Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 18
XVIII – Saudade e Confusão




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A mulher começou a bater palmas de leve, rindo, e depois saiu, fechando a porta. Ethan se afastou primeiro, vendo que ela já tinha saído, e nadou até a borda da piscina, se apoiando no piso e dando um impulso para sair.

Rebeca afundou na água até o topo da cabeça, segurando a respiração e fechando os olhos.

Isso foi errado. Foi muito errado. Mas por que foi bom? Por que eu me senti tão bem? Por quê?

— Rebeca, temos que ir. — A voz de Ethan soou longe e abafada.

Voltando à superfície, Rebeca expirou ruidosamente, soltando todo o ar que estava segurando. Passou as mãos no rosto, tirando os cabelos dali e foi até a borda. Ethan estendeu as mãos, e ela as pegou, sendo ajudada a sair da água.

Claro que ela estava com vergonha, entretanto, havia um outro sentimento ali, que ela não sabia reconhecer. Estar perto dele deveria ser um pouco incômodo, mas não era. Aquele beijo despertara um sentimento estranho e novo. Era como se... ela sentisse falta dele mesmo estando ao seu lado.

Rebeca saiu da água e Ethan se afastou, indo até Gabriel.

Okay, chega disso. Foco em sair daqui logo. Não posso ficar pensando nisso quando sairmos.

Ethan pegou Gabriel, o colocando no ombro. Mesmo com seus poderes falhando, ele ainda era forte. Foram para a porta. Rebeca a abriu e saiu para o corredor, tomando um susto conforme olhava para os lados.

Haviam algumas pessoas indo para lá e para cá, especificamente pequenos grupos de homens com roupas brancas e algumas mulheres nuas que os acompanhavam.

Meu Deus... onde diabo nós estamos?

— Por aqui. — Ethan passou em sua frente, indo para a esquerda.

Ela o seguiu, apenas encarando as costas do homem. Ele andava pelos corredores, tentando não esbarrar em ninguém. As pessoas insistiam em olhar para eles, principalmente as mulheres. Atravessaram portas duplas grandes e saíram em um hall enorme, igualmente decorado com ladrilhos desenhados nas paredes e chão.

Seguiram para a direita, por um caminho que estava vazio. Desceram uma pequena escada e entraram em uma sala com uma única janela. Ethan foi para lá e olhou para baixo.  Então, pulou para fora, fazendo Rebeca correr até lá, achando que ele tinha sido louco de...

Mas o chão estava perto. Não havia nem um metro de altura. Ela sentou no batente, e pulou também. Ethan ergueu o rosto para cima, como se procurasse algo.

— Bem melhor agora.

— Voltou ao normal?

— Sim... Este lugar é um banho público famoso aqui em Roma. Funciona como um shopping, onde as pessoas podem vir passear, fazer compras ou tomar banho.

— Uau, as pessoas tomam banho aqui? Que diferença.

— Sim. As coisas começaram a mudar quando a igreja católica se espalhou... Enfim. Não éramos para ter parado lá. Aquele escudo atrapalhou nossa passagem e o portal nos deixou ali.

— Mas... por que aquelas mulheres estavam sem roupa...?

— Aquela área do banho era privada para pessoas com poder aquisitivo. Que poderiam ir lá apenas para banhar-se tranquilamente ou comprar outros tipos de serviços...

Ah... — E aquela mulher era... — Sentiu as bochechas ficando quentes.

— Sim. Ela perguntou se não queríamos companhia antes de... Me perdoe, não tinha outra alternativa... Ela poderia pedir nossas licenças por estarmos lá e se ela descobrisse que éramos intrusos ficaria complicado para sairmos — explicou, um pouco aflito.

Ele parecia mais incomodado do que a garota.

— Tudo bem, tudo para sairmos de lá. — Olhou ao redor, sentindo um incômodo no estômago e tentando pensar em outras coisas para que ele não soubesse o que a incomodava. — Onde ela está agora?

— Longe, ainda na cidade. Preciso localizá-la, mas será melhor se vocês esperarem por aqui... — Tome. — Estendeu uma peça de roupa para ela.

Por que eu ainda fico surpresa?

Rebeca pegou e olhou a roupa. Era um vestido branco com bastante tecido, de mangas tipo regata. Pegou a barra e passou a roupa pelos braços, a vestindo. Ela nem ligava mais que as pessoas veriam a camiseta escura que vestia por baixo.

Ethan sentou Gabriel no chão, o encostando na parede e tirou sua camiseta, colocando um vestido também branco, que ia até o joelho. Começou a torcer e amarrar o tecido, formando uma espécie de manga. Depois, tirou as calças e os sapatos, e tirou de algum lugar duas sandálias, que no futuro chamavam de gladiadora.

Ele estava como um verdadeiro cidadão romano.

Pegou Gabriel de novo e começou a andar.

— Espera, não vai vestir ele? — Rebeca o seguiu.

— Ninguém vai vê-lo.

Passaram pela lateral do banho público, e logo saíram em uma rua de pedra movimentada. Ethan, que parecia conhecer tudo perfeitamente, seguiu para a direita.

A cidade romana era completamente diferente das cidades que eles visitaram anteriormente. Era tudo limpo, aberto e bonito. Não haviam poças no chão, quer fossem de água ou líquidos mais nojentos. As fachadas das casas eram limpas, e as pessoas não fediam, estavam bem arrumadas.

Ethan entrou em uma casa. Lá dentro, era espaçoso, haviam bancos ao redor e no centro, um balcão. Um homem e uma mulher por volta de quarenta anos estavam lá, sorrindo. Ele conversou com os dois, e Ethan deu algo para o homem. Conversaram mais um pouco e a mulher saiu de lá, indo para a escada que havia a esquerda do cômodo.

Subiram atrás dela, e ela seguiu para o corredor, onde haviam diversas portas. Parou na frente da quinta porta e a abriu, mostrando um quarto espaçoso com três camas, uma mesa de jantar e uma banheira que devia caber quatro pessoas.

Agradecendo, Ethan deixou Gabriel em uma das camas enquanto a mulher saia e fechava a porta.

— Um hotel em Roma... quem diria. — Rebeca foi até a janela que pegava do chão ao teto e olhou para fora.

— Os hotéis foram criados pela necessidade de manter estrangeiros na cidade, por causa das olimpíadas... Não que seja novidade por aqui... Rebeca. — Ela se virou, o olhando. — Eu pedi para que trouxessem comida nos horários certos. Pretendo não demorar, então fique atenta.

— Sim... tome cuidado.

Ele balançou a cabeça, afirmando e sumiu. Rebeca suspirou, passando as mãos no rosto. Finalmente estava livre do poder de Ethan. Agora ela podia pensar com clareza.

Okay, o que foi aquilo? Por que eu me senti daquele jeito? Por que ele pareceu incomodado com o nosso contato? Ele parecia quase arrependido quando pediu desculpa. Ele não gostou de ter feito aquilo.

Por que isso me incomoda? Eu não devia me importar! Isso me deixou... chateada. Foi quase como uma rejeição... Mas por que eu estou chateada com isso?! NÃO FAZ SENTIDO.

Ela observou Gabriel, que ainda dormia, e se aproximou, sentando na cama e colocando a mão no rosto dele. É claro que ela estava preocupada, mas se Ethan disse que ele estava bem, então ela acreditava.

Seu coração estava acelerado, o que a deixava cada vez mais aflita.

Deitou no peito de Gabriel, e conseguiu ouvir as batidas do coração dele, que estavam calmas e estáveis.

Eu te amo, Gabriel. Eu sei que amo. Eu sinto esse sentimento em cada parte de mim. E eu também sei que amo Ethan, mesmo antes daquilo...

Não consigo entender esse... desespero. Essa saudade, mesmo ele estando do meu lado.

Talvez isso seja igual antes... Quando eu ainda não tinha visto Aloys no quintal. Todos os dias eu acordava com uma sensação de saudade, mas nunca soube do quê. Quando Aloys apareceu, foi como se eu finalmente estivesse no lugar que sempre foi meu. Como se eu estivesse em casa, segura e acolhida.

Eu entendi o porquê sentia aquilo. Nós somos como uma alma que foi separada em duas partes. E sempre se procuravam em cada vida que viviam. Algumas vidas nos achávamos, e em outras não.

Será que... eu e Ethan já vivemos juntos? Ele disse que já foi humano. E se tivemos algumas vidas juntos e nunca mais nos encontramos? Isso explica esse sentimento estranho? Mas se for isso, por que não me senti assim quando o vi pela primeira vez? Quando segurei o livro... Ou até mesmo quando ele apareceu no celeiro.

Será que o nosso beijo despertou esse... sentimento? Meu Deus... o que eu estou pensando em cima de Gabriel? Eu beijei Ethan enquanto ele estava desmaiado! Que tipo de pessoa eu sou? Ele vai me odiar se souber disso.

E o pior de tudo é que Ethan pode facilmente saber tudo o que eu estou pensando sobre isso...

Patético.

Ethan andava pela cidade, entre os cidadãos felizes, com a mente longe.

Ele estava procurando pela energia da mulher, porém, muitas vezes se pegava tentando sentir a de Rebeca. Não que fosse difícil, poderia senti-la a milhões de quilômetros de distância, caso se concentrasse. Mas ele sabia que não podia ficar pensando naquilo. Já fizera um estrago na cabeça da garota e na dele mesmo. A cada cinco segundos se pegava lembrando daquela áurea que emanou dela no momento do beijo.

Dourado, primeiramente, e depois branco. Eles se misturaram, formando uma cor parecida com pérola. Um branco levemente dourado e cintilante. Mas, no fundo, sob as camadas daquelas cores, havia um tom de coral, indicando confusão sentimental.

Se Rebeca também tivesse poderes, provavelmente teria visto que as cores que emanavam dele não eram muito diferentes das dela.

Ethan sabia que não podia deixar aquilo voltar. Não fazia mais sentido.

Tinha sido há muito tempo. Um tempo incontável.


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