Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 15
XV - Contando a Trajetória




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Ethan soltou a mão de Rebeca delicadamente quando viu que ela já tinha adormecido. Se afastou e sentou no chão, encostando na parede do fundo do quarto, perto da cama onde Gabriel estava.

Ficou lá, por um tempo indeterminado, tentando localizar onde o livro estava. A essa altura, já conseguia localizar a energia da mulher que estava com ele, mas como disse antes, ela sabia deixar rastros falsos.

O senso de direção dela não era dos melhores, quase sempre ia de um lado para o outro, como se percebesse no meio do caminho que estava indo para a direção errada.

Sentindo algo o cobrindo, Ethan abriu seus olhos, começando a se mexer, e viu Isabel em sua frente, parada com uma coberta nas mãos.

— Desculpe. — Ela sussurrou. — Achei que estava dormindo.

Ethan voltou a sua posição, olhando nos olhos dela, se perguntando como ela havia entrado no quarto sem que ele percebesse sua presença. Devia estar muito concentrado no livro.

Isabel deixou a coberta do jeito que havia deixado, e levantou, caminhando até a cama onde Rebeca dormia, e sentou-se na ponta.

O olhar de Ethan a acompanhou. Ele conseguia ver que, apesar de Isabel ter conhecido aquela Rebeca a tão pouco tempo, já sentia carinho por ela. O sentimento era como uma áurea dourada que cercava o corpo, saindo do coração.

Era parecida com a áurea que saia do coração de Rebeca quando ela abraçava ele ou Gabriel. Só não era tão intensa quanto.

Mas não era aquilo que incomodava Ethan. E sim o fato dele não conseguir ler a mente de Isabel. Haviam apenas lembranças de quando ela chegara àquele convento, mas não haviam pensamentos pessoais, não muitos, pelo menos.

Parecia que todas as lembranças e pensamentos antigos dela haviam sido apagados. O que era estranho, porque ela não tinha perdido a memória. Mesmo se fosse isso, Ethan conseguiria acessar até as lembranças mais distantes.

Ele não conseguia saber de onde ela veio, sua idade, como fora sua infância, a convivência com seus pais, se ela tinha traumas...

Isabel o olhou. — ... o que foi? — perguntou, alarmada.

Ethan conseguiu ver apenas as lembranças daquele dia, como se fosse um filme. Sem comentários mentais ou reações.

Por que ele não conseguia ver?

— Nada — respondeu, olhando para outro lugar, se sentindo frustrado.

Isabel voltou a observar Rebeca. — É verdade?

Pelo menos ele conseguia saber sobre o que ela estava falando, naquele momento, pelo menos. — Sim.

Ela o olhou de novo, estranhando. — Mas...

— Eu sei o que está pensando. Eu consigo ver seus pensamentos.

Os olhos dela se arregalaram um pouco, e olhou para outro lugar, como se tentasse se recompor.

Ethan fez um esforço, mas em vão. Não conseguia saber o que ela estava pensando sobre aquilo, mesmo que sua cara demonstrasse um pouco de pavor.

Então ela ficou calma, de repente.

— Vocês realmente são do futuro? — perguntou sem o olhar.

— Sim. — Ficou a encarando, ainda tentando ler seus pensamentos.

— E estão atrás de alguém que pegou o livro dela?

— Sim.

— O que eu estou pensando agora? — O encarou, seriamente.

Por essa ele não esperava.

— Não sei.

— Você não disse que conseguia ver meus pensamentos?

— Disse, mas não consigo ir longe.

— O que eu fiz hoje antes de vir para cá?

— Você teve que rezar junto com as outras freiras, mas não fechou os olhos em nenhum momento.

— O que eu estava pensando nesse momento?

De novo, tentou ver, mas não conseguiu. — ... não sei.

Um pouco da tensão que ainda emanava do corpo dela sumiu.

— Você não é humana. Não ficou surpresa com a nossa presença e muito menos com a minha confissão. E ainda consegue bloquear seus pensamentos.

— Como você é exibido. — Tirou o capuz da cabeça, mostrando seus cabelos castanhos enrolados nas pontas. — Fala para todos que encontra que lê mentes?

Ethan ficou boquiaberto e por um momento, sem fala. Nunca havia encontrado alguém que conseguisse bloquear os próprios pensamentos. Era como se ele estivesse amarrado, não conseguindo saber as intenções do outro.

— Estou brincando. — Ela disse ao ver a cara dele, dando um sorrisinho divertido. — Não, não sou humana. É tudo o que você precisa saber de mim... E... esses dois? São humanos, certo?

— Sim, são.

— Mas que livro é esse que vocês estão atrás? Como pode ser dela?

— Por que eu te contaria algo se não sei nada sobre você?

Uma sobrancelha dela se levantou, e como se desse de ombros, olhou para Rebeca, ignorando a pergunta dele. Porém, Ethan viu que ela havia ficado brava, devido a leve áurea roxa que apareceu em sua volta.

Ethan levantou. — Se algum deles acordar, diga que logo voltarei.

Isabel apenas balançou a cabeça, e Ethan sumiu.

Ela suspirou, se sentindo mais livre e aproveitou que Rebeca estava no canto da cama, e deitou, com a cabeça no final do colchão.

Não dormiu, como sempre, e esperou dar a hora de levantar e ir ajudar com o café da manhã. Voltou depois de comer, com um prato cheio de frutas e alguns pedaços de pão. Os dois ainda estavam dormindo, e ela ficou feliz em ver que Ethan ainda não tinha voltado.

Deixou o prato junto com o outro, no criado mudo e sentou no pé da cama de Rebeca.

Um pouco depois, ela se mexeu e sentou, ainda com os olhos fechados.

— Beca? — Isabel a chamou.

Rebeca franziu o cenho e abriu os olhos. Os esfregou com as mãos. — Isabel?

— Eu mesma. — Sorriu, achando graça da careta que a outra fazia.

— Cadê Ethan? — Olhou ao redor.

— Não sei. Ele apenas disse que voltaria logo.

— Quando ele fala isso sempre demora. — Viu as frutas no prato e pegou um pêssego.

— Beca, me diz uma coisa?

— O quê? — Deu uma mordida na fruta.

— Me conta direito essa história de vocês irem atrás de um livro roubado. Se vocês são do futuro, como vieram parar aqui?

— Bom... — começou, depois de engolir. — Vou tentar simplificar. Um dia, eu estava na minha casa e uma outra versão do Gabriel apareceu. Uma versão eu quero dizer que é ele, mas é ele de outra vida, entendeu? — Isabel balançou a cabeça. — Bom, então ele achou que eu era a Amice, da vida dele, e que ele precisava de um livro...

Rebeca contou toda a história com Aloys, sobre o livro, sobre primeiramente o Guardião, e depois quando Ethan apareceu. Sobre eles indo para a dimensão onde Ethan morava, e depois para o Ponto Nulo, onde eles foram parar na última vida dela. E depois toda a trajetória até aquele lugar.

— Por que agora você acredita?

— Primeiro... por que você me contou tudo?

— Porque você perguntou... — falou sem entender.

— Não. Você confiou em mim e me contou. Eu perguntei para Ethan sobre isso e ele não quis me contar.

— Ah, o Ethan é muito fechado. Ele não contaria mesmo. — Riu.

— Então por que me contou?

— Sei lá, confio em você. Você é amiga da outra Rebeca, não é?

— Sou, mas... — Ela riu. — Vocês são tão inocentes. Eu entendo que ela seja, pois só tem quatorze anos... Mas é engraçado que você também seja. Você também fica falando de alguém que procura?

— Como assim?

— Desde que eu conheci aquela Rebeca, ela sempre fala que está procurando por algo ou alguém, mas sem saber onde procurar.

Rebeca riu. — Eu já encontrei o que estava procurando sem saber. — Olhou para Gabriel, que ainda dormia.

— Ah! Então é ele? Ela também vai achá-lo?

— Não sei. Na maioria das vidas que fomos, eu acabava trombando com o Gabriel daquela vida, mas até agora não vi a versão dessa vida.

— Trombando? O que é isso?

— Ah... isso é a mesma coisa que... esbarrar em alguém. Desculpa, eu esqueço que estou na época medieval.

Isabel a olhou estranhando. — Bom... eu... achei muito bonito você ter confiado em mim. — Sorriu. — Então eu posso confiar em você também.

— Claro que pode. — Terminou de comer a fruta e pegou um pão.

— Eu não sou humana.

O pão parou no meio do caminho para a boca dela. — Você... Então você é tipo o Ethan?

— Tipo?

— É... parecida. Esse lance de ler mentes, fazer as coisas aparecerem do nada. Coisas assim.

— Ah... não. Eu não sei ler mentes, não sei fazer nada aparecer... Na verdade, eu não conheço muito bem meus poderes. Mas eu consigo bloquear meus pensamentos.

— Então... Ethan não consegue ler sua mente?

— Não. Acho que ele ficou irritado com isso. — Deu uma risadinha.

— Acho que entendi porque ele não quis te contar nossa história... Mas por que você está aqui? Por que não está na dimensão onde Ethan mora? Ele disse que todos os seres mágicos moram lá...

Isabel desviou o olhar, parecendo incomodada.

A cama do lado fez barulho. Gabriel estava acordando e se espreguiçou, as vendo.

— Ah não... Veio sequestrar ela de novo? — perguntou para Isabel, se sentando.

Isabel riu. — Não, não se preocupe. Por que não come? Trouxe frutas e pão. — Apontou para o prato no criado mudo.

Gabriel colocou as pernas para fora da cama e pegou um pão.

Rebeca olhou para Isabel, curiosa, mas pelo jeito ela não ia falar sobre aquele assunto.


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Notas finais do capítulo

Hmm então Isabel não é humana, hein? E não quer falar sobre ela. Será que está escondendo algo?

Já sentimos faíscas entre ela e Ethan xD



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