Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 22
XXII – Respostas




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Rebeca fechou os olhos, esperando pela dor. Que não veio. Os abriu, vendo a ruiva fazendo uma careta de incredulidade e espanto. A garota pareceu travar no lugar quando tentou se movimentar, se mexendo, sem conseguir sair de onde estava.

— Rebeca. — Alguém a chamou, logo atrás.

Ela se virou, olhando para cima. Primeiro, viu uma mão estendida, ao erguer o olhar, viu um homem de cabelos e olhos pretos, com um sorriso gentil nos lábios. Aceitou a ajuda e aceitou sua mão, se sentindo segura no mesmo segundo enquanto saia da água. O homem segurou Rebeca pelos ombros enquanto observava a ruiva com uma expressão impassível.

— Obrigada — sussurrou Rebeca, mais aliviada.

— Não há de quê. — Ele sorriu. — Você fez sua parte. Suas perguntas foram respondidas?

— Minhas perguntas...?

— Sobre sua relação com Ethan.

— Eu... Como você...

— Eu ouvi todas suas dúvidas. Eu que a ajudei a chegar nas respostas que queria. A propósito, sou Haziel, Guardião das estações das almas. — Os olhos de Rebeca mostraram reconhecimento, e ele sorriu. — Pelo jeito, você ainda tem dúvidas, não é mesmo?

— Eu... sim, eu tenho.

— Venha, você parece exausta. — A puxou de leve.

— Mas...

— Ela não pode sair da água, não se preocupe.

Haziel a guiou para a floresta. Andaram um pouco até chegar em uma casa maior do que as outras, onde entraram e fez com que Rebeca se sentasse em um sofá com almofadas fofinhas. O rapaz entrou em outro cômodo, logo voltando com uma bandeja de prata, com um bule e duas xícaras. Deixou a bandeja na mesa de centro, encheu as duas xícaras e deu uma para ela.

Sentou no outro sofá, de frente para aquele, e pegou sua xícara. — Quando você quiser.

— Como assim? — A garota tomou um bom gole de chá, que não soube dizer do que era feito, porém, era adocicado e floral.

— Suas dúvidas. O que você mais quer saber?

— Espera... Você... é você daqui... ou... você é uma versão sua de outra dimensão? — perguntou, um pouco confusa, com o cenho franzido.

Haziel riu de uma forma leve e divertida. — Existe apenas uma versão de mim, se é isso o que quer saber.

— Então... se eu estivesse na primeira estação, eu não ia encontrar uma versão sua daquele momento?

— Não. Eu estive em todos os momentos que minha presença era necessária, mas caso precise voltar, não terá outra versão de mim.

— E se algo acontecer, você sabe?

— Claramente. Até por isso que eu fui até você. Sabe, eu, como um Guardião das estações, sinto cada momento que existe aqui. Nada passa despercebido por mim.

— Então por que você não impediu aquela ruiva de chegar tão longe?

— Eu precisava saber quais eram as intenções dela, e por pouco quase que você me impede de saber. — Sorriu, tomando mais um gole de chá.

— Por quê? Porque eu pulei nela...? Se eu não fizesse nada ela ia...

— Ela não conseguiria fazer nada. Eu estava vendo seus passos desde o começo. Devo admitir que ela tem grande capacidade de se tornar invisível, mas não o bastante para eu não a ver. Eu estava apenas esperando que ela colocasse seu plano em prática, e quando o fizesse, eu a impediria.

Rebeca pensou alguns segundos, assimilando tudo aquilo. — E o que ela ia fazer?

Haziel se recostou no encosto do banco, parecendo mais à vontade. — Você viu que Ethan a pegou em seu nascimento, certo? — Rebeca afirmou. — Existe esse processo aqui, onde almas mais velhas, as belle, ajudam na chegada das almas novas, as belli. Não é fácil para uma belli chegar a esse mundo. É como o nascimento de um bebê. Ele passa algum tempo sendo gerado em um lugar aconchegante e seguro, e quando está preparado, precisa sair e enfrentar o ambiente. Funciona da mesma forma para uma belli, mas é mais complexo e doloroso. Esse primeiro momento da chegada de uma belli chama-se incipientium, que é o momento inicial, o momento onde ela está frágil e confusa. Por isso, as belle as acolhem e cuidam, até a belli se sentir segura para seguir sozinha.

Ele deu uma pausa, bebendo mais de seu chá, deixando a xícara vazia de volta a bandeja logo depois. Rebeca lembrou de sua bebida e tomou mais um gole.

— Bom, dito isso... — Ele dobrou as pernas, as cruzando no acento. — Você entendeu que as belli chegam completamente aturdidas e frágeis, certo? Algumas belli demoram para conseguir seguir sozinhas. Elas se apegam muito a belle que as ajudou e não conseguem se afastar... Mila, conhecida por você como “a ruiva” se apegou muito a Ethan, e ele também se afeiçoou a ela. Mesmo quando Mila se tornou uma belle, ainda não tinha sequer pensado em seguir sem Ethan. Mas ele sabia que aquela relação entre eles estava sendo prejudicial para ela, apesar de gostar dela também. Então, em um dia, Ethan recebeu o chamado para ajudar na chegada nas belli. Não existe algo como “você cuidará daquela belli”. A belle escolhe a belli que irá ajudar no momento do nascimento. Ethan não escolheu, ele sentiu que deveria ajudar a próxima belli que viria... — Olhou para Rebeca, como se quisesse que ela continuasse.

— Ele... me ajudou — continuou, com tom de dúvida. — Ele sentiu que deveria me ajudar?

— Ele sentiu uma conexão imediata com você. Sentiu sua energia antes mesmo de descer pela cachoeira.

As sobrancelhas dela se ergueram, impressionada. — ... por quê?

— Por quê? — Juntou as mãos no colo, cruzando os dedos. — Não tem um motivo. Ethan ficou impressionado com sua alma, com o brilho dela, e foi uma atração natural. Você também se apegou a ele quando o sentiu. Não posso dizer que vocês foram feitos um para o outro, porque as almas não são criadas dessa forma. Mas também não são criadas para serem solitárias. É natural que almas se afeiçoem com outras almas, ou com apenas uma.... Enfim, consegue imaginar o que aconteceu?

— Hm... Mila ficou com ciúmes?

— Sim. O sentimento de ciúmes despertou nela de uma forma prematura. É difícil uma alma sentir ciúmes de outra, porque a partir do momento em que ela segue sozinha, sem uma belle, ela não se sente mais “presa” a ela, então quando surge outra belli em seu lugar, ela já não se importa porque sabe que é um processo natural, entende?

— Sim. Ela ficou com ciúmes porque ainda era apegada a Ethan — afirmou, pensativa.

— Exato. Você tomou toda a atenção de Ethan, e ela foi obrigada a seguir por conta própria. Mila gostava de sofrer, pois estava sempre querendo ver vocês juntos, como se tratavam, se ele fazia as mesmas coisas que fazia com ela... Mas ela sabia que estava fazendo coisas desnecessárias, e uma hora, entendeu. E a partir daí, ela começou a evoluir de novo. Eu achava que ela tinha superado quando foi para a décima primeira dimensão. Agora vejo que não.

— Mas... como ela não esqueceu? Ela... não foi para a dimensão da terra? Ela não nasceu como humana? Como ela se lembra de todas essas coisas...?

— A princípio, não lembrava. Os humanos não têm acesso a suas memórias enquanto estavam nas estações. Mas ela, assim como Ethan, evoluiu, com um sentimento de que precisava estudar e crescer cada vez mais. Há um momento para uma alma que ela se liberta do escudo que é o corpo físico, e quando isso acontece, ela tem acesso a todas as memórias guardadas, tanto das estações quanto de todas as suas encarnações. Todos os sentimentos que ela guardou vieram à tona e ela começou a estudar um jeito de modificar tudo o que aconteceu.

— Ela... queria mudar tudo? — questionou com as sobrancelhas levantadas. — Como?

— É aí que você entra de novo. Ou melhor, seu livro... Aquele livro, dos antepassados de Amice, era bem antigo. Muitas pessoas, humanas e não humanas, tiveram acesso a ele através das vidas, e cada uma deixou seus conhecimentos escritos. Com a sabedoria dela, Mila foi atrás de diversos livros, pergaminhos... e as dicas a levaram até o livro, no museu. Ela conseguiu dissipar o escudo de Ethan e pegar o livro rapidamente, sem que ele conseguisse sequer reagir a tempo.

Rebeca balançou a cabeça, lembrando de quando ele aparecera e contara o que aconteceu. — Ele ficou se culpando tanto por causa disso...

— Sim. Ele foi pego de surpresa. Imagino como deve ter sido frustrante... Bom, então, ela pegou o livro e fugiu, e conseguiu pular no tempo por conta própria. Ela guardou muita energia para isso, não é fácil voltar sozinha, e ainda precisou procurar suas versões que tinha o conhecimento sobre o livro. Eu a admiro por sua força e persistência, mas não por seus motivos.

É... Mas.. — E ela conseguiu chegar quando estava nascendo. Ainda não entendi o que ela ia fazer.

— Ela queria modificar os sentimentos de Ethan para que ele quisesse ficar apenas com ela — explicou, simplesmente.

Quê...? — M-mas ela ia conseguir? Tinha isso no livro?

— Haviam diversos tipos de “feitiços” que mexiam com sentimentos e emoções. Ela ia testar todos, e o que funcionasse... — Nem precisou terminar de explicar. Rebeca ficou chocada.

— ... o que funcionasse... ia fazer Ethan ficar apenas com ela... e eu... nunca teria o conhecido...

— Não posso afirmar que vocês nunca teriam se conhecido, não tenho como saber, mas a princípio, sim, sua alma teria sido recebida por outra belle.

Rebeca encarou seu chá quase no final, sentindo diversas emoções. Medo, raiva, ciúmes, angústia. Ela não conseguia mais ver um mundo onde ela não nascera nos braços de Ethan. Era impossível ver de outra forma.

Só de pensar que poderia não ter o conhecido a fazia se sentir indefesa e vulnerável.

Tudo tinha sido como uma tijolada na cabeça. Uma avalanche de informações que ela nunca teria imaginado. Todos aqueles sentimentos confusos em relação a Ethan que ela descobriu pela viagem vieram à tona. Fazia sentido, e ao mesmo tempo, não fazia. Era tanto... amor entre eles, desde o começo, e depois vieram brigas que Rebeca nem sabia o porquê começaram. Depois, veio a primeira vida com Gabriel, que não foi nada como ela imaginara.

Ethan, Ethan e Ethan.

Era só ele ali. Ele tinha sido seu pai, seu irmão, seu amigo, seu porto seguro. Por isso ela se sentia tão bem na presença dele, porque ele a cuidou e protegeu desde o começo.

Lágrimas grossas começaram a escorrer do rosto da garota.

Tinham sido tantas respostas, e ao mesmo tempo, parecia que as dúvidas só aumentavam. Ela queria tanto que Ethan estivesse ali para confortá-la. Só que também, sentia que não conseguiria saber de tudo caso ele estivesse.

Rebeca voltou seus olhos cheios de água para Haziel, que a olhava com um semblante tranquilo e acolhedor.

— Não tenha pressa, Rebeca. Tudo ao seu tempo. — Levantou e andou até ela. Pegou sua xícara e a deixou na bandeja. Tocou o topo da cabeça dela. — Pense o quanto for preciso. Eu a deixarei descansar um pouco. Quando estiver pronta para mais respostas, eu voltarei, tudo bem? — Ela firmou, e Haziel levou a bandejas para o outro cômodo. Voltou e saiu pela porta, a deixando sozinha.

Suspirando, Rebeca se deitou no sofá, esticando as pernas e encarou o teto, não sabendo por onde começar.


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