ela entendesse, e quisesse ficar ao lado de Ethan... iria querer ir atrás e contar a verdade a Gabriel?

É claro que eu iria. Eu não quero que ele me odeie para sempre. Eu não quero... não quero que ele ignore e esqueça tudo o que tivemos.

Foi importante para mim... e acho que para ele também.

Um movimento despertou Rebeca de seus pensamentos, e ela notou diversos peixinhos nadando ao seu redor. Devagar, segurou a respiração e abaixou, ficando submersa.

Ergueu as mãos, esperando conseguir tocar em algum deles, mas eles se afastaram. Ela continuou na mesma posição, e um deles se aproximou e passou rapidamente sobre a palma aberta, causando um pouco de cócegas. Rebeca sorriu e agradeceu mentalmente, e voltou para cima, puxando o ar pela boca.

Resolvendo voltar, respirou fundo e mergulhou em direção à praia. Os peixinhos nadaram ao seu lado, até que ficou raso demais para eles. Antes de conseguir andar, Rebeca acenou para eles e terminou o trajeto, voltando a areia seca.

— Por que você está sorrindo? — Ethan a olhou, curioso.

— Os peixes nadaram comigo.

— Ah... eles são bem sociáveis.

— Percebi. — Sorriu e sentou ao lado dele.

Ainda acho isso engraçado. Ethan? Olá? Tá me ouvindo? Agora posso te xingar que você nem vai saber.

Começou a rir e Ethan estranhou. — Do que está rindo?

— Nada — respondeu rápido.

Ele olhou bem para o rosto dela. — Isso sim que é tortura.

— Você pode tomar isso como uma lição — sugeriu.

— Lição?

— É. Você não precisa ler a mente de todo mundo para saber o que fazer. Você pode perguntar ou adivinhar pelos gestos.

Ele virou o rosto para frente, sorrindo de leve. — Isso demora demais.

— Ué. “Seja paciente”. É o que todo mundo fala para mim.

— Mas você realmente precisa ser. Teve tantas vidas e ainda não aprendeu isso.

— E talvez nem aprenda. Eu já não nasci assim? — O empurrou de leve com o ombro.

— Nada te impede de aprender. Eu também era impaciente.

— Sério?

— Sim. Eu queria aprender tudo o que eu conseguisse em pouco tempo. Queria ser dono de uma mente cheia de conhecimento. Eu estava sempre estudando para conseguir meu objetivo, e deixava o resto de lado... Principalmente você.

— Nós brigamos por causa disso... Ou melhor, eu briguei, não é?

— Nós. Nós brigamos muitas vezes. Eu achava que você perdia seu tempo com besteiras e me impedia de conseguir meu objetivo.

— Que tipo de besteiras eu fazia?

— Sempre queria conversar com todo mundo. Sempre queria ajudar, mesmo que não recebesse ajuda de volta... Você sempre se preocupava com os outros e esquecia de você. Queria fazer coisas diferentes comigo, tipo escalar as pedras da cachoeira, subir em árvores para pegar os melhores frutos... Ou apenas ficar deitada na grama jogando conversa fora. Eu achava besteira, mas no fundo, gostava quando você me puxava junto. Sempre ficava bravo no início, pois achava estar perdendo tempo... Hoje vejo como fui tolo. Devia ter aproveitado sua companhia.

— Bom, aproveita agora.

— É tão simples, não é? — Ethan sorriu, levando seu braço para os ombros dela e a trazendo para perto em um meio abraço.

— Para que complicar? — O abraçou pela cintura, encostando a cabeça no peito dele. — Você ainda acha que é besteira?

— Não. Passei muito tempo apenas lembrando disso. Eu seria um idiota se ainda achasse. Já cheguei a considerar voltar no tempo para tentar mudar a minha visão... Mas claro que não deixariam.

Rebeca riu. — Claro... Mas tudo bem. Acho que é melhor que tudo tenha acontecido do jeito que aconteceu.

Suspirou. — Talvez.

Eles ficaram um tempo ali, abraçados, apenas olhando o sol abaixando cada vez mais na linha do oceano.


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